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Notas

1480 - Marco Antônio jamais foi imperador, mas sim triunviro com Otávio e Lépido, no ano 711 de Roma.
1481 - Foi este Felipe quem faz guerra aos romanos e foi vendido por Tito Quinto Flamínio, como vimos na Vida desse romano. E fez envenenar e estrangular, no ano 574 de Roma. um de seus filhos chamado Demétrio. por causa das calúnias de um outro seu filho, Perseu, que o sucedeu, fez também a guerra aos romano, e foi vencido e levado em triunfo por Paulo Emílio, no ano 587 de Roma.
1482 - Pois que ele dizia, que acordo e desacordo eram as causas eficientes da geração e da corrupção d e todas’ as coisas. — Amyot.
1483 - Filho de Lago, fundador do reino do Egito.
1484 - Selêuco Nicanor, fundador do reino da Síria.
1485 - Três milhões em ouro. — Amyot. 23.343.750 libras em nossa moeda.
1486 - Em grego, 26 do mês targelion, que corresponde a esse ano, o 2.º da 118 .ª olimpíada, ano 447 de Roma, a 11 de maio.
1487 - Ó cerco já tinha sido feito, como acabamos de ver. O grego diz, tendo estabelecido o seu acampamento.
1488 - Há no grego: de cem galeras.
1489 - Em grego: miolos.
1490 - Uma das Esporadas. perto de Naxos. É a pátria de Simônidas, não o lírico, que foi contemporâneo de Píndaro, e o poeta jãmbico, e segundo Suidas, o inventor do s jambos, que floresciam pela 29.ª olimpíada.
1491 - Intérprete, não; o grego não o diz, mas, autor.
1492 - Pela primeira vez.
1493 - Leia-se: Acabo de encontrá-lo à porta.
1494 - Demos-lhe a descrição em Diodoro da Sicília. Veja as Observações no tomo XV — (Obras morais).
1495 - Leia-se: de quarenta minas cada uma.
1496 - Leia-se: de dois t alentos.
1497 - Leia-se: de um talento.
1498 - Não é questão de cidade, mas da pessoa de Ialiso, no grego. Veja as Observações no tomo XV.
1499 - Trinta mil escudos. — Amyot. 233.437 libras e 10 s. na nossa moeda.
1500 - Leia-se: Leuconiano, isto é, da Leucônia, arrabalde ou bairro da Ática1501 - É toda a parte oriental da costa do Peloponeso, que aqui é designada pelo nome de Acta.
 antes comum a vários outros cantões marítimos.
1502 - Sessenta mil escudos. — Amyot. 466.875 libras de nossa moeda.
1503 - Boedromion, setembro.
1504 - Munychion, abril.
1505 - Fevereiro.
1506 - Abril.
1507 - Fevereiro.
1508 - Setembro.
1509 - Cento e cinquenta mil escudos. — Amyot. 1.1 67.187 libras e 10 s. de nossa moeda.
1510 - Isso não está no texto. Veja as Observações.
1511 - No grego não se fala de jaula, mas de um lugar cercado; como as arenas onde se realizavam os combates com as f eras.
1512 - O que está entre parêntesis é uma explicação de Amyot e não é justa; tinha-se dado este apelido à meretriz, porque ela tinha o costume de dizer frequentemente Mavid, isto é, loucura. Veja Athénée, 1. XIII. pág. 578 .
1513 - Alguns sábios corrigem de uma maneira provável esta passagem, lendo: e a que outro poderiam eles dirigir-se?
1514 - Nicanor.
1515 - Leia-se: de que Selêuco fazia aliança com seu inimigo comum, sem o consentimento dos outros reis, foi ter com Cassandro.
1516 - Setecentos e vinte mil escudos. — Amyot, 5.602.500 libras de nossa moeda.
1517 - Rosso, segundo Celário.
1518 - Quatro escudos. — Amyot, 31 1. 2 s. 6 d.
1519 - Trinta escudos. — Am yot, 233 1. 8 s. 9 d.
1520 - Leia-se assim: "que tinham horror à memória de Cassandro, por causa da maneira indigna, como procedera para com Alexandre, depois de sua morte" Cassandro, com efeito, tinha entregue Olímpia, a mãe de Alexandre, ao furor dos soldados e tinha feito perecer com veneno os, dois filhos de Alexandra. Veja Pausânías. Beócia, c. VII.
1521 - Dois estádios.
1522 - O trigo era distribuído como soldo, nos guerreiros, todos os meses. — Amyot.
1523 - Ilíada, 1. I, v. 238.
1524 - A saber: Minos. Odisseia. 1. XIX, pág. 179.
1525 - Bacantes, v. 4.
1526 - Leia-se: se apagaram da lista dos Epônimos o nome de Difilo que tinha sido inscrito como sacerdote dos deuses salva dores, e ordenaram, por um decreto que se escolheriam os arconti como no passado". Veja o Cap. XIII.

Fontes   >    Grécia Antiga

Vidas Paralelas: Demétrio I, de Plutarco

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Busto de mármore de Demetrius I Poliorcetes. Cópia romana do século 1 d.C. de original grego do século 3 a.C. Museu Arqueológico de Nápoles, Itália.

Sobre a fonte

Demétrio I (337-283 a.C.), cognominado Poliórcetes (o sitiador de cidades), era filho de Antígono I e foi o rei da Macedônia entre 294–288. A biografia de Demétrio faz parte de uma série de biografias escritas por Plutarco (c. 46-120), um historiador grego que viveu no Império Romano. Na série Vidas Paralelas, o autor compara vários nomes da história grega com seus equivalentes romanos. Demétrio foi comparado ao general e político romano Marco Antônio.

I. Relações e diferenças entre as operações dos sentidos e as da inteligência

I. Os primeiros autores desta opinião, que as ciências e as artes se assemelham aos sentidos da natureza, segundo a minha opinião, entendiam muito bem aquela força de julgar, pela qual tanto as ciências como os sentidos nos dão discernimento e conhecimento das coisas contrárias; pois ela é comum a ambos. Há, porém, esta diferença, que os sentidos naturais não atribuem as coisas, das quais nos dão conhecimento e discernimento, ao mesmo fim, que as ciências; pois o sentido é uma potência natural de discernir e conhecer tanto o branco como o preto, o doce como o amargo, o mole e o líquido como o duro e o sólido: mas é somente seu próprio, quando as coisas que são seus objetos naturais lhe são apresentadas, ser por elas movido e mover também o discernimento, referindo-o ao entendimento, quando ele se encontra preparado. Mas as artes e ciências, que estão constituídas com a razão, para escolher e optar pelo que é bom, e para recusar e evitar o que é mau, consideram principalmente um dos contrários e por amor de si mesmo, e o outro, acidentalmente, e para precaver-se dele. Pois a medicina trata casual e acidentalmente da doença e assim a música, dos falsos acordes, a fim de melhor poder fazer o contrário, isto é, cuidar da saúde e produzir bons acordes. E assim a temperança, a justiça, a prudência, as ciências mais perfeitas de todas, não nos dão somente conhecimento do que é honesto, justo e proveitoso, mas também do que é desonesto, injusto e prejudicial: e mm longe está que elas louvem aquela tola e singela simplicidade, que se glorifica como de uma coisa importante, de não saber o que é mal, que elas julgam uma estupidez, e ignorância das coisas que devem principalmente saber os que querem viver retamente e como pessoas de bem; assim é que os antigos espartanos, nos dias de festas solenes, obrigavam os escravos, a que chamavam de Ilotas, a beber vinho puro em grande quantidade, e depois os levavam, embriagados, aos lugares onde se davam banquetes públicos, para que seus filhos vissem, com exemplos, que grande vileza é a embriaguez.

II. Porque Plutarco escreveu a história de homens viciosos

II. Eu, porém, acho que essa maneira de querer corrigir e orientar, deprimindo e desencaminhando a outrem, é incivil e desumana; talvez, porém, não seja mal inserirmos entre os exemplos destes grandes personagens, dos quais estamos escrevendo a vida, alguns que, embora altilocados e em postos de autoridade soberana, abusaram um tanto inconsideradamente de sua licença, a ponto de seus vícios serem conhecidos de todos: não certamente para causarmos deleite e mais interesse aos leitores, apresentando-lhes como um quadro onde se vê toda sorte de pintura, mas, ao contrário, para imitar a Ismenias, o Tebano, que, mostrando aos seus discípulos, os que tocavam bem flauta, lhes dizia: assim é que se deve tocar e em seguida, apresentando-lhes os que tocavam mal, repetia: assim não se deve tocar: dizia ainda Antigenidas que os moços sentem mais prazer em ouvir um exímio musicista, depois de terem ouvido um mau: e assim, também me pareceu a mim, que nós nos animaríamos mais à leitura da vida dos homens virtuosos e a sua imitação, depois de termos conhecido também a vida daqueles que por suas faltas e vícios com muita razão são censurados: neste tratado teremos as vidas de Demétrio, apelidado Poliorcetes, isto é, tomador de cidades, e de Antônio, imperador1480, pois ambos deram bom testemunho daquilo que Platão deixou escrito — isto é, as grandes naturezas, assim como produzem grandes virtudes assim também produzem grandes vícios; ambos, na verdade, deram-se ao amor, ao vinho, foram valentes na guerra, magnificentes, supérfluos, insolentes, e tiveram as mesmas vicissitudes na fortuna; ambos tiveram em toda sua vida gloriosas vitórias como vergonhosas derrotas, levaram a cabo os maiores empreendimentos, e em outros, igualmente, fracassaram; e tendo sido arruinados contra a opinião e a expectativa de todos, foram igualmente contra toda a esperança restaurados em suas primitivas posições; mas terminaram o curso de suas vidas quase da mesma maneira, um caindo prisioneiro nas mãos dos seus inimigos, o outro quase vindo a sofrer idêntica desgraça.

III. Perfil de Demétrio

III. Vamos, porém, à história. Antígono teve dois filhos de sua esposa Estratonice, filha de Correus; a um deles deu o nome de seu irmão Demétrio, e ao outro o de seu pai, Felipe: nisto está de acordo a maior parte dos escritores: no entretanto, alguns ainda afirmam que Demétrio não era filho de Antígono, mas seu sobrinho; pelo seguinte, porque quando seu pai faleceu ele ainda era muito pequenino e sua mãe casou-se imediatamente com Antígono, e daí se julgou que ele era filho do mencionado Antígono: como quer que seja Felipe que era pouco mais moço do que Demétrio, morreu; quanto a Demétrio, porém, embora fosse de bela e grande estatura, não era tão alto como seu pai: tinha também um ar e uma beleza de rosto tão acentuadas e tão atraentes que nenhum pintor nem escultor jamais pôde reproduzi-lo, ao vivo, com perfeição: via-se em seu semblante unidas, a dor e a gravidade, a reverência e a graça; brilhava em todo o exterior a heroica aparência da majestade real, dificílima de se representar, acompanhada de vivacidade e alacridade próprias da juventude: seu natural e seus modos eram tais que causavam admiração e prazer aos que dele se aproximavam e privavam com ele; embora ele fosse alegre e comunicativo em suas relações, e nos seus passatempos, embora fosse o mais supérfluo nas reuniões, fosse delicado em seu modo de viver, dissoluto em todas as espécies de voluptuosidade e de prazeres, como jamais rei algum, não obstante, tinha uma atividade assaz grande, um cuidado atento e uma contínua solicitude em seus deveres. Por isso ele louvava muito a Dionísio e esforçava-se por imitá-lo, isto é, Baco, entre todos os outros deuses, por ter sido o mais astuto e valente comandante na guerra e que bem havia sabido mudar a guerra em paz e naquela, ainda passar alegremente o tempo e ter sempre boas disposições.

IV. Sua ternura para com seu pai

IV. Ele amava singularmente seu pai, e parece que a grande reverência e obediência que ele prestava à sua mãe, era devida a ele, por sua honra, mais por causa do verdadeiro amor filial que lhe consagrava, do que para conquistá-lo por causa do seu poder, nem pela esperança de sucessão. A este propósito narra-se que um dia, voltando da caça, ele foi ter com seu pai Antígono, quando dava ele audiência a alguns embaixadores, e depois de lhe ter feito a saudação de costume e tê-lo beijado, sentou-se perto dele, vestido como estava, durante a caçada, tendo ainda na mão alguns dardos, que havia levado consigo; Antígono então, disse ainda em voz alta, aos embaixadores que se retiravam, depois de terem sido atendidos: "Senhores! Podeis ainda formar mais este juízo de mim e de meu filho, de como vivemos um com o outro". Como se lhes quisesse fazer ver que serviam de segurança para os deveres de um rei e eram testemunho de grande poder, as boas relações de concórdia e confiança entre pai e filho: porquanto um império e toda autoridade são sempre seguidos de toda sorte de desconfianças, de suspeitas e de malquerenças: e assim o maior e o mais antigo de todos os sucessores de Alexandre se vangloriava de não temer seu próprio filho, mas permitia que se aproximasse da sua pessoa, mesmo tendo um dardo na mão. No entretanto somente esta família, por assim dizer, dentre todas as outras da Macedônia, conservou-se isenta de baixezas até vários degraus de sucessão: e para dizer-se a verdade, jamais houve na descendência de Antígono, senão um Felipe que matou seu próprio filho1481 : porquanto quase todas as outras famílias e descendências reais têm mais de um exemplo de alguém que fez morrer seu próprio filho, esposa e mãe: matar o irmão era coisa comum e para isso não se fazia muita dificuldade. Os geômetras às vezes querem que se admitam certas proposições que eles supõem, sem provar, assim era também isto quase como um princípio, que esses reis a si mesmos permitiam, para a segurança e conservação do seu estado.

V. Sua dedicação para com os amigos

V. Para mostrarmos ainda que o natural de Demétrio era benigno e bondoso, e que ele tinha um grande afeto por seus amigos, podemos ainda citar este exemplo: Mitrídates, filho de Ariobarzanes, era seu amigo íntimo, pois eram ambos quase da mesma idade e frequentava ele ordinariamente a corte de Antígono, sem maquinar contra ele traição alguma, nem imaginar algo de mal, nem ser tido como um tal indivíduo. No entretanto, Antígono começou a suspeitar dele, por causa de um sonho, assim: parecia-lhe passar por um campo, grande, belo, onde ele semeava grãos de ouro; dessa semente surgiu depois o trigo, em lindas espigas douradas; voltando, porém, ao campo, pouco depois, nada mais encontrou, senão as hastes vazias, despojadas das espigas; muito admirado ficara e raivoso, ao ouvir alguns dizerem que o autor daquele ato tinha sido Mitrídates, que cortara as espigas de ouro e a havia levado aos países do Ponto. Muito perturbado com este sonho, Antígono, depois de ter feito seu filho jurar que nada diria, a ninguém, contou-lho todo o sonho, e de como tinha determinado matar esse moço. Demétrio ficou grandemente aflito e quando no dia seguinte o amigo chegou para, como sempre, passar com ele algumas horas, por causa do juramento, nada lhe disse, mas levando-o à parte, longe dos demais, ele escreveu na terra com a ponta de um dardo: Fuja, Mitrídates! O moço compreendeu o que ele queria dizer e naquela noite mesma dirigiu-se à Capadócia; e, na realidade, pouco tempo depois realizou-se a visão que Antígono havia tido no sonho, pois o rapaz conquistou muitas terras e por primeiro instalou a descendência e a família dos reis do Ponto, que os romanos, porém, destruíram ao depois, perto da oitava sucessão. Com este exemplo pode-se claramente fazer uma ideia da doçura e da bondade natural de Demétrio.

VI. Perde uma batalha contra Ptolomeu

VI. Segundo a opinião de Empedocles, há sempre, entre os elementos, disputa e altercação1482 mas principalmente entre os que vivem juntos e têm entre si diversas relações. Assim, embora entre os sucessores de Alexandre, universalmente, houve guerra e malevolência contínuas, todavia foram ela:, mais claras e mais ardentes, entre aqueles cuja: terras e propriedades eram limítrofes, e que por causa dessa proximidade, sempre tinham questões a resolve r, como entre Antígono e Ptolomeu1483. Antígono residia ordinariamente na Frígia: tendo sabido que Ptolomeu passava por Chipre, assaltando e depredando toda a Síria, reduzindo por bem ou à força, todas as cidades e aldeias ao seu domínio, para lá enviou seu filho, Demétrio, que então tinha somente vinte e dois anos, e pela primeira vez ocupava o cargo de chefe e comandante, numa empresa de tanta importância. Sendo, porém, muito jovem e assaz inexperiente na arte da guerra, tendo pela frente um velho comandante, mui experimentado e valoroso, feito à escola e sob a disciplina de Alexandre, o Grande, e por si mesmo e em seu nome tinha já dirigido outras e grandes batalhas, foi o rapaz vencido e seu exército desbaratado perto da cidade de Gaza:, nessa derrota morreram cinco mil homens, oito mil foram feitos prisioneiros perdendo ainda Demétrio suas tendas e pavilhões, seu ouro e prata, afinal, toda a sua bagagem e tudo o que lhe. pertencia: Ptolomeu, porém, devolveu-lhe tudo isto, bem como os amigos que tinham sido aprisionados durante a batalha, com uma palavra graciosa e cortês, isto é, que não era de mister combater outra ele, por muitas coisas juntamente, mas apenas pela honra e pelo império.

VII. Desforra-se

VII. Demétrio então, ante este fato, rogou incontinente aos deuses que não o fizessem ficar por muito tempo devedor destes favores a Ptolomeu, mas que lhe fosse possível, quanto antes, retribuí-los. Ele não se admirou, como qualquer outro jovem não se admiraria, de ter no princípio de sua carreira sofrido uma tal derrota, mas como um antigo e valente general, que já havia experimentado as vicissitudes da sorte, se pôs logo a reunir homens, forjar armas, e submeter ao seu domínio cidades e aldeias, treinando no manejo das armas os soldados que podia recrutar. Antígono, tendo sabido deste fracasso, nada mais disse senão, que por ora, Ptolomeu tinha apenas vencido os que não tinham barba, mas que de ora em diante ele haveria de combater com homens feitos e barbados. Não querendo, porém, abater nem menosprezar a coragem de seu filho, que lhe rogava a permissão para tentar uma segunda vez a guerra contra Ptolomeu não lha recusou, mas mui prontamente lhe fez a vontade. Pouco tempo depois, Cilas, general de Ptolomeu, veio com um poderoso exército para expulsá-lo e afastá-lo de toda a Síria: pois não se fazia mais muito caso dele, por ter sido já derrotado, uma vez; Demétrio, ao invés, surpreendeu-o, improvisamente, enchendo-o e aos seus homens de tal espanto, que conseguiu apoderar-se de todo o acampamento e dos oficiais, bem como de sete mil soldados, obtendo ainda uma enorme soma de dinheiro; com isto muito se alegrou, não tanto pelas riquezas que podia assim levar consigo, como por ter então a oportunidade e os meios de pagar a sua dívida, nem tanto lhe causaram satisfação o pensamento das riquezas e da glória conquistadas com tal vitória, como por ter os meios de retribuir a gentileza e a honestidade de que Ptolomeu havia usado para com ele: no entretanto, não o quis fazer por própria autoridade, mas escreveu ao pai sobre o seu intento; quando então recebeu dele inteira permissão e seu consentimento, ele enviou Cilas a Ptolomeu bem como todos os seus grandes amigos, com muitos e generosos presentes que largamente lhes fez.

VIII. Outros êxitos de Demétrio em diversas guerras

VIII. Este insucesso fez Ptolomeu desistir totalmente da Síria e tirou Antígono da cidade de Celene, pela grande alegria que ele experimentou com tal vitória, e pelo grande desejo de ver seu filho, que logo depois mandou contra os povos da Arábia, chamados nabatianos, para subjugá-los e reduzi-los à obediência, onde ele correu grandíssimo perigo, encontrando-se certa vez em um lugar deserto, onde não havia água: não deu ele, porém, sinal algum de medo nem de temor; e conseguiu deste modo, causar tal admiração aos bárbaros, que teve a facilidade de se retirar para um lugar seguro, levando ainda grandes despojos e sete mil camelos. Mais ou menos nesse tempo, Selêuco1484, que tinha sido expulso da Babilônia por Antígono, e depois para lá voltara, reconquistando-a, apenas com os próprios recursos, partiu com grandes reforços contra os povos e nações que estão nos limites da Índia e províncias, que se localizam em redor do Cáucaso, a fim de conquistá-las. Demétrio, esperando encontrar a Mesopotâmia sem defesa alguma, passou logo o rio Eufrates, penetrando em Babilônia, antes que alguém o tivesse percebido; aí afastou a guarnição de Selêuco que defendia uma das fortalezas da cidade, pois havia duas, e deixou sete mil soldados para guardá-la: depois ordenou aos demais homens que agarrassem o que pudessem e levassem o mais possível do país; feito isto, encaminhou-se para o mar deixando o estado e o reino de Selêuco mais forte e mais bem firmado do que quando ali ele entrara. Parecia, pois, que ele deixara o país a Selêuco, como quem nada tinha, saqueando-o e assaltando-o também. À sua volta soube que Ptolomeu tinha cercado a cidade de Helicarnasso; para lá dirigiu-se bem depressa, a fim de obrigá-lo a levantar o cerco, e assim conseguiu tirar-lhe a cidade das mãos.

IX. Seu pai e ele determinam dar liberdade à Grécia

IX. Com esta empresa bem sucedida, granjearam ambos, Antígono e Demétrio, uma fama assaz gloriosa, e sentiram então vivíssimo o desejo de libertar toda a Grécia, que Ptolomeu e Cassandro ainda conservavam sob seu domínio e sujeição. Jamais príncipe ou rei empreendeu guerra mais gloriosa, mais honrosa e mais justa do que essa; pois todo o poder e toda a riqueza que ele conseguia armazenar, oprimindo e vencendo os bárbaros, delas usava unicamente para dar a liberdade aos gregos e com isso granjear mais glória ainda. Assim estavam eles em conversações de como continuar e prosseguir na empresa encetada e imaginavam em seus planos que deviam começar por Atenas; um dos principais amigos de Antígono lhe dissera, mesmo, que era necessário, apoderar-se antes daquela cidade, colocando lá um bom número de soldados, pois, dizia ele, se conseguissem apoderar-se dela, teriam um ótimo trampolim para daí saltarem sobre toda a Grécia. Antígono não o quis escutar, e ainda disse que a amizade e a benevolência dos homens era um trampolim bem mais fácil e melhor, e que a cidade de Atenas era como uma sentinela de toda a terra, a qual imediatamente faria brilhar por todo o orbe a glória dos seus feitos, como um archote que arde do alto de uma torre.

X. Vai a Atenas para daí expulsar as tropas de Ptolomeu

X. Pôs-se então Demétrio ao mar, com cinco mil talentos em dinheiro1485 e uma frota de duzentos e cinquenta navios, navegando para Atenas, na qual ainda se encontrava Demétrio, o Falério, que a dominava e governava em nome de Cassandro, de fendendo-a, com uma guarnição numerosa, tanto no porto como na fortaleza de Muníquia. Tendo bom tempo e vento favorável, conforme sua previsão, e belo empenho que empregou em realizar a viagem, pôde chegar ao porto do Pireu no dia vinte e cinco de maio 1486, antes que alguém o tivesse podido imaginar. Quando da cidade se avistou a frota que vinha em sua direção, pensando que eram navios de Ptolomeu, todos se dispuseram a recebê-los. Muito tarde porém, os comandantes perceberam o engano e cuidaram em reparar o erro, avançando, para impedir-lhe o desembarque. Houve então grande tumulto e confusão, como bem se pode imaginar, pois eram obrigados a combater em desordem, para impedir que eles desembarcassem, e afastá-los, uma vez que tinham sido apanhados de improviso. Demétrio, tendo encontrado abertas as entradas do porto, imediatamente precipitou-se para elas, e assim ficou logo bem à vista de todos; de sua galera, fez sinal com a mão, pedindo silêncio, pois queria dirigir-lhes a palavra.

A multidão acalmou-se e ele então por meio de um de seus homens, comunicou-lhes que seu pai o havia mandado, para, ainda em tempo, afastar de Atenas toda ocupação militar e restituir aos seus habitantes a liberdade e as antigas regalias, dando-lhes suas leis, seu governo e sua polícia, como no tempo dos seus antepassados. Ouvindo isto, todo o povo depôs as armas; colocaram em terra escudos e paveses para poder bater palmas em aclamações de alegria rogando-lhe que viesse a terra, e chamando-o de benfeitor e salvador. Os que ainda estavam com Demétrio, o Falério, julgaram mais conveniente recebê-lo, deixá-lo entrar na cidade, pois se mostrava o mais forte, embora nada fizesse do que havia prometido e no entretanto enviaram embaixadores a ele. Demétrio os ouviu atenciosamente e para tranquilizá-los enviou-lhes um dos melhores amigos de seu pai, Aristodemo Milesiano; não se preocupou com a salvação e a segurança de Demétrio, o Falério, o qual, por causa da reviravolta, no governo e na polícia, tinha mais receio do próprio povo de Atenas do que dos seus inimigos. Considerando, porém, a fama e a virtude de tal personagem, respeitando-a e reverenciando-a, Demétrio mandou levá-lo a Tebas, como ele queria, com numerosa guarda.

Ele porém, embora tivesse grande desejo de ver a cidade, disse, que nela não entraria, sem previamente lhe haver dado e concedido plena e inteira imunidade, e retirado a guarnição que lá se encontrava: por isso mandou cavar fossos em redor da fortaleza de Muníquia bem como rodeá-la de paliçadas: no entretanto, para não perder tempo, partiu para a cidade de Megara, onde Cassandro tinha ainda soldados.

XI. Sai-lhe mal o empreendimento

XI. Nesse meio tempo, porém, disseram-lhe que Cratesipolis, que fora mulher de Alexandre, cognominado Poliperchon, mulher de grande beleza e fama, que então se encontrava na cidade de Patras, recebê-lo-ia com prazer; deixou então o exército no território dos megarenses e dirigiu-se incontinente àquela cidade, com poucos homens, os mais decididos e mais ligeiramente equipados: mas, ao depois, desfez-se ainda desses mesmos, e mandou preparar seu aposento em separado, para que não se percebesse a presença dessa senhora, quando ela viesse vê-lo. Alguns de seus inimigos foram logo avisados disso, e então decidiram-se a atacá-lo de surpresa; Demétrio, sabendo do que se tramava, sentiu-se amedrontado, e mal teve tempo de tomar um agasalho, o primeiro que encontrou, com o qual se salvou apressadamente, pois bem pouco faltou que por causa de sua incontinência, não fosse vergonhosamente agarrado por seus adversários: conseguiram porém, eles ainda levar-lhe a tenda e todos os seus haveres. Depois a cidade de Megara foi tomada aos homens de Cassandro, e os soldados de Demétrio a queriam assaltar e saquear; mas os atenienses com rogos humildes pediram-lhe, intercedendo por ela, que não fosse abandonada ao saque. Pelo que Demétrio, depois de ter afastado a guarnição de Cassandro, restituiu-lhe toda a liberdade.

Nessa ocasião lembrou-se ele do filósofo Estilpo, grand e homem e assaz afamado, embora tivesse escolhido um gênero de vida longe dos afazeres, na paz e tranquilidade: mandou perguntar-lhe e saber, se algum de seus homens lhe havia tirado algum objeto ou coisa que lhe pertencesse. Estilpo respondeu-lhe que não, pois — disse ele — pessoa alguma eu vi que me tivesse levado a minha ciência". No entretanto os servos e os escravos da cidade tinham quase todos sido levados. E visto que uma outra vez, Demétrio o havia tratado com gentileza, dizendo-lhe ao partir: "Olhe, Estilpo, deixo a sua cidade livre" respondera-lhe ele: "Diz a verdade, Sire, pois nela não deixou nem um servo".

XII. Restabelece a democracia em Atenas

XII. Voltou em seguida, novamente a Atenas, fazendo o cerco1487 diante da fortaleza de Muníquia, da qual se apoderou e dominou a guarnição que nela se encontrava; depois arrasou-a completamente. Em seguida, a rogo dos atenienses que o convidavam a vir descansar em sua cidade, para lá se dirigiu, mandou reunir o povo, ao qual deu a antiga liberdade, e ao mesmo tempo o governo dos negócios públicos, prometendo-lhe ainda que lhe faria entregar, por meio de seu pai, cinquenta mil medidas de trigo, e madeira e aduelas suficientes para poderem construir cento e cinquenta1488 galeras. Assim os atenienses, por meio de Demétrio, reconquistaram a democracia, isto é, o governo do Estado popular, quinze anos após o terem perdido, vivendo porém, mais ou menos dois anos depois da guerra a que chamaram de Lamiaca, e da batalha que se travou perto da cidade de Cranon, como oligarquia, isto é, governo de um pequeno número de homens, pelo menos na aparência, mas na verdade, como monarquia, isto é, sob o domínio de um só, que tem todo poder, pela grande autoridade de Demétrio, o Falério.

XIII. Bajulação exagerada dos atenienses para com Demétrio

XIII. Eles, porém, tornaram o seu benfeitor, Demétrio, odioso e invejado de todos, ele, que parecia ter conquistado tanta glória e honra por suas benemerências, e justamente por causa das honras exageradas e demasiadas que lhe decretaram: primeiro, chamando de reis a Demétrio e Antígono, que antes haviam rejeitado e sempre recusado esse título; aqueles mesmos que haviam dividido e repartido o império de Felipe e Alexandre, nele não tinham ousado tocar nem o usurparam dentre todos 08 outros privilégios, prerrogativas e preeminências. Foram ainda os únicos que lhes deram o título de deuses salvadores e aboliram o cargo anual, a que chamavam de Epônimo, porque desde os tempos mais remotos costumavam denominar os anos pelo nome daquele que o era: e no lugar dele determinaram, em conselho da cidade, que todos os anos, por votação popular, um seria eleito, a que chamariam de sacerdote dos deuses salvadores, cujo nome seria escrito em todos os contratos e em todos os atos públicos, para especificar o ano: além disso nos estandartes e bandeiras sagradas, nos quais estavam as imagens dos deuses, patronos e protetores da cidade, em retratos ou em bordados, aí também seriam fixadas suas imagens. Além disso, consagraram o lugar onde por primeiro Demétrio pisara, ao descer de seu carro, e aí erigiram um altar, ao qual denominaram da descida de Demétrio: e às suas linhagens acrescentaram duas: a Antigonida e a Demetríade. Seu grande conselho, que antes se criava todos os anos, e era de quinhentos homens, foi então, primeiro elevado a seiscentos, pois que era necessário que cada linhagem fornecesse e criasse por si mesma cinquenta conselheiros: ainda, o mais estranho e a mais esquisita invenção de adulação de Estratocles, (pois era ele quem inventava e propunha todas as adulações em suas várias formas) foi um decreto que ele imaginou, pelo qual se ordenava que aqueles que eles mandassem a Antígono e a Demétrio, publicamente, seriam chamados de Teori, em vez de embaixadores, o que significava comissários de sacrifícios: as sim eram igualmente chamados os que eram envia dos, em Delfos, a Apoio Pítio, ou na Elida a Júpiter Olímpico, nas festas e solenidades publicai de toda a Grécia, para fazerem os sacrifícios e as oblações ordinárias pela salvação das cidades.

XIV. Caráter de Estratocles

XIV. Estratocles em todas as coisas era um homem temerário, o qual sempre havia levado vida má e desordenada, e pela sua impudência desavergonhada parecia imitar bastante a louca ousadia e a temerária insolência de que antigamente Cleon linha usado para com o povo. Ele conservava publicamente em sua casa uma concubina de nome Filacíon. Um dia, quando ela comprara para o jantar, umas cabeças de animais1489, que se costumam comer, ele lhe disse: "Como? Você comprou as bolas com que nós jogamos e nos divertimos nos negócios públicos?"

Outra vez, tendo a esquadra ateniense sido derrotada perto da ilha de Amorgos1490 ele apressou-se em anteceder os que traziam a notícia e veio pela rua Cerâmica toda, coroado de flores, como se os atenienses tivessem ganho a batalha; foi autor de um decreto pelo qual e sacrificou aos deuses, em ação de graças pela vitória, e distribuiu-se carne pelas famílias, como sinal de público regozijo. Logo depois chegaram os que traziam os restos do naufrágio daquela derrota; o povo amotinou-se logo, e fez chamá-lo, irritado, e ele teve ainda a desfaçatez de se apresentar e enfrentar com grande arrogância o descontentamento do povo, dizendo-lhe com altivez: "Ora! Que mal vos fiz, se vos tive alegres durante dois dias?" Tal e tão grande era a temeridade e a insolência de Estratocles.

XV. Sinais da cólera divina contra as honras extravagantes decretadas a Demétrio

XV. Mas, como diz o poeta Aristófanes,

havia coisa ainda mais ardente
que não o fogo, o qual tudo faz arder e devora.

Pois, houve ainda um outro, que sobrepujou a Estratocles em impudência, propondo um decreto, pelo qual, todas as vezes que Demétrio viesse à cidade, fosse recebido com as mesmas cerimônias e as mesmas solenidades das festas de Ceres e de Baco, e àquele que sobrepujasse a todos os demais em magnificência e suntuosidade de aparato, quando Demétrio entrasse na cidade, o público lhe desse tanto dinheiro, que fosse suficiente para se fazer uma estátua, ou outra oferta que se dedicaria aos templos em memória de sua liberalidade. Além disso, trocaram o nome do mês de janeiro e o chamaram Demetriano, e ao último dia do mês, que antes chamavam de lua antiga e lua nova, passaram a chamar Demetríade: as festas de Baco, que se denominavam Dionísia, foram chamadas Demétrias.

Mas os deuses mostraram com vários sinais e presságios que eles estavam ofendidos: pois a bandeira na qual, como havia sido determinado, se tinham pintado os retratos de Antígono e de Demétrio, com os de Júpiter e Minerva, quando era levada em procissão pela rua Cerâmica, ao levantar-se de repente um tremendo vendaval, tão impetuoso foi partida ao meio; em redor dos altares que tinham sido erguidos em honra de Demétrio e de Antígono, a terra produziu tanta quantidade de cicuta, que por via natural, dificilmente poderia ter crescido tanto naquele lugar; e no mesmo dia em que se celebra a festa de Baco, foi-se obrigado a transferir a pompa ou procissão, que se faz naquela circunstância, tanto havia baixado a temperatura, fora do tempo e da estação: e caiu tanta garoa e saraiva que não somente as vinhas e as oliveiras gelaram, mas também a melhor e a maior parte do trigo que ainda estava crescendo.

XVI. Versos de Felipides contra Estratocles

XVI. Nessa contingência, o poeta cômico Felipides, inimigo de Estratocles, numa comédia, escreveu contra ele estes versos:

Aquele que por sua impiedade, contra os deuses foi causa de que a saraiva prejudicasse as nossas vinhas, e que o santo estandarte se partisse em dois, pela impetuosidade do vento, atribuindo aos homens aquilo que unicamente é devido à natureza divina, é ele somente e ninguém mais quem arruma a autoridade do povo, embora ele diga, sem razão, que é a pobre comédia.

Felipides era íntimo e muito bem-visto do rei Lisímaco de modo que, por amor dele, este rei havia feito muitos benefícios e favores à causa pública em Atenas: tanto ele o apreciava, que todas as vezes que o via ou encontrava no começo de uma guerra ou de qualquer outro empreendimento de importância, parecia-lhe que aquilo lhe trazia boa sorte: era ele estimado e muito amado, não só pela excelência de sua arte, mas também por suas boas e louváveis qualidades, pois não era aborrecido, nem dominado pela curiosa afetação da corte, como muito bem mostrou um dia em que o rei o lisonjeava e lhe dizia com o rosto alegre: "Que queres que eu te conceda dos meus bens, Felipides?" — "O que bem lhe aprouver, majestade, — respondeu ele — contanto que não seja dos teus segredos". Quisemos dizer dele estas coisas, para bem colocarmos em confronto com este desavergonhado arengador do povo, um honesto intérprete de comédias1491.

XVII. A loucura dos atenienses levada ao auge, em um decreto que Democlides os faz aceitar

XVII. Houve ainda um certo Democlides, da aldeia de Esfeto, que imaginou uma esquisitíssima e estranha maneira de honra, referindo-se à consagração e oferenda dos escudos, que se entregavam ao templo de Apoio, em Delfos, isto é, que se fosse perguntar o oráculo a Demétrio; citemos, porém, os mesmos termos do decreto, tal como foi promulgado: "Assim: o povo determinará que seja eleito um cidadão de Atenas, que irá ter com o nosso salvador: e depois de lhe ter divinamente sacrificado, perguntará a Demétrio, nosso Salvador, de que modo o povo poderá mais devota e mais santamente fazer a oferenda dos santos dons: e segundo o oráculo que lhe aprouver revelar, o povo o porá em execução". Assim, atribuindo todas estas e outras coisas tão tolas e ridículas a este homem que afinal era pouco sensato, eles o estragaram ainda mais e o fizeram perder a cabeça.

XVIII. Mulheres de Demétrio

XVIII. Estando então em Atenas, desposou uma viúva de nome Eurídice, da nobre e antiga família de Milcíades, que tinha sido casada com um certo Ofeltas , príncipe da província da Cirenaíca, e depois da sua morte havia voltado a Atenas: muito se alegraram os atenienses com este casamento, julgando mesmo que era uma grande honra para a sua cidade, e que ele o havia feito por amor deles: ele, porém, estava sempre pronto para contrair núpcias, e já havia mesmo desposado a várias mulheres, ao mesmo tempo, entre as quais, todavia, Filia era a que desfrutava de maior honra e de maior autoridade, quer por causa de seu pai, Antípater, quer porque ela tinha sido casada em primeiras núpcias com Cratero, a quem os macedônios haviam amado em vida, e lamentado depois da morte mais que qualquer outro dos sucessores de Alexandre. Seu pai a havia feito casar, a meu ver, à força, embora ela não fosse de uma idade conveniente a ele, pois ele era muito jovem, e ela já super-adulta: como Demétrio mostrasse não estar muito satisfeito com isso, seu pai disse-lhe baixinho ao ouvido:

Casar-se, de mau grado, convém,
contra a natureza, quando há proveito nisso.

Muito a propósito modificava os versos de Eurípides:

Convém servir de mau grado,
contra a natureza, quando há proveito nisso.

Mas a honra que Demétrio prestava a Filia como às outras mulheres desposadas por ele, era tal que linha consigo, e sem vergonha, outras meretrizes e senhoras casadas, das quais ele usava: e foi censurado por ser, mais que qualquer outro príncipe ou rei do seu tempo, escravo deste vício e deste prazer.

XIX. Vai a Chipre fazer guerra a Ptolomeu

XIX. Nesse ínterim, foi ele mandado por seu pai a Chipre para combater ainda contra Ptolomeu. Ele foi obrigado a obedecer, embora sentisse bastante deixar a guerra empreendida pela libertação da Grécia, que era muito mais honrosa e mais gloriosa; todavia, antes de partir, ele mandou oferecer dinheiro a Cleônides, general de Ptolomeu, que ocupava com muitos soldados e forte guarnição as cidades de Corinto e de Sicíone, para que deixasse as cidades em liberdade; este, porém, não quis atendê-lo. Por isso Demétrio se pôs imediata mente ao mar, e com toda a sua esquadra dirigiu-se a Chipre onde logo na primeira batalha venceu a Menelau, irmão de Ptolomeu; pouco depois, porém, o mesmo Ptolomeu, com um grande exército, tanto por mar como por terra, para lá se dirigiu; trocaram reciprocamente severas palavras, ameaças terríveis; Ptolomeu ordenou a Demétrio que se retirasse imediatamente, se era um homem sensato, antes que seu exército fosse reunido e esmagado sob seus pés; e ele mesmo lhe passaria por sobre o corpo, se ele não partisse; por sua vez, Demétrio mandou-lhe dizer que lhe concederia a graça de o deixar escapar, se ele lhe jurasse e prometesse retirar as guarnições que tinha nas cidades de Corinto e de Sicíone. Assim a expectativa dessa batalha conservava em sérias apreensões e dúvidas, não somente estes dois príncipes que deviam combater entre si, mas também todos os outros senhores, príncipes e reis, porque o resultado era-lhe desconhecido e incerto ainda, e não se sabia qual dos dois seria o vencedor: parecia, porém, a cada qual que a vitória não somente dana ao vencedor o reino de Chipre, e o da Síria, mas torná-lo-ia incontinente o maior e o mais poderoso de todos.

XX. Obtém contra ele uma grande vitória

XX. O mesmo Ptolomeu, então, se fez ao mar com cento e cinquenta navios, contra seu inimigo, e ordenou ao mesmo tempo a Menelau, seu. irmão que, quando os visse em pleno combate, no auge da luta, saísse do porto de Salamina e atacasse por trás, os navios de Demétrio, para causar-lhe pânico e desorganização, com as sessenta galeras, que ele comandava. Mas por seu lado Demétrio mandou dez galeras contra essas sessenta, julgando que eram suficientes para fechar a embocadura e a saída do porto que era assaz pequena e estreita, de modo que nenhuma das que estavam dentro pudesse sair; distribuiu ainda seu exército de terra pelas rochas e pontas, que nos arredores se projetam sobre as águas e depois se fez ao mar, com suas cento e oitenta galeras para atacar as de Ptolomeu; fê-lo com tanto ímpeto e tanta veemência, que imediatamente o obrigou a fugir; este, vendo sua frota em debandada, se pôs logo a navegar o mais rapidamente possível, salvando apenas oito galeras, pois todas as outras foram destruídas- e afundadas durante o combate, as outras setenta aprisionadas com toda a tripulação e tudo o que estava dentro delas. Sua bagagem de terra, seus oficiais, servos, criados, mulheres, e ainda seu ouro e sua prata, armas, munições que estavam em grandes navios veleiros ancorados, nada escapou e tudo caiu em poder de Demétrio, que o levou para seu acampamento: dentre as mulheres estava aquela famosa meretriz de nome Lâmia, que, a princípio, se tornara célebre e ambicionada somente pela sua arte, pois era exímia tocadora de flauta; mas ao depois quando se começou a dar ares de meretriz, maior admiração e desejo ainda ela causou: e assim mesmo quando já no declínio de sua vida e da sua beleza, encontrando ainda Demétrio, muito mais jovem do que ela, conquistou e o prendeu pela sua doçura e sua graça, de modo que ele se tornou apaixonado, amando unicamente a ela, embora todas as outras o amassem. Depois desta vitória naval, Menelau mesmo não pôde resistir, e entregou a Demétrio a cidade de Salamina e seus navios, com mil e duzentos cavaleiros e doze mil soldados de infantaria, todos bem armados. Esta vitória, já grande por si mesma, tornou-se ainda maior pela bondade e humanidade de que usou Demétrio, ordenando magníficos e solenes funerais para seus inimigos, que haviam morrido na batalha, mandando pôr em liberdade e sem pagar resgate os que havia feito prisioneiros, dando ainda mil e duzentas armaduras completas, com todas as peças, aos atenienses.

XXI. Como Aristodemo comunica a notícia a Antígono

XXI. Depois disto, mandou Aristodemo Milesiano a seu pai, para comunicar-lhe pessoalmente a notícia da vitória. Era este o maior adulador da corte de Antígono, o qual, então como eu penso, procurou acrescentar a este fato o cúmulo da adulação. Passando da ilha de Chipre para o continente ele não quis que o navio no qual tinha navegado se aproximasse da terra, ordenando que ancorasse fora, e que ninguém saísse do navio: saiu apenas ele numa pequena barca, e dirigiu-se a Antígono, que vivia atormentado pela grande dúvida, a respeito do êxito desta batalha, cheio de apreensões, como bem se pode imaginar e como naturalmente acontece a todos os que aguardam o desfecho de grandes empreendimentos: quando lhe disseram então, que o mensageiro caminhava sozinho para o palácio, ele ficou ainda mais aflito, de tal modo, que nem podia permanecer em seus aposentos, mandando uns após outros, mensageiros e homens, a Aristodemo, para interrogá-lo e dizer-lhe que se apressasse em lhe dar as notícias, fossem quais fossem: ele, porém, a ninguém respondia, e ainda por cima, caminhava vagarosamente, com uma atitude grave e séria, rosto fechado, em um mutismo misterioso: Antígono por isso ficou fora de si e foi-lhe, ele mesmo, ao encontro à porta do palácio, onde havia já uma grande multidão de povo, que seguira Aristodemo, acorrendo de todas as partes, para saber da notícia e ouvir as palavras do mensageiro.

Finalmente, quando ele estava bem perto, estendendo a mão direita, se pôs a exclamar em altas vozes: "Deus o guarde, Majestade, rei Antígono, nós derrotamos por mar a frota do rei Ptolomeu, conquistamos o reino de Chipre, com dezesseis mil e oitocentos prisioneiros". Antígono então respondeu-lhe: "Deus te guarde também; na Verdade, Aristodemo, por muito tempo nos conservaste em agonia, mas per penitência, do inferno que nos causaste, receberás mais tarde o presente pela boa notícia".

XXII. O nome de rei dado pela primeira vez a Antígono e a Demétrio

XXII. Então, primeiramente1492, o povo em altas vozes chamou a Antígono e Demétrio de rei. A Antígono, seus familiares e amigos, no mesmo instante, cingiram-lhe a cabeça com a coroa real, que se chama diadema; a Demétrio, porém, seu pai o enviou, e nas cartas que lhe escreveu, chamou-o também de rei. Os que estavam no Egito com Ptolomeu, tendo sabido disto, também o chamaram e o saudaram como rei, para que não parecesse que, por terem sido vencidos uma vez, eles tinham perdido a coragem. Assim esta ambição, por inveja e emulação, passou de um a outro, dos sucessores de Alexandre. Lisímaco, então, começou também a usar o diadema, e Selêuco também, todas as vezes que falava ou tratava com os gregos: pois desde muito antes, ele já tratava com os bárbaros, como rei. Mas Cassandro, embora todos o tratassem como rei, escrevendo-lhe ou chamando-o tal, sempre procedeu como estava acostumado, em suas atividades. Não foi isso, porém, apenas o acréscimo de um novo nome, ou uma mudança de ornatos ou de vestes, mas foi uma glória, que lhes fez crescer a coragem, aumentou a opinião que eles tinham de si mesmos, e fez que em seu modo de viver e em suas relações com os outros, eles se tornassem mais majestosos e mais pomposos que antes: como os atores de tragédias, que, quando se caracterizam para desempenhar seus papéis no teatro, mudam de andar, de rosto, de atitudes, de voz, de modo de se sentar à mesa, e de falar: tanto que, depois, tornaram-se mais violentos em transmitir suas ordens aos subordinados, depois que haviam tirado a máscara e a dissimulação do seu poder absoluto, que antes em muitas coisas os tornavam mais toleráveis e mais delicados, para com os que lhe deviam prestar obediência: tanto poder e eficácia teve somente a voz de um adulador, que Introduziu no mundo uma tão grande mudança.

XXIII. Nova expedição de Antígono e de seu filho Demétrio. contra Ptolomeu, sem resultado, porém

XXIII. Antígono, entusiasmado com o feliz êxito dos empreendimentos de seu filho Demétrio em Chipre, deliberou imediatamente atacar de novo a Ptolomeu: ele mesmo em pessoa levou o exército de terra, enquanto Demétrio continuava por mar, lado a lado, com uma grande frota de navios; um de seus meninos, porém, de nome Médio, dormindo, teve uma visão, que indicava qual deveria ser o fim desta empresa; pois lhe fora revelado, que ele via Antígono, com todo o seu exército, disputar uma dupla corrida, para ver quem ganharia o prêmio e que ele, no início, correra com grande entusiasmo e velocidade, mas ao depois, diminuíra a força e o fôlego de tal sorte que, quando empreendia a volta, já estava completamente exausto, e assim teve de se retirar. Assim aconteceu de fato: ele encontrou-se em graves e sérias dificuldades e perigos, e Demétrio também, por mar, foi dar à costa, arremessado pela tempestade sobre escolhos, onde não havia portos nem ancoradouros, nem abrigos para seus navios e depois de ter perdido muitos deles, teve de regressar sem nada ter feito. Antígono, seus familiares e amigos, no mesmo instante, cingiram-lhe a cabeça com a coroa real, que se chama diadema; a Demétrio, porém, seu pai o enviou, e nas cartas que lhe escreveu, chamou-o também de rei. Os que estavam no Egito com Ptolomeu, tendo sabido disto, também o chamaram e o saudaram como rei, para que não parecesse que, por terem sido vencidos uma vez, eles tinham perdido a coragem. Assim esta ambição, por inveja e emulação, passou de um a outro, dos sucessores de Alexandre. Lisímaco, então, começou também a usar o diadema, e Selêuco também, todas as vezes que falava ou tratava com os gregos: pois desde muito antes, ele já tratava com os bárbaros, como rei. Mas Cassandro, embora todos o tratassem como rei, escrevendo-lhe ou chamando-o tal, sempre procedeu como estava acostumado, em suas atividades. Não foi isso, porém, apenas o acréscimo de um novo nome, ou uma mudança de ornatos ou de vestes, mas foi uma glória, que lhes fez crescer a coragem, aumentou a opinião que eles tinham de si mesmos, e fez que em seu modo de viver e em suas relações com os outros, eles se tornassem mais majestosos e mais pomposos que antes: como os atores de tragédias, que, quando se caracterizam para desempenhar seus papéis no teatro, mudam de andar, de rosto, de atitudes, de voz, de modo de se sentar à mesa, e de falar: tanto que, depois, tornaram-se mais violentos em transmitir suas ordens aos subordinados, depois que haviam tirado a máscara e a dissimulação do seu poder absoluto, que antes em muitas coisas os tornavam mais toleráveis e mais delicados, para com os que lhe deviam prestar obediência: tanto poder e eficácia teve somente a voz de um adulador, que introduziu no mundo uma tão grande mudança.

Antígono, entusiasmado com o feliz êxito dos empreendimentos de seu filho Demétrio em Chipre, deliberou imediatamente atacar de novo a Ptolomeu: ele mesmo em pessoa levou o exército de terra, enquanto Demétrio continuava por mar, lado a lado, com uma grande frota de navios; um de seus meninos, porém, de nome Médio, dormindo, teve uma visão, que indicava qual deveria ser o fim desta empresa; pois lhe fora revelado, que ele via Antígono, com todo o seu exército, disputar uma dupla corrida, para ver quem ganharia o prêmio e que ele, no início, correra com grande entusiasmo e velocidade, mas ao depois, diminuíra a força e o fôlego de tal sorte que, quando empreendia a volta, já estava completamente exausto, e assim teve de se retirar. Assim aconteceu de fato: ele encontrou-se em graves e sérias dificuldades e perigos, e Demétrio também, por mar, foi dar à costa, arremessado pela tempestade sobre escolhos, onde não havia portos nem ancoradouros, nem abri-os para seus navios e depois de ter perdido muitos deles, teve de regressar sem nada ter feito. Antígono tinha então perto de oitenta anos; sofria muito em sua pessoa, mais por causa do tamanho e do peso do seu corpo, do que pela idade. Tornando-se por isso incapaz para os afazeres da guerra, ele servia-se do filho, o qual muito feliz se sentia e pela experiência já adquirida levava adiante com êxito grandes empreendimentos.

XXIV. Libertinagem de Demétrio

XXIV. Seu pai não se desgostava nem se ofendia com suas muitas insolências, despesas supérfluas e libertinagem: em tempo de paz ele entregava-se a todos estes vícios e prazeres apenas se via livre dos seus encargos, ele abandonava-se dissolutamente a toda sorte de gozos e de prazeres e proporcionava-se as mais variadas espécies de voluptuosidades: mas em tempo de guerra, ele era sóbrio e casto como os que habitualmente o são. A este propósito, diz-se que um dia, quando Lâmia dominava já completamente e torcia a sua vontade, voltou Demétrio do campo e foi, como de costume, beijar seu pai. Antígono, rindo-se, disse-lhe: "Parece-te, meu filho, que beijas a Lâmia?" De outra feita ficou vários dias ausente em libertinagens, sem ir visitar o pai; depois, para desculpar-se perante ele, disse-lhe que o reumatismo o obrigava a ficar n o leito e não lhe havia permitido vir visitá-lo. "Eu bem o tinha ouvido dizer, respondeu Antígono, mas esse reumatismo era de Tasos ou de Chios?" E isso ele dizia, porque julgava deliciosos os vinhos de uma e outra, dessas ilhas. Outra vez, mandou ainda dizer a seu pai, que ele estava passando mal: Antígono foi vê-lo, e encontrou à porta de sua casa um belíssimo jovem; depois entrou no seu quarto e sentando-se junto do leito tomou-lhe o pulso. Demétrio disse-lhe que a febre já havia diminuído muito e tinha ido embora. "Pois é, respondeu Antígono 1493, eu acabo de encontrar há pouco, quando saía, esse rapaz". Assim tolerava ele docilmente essas faltas, pelas outras muitas e belas qualidades e atos virtuosos que Demétrio praticava. Diz-se que os citas, bebendo e embriagando-se, fazem às vezes soar as cordas de seus arcos, como se isso lhes servisse para lembrar e conservar o vigor da coragem e da sua ousadia, que se esvairia e dissipar-se-ia pelo prazer do vinho que eles bebem. Mas Demétrio abandonava-se a cada coisa, por sua vez, ora aos divertimentos, ora ao cumprimento de seus deveres e encargos de importância e somente a uma por vez, dava-se às ocupações, sem misturá-las, e assim não era menos cuidadoso e solícito em preparar todo o necessário para a guerra, mas era um general judicioso e valente para bem dirigir o exército, e ainda mais cuidadoso e diligente em prepará-lo e organizá-lo: queria que se tivesse todo o necessário, mais ainda do que se precisaria de fato, quando chegasse a oportunidade e o momento justo.

XXV. Descrição da sua grande máquina de guerra, denominada Elépolis

XXV. Era, porém, incansável em imaginar construir magníficos navios e toda espécie de máquinas de guerra, mesmo somente pelo prazer que experimentava em inventá-las e executá-las; pois tendo int eligência e sendo naturalmente habilidoso, projetava e imaginava tais máquinas, que se fazem com a mente e a destreza das mãos; não aplicava a alma nem o afeto que tinha pelas artes mecânicas, em jogos ou passatempos inúteis; como tantos outros reis que se divertiam em tocar flauta, pintar ou esculpir; outros ainda que trabalhavam em ocupações de habilidade, como Europo, rei da Macedônia, que, com prazer, passava o seu tempo em fazer pequenas mesas e lâmpadas: Átalo, cognominado Filometor, isto é, que ama a própria mãe, o qual se entregava à jardinagem e cultivava ervas medicinais, não só o eleboro e o meimendro negro, mas também a cicuta, o acônito e o dorínio, semeando-as e plantando-as ele mesmo no jardim do palácio real, deixando de recolher no tempo próprio os grãos, o suco e o fruto, e de conhecer seu poder e sua virtude; ou como os reis dos partos, que se gloriavam de eles mesmos afiarem a ponta de suas flechas: mas Demétrio mostrava mesmo em suas obras mecânicas que era rei; sua maneira de trabalhar tinha em si tamanha grandeza, que no meio da engenhosa sutilidade e artifício das obras, mostrava a altura da sua coragem e a magnanimidade do operário, de tal modo que se apresentavam elas dignas de uma inteligência e opulência reais, mas também que eram produzidas pelas próprias mãos de um grande rei: sua grandeza enchia de espanto aos seus mesmos amigos, e a beleza encantava aos mesmos inimigos: e o que é ainda verdadeiro e não seria para se dizer, é que seus inimigos muito se admiravam quando viam navegar pelas suas costas as galeras de quinze ou dezesseis ordens de remos e suas máquinas de guerra, a que ele chamava de Elepolis, isto é, máquina para tomar cidades, o que era um espetáculo de grande admiração para aqueles mesmos que eram sitiados, como os fatos o comprovam: pois Lisímaco, dentre os reis, era quem mais mal o queria; tendo vindo levantar o cerco que estabelecera diante da cidade de Soli, na Cilícia, mandou-lhe pedir que lhe fizesse ver suas máquinas de assalto e suas galeras navegando no mar; tendo-o atendido e satisfeito à sua vontade, diz-se, que Lisímaco voltou assaz admirado; quando ele levantou também o cerco de Rodes, que por muito tempo esteve sitiada, os rodianos pediram-lhe que lhes deixasse alguma das suas máquinas, para servir perpetuamente como testemunha, ao mesmo tempo do seu poder, da sua coragem e da sua valentia.

XXVI. Porque se obstinou ele no cerco de Rodes

XXVI. Ele havia feito guerra aos rodianos porque eles eram aliados e confederados do rei Ptolomeu; fez acercar-se de seus muros a maior máquina que ele tinha1494, cujo pé era em forma de telha, mais comprido do que largo, e tinha embaixo, de cada lado, quarenta e oito côvados de comprimento e sessenta e seis de altura, estreitando-se sempre para cima, em ponta, de modo que os panos eram para cima mais estreitos, que não à base, e por dentro eram bem amarrados e reforçados com vários andares e vários entremeios. A parte que estava voltada para os inimigos era aberta e tinha janelas em cada andar, pelas quais se lançavam toda espécie de projéteis, pois estava cheia de homens que combatiam com várias armas: estava ela, porém, tão bem equilibrada que não balançava, nem se inclinava para um lado, quando nelas os homens se movimentavam, mas conservava-se firme e ereta, avançando ora num lugar, ora noutro, com um ruído e um som característicos; isso causava grande pasmo à inteligência e prazer aos olhos, dos que a contemplavam. Nesta guerra, foram-lhe enviadas duas couraças de ferro, pesando cada uma quarenta libras1495; querendo o armeiro Zoilo mostrar-lhes a dureza da tempera e a resistência, pô-las à prova, colocando-as a uma distância de cento e vinte passos, onde receberam os golpes de algumas máquinas de guerra; as couraças foram atingidas, mas continuaram inteiras, sofrendo apenas uma leve arranhadura, que parecia apenas um ponto, como se o mesmo tivesse sido feito por um pequeno buril ou ponta de estilete. Demétrio usou uma e Alcio a outra; este era nativo da Albânia, o mais forte e o melhor combatente do seu exército, e sozinho suportava a sua armadura completa, a qual pesava1496 cento e vinte libras, quando todos os outros carregavam apenas sessenta1497. Morreu ele em Rodes, combatendo valentemente perto do teatro. Neste cerco os rodianos defenderam-se tão bem, que Demétrio nada pôde fazer digno de menção; mas embora ele visse que aí perdia o tempo, tinha-se obstinado a combatê-los, pela ojeriza que tinha contra eles, porque lhe haviam aprisionado um navio, no qual sua mulher Filla lhe mandava algumas peças de tapeçaria, linho, vestidos e caitas, e haviam mandado tudo imediatamente a Ptolomeu. E nisto não seguiram a honestidade e a cortesia dos atenienses, que, tendo surpreendido algumas cartas de Felipe, que lhes fazia a guerra, abriram todas as outras que levavam, e as leram, exceto as que sua esposa Olímpia lhe escrevera, as quais mandaram fechadas e lacradas como estavam, quando as receberam.

XXVII. Paz a paz com os rodianos

XXVII. E embora esta ofensa o tivesse irritado, enraivecido e causado mui grande despeito, ele não teve animo de se vingar e de lhes pagar na mesma moeda, pouco depois, quando para isso teve oportunidade, se o quisesse; pois, por acaso, naquele tempo, Protógenes, excelente pintor, natural da cidade de Cauno, lhes pintava o retrato da cidade1498 de Ialiso: Demétrio encontrou o quadro em um edifício que estava fora da cidade, em um dos arrabaldes, já quase terminado; e como os rodianos lhe tivessem enviado um mensageiro pedindo-lhe que poupasse tão bela obra e não permitisse que fosse destruído, ele lhes respondeu que ele teria permitido que queimassem o retrato de seu pai, do que tão preciosa obra-prima e tão belo trabalho, pois, diz-se que Protógenes levara sete anos para realizá-lo: e diz-se ainda, que o mesmo Apeles, quando o viu, ficou tão preso de admiração, que não pôde falar e ficou longo tempo em silêncio, e por fim assim disse: "Eis uma obra admirável e um ótimo trabalho: mas falta-lhe a graça, pela qual, os que eu pinto atingem o mesmo céu". Tendo depois este quadro sido levado a Roma, e incluído com os outros, foi queimado e destruído pelo fogo. Os rodianos e o mesmo Demétrio desejavam terminar logo essa guerra, buscando apenas uma ocasião favorável para o fazer; eis que chegam então embaixadores dos atenienses, muito a propósito, dizendo que os rodianos de boamente aliar-se-iam com Antígono e Demétrio contra tudo e contra todos, exceto Ptolomeu.

XXVIII. Põe em liberdade todos os gregos que habitam aquém das termópilas

XXVIII. Os atenienses chamavam a Demétrio, porque Cassandro tinha vindo cercar a cidade: por isso Demétrio navegou imediatamente para Atenas com trezentas e trinta galeras, e muitos homens bem armados, de tal modo que expulsou Cassandro, não somente da província da Atica, mas o perseguiu até o desfiladeiro das Termópilas, onde o derrotou em combate organizado, e recebeu a cidade de Heracléia, que voluntariamente a ele se entregou, e seis mil macedônios que passaram para o seu lado, Depois, de volta, deu liberdade a todos os gregos que habitam aquém do desfiladeiro, fez aliança com os beócios, tomou a cidade de Cencres, e as fortalezas de File, e de Panactos, nas fronteiras da Ática, nas quais Cassandro tinha deixado as guarnições, para conservar o país sob seu domínio, e depois de os ter expulso, entregou as terras aos atenienses.

XXIX. Infame libertinagem de Demétrio

XXIX. Embora antes os atenienses parecessem ter desdobrado inteiramente a sua antiga parcimônia em lhe decretar toda espécie de honras, à porfia, encontraram ainda outros meios novos de o engrandecer e adular; ordenaram, pois, que a parte posterior do templo de Minerva que se chamava Partenon, isto é, o templo da virgem, ser-lhe-ia preparado e mobiliado para seu aposento, para ele aí residir: diziam que era a mesma deusa Minerva quem o recebia em sua casa. Mas na verdade, era ele um hóspede muito pouco casto e pudico, para se pensar que uma deusa virgem pudesse desejar que fosse alojado em sua companhia. E, no entretanto, seu pai Antígono, um dia tendo sabido que se tinha preparado a residência de seu irmão Felipe, em uma casa onde havia três moças, nada lhe disse, mas mandou em sua presença chamar o quartel-mestre e disse-lhe: "Não desalojarás meu filho deste lugar, tão apertado?" E Demétrio, que devia ter tanta reverência para com Minerva, se não por outro motivo, pelo menos como sua irmã mais nova, (pois assim queria ele que a chamassem) contaminou todo o prédio, dentro do qual estava este santo templo virginal, com tantas baixezas que cometeu, tanto nas pessoas de crianças de famílias honestas, como em moças da cidade; de tal modo que o ambiente parecia mais puro e mais casto, quando ele aí cometia atos indecorosos simplesmente com suas meretrizes Crisis, Demo, Lâmia e Anticira.
 Para honra da cidade, não devemos dizer em particular e claramente todas as vilezas e obscenidades que aí se cometeram.

XXX. Democles lança-se numa caldeira fervente para fugir à sua brutalidade

XXX. A virtude, porém, e a honestidade de Democles não deve ser esquecida nem conservada em silêncio. Este era um moço que ainda não tinha barba, e era tanta a sua beleza que na cidade era conhecido por Democles, o Belo. Demétrio veio a saber disto, e começou a perseguir o rapaz, com toda a espécie de rogos e solicitações, promessas, presentes e até ameaças; quando viu que era impossível conquistá-lo, e que o rapaz vendo-se tão perseguido e importunado, deixava de frequentar os lugares públicos, onde os outros moços costumavam divertir-se e exercitar-se em jogos e ginástica, para evitar os banhos comuns ia lavar-se num estabelecimento particular, Demétrio indagou do dia e da hora, e lá entrou quando estava ele sozinho. O moço, vendo-se em perigo e não podendo de outro modo impedir que Demétrio abusasse dele, tirou a tampa da caldeira onde fervia a água para o banho e pulou para dentro dela, onde morreu queimado e afogado: não merecia ele certamente tão infausto fim, mas teve a coragem digna de sua beleza e de sua pátria; não fez ele, como um outro, certo Cleaneto, filho de Cleomedon, que levou cartas de Demétrio dirigidas ao povo, e fez de modo que pela intercessão e a rogo do mesmo Demétrio a multa de cinquenta talentos1499 à qual seu pai tinha sido condenado e por falta de pagamento eslava encarcerado, lha fosse perdoada e indultada; fazendo isso, não somente ele se desonrou e difamou-se a si mesmo, mas ainda agitou toda a cidade: pois o povo perdoou a multa a Cleomedon, mas promulgou um edito pelo qual proibia que de então em diante cidadão algum trouxesse cartas de Demétrio. Sabendo ao depois que Demétrio estava muito descontente com esse edito, e que se tinha irritado muito, não somente caçaram o primeiro decreto, mas também, daqueles que tinham sido autores ou que tinham neles intervido, eles fizeram morrer alguns e expulsaram aos outros. E, além disso, fizeram outro decreto, pelo qual declarou-se que o povo ateniense acharia de ora em diante, religioso, quanto aos deuses, e justo, quanto aos homens, tudo o que agradasse ao rei Demétrio ordenar. Alguém então, dos mais notáveis personagens e dos mais nobres da cidade, disse que Estratocles era indivíduo mentecapto, em propor tais coisas: "Bem mentecapto seria ele verdadeiramente, se não fosse da qualidade dos que se chamam lacônios", respondeu Democares1500. Isto ele dizia, porque Estratocles havia recebido inúmeros benefícios de Demétrio, por essa bajulação. Democares, porém, acusado de ter dito essas palavras, foi banido da cidade. Eis o que faziam os atenienses, que pareciam estar livres da sujeição anterior e ter conquistado a sua primeira liberdade e imunidade.

XXXI. Demétrio eleito comandante geral de toda a Grécia

XXXI. Daí Demétrio passou ao Peloponeso, onde nenhum de seus inimigos se atreveu a atacá-lo, mas, ao contrário, fugiram todos à sua aproximação, abandonando-lhe suas praças, fortificações e cidades. Assim estabeleceu ele sob seu domínio toda a região a que chamam Acta1501 e toda a Arcádia, exceto a cidade de Mantinéia: libertou as cidades de Argos, Sicíone e Corinto, por cem talentos que ele entregou1502 aos que compunham a sua guarnição. Veio nessa ocasião o tempo em que se celebra a festa de Juno em Argos, a que chamam Heréa. Demétrio, querendo celebrar esta solenidade com os gregos, desposou a Deidamia, filha de Eacides, rei dos molossos e irmã de Pirro, e persuadiu aos siciônios de deixar sua cidade e vir habitar e estabelecer-se em um outro lugar, muito mais belo, que estava bem perto, e no qual ainda moram presentemente; com a praça e a situação trocou também de nome a cidade: pois em vez de Sicíone passou a se chamar Demetríade. Depois, em uma assembleia dos estados da Grécia, que se reuniu no estreito do Peíoponeso, o qual se chama Istmo, onde se havia ajuntado uma grande multidão de homens, de todas as partes da Grécia, ele foi eleito comandante-geral de toda a Grécia, como antes já o haviam sido Felipe e Alexandre, reis da Macedônia, ao qual, não somente ele se comparava, mas imaginava ser ainda maior, porque então a fortuna lhe sorria, e seus empreendimentos eram bem sucedidos: Alexandre, porém, jamais tirou aos outros reis o título e o nome de rei, nem jamais se chamou rei dos reis, embora tivesse dado a muitos o nome e o poder de rei; e ao contrário, este ria-se e zombava daqueles que chamavam aos outros príncipes, de rei, exceto ele e seu pai; sentia prazer e gostava de ouvir os seus, que, nos banquetes, pediam vinho ao rei Demétrio e chamavam, a Selêuco, senhor dos elefantes, a Ptolomeu, almirante, a Lisímaco, guarda do tesouro, a Agátocles, Siciliano, governador das ilhas. Os outros reis, quando se lhes contavam tais gentilezas, riam-se à vontade, menos Lisímaco, que se irritava e se mostrava muito despeitado porque Demétrio o julgava castrado, pelo costume de se entregar antigamente a guarda do tesouro a um eunuco. Era Lisímaco quem lhe tinha mais antipatia e inimizade, e querendo espicaçá-lo, pois ele tinha sempre Lâmia junto de si, da qual estava apaixonado, disse: "Eu nunca tinha visto, até agora, uma meretriz fingir". Demétrio respondeu-lhe que sua meretriz era mais pudica do que a Penélope dele.

XXXII. Inicia-se nos mistérios de Céres

XXXII. Afastando-se então do Peloponeso, voltou a Atenas, mandando, antes dele, algumas cartas, nas quais pedia aos atenienses que, apenas chegasse, queria ser recebido na confraria e na religião de seus santos mistérios, e desejava que lhe mostrassem, de uma vez, tudo o que havia, desde as coisas mínimas até as mais importantes, e as cerimônias mais secretas, que se chamavam Epópticas, porque eram manifestadas aos sócios e confrades, muito tempo depois de terem eles sido admitidos às primeiras e pequenas cerimônias: o que não era possível, nem jamais antes havia sido feito, porque os pequenos mistérios celebravam-se desde tempos muito remotos no mês de novembro e os grandes no mês de agosto1503 e os confrades não eram admitidos a ver pessoalmente estas últimas e santas cerimônias, a não ser um ano inteiro, pelo menos, depois dos grandes mistérios. Quando estas cartas foram lidas publicamente, ninguém ousou contradizê-las, exceto Pitodoro, o sacerdote que leva a tocha quando se mostram os mistérios; todavia sua oposição de nada valeu, pois, segundo a proposição de Estratocles, foi declarado e determinado em plena assembleia da cidade, que o mês de março1504, em que então se achavam, seria chamado novembro1505 e como tal considerado. E assim sendo, por seus decretos e editos da cidade, podiam eles receber Demétrio e de fato o receberam na confraria de seus mistérios: depois, novamente, este mesmo mês de março1506, que eles haviam convertido em novembro1507 transformou-se repentinamente em agosto1508 e nesse mesmo foi celebrada então a outra solenidade dos grandes mistérios e assim também, do mesmo modo, Demétrio foi admitido a ver cerimonias mais secretas e íntimas. Por isso o poeta cômico Felipides, reprovando este sacrilégio e esta impiedade da religião violada por Estratocles, fez alguns versos, a propósito:

Aquele que tem o curso e o circuito do ano inteiro, o reduz a um único mês.

Depois, com relação ao fato de ter ele sido causa de que a residência de Demétrio lhe fosse preparada no templo de Minerva, que estava dentro do edifício:

Aquele que fez de vossa fortaleza uma taverna, e que, no templo da deusa Virgem Palas, alojou meretrizes.

XXXIII. Enorme contribuição que ele exige dos atenienses

XXXIII. De todas as baixezas e indecências, imoralidades e desmandos que se cometeram em Atenas, embora muitos fossem, um não houve, como se diz, que humilhasse e pesasse tanto sobre os atenienses como este: Demétrio ordenou-lhes que lhe entregassem imediatamente a soma de duzentos e cinquenta talentos1509. A coleta dessa importância lhes foi sumamente penosa, tanto pela exiguidade do tempo que lhes foi marcado, como porque não conseguiram obter-lhe uma redução. Quando ele teve em mãos este dinheiro, que lhe foi entregue em um amontoado, ele mandou que o levassem a Lâmia e às outras meretrizes, que viviam com ele, para que comprassem sabão: pois a vergonha fazia-lhes mais mal que a perda de seu dinheiro; e as palavras, que ele usou para desprezo deles e da sua cidade, causaram-lhes mais humilhação e sofrimento que não o dinheiro pago; todavia alguns dizem que não foi aos atenienses que ele fez passar semelhante vexame, mas aos tessálios.

XXXIV. Digressão sobre uma concubina de Demétrio, chamada Lâmia

XXXIV. Ainda, porém, além disto, Lâmia por iniciativa própria exigiu dinheiro de vários cidadãos particulares, para uma festa que ela organizou para Demétrio, cuja apresentação foi tão suntuosa e magnífica que Liceu, natural da ilha de Samos, escreveu-lhe a descrição e um certo poeta cômico, a esse propósito, não menos zombeteira que verdadeiramente, chamou a Lâmia de EAepolis, isto é, máquina de tomar cidades; e Democares, natural da cidade de Soh, chamava a Demétrio de fábula, porque tinha sempre essa Lâmia junto de si1510, (como nas fábulas que as velhas contam às crianças, há sempre uma Lâmia, isto é, uma fada ou uma feiticeira): de modo que a autoridade e o prestígio de que Lâmia gozava e o amor que Demétrio lhe consagrava não causavam ciúme, somente, e inveja das mulheres que Demétrio desposara, mas também o ódio de seus familiares e de seus amigos particulares. Alguns de seus gentis-homens, que ele havia mandado como embaixadores ao rei Lisímaco, privando com o mencionado rei, viram um dia grandes cicatrizes, que ele lhes mostrou, causadas pelas garras de um leão, nas coxas e nos braços, pois ele fora obrigado a combater com a fera, quando o furor de Alexandre o encerrara dentro de uma jaula em companhia do feroz animal1511 : riram-se eles, e disseram também que seu senhor trazia também no pescoço os sinais das mordidas de um outro terrível animal, Lâmia. Para dizer a verdade, isto era coisa deveras estranha, pois ele tinha pouca vontade e, com grande pesar, desposara sua mulher Filia, porque não era ela de idade igual à sua; como é então que estava tão cativo de Lâmia e como a amou com perseverança durante tanto tempo, considerando-se que ela era madura e super-adulta? Por isso, Demo, que foi apelidada de Mania1512, (que significa a raivosa), respondeu-lhe graciosamente uma tarde quando Lâmia tinha tocado flauta durante a refeição, tendo-lhe Demétrio perguntado: "Que lhe parece agora, Demo, da minha Lâmia? — Uma velha, majestade", disse ela. Outra vez, quando haviam servido frutas no fim da refeição: — "Vede, disse Demétrio, quantos pequenos obséquios me envia Lâmia?" — "Minha mãe, respondeu Demo, te enviará ainda muito mais, se quiseres dormir com ela".

XXXV. O mesmo sobre uma cortesã egípcia chamada Tonís

XXXV. Conta-se também que Lâmia, certa vez, protestou num julgamento de Bocoris, pelo seguinte: havia no Egito um homem que se apaixonou por uma meretriz de nome Tonis; ela, porém, pedia muito dinheiro para dormir com ele, e o rapaz não podia consegui-lo: era tão grande a paixão, que uma noite o moço sonhou que estava dormindo com ela e que no sonho sentia o mesmo prazer, tão veemente e tão forte que, depois ao despertar, o mesmo prazer passou ao corpo. Sabendo disso, a meretriz citou-o perante o tribunal, para ter o que lhe competia pelo prazer causado ao moço, embora em imaginação, apenas. Bocoris, por sua vez, ordenou ao rapaz que trouxesse ao tribunal, dentro de um vaso, tanto dinheiro quanto ela lhe havia pedido para dormir com ele; depois mandou que. ele o movimentasse em suas mãos, diante dela, para que ela tivesse somente a vista e a sombra: pois, dizia ele, "a imaginação e a opinião são apenas a sombra da verdade". Mas Lâmia achou que este julgamento e esta decisão estavam errados, pois, "a sombra, dizia ela, ou a vista do dinheiro não satisfez o desejo de possuir, da mulher, como o sonho tinha deleitado a paixão do moço e o amor que ele sentia". Mas basta o que dissemos sobre Lâmia.

XXXVI. Liga de vários sucessores de Alexandre contra Antígono e Demétrio

XXXVI. No entretanto os feitos e as aventuras daquele de quem estamos escrevendo fazem passar as palavras da nossa narração de um teatro cômico a uma tragédia, isto é, de um assunto leve e agradável a outro lamentável e cheio de lágrimas; pois todos os outros príncipes e reis reuniram-se e fizeram aliança contra Antígono e reuniram num só bloco toda sua força e toda sua potência. Por isso Demétrio saiu imediatamente da Grécia, e foi reunir-se a seu pai, encontrando-o mais animado e entusiasmado a essa guerra, do que o comportava a sua idade, acrescentando-se que a sua chegada animou-o e encorajou-o ainda mais: todavia, como me parece, se Antígono tivesse querido ceder em algumas pequenas coisas, se tivesse querido ou podido refrear um pouco sua ambição desenfreada de do minar, ele teria conservado para si mesmo e ainda legado a seu filho, depois de sua morte, o primeiro grau de autoridade e de poder, entre todos os reis sucessores de Alexandre; mas ele era orgulhoso e de natureza excessivamente soberba, insolente e ousado em fatos, não menos que em palavras, com as quais indispôs gravemente contra si mesmo vários homens grandes e poderosos. Dizia ele que haveria de destruir e esmagar aquela liga e aquele grupo de conjurados contra ele, tão facilmente como se espanta e se assusta um grupo de passarinhos que vem roubar a semente, depois de lançada ao solo, com uma pedrada ou com um pouco de barulho. E assim pôde ele levar à batalha mais de setenta mil homens de infantaria e dez mil de cavalaria, com setenta e cinco elefantes. Seus inimigos tinham sessenta e quatro mil homens de infantaria e quinhentos de cavalaria, mais do que ele, com quatrocentos elefantes e mais ou menos cento e vinte carros de combate.

XXXVII. Presságios desagradáveis para ambos

XXXVII. Quando os dois exércitos se aproximaram um do outro, parece-me, que em sua mente surgiram algumas apreensões, as quais lhe modificaram a esperança, não, porém, sua coragem; nas outras batalhas, estava acostumado a mostrar atitude e gestos ousados, falando em voz alta e forte, usando palavras altivas e animadoras ou ainda mesmo, às vezes, dizendo palavras xistosas no auge da luta, mostrando confiança em si mesmo e desprezo pelo inimigo; agora, porém, era ele visto calado e pensativo, sem falar. Um dia mandou reunir todo o seu exército e apresentou seu filho aos soldados, recomendando-lhes que o tivessem por seu sucessor e herdeiro; depois falou com ele a sós, em sua tenda, e disso muito mais ainda todos se admiraram; não estava ele na verdade acostumado a manifestar a quem quer que fosse o segredo do seu conselho, nem mesmo ao seu próprio filho, mas tudo deliberava consigo mesmo, e depois ordenava publicamente aquilo que ele sozinho havia deliberado. A este propósito, diz-se, que Demétrio sendo ainda muito jovem, perguntou-lhe um dia, quando o campo mudaria de posição, e que ele respondeu encolerizado: "Tens medo de que somente tu não escutes o som da trombeta?" E o que é mais, aconteceram-lhes vários e sinistros presságios, os quais muito lhe diminuíram o entusiasmo e enfraqueceram-lhe o ânimo; pois fora revelado a Demétrio, em sonho, que Alexandre, o Grande, aparecera a ele armado com todas as peças e que lhe perguntara que palavra eles tinham deliberado dar no dia da batalha: ele respondeu que tinham proposto Júpiter e Vitória: e que Alexandre lhe dissera: "Vou então para os inimigos, pois eles me receberão". E depois, no mesmo dia da derrota, quando todo o exército já estava disposto no campo de batalha, Antígono, saindo de sua tenda, chocou-se tão fortemente, que caiu de bruços, ferindo-se bastante; quando o levantaram, erguendo as mãos ao céu, ele rogou aos deuses, que lhes provesse conceder a vitória, ou então a morte repentina, sem grande dor, antes que ser vencido e ver seu exército dispersado e desbaratado.

XXXVIII. São vencidos; Antígono é morto

XXXVIII. Travou-se então a luta e os homens combatiam corpo-a-corpo; Demétrio, que tinha consigo a melhor e a maior cavalaria, foi atacar Antígono, filho de Selêuco, e combateu com tanto denodo que daquele lado desbaratou o inimigo, e o pôs em fuga: mas, por uma ambição imprudente e um entusiasmo vão, de perseguir os fugitivos, antes que fosse tempo para isso, ele perdeu tudo e foi outrossim causa de uma derrota: pois quando voltou da perseguição, não pôde alcançar seus homens de infantaria, pois os elefantes estavam colocados entre eles: e então Selêuco, vendo que do lado de Antígono não havia mais cavalaria, não se, dirigiu para ele, incontinente, mas ladeou-o, como para cercá-lo, por trás, e amedrontá-los, fazendo sempre menção de atacá-los, para lhes dar, no entretanto, ocasião de passar para o leu lado, como eles de fato fizeram; pois uma grande parte do exército de Antígono abandonou-o e se entregou aos inimigos e o resto foi dispersado. E como um grupo considerável de homens se dirigisse enfurecido para o lugar onde Antígono se encontrava, um dos que estavam perto dele lhe disse: Majestade! Cuidado! Pense em si mesmo, pois elas vêm nos atacar" — Ele respondeu: "E para que me conhecem eles1513 ? Além de que, meu filho Demétrio virá em meu auxílio". Era a sua última esperança; ele olhava sempre para todos os lados, se o via aparecer de algum lugar, até que finalmente, a golpe de dardos, de flechas e de lanças ele foi atirado por terra; ninguém ficou perto do seu corpo, nem seus amigos, nem seus soldados, a não ser um tal Tórax, da cidade de Larissa, na Tessália.

XXXIX. Os atenienses negam a Demétrio a entrada em sua cidade

XXXIX. Depois do infeliz êxito desta batalha, os príncipes e reis que haviam ganho tão bela vitória, como se tivessem partido um corpo volumoso em vários pedaços, repartiram entre si o império de Antígono, e cada qual teve sua parte nas províncias, regiões e países que haviam pertencido a ele, as quais eles anexaram aos que já possuíam antes. Demétrio, com cinco mil homens de infantaria e quatro mil de cavalaria, fugiu com a maior rapidez possível, chegou à cidade de Éfeso, onde todos julgavam que, precisando ele de muito dinheiro, não hesitaria em depredar o templo de Diana Efesina, apoderando-se da prata e do ouro que nele havia; mas, ao contrário, temendo que seus soldados o fizessem contra sua vontade, ele partiu imediatamente, navegando para a Grécia, depositando a maior e a melhor parte da sua esperança nos atenienses, pois havia deixado em Atenas sua mulher Deidamia, com alguns navios e uma soma de dinheiro, julgando que não poderia encontrar retiro mais seguro nem refúgio mais certo em sua desdita, do que na benevolência dos atenienses. Por isso, quando os embaixadores de Atenas vieram encontrá-lo, perto das ilhas Cidades, ele navegava a toda velocidade para a Ática; comunicaram-lhe eles então a nova inesperada, isto é, que desistisse ele de entrar na cidade, porque o povo tinha feito uma lei e um edito, de não permitir mais que nenhum rei entrasse na cidade, e que tinham mandado Deidamia, sua mulher, com acompanhamento honroso à cidade de Megara. Demétrio então encheu-se de imensa cólera; mostrou-se despeitado e perdeu completamente a calma, embora tivesse até então suportado pacientemente a sua infelicidade, não se mostrando, em momento nenhum, dominado pelo desânimo e pelo medo; era porém, aquele, um golpe muito rude, ver-se, contra sua esperança, abandonado pelos atenienses, que lhe faltavam no momento oportuno, constatando assim, na hora em que mais deles necessitava, que a amizade e a benevolência de antes eram falsas e vãs.

XL. Como se deve desconfiar da adulação do povo

XL. Por isso, pode-se evidentemente conhecer, que o argumento mais incerto e enganador da amizade dos povos, das cidades e das aldeias, para tom os príncipes e reis, são as demonstrações excessivas de honras que lhes concedem e decretam. Pois, assim como a verdade e a certeza da honra dependem da afeição daqueles que a prestam, o temor que os povos e as comunidades têm ordinariamente do poder dos reis é bastante suficiente para se suspeitar que eles governem de boa vontade e de coração, visto que por temor eles decretam as mesmas coisas que decretariam por verdadeira e cordial amizade. Por isso os príncipes sábios e prudentes devem considerar, não somente as estátuas que para eles se erigem, ou para os quadros e honras divinas que se lhes decretam, como os atos e as ações e, segundo estes, aceitá-las e crer nelas, como verdadeiras honras, ou rejeitá-las e não crer, como feitas à força: pois é isto que faz que os povos tenham mui frequentemente grande ódio dos reis, quando eles aceitam as honras que lhes são decretadas desmesurada e ultrajosamente, e, o mais das vezes, por aqueles que o fazem contra sua vontade.

XLI. Saqueia as terras de Lisímaco

XLI. Demétrio, portanto, vendo a ação má e indigna que lhe faziam os atenienses, não tendo, porém, no momento, os meios de se vingar, mandou-lhes somente participar a sua tristeza e o seu sentimento, com moderação, pedindo-lhes a restituição de seus navios, entre os quais estava aquela galera que tinha dezesseis ordens de remos, e logo que os teve, se pôs imediatamente ao mar, rumo ao estreito do Peloponeso, onde pôde ainda constatar que de fato as coisas lhe iam mal, pois, de todos os lados, aqueles que ele havia deixado como guardas das praças as haviam abandonado e voltavam as costas para ele e se lhe mostravam inimigos.

Por isso deixou Pirro, seu lugar-tenente, na Grécia e navegou para o Quersoneso, onde, pelas depredações que fazia e pelo s botins que arrebatava, nas terras de Lisímaco, ele sustentava seus homens e enriquecia de novo seu exército, o qual começou então a se tornar outra vez poderoso e temível aos seus inimigos. Quanto a Lisímaco, os outros reis com ele não se incomodavam nem pensavam em auxiliá-lo, porque ele não era mais equitativo do que Demétrio, tinha mais terras e mais poder que os outros, sendo-lhes ainda, suspeito e temível.

XLII. Casa sua filha Estratonice com Selêuco

XLII. Pouco tempo depois Selêuco1514 mandou pedir em casamento a Estratonice, filha de Demétrio e de Filia, embora ele já tivesse um filho de nome Antíoco, de sua mulher Apama Persiana; mas julgava ele que seus negócios e a grandeza de leu estado e de seus domínios eram bem suficientes para vários sucessores: além disso, pensava em se aliar com ele, tendo disso necessidade, pois via que Lisímaco tomava uma das filhas de Ptolomeu para ele, e outra para seu filho Agátocles. Demétrio, vendo essa boa fortuna, que se lhe apresentava, contra sua esperança, sem delongas, levou a filha consigo, e se pôs ao mar com todos os seus navios, rumo à Síria, embora durante essa viagem tivesse sido obrigado a descer à terra várias vezes, mesmo na Cilícia, que Plistarco, irmão de Cassandro, tinha então sob seu domínio, a qual lhe fora entregue pelos outros reis como sua parte nas terras de Antígono, depois da sua derrota.

Este Plistarco, pensando que Demétrio tinha descido ao seu território, não para um descanso, mas para saqueá-lo e depredá-lo, querendo ainda queixar-se de que1515 Selêuco fazia aliança com seu inimigo comum, sem o consentimento de todos os outros príncipes e reis confederados, foi ter com ele. Demétrio foi logo avisado e partiu imediatamente para a cidade de Cindes, levando cento e vinte talentos que ainda pôde encontrar no tesouro de seu pai1516 ; depois, com a maior diligência possível, voltou para embarcar em seu navio e se pôs ao largo. Logo dep ois sua mulher Filia veio procurá-lo, e assim Selêuco os recebeu perto da cidade de Orosso1517 onde eles tiveram uma entrevista real que foi bastante franca, sem fingimento, nem suspeita de parte a parte. Selêuco por primeiro o homenageou em seu campo, dentro de sua tenda, e depois, Demétrio, em sua galera de treze ordens de remos: passaram vários dias juntos em conversações amigáveis, mostrando um ao outro a mais cordial satisfação, sem estarem armados, e sem guardas, até que Selêuco, com sua mulher Estratonice, partiu, com grande triunfo e magnificência, para a cidade de Antioquia. Demétrio ocupou e conservou a província da Cilícia, mandou sua mulher Filia ao seu irmão Cassandro, para responder às queixas e acusações de Plistarco contra ele. Nesse ínterim, Deidamia, sua mulher, partiu da Grécia para vir ter com ele, e, depois de ter ali permanecido algum tempo, morreu de doença. Tendo caído de novo nas boas graças de Ptolomeu, por intermédio de Selêuco, ele casou-se com sua filha Ptolomaida.

XLIII. Separação entre Selêuco e Demétrio

XLIII. Até aqui Selêuco procedera honesta e delicadamente para com ele: mas, depois, intimou-o a entregar a Cilícia recebendo em troca uma importância em dinheiro; o que Demétrio recusou muito bem; Selêuco então manifestou uma avareza violenta e tirânica: pediu-lhe, enraivecido, com ferozes ameaças, pelo menos as cidades de Tiro e Sidon. pasto, parece-me, ele usava de um meio mau e desonesto, como se ele, que tinha sob seu domínio tudo o que está entre as índias e o mar da Sina, fosse ainda tão pobre e indigente que, por duas cidades, punha em dificuldades e cuidava de expulsar seu próprio genro e que tinha sofrido tão severa e dolorosa mudança de fortuna, dando um testemunho certo e seguro daquilo que nos ensina Platão: "Que aquele que quer ficar verdadeiramente rico deve cuidar não em aumentar e fazer crescer suas riquezas, mas antes, de diminuir sua ambição de possuir, porque aquele que não fixa um alvo, e não põe limites aos seus desejos nunca deixará de ser pobre e indigente". Demétrio, porém, não cedeu pelo temor, mas reforçou as cidades com guarnições para defendê-las e guardá-las contra ele, dizendo que, ainda que ele tivesse sido vencido dez mil outras vezes em batalhas, jamais lhe haveria de entrar na mente a ideia de que ele se devia contentar, e reputar-se bem feliz de aceitar com tanto agrado a aliança de Selêuco.

XLIV. Demétrio cerca Atenas

XLIV. Por outro lado ele foi avisado de que um certo Laçares, aproveitando a ocasião de terem os atenienses se envolvido em uma sublevação civil, atirando-se uns contra os outros, os havia oprimido, alvorando-se em tirano e senhor da cidade; ele teve então esperança de facilmente poder retomá-la, se lá chegasse inopinadamente, surpreendendo-os; atravessou então o mar, com grande frota de navios, sem perigo algum: sobreveio, porém, uma grande tempestade na costa da Ática, onde ele perdeu boa parte de seus navios, e muitos dos seus homens também: ele, porém, salvou-se e então começou a fazer guerra aos atenienses, mas depois vendo que assim perdia seu tempo e que nada conseguia, inundou gente de confiança para novamente reunir navios e ele foi ao Peíoponeso, para sitiar a cidade de Messene, onde então correu um grave perigo; pois combatendo bem perto da muralha, ele foi ferido por um dardo que lhe passou pela boca e furou a face. Quando, ao depois, se curou da ferida, submeteu ao seu domínio algumas cidades que se haviam revoltado contra ele, e depois novamente voltou à Ática, onde tomou as cidades de Eleusina e Ramnus, cujo território percorreu e saqueou, tomou um navio carregado de trigo, mandando enforcar o indivíduo ao qual o trigo era destinado, e o piloto do navio, a fim de intimidar os outros negociantes, para que não se atrevessem mais a semelhante ato, e a carestia tomasse conta de toda a cidade, e tivessem eles falta de todas as coisas indispensáveis à vida humana; o que de fato aconteceu, pois a medida de sal era vendida a quarenta dracmas de prata1518, e o alqueire de trigo a trezentos1519. Nesta extrema penúria, os atenienses tiveram uma breve alegria, por causa de cento e cinquenta galeias que divisaram perto de Egina, que Ptolomeu lhes mandava em auxílio; quando os sol dados que estavam dentro delas, porém, viram que também a Demétrio se juntavam muitas outras do Peloponeso, de Chipre e de outros lugares, de modo que ele poderia facilmente reunir ao todo uns trezentos navios, ergueram as âncoras e fugiram.

XLV. Apodera-se da cidade

XLV. O mesmo Lacares abandonou às ocultas a cidade e salvou-se. E então os atenienses, embora tivessem decretado pena de morte contra os que fizessem menção de tratar de paz ou de acordo com Demétrio, abriram-lhe incontinente as portas, mais próximas do lugar onde estava localizado o seu campo, e mandaram-lhe embaixadores, não por terem esperança de alguma graça ou acordo, mas porque a extrema necessidade a isso os obrigava. Durante esse cerco tão apertado aconteceram vários casos estranhos e esquisitos; entre outros, vejamos este: um pai e um filho estavam em sua casa, completamente desanimados em poder levar adiante a própria vida; caiu diante deles, do teto da casa, um camundongo morto; disputaram então, pai e filho, quem o haveria de comer. Diz-se ainda que nesse mesmo cerco o filósofo Epicuro nutriu e sustentou a si mesmo e aos seus familiares, que aderiam à sua doutrina, distribuindo-lhes, contadas, cada dia, um certo número de favas, com o que eles viviam.

Estando pois a cidade de Atenas reduzida a tal extremo, Demétrio lá entrou, e ordenou a todos os cidadãos presentes que se reunissem no teatro, onde os fez rodear de soldados armados; depois colocou outros soldados em volta do palco dos atores. Feito isso, ele mesmo desceu ao teatro, pelas amplas galerias e entradas, como costumam fazer os que representam nas tragédias; com isso amedrontaram-se os atenienses, mais do que antes; ele, porém, acalmou-lhes o medo, imediatamente, logo que começou a falar; pois não deu às suas palavras um tom de cólera ou de raiva, não usou de palavras acres e ásperas, mas somente depois de se ter queixado amavelmente deles, e de lhes ter mostrado delicadamente suas faltas, disse-lhes que os perdoava e que queria de novo gozar das boas graças de todos, e mais ainda, fez distribuir ao povo dez milhões de medidas de trigo e escolheu magistrados, que foram muito aceitos ao povo. Vendo então Democles, o Orador, que o povo soltava grandes exclamações de alegria em louvor de Demétrio, e que os oradores à porfia, se sucediam na tribuna para decretar-lhe todos os dias novas honras a quem sobrepujasse o seu companheiro, ele propôs um decreto, a saber, que se entregasse nas mãos do rei Demétrio o porto e o ancoradouro do Pireu e de Muníquia, para que ele agisse a seu bel-prazer. Isto lhe foi concedido por votos do povo, mas ele mesmo, com sua autoridade própria, colocou uma grande e poderosa guarnição dentro do forte chamado Museum, de medo de que o povo ainda se rebelasse contra ele e não lhe viesse causar novas ameaças e perigos.

XLVI. Vence os lacedemônios

XLVI. Depois de ter assim conquistado os atenienses, foi observar os lacedemônios: mas o seu rei Arquidamo, com uma poderosa esquadra, veio ao seu encontro, a qual ele desmantelou em com bate, e pôs em fuga perto da cidade de Mantinéia depois entrou de armas na mão na Lacônia, chegando até perto da cidade de Esparta, onde desbaratou outra vez os lacedemônios em severo combate, no qual fez quinhentos prisioneiros e matou duzentos; e a cada qual bem parecia que nesse passo, sem obstáculos, ele iria apoderar-se da cidade de Esparta, a qual até então jamais tinha sido tomada.

XLVII. Funesta revolução na sorte de Demétrio

XLVII. Não houve jamais rei, em tempo algum, que tivesse sofrido tantas e tão rápidas mudanças e vicissitudes em sua vida, do que ele, nem que nos seus empreendimentos fosse, ao mesmo tempo, tão grande, tão pequeno, que caísse tão baixo e ao depois tanto se elevasse, que fosse tão fraco e logo em seguida tão poderoso e forte; e por isso diz-se que nas suas grandes adversidades, quando a sorte se voltava contra ele, ele costumav a clamar, endereçando seus clamores à fortuna, com as palavras de Esquilo em um de seus versos:

Tu me quiseste primeiramente fazer
e agora me parece que tu me queres desfazer.

quando suas empresas estavam bem encaminhadas, para reconquistar nova mente grande império e grande poder, vieram-lhe trazer notícias, primeiro, que Lisímaco havia tomado todas as cidades que ele linha na Ásia, e, por outro lado, que Ptolomeu lhe linha tirado o reino de Chipre, exceto somente acalmou-lhes o medo, imediatamente, logo que começou a falar; pois não deu às suas palavras um tom de cólera ou de raiva, não usou de palavras acres e ásperas, mas somente depois de se ter queixado amavelmente deles, e de lhes ter mostrado delicadamente suas faltas, disse-lhes que os perdoava e que queria de novo gozar das boas graças de todos, e mais ainda, fez distribuir ao povo dez milhões de medidas de trigo e escolheu magistrados, que foram muito aceitos ao povo. Vendo então Democles, o Orador, que o povo soltava grandes exclamações de alegria em louvor de Demétrio, e que os oradores à porfia, se sucediam na tribuna para decretar-lhe todos os dias novas honras a quem sobrepujasse o seu companheiro, ele propôs um decreto, a saber, que se entregasse nas mãos do rei Demétrio o porto e o ancoradouro do Pneu e de Muníquia, para que ele agisse a seu bel-prazer. Isto lhe foi concedido por votos do povo, mas ele mesmo, com sua autoridade própria, colocou uma grande e poderosa guarnição dentro do forte chamado Museum, de medo de que o povo ainda se rebelasse contra ele e não lhe viesse causar novas ameaças e perigos.

XLVIII. Alexandre chama-o em seu auxílio

XLVIII. Não obstante, a fortuna ainda lhe fazia, como a má mulher, de que fala Arquíloco a qual, numa das mãos, trazia a água enganadora e, na outra, vingadora, o fogo ardente. Com estas terríveis e espantosas notícias quase a fortuna lhe tirou das mãos a cidade de Esparta, justamente quando ele estava certo de apoderar-se dela, mas ela mesma lhe veio logo apresentar e oferecer esperanças de outros novos e grandes acontecimentos, assim: depois da morte de Cassandro, Felipe, que era o primogênito de todos os seus filhos, e seu sucessor no reino da Macedônia, não reinou muito tempo sobre os macedônios, mas morreu logo depois de seu pai, e os outros dois irmãos mostraram-se mui diferentes um do outro, chegando a combater-se reciprocamente; um, que se chamava Antípater, matou a própria mãe, Tessalônica, e o outro chamou em seu auxílio a Demétrio e Pino, um do reino do Épiro e o outro da região do Peloponeso. Pirro chegou primeiro, e ocupou uma grande parta da Macedônia, que conservou como recompensa pelo auxílio que a seu pedido lhe viera trazer, da modo que ele era já um vizinho temível a Alexandre, que o havia chamado. Além disso, sendo avisado de que Demétrio se tinha posto a caminho, apenas recebera suas cartas, com todo o seu exército, para vir em seu socorro, o moço ficou ainda mais admirado e duplamente espantado pela dignidade e reputação muito grandes de Demétrio. Foi então ao seu encontro, no lugar a que chamam de Deion, onde o saudou e abraçou, com grandes demonstrações de amizade; mas, logo depois, disse que seus negócios estavam em tal estado que (graças aos deuses) não tinha mais necessidade da sua presença para auxiliá-lo.

XLIX. Conjuração de Alexandre para assassinar a Demétrio

XLIX. Depois destas palavras, começaram ambos a desconfiar um do outro. Aconteceu que, um dia, Demétrio ia à casa de Alexandre, onde se havia preparado um festim, e alguém lhe veio denunciar uma emboscada que lhe haviam preparado e dizer-lhe que tinham deliberado matá-lo, logo que ele se apresentasse, para divertir-se nessa recepção; Demétrio não se perturbou absolutamente com isso, mas somente diminuiu um pouco o passo e não caminhou mais com a mesma desenvoltura que antes; no entretanto, mandou dizer aos seus generais que conservassem os homens de prontidão e disse, aos companheiros que estavam com ele e aos oficiais de sua casa, que então estavam junto de si e que eram cm número muito maior que os de Alexandre, que entrassem todos com ele na sala, e lá ficassem até que ele se levantasse da mesa: por isso os homens de Alexandre, encarregados de atacá-lo, não o ousaram fazer, tanto medo sentiram, vendo-o bem acompanhado. Além disso Demétrio, fingindo que então não estava se sentindo bem, saiu imediatamente da sala e deliberou partir no dia seguinte, como se tivesse recebido notícias urgentes, sobro outros negócios importantes que o chamavam, e rogou a Alexandre que o desculpasse, por não poder mais fazer-lhe companhia, constrangido a partir como era, e a se afastar de sua corte, e que, de outra vez, ele viria com mais vagar, quando estivessem ambos mais folgados.

L. Demétrio fá-lo matar

L. Alexandre muito prazer sentiu ao saber que Demétrio se ia contente e não desgostoso, da Macedônia: acompanhou-o até a Tessália e quando chegaram à cidade de Larissa, começaram novamente a se obsequiar um ao outro para se surpreenderem: isso fez com que Demétrio tivesse Alexandre em suas mãos, do modo que ele desejava; pois Alexandre, de própria vontade, não quis a guarda junto de si, de medo que Demétrio também quisesse conservar seus homens, e, por isso, aconteceu-lhe sofrer, por primeiro, o que tinha imaginado e preparado para o outro, pois havia deliberado não o deixai mais escapar, se o pudesse agarrar de novo. Tendo sido convidado a cear em casa de Demétrio, aceitou e foi; no meio da refeição Demétrio levantou se da mesa; Alexandre também se levantou muito assustado, por esse seu gesto, e seguiu-o até a porta; Demétrio então disse aos guardas que estavam ali: "Matem aquele que me segue!" Saiu depois, e Alexandre, que lhe vinha atrás, foi morto ali mesmo, e, com ele, alguns de seus cortesãos que haviam corrido em seu auxílio; um destes, quando morria, disse que Demétrio não o havia precedido senão de um dia. Toda aquela noite passou-se em grande tumulto; no dia seguinte cedo, os macedônios assustaram-se e muito se espantaram, temendo o grande poder de Demétrio, mas quando viram que ninguém os veio atacar, e que ele mesmo ao contrário, mandou dizer-lhes que lhes queria falar e dar-lhes satisfação pelo que tinha feito, começaram então a se tranquilizar e lhe deram audiência de muito boa vontade.

LI. É nomeado rei da Macedônia

LI. Não lhe foi necessário usar de muitas palavras, nem fazer longos discursos para ganhá-los e atraí-los a si; pois odiavam eles Antípater, como parricida e assassino de sua mãe, e não tendo outro melhor, escolheram facilmente a Demétrio, rei dos macedônios: e assim o reconduziram à Macedônia para que ele tomasse posse do seu reino. Esta mudança não foi desagradável aos outros macedônios, que ainda estavam no país, e em suas casas1520, pela recordação que ainda conservavam do mau e desleal proceder de Cassandro para com Alexandre, o Grande, pela qual razão, eles odiavam a toda a sua posteridade; e se havia ainda algum resto da recordação da bondade e doçura de seu avô Antípater, Demétrio recebia-lhe os frutos, tendo por esposa a Filia, da qual tinha um filho, que lhe devia suceder no reino e estava já na adolescência, no campo com seu pai. Gozava então ele de grande prosperidade e tudo lhe corria bem, quando soube que Ptolomeu não somente tinha levantado o cerco de diante da cidade onde ele conservava sua mãe e seus filhos mas lhe tinha ainda prestado grandes homenagens e dado ricos presentes. Por outro lado soube que sua filha Estratonico, que antes fora esposa de Selêuco, tinha-se casado com Antíoco, filho de Selêuco, e tinha sido coroada rainha das nações bárbaras que habitam nas altas províncias da Ásia, o que acontecera assim:

LII. Como o médico Erasístrato descobre a paixão de Antíoco por Estratonice

LII. O jovem príncipe Antíoco, pois o amor às vezes surpreende os homens, enamorou-se de sua madrasta Estratonice, que já tivera um filho de Selêuco: mas sendo jovem e singularmente bela, ele ficou de tal modo preso e apaixonado, que embora ele tivesse feito tudo para dominar essa paixão, todavia cada vez sentia-se mais fraco, de tal modo que espontaneamente ele se condenava à morte porque percebia que seu desejo era censurável, sua paixão, incurável, e sua razão, vencida de todos os lados; resolveu então abandonar a vida e pouco a pouco deixar que ela se esvaísse, abstendo-se de comer e de beber e não cuidando em procurar remédio ao seu mal, fingindo ter alguma doença interior e secreta. Não soube, porém, ele fingir à perfeição e Erasístrato, que era médico, percebeu bem facilmente que seu mal era proveniente de amor; mas era difícil conjeturar-se de quem estava ele apaixonado.

Querendo descobri-lo, ele ficava o dia todo no quarto do jovem príncipe e quando ali entrava algum belo rapaz ou moça, ele olhava atentamente para o rosto do jovem Antíoco, e observava cuidadosamente todas as partes do seu corpo e seus movimentos exteriores, que costumam corresponder às paixões e afetos secretos da alma. Várias vezes pôde então notar que quando outros vinham vê-lo, fosse quem fosse, ele permanecia impassível; mas, quando Estratonice ali chegava, ou sozinha, ou em companhia de seu marido Selêuco, percebia ordinariamente nele os sinais que Safo dá dos apaixonados, isto é, faltavam-lhe a voz e as palavras, o rosto tornava-se vermelho e inflamado, lançava olhares ardentes, com a fronte banhada de suor, e palpitações fortes nos pulsos; e quando as energias da alma estavam esgotadas, ele ficava como em êxtase, fora de si, empalidecendo.

LIII. Como ele induz a Selêuco a dá-la por esposa

LIII. Erasístrato então, por estes sinais e demonstrações tão claras e tão eloquentes, concluiu que não podia ser outra senão Estratonice, aquela de quem o jovem príncipe se apaixonara, o que ele se esforçava por ocultar até à morte; pensou, porém que era coisa vergonhosa declará-lo ao rei; no entretanto, confiando no grande amor que Selêuco tinha pelo filho, um dia, tomou ânimo para fazer-lhe essa difícil confidencia, isto é, que a doença de seu filho outra coisa não era, senão amor; mas, era um amor diferente, um amor impossível, e por isso era necessário que ele morresse, pois o mal era incurável. Selêuco ficou fora de si pela tristeza, ante esta notícia e perguntou-lhe: "Como e por que me dizes que é incurável? " — "Porque, majestade, respondeu o médico, ele está apaixonado por minha mulher". E então, Selêuco: — "Eu sempre te tive, disse ele, no número dos meus melhores amigos, e agora queres negar-me esse favor, de dar tua mulher como esposa a meu filho, pois bem sabes que é o único que eu tenho, e que ele virá fatalmente a morrer se não o salvares?" — "Vossa majestade não faria o mesmo se fosse de Estratonice que ele estivesse apaixonado", disse Erasístrato. — "Prouvesse aos deuses, respondeu incontinente Selêuco, que os mesmos deuses ou os homens dirigissem o seu amor para tal lado, pois, quanto a mim, eu lhe daria, não somente o meu afeto, mas entregaria de boamente o meu reino para salvar-lhe a vida". Vendo então Erasístrato que o rei dizia estas palavras com grande sentimento do coração e com lágrimas nos olhos, tomou-lhe a mão direita e disse-lhe francamente: "Não terá vossa majestade que fazer senão isso mesmo, para ajudar a Erasístrato, pois sendo pai, marido e rei, poderá ainda ser o médico da enfermidade de seu filho". Ouvindo isto, Selêuco mandou reunir o povo e diante de todos declarou que ele tinha deliberado coroar seu filho Antíoco rei das altas províncias da Ásia e Estratonice, rainha, para que se casassem e que ele estava persuadido de que seu filho, que sempre se havia mostrado obediente e submisso à vontade de seu pai, não o contradiria quanto a esse casamento; e quanto a Estratonice, se estivesse descontente com essas núpcias ou se tivesse dificuldade em consentir, pois não era coisa muito comum, ele queria que seus amigos lha fizessem saber, que ela devia considerar bom e honesto tudo aquilo que agradava ao rei, e que era pelo bem do reino universal e utilidade das coisas públicas. Eis como se realizou o casamento de Antíoco com Estratonice.

LIV. Demétrio apodera-se da cidade de Tebas

LIV. Voltando à história de Demétrio, ele recebeu o remo da Macedônia e da Tessália, do modo como dissemos há pouco; e ainda conservava a melhor parte do Peloponeso, e, aquém do estreito, as cidades de Megara e de Atenas; levou ainda seu exército contra os beócios, os quais no princípio quiseram fazer um acordo e tratar da paz, com ele; mas depois que Cleônimo Espartano, com seu exército, entrou na cidade de Tebas, os beócios, anima" dos e encorajados pelas belas palavras de incitamento de Pisis, natural da cidade de Tespis, que então era o maior homem deles, em prestígio e em autoridade, eles renunciaram ao que tinham começado a tratar e deliberaram aceitar a guerra. Por isso Demétrio foi sitiar a cidade de Tebas e mandou aproximar suas máquinas de guerra, de modo que Cleônimo, de medo, saiu ocultamente da cidade: por esse motivo os tebanos, assustados, entregaram-se a Demétrio, o qual, depois de ter colocado grandes reforços nas cidades e ter levado uma boa soma de dinheiro, deixou-lhes como governador seu lugar-tenente, o historiador Jerônimo; parece que ele os tratou com muita generosidade e bondade, perdoando mesmo a Pisis; tendo-o feito prisioneiro não lhe causou maus tratos, mas o recebeu com gentileza, mostrando- lhe simpatia, dando-lhe depois o magistrado de Polemarca, isto é, mestre da guerra, que tem a superintendência com relação às armas, na cidade de Tespis. Pouco tempo depois que isto se havia passado, o rei Lisímaco foi aprisionado por um outro rei bárbaro, de nome Dromicates. Por isso Demétrio, não querendo perder tão boa oportunidade de cuidar dos seus interesses, decidiu-se a invadir a Trácia, julgando não encontrar quem lhe impedisse o caminho, para apoderar-se de tudo e reduzi-la ao seu domínio.

LV. Revolta de Tebas. Demétrio cerca-a e a toma novamente

LV. Mas, apenas ele partiu, os beócios revoltaram-se uma segunda vez, e ele soube que Lisímaco se havia libertado da prisão; voltou então fortemente irritado contra os beócios, que já haviam sido vencidos por seu filho Antígono e então novamente partiu para sitiar Tebas, capital de toda a província. Nesse ínterim, porém, Pirro veio assaltar e saquear toda a Tessália, e chegou até o desfiladeiro das Termópilas: Demétrio foi obrigado a. deixar ao seu filho a continuação do cerco de Tebas, enquanto ele foi contra Pirro, o qual se retirou imediatamente para o seu reino. Assim Demétrio deixou dez mil soldados de infantaria e mil de cavalaria na Tessália, para defesa da região e voltou com o resto do seu exército para atacar Tebas. Fez aproximar-se das muralhas a sua máquina de guerra, que se chamava Elepolis, como já dissemos, que se movia devagarzinho com grande dificuldade, por causa do seu peso e do seu tamanho, de medo que com grande esforço a podiam fazer caminhar um meio quarto de légua1521 em dois meses. Mas os beócios e os tebanos defendiam-se valentemente; e Demétrio, por uma obstinação e ambição de vingança, mais do que por proveito, que lhe pudesse advir, obrigava a miúdo seus soldados a dar o assalto e a se expor ao perigo, de modo que todos os dias muitos deles morriam em grande número. Vendo isso, seu filho Antígono disse-lhe: "Por que fazemos morrer nossos soldados, Bem nenhuma necessidade, nem vantagem?" Demétrio, irritado, respondeu-lhe: "Por que te importas?

Deves1522 a distribuição de trigo aos que morrem?" Mas, para que não se pensasse que ele queria somente expor os outros ao perigo, e ele não se atrevesse a enfrentá-lo, ia também aos combates, tanto que, certa vez, teve o pescoço atravessado por um dardo muito agudo, que lhe foi atirado do alto da muralha, e com isso passou grave perigo; não levantou, porém, o cerco, nem mudou o seu campo, mas tomou outra vez a cidade de Tebas, ao assalto, a qual, repovoada e restaurada, foi tomada duas vezes no espaço de dez anos. Tomaram-se os tebanos de grande medo, pelas furiosas ameaças que ele fez ao entrar na cidade; de modo que eles esperavam toda a sorte de penas e sofrimentos, que podem ser infligidos aos vencidos pelos vencedores, justamente’ indignados. Todavia, depois de ter feito morrer somente treze e expulsado outros, ele perdoou aos demais. Nesse tempo veio à estação em que se celebravam os jogos e a festa chamada de Pítia, em honra de Apoio; tendo os etólios ocupado todas as estradas e passagens, pelas quais era necessário passar para se ir a Delfos, onde os velhos estavam habituados a celebrar os mencionados jogos e festas, ele mandou que estas se fizessem em Atenas, como o lugar mais apropriado, onde se deveria honrar e reverenciar o deus, pois era o patrono da cidade, e os atenienses o consideravam seu progenitor.

LVI. Guerra entre Demétrio e Pirro

LVI. De lá ele voltou à Macedônia, e sabendo que não era seu natural viver na ociosidade e no descanso, vendo outrossim que os macedônios lhe eram mais serviçais e submissos em tempo de guerra, e que em tempo de paz se tornavam mais sediciosos, cheios de curiosidade, de murmurações e de litígios, ele foi fazer a guerra aos etólios, e depois de ter saqueado e pilhado toda a região, ele deixou uma boa parte do seu exército sob o comando de Pantauco, que nomeou seu lugar-tenente; e depois com o resto de seus homens marchou contra Pino, e Pirro também marchou contra ele, mas não se encontraram um com o outro; Demétrio continuou e chegou até o reino do Épiro, que devastou e saqueou; Pino, por sua vez, caminhou para frente; encontrou Pantauco, ao qual atacou imediatamente, chegando a combater corpo-a-corpo com ele, causando-lhe ferimentos e também foi ferido por ele; mas finalmente Pirro venceu, e pôs Pantauco em fuga, matando muitos soldados, fazendo também cinco mil prisioneiros, causando assim grande prejuízo a Demétrio.

LVII. Luxo de Demétrio

LVII. Pirro, porém, não incorreu na ira dos macedônios pelo mal e prejuízo que lhes causou, mas, ao contrário, granjeou entre eles grande fama de valente, por ter feito com suas forças, unicamente, a maior parte dos grandes feitos de armas, que tiveram lugar naquele dia, e por isso, de então, ele foi muito estimado e respeitado pelos macedônios. Alguém mesmo ousava dizer que somente ele era o único rei dentre todos os outros, no qual se podia divisar a imagem, a valentia e a coragem de Alexandre, o Grande, reproduzidas ao vivo e que todos os outros, mesmo Demétrio, não faziam senão imitar sua gravidade, magnificência e majestade real, como os artistas que num palco querem copiar e imitar a alguém. E assim, para se dizer a verdade, havia mesmo muito de tragédia e de pompa em redor de Demétrio: pois não somente ele tinha sempre a cabeça coberta com um chapéu de bordas largas e duplos cordões, e vestia-se de púrpura com bordados de ouro; usava ainda calçados feitos de uma lã também tingida de púrpura, não tecida, mas cortada à maneira de feltro e dourada por cima.

Mandou fazer, e usou durante muito tempo, um manto de um trabalho esplendidamente soberbo e arrogante: pois sobre ele estava pintado o mundo dos astros e dos círculos do céu, que ficou imperfeito pela mudança e pelas vicissitudes de sua fortuna; não houve, porém, rei algum da Macedônia, ao depois, que se atrevesse a usá-lo; embora tivesse havido depois dele vários outros, muito arrogantes e presunçosos.

LVIII. Orgulhosa dureza de Demétrio

LVIII. Estavam muito desgostosos e aborrecidos os macedônios, não somente por verem coisas, às quais não estavam acostumados, mas também, estavam ofendidos por seu modo de viver e pelos prazeres que a si mesmo proporcionava; ainda, porque era muito difícil de ser ele entrevistado e com muita demora podia-se falar com ele. Não dava audiência, ou se a dava, era grosseiro e rude, recriminando altivamente aos que tinham que tratar com ele; chegou a reter por dois anos os embaixadores de Atenas, sem falar com eles, aos quais no entretanto, ao que parece, ele estimava mais do que a outro qualquer povo o u cidade da Grécia: irritou-se porque os lacedemônios lhe tinham mandado apenas um homem, como embaixada, pensando que o haviam feito por desprezo. Respondeu-lhe o embaixador, muito graciosamente e à Lacedemônia, quando Demétrio lhe disse: "Como é que os lacedemônios me mandam somente um homem numa embaixada?" — "Não, ele respondeu, majestade, a um". Ele apareceu algumas vezes em público um pouco mais particular e popularmente vestido que de costume: e deu esperança de um acesso mais fácil, e de que benignamente ouviria as queixas de cada qual. Muitos correram a ele, e apresentaram-lhe humildemente suas queixas por escrito. Ele as recebeu todas, colocando-as na dobra do seu manto; os pobres suplicantes ficaram bem alegres, e o seguiam passo a passo, certos de que seriam prontamente atendidos. Mas, quando ele chegou sobre a ponte do rio Axis, ele desdobrou seu manto e as lançou todas ao rio. Isso entristeceu grandemente o coração dos macedônios, que então constataram que não eram governados por um rei, mas ultrajados por um tirano; e o que mais ainda os amargurava era a recordação de que eles mesmos tinham visto ou tinham ouvido seus antepassados dizer que o rei Felipe era doce e benigno em tais circunstâncias; pois um dia, passando pela rua, uma pobre mulher puxou-o pelo manto pedindo-lhe insistentemente, que a escutasse: ele respondeu que naquele momento não o podia fazer, e então a mulher começou a clamar, em altas vozes: "Não queiras então ser rei í" Estas palavras tocaram-lhe vivamente o coração e ele refletiu, deliberando voltar imediatamente ao seu palácio e deixando de lado todas as outras ocupações, se pôs a escutar as queixas e os pedidos de todos os que o procuravam, a começar por aquela pobre velhinha.

LIX. A justiça é a virtude própria dos reis

LIX. Certamente, nada há que esteja tão bem num príncipe, como fazer e administrar a justiça; Marte, que significa a força, é um tirano, como diz Timóteo: "mas a justiça e a lei, segundo o que diz Píndaro, é a rainha de todo o mundo"; e diz ainda o sábio poeta Homero1523, "que os príncipes e os reis não receberam de Júpiter, em depósito e em custódia, máquinas de artilharia para destruir e arrasar cidades, nem navios fortes e poderosos, mas leis santas e o direito"; e por isso chama ele de discípulo e familiar de Júpiter, não o mais sanguinário dos reis, ou o mais violento, ou o mais conquistador; mas o mais reto e o mais justo1524. E Demétrio regozijava-se de ter um título e de ser chamado por um apelido, totalmente contrário ao de Júpiter: que é chamado de Polieus ou Polieuco, o que significa protetor e conservador das cidades, e ele era chamado Poliorcetes, isto é, tomador e vencedor de cidades; e assim o mal era tomado pelo bem, e o vício posto no lugar da virtude por uma força que não sabia distinguir o bem do mal e que mudava a sua injustiça em glória e sua iniquidade em honra.

LX. Grandes preparativos de guerra e vastos projetos de Demétrio

LX. Voltando, porém, ao ponto de partida, Demétrio adoeceu gravemente na cidade de Pella, durante a doença perdeu quase toda a Macedônia, por um ataque repentino levado a efeito por Pino, que. a percorreu toda e chegou até à cidade de Edessa: mas logo que começou a melhorar, facilmente o afastou, e depois teve com ele alguns acordos, pois, unindo-se a ele, visto que o teria continuamente à sua porta e divertindo-se em combatê-lo, em escaramuças cá e lá, não queria tornar-se menos poderoso e forte para executar o que pretendia. Não premeditava ele pouca coisa, mas pensava em recuperar todas as terras e possessões que seu pai tivera também; e os preparativos que fazia não eram menores nem menos suficientes ao desígnio de sua empresa: pois já tinha organizado e preparado um exército de cem mil homens de infantaria e eram suficientes apenas dois mil, e, além desses, não menos de doze mil cavaleiros, mandando preparar também mais ou menos quinhentos navios, que eram construídos, parte no porto do Pneu, parte em Corinto, parte na cidade de Caleis, e parte nos arredores de Pella. Ele mesmo percorria os estaleiros, mostrando aos operários como era necessário fazer, ajudando-os e conversando familiarmente com eles, de modo que todos se admiravam, não somente da grandeza e da magnificência das suas obras, mas também do seu número: pois ninguém até então havia visto galera, nem de quinze, nem de dezesseis ordens de remos: é verdade que mais tarde Ptolomeu, cognominado Filopater, construiu uma de quarenta ordens de remos, que tinha o comprimento de duzentos e oitenta cevados e a altura desde a quilha até ao alto da popa, de quarenta e oito, e eram precisos nada menos de quatrocentos marinheiros para guarnecê-la e quatro mil forçados para fazê-la navegar e, além disso, ainda podia ela conter, sobre a sua ponte de bordo, uns três mil combatentes; mas esta galera não servia senão de amostra, e era quase semelhante aos edifícios firmes e imóveis, e jamais foi movida do lugar, onde fora construída, senão com grande dificuldade e não menor perigo, mais para causar admiração ao mundo, do que por serviço ou utilidade que dela se pudesse obter; mas a beleza dos navios de Demétrio não impedia que eles fossem bons e velozes para combater, nem a grandeza da estrutura lhes tirava o uso, mas sua ligeireza e agilidade eram ainda mais dignas de serem observadas, que não a magnificência e a suntuosidade.

LXI. Ptolomeu, Selêuco e Lisímaco unem-se contra ele

LXI. Assim, pois, com este grande poder, qual nenhum outro rei antes desde Alexandre pudera conseguir, preparava-se ele para invadir a Ásia: Ptolomeu, Selêuco e Lisímaco aliaram-se então contra ele, primeiramente, e depois, enviaram em nome de todos, seus embaixadores a Pirro, para atraí-lo e chamá-lo à aliança, incitando-o a vir à Macedônia, mostrando-lhe que não devia confiar no tratado que Demétrio tinha feito com ele, como uma paz segura e duradoura, pois não lhe davam garantia de que Demétrio no futuro não lhe faria guerra, mas aguardava ele apenas a oportunidade para fazê-la contra quem melhor lhe parecesse. Pirro, considerando estas coisas e achando-as verdadeiras, consentiu no acorda, e a guerra surgiu áspera e forte de todos os lados contra Demétrio, que adiava o seu começo e esperava ainda: ao mesmo tempo, Ptolomeu com uma grande armada veio à Grécia, e fê-la toda revoltar-se contra ele; Lisímaco do lado da Trácia, e Pirro do lado do Epiro, limítrofe com a Macedônia, penetraram nos territórios e os saqueavam totalmente. Demétrio deixou seu filho Antígono na Grécia e voltou apressadamente à Macedônia, para ir primeiramente contra Lisímaco: quando, porém, se preparava para isso, vieram dizer-lhe que Pino já havia tomado a cidade de Berrea. Difundindo-se estas notícias entre os macedônios, os empreendimentos de Demétrio se desorganizaram completamente; todo o campo se encheu de gritos de desespero e de lamentações, seus homens começaram a mostrar abertamente sua ira contra ele, dizendo toda sorte de impropérios e acusações, e não queriam mais permanecer ali, mas pediam licença para se retirar, sob o pretexto de querer ordenar os seus próprios negócios em suas casas, mas, na verdade, para se ir entregar a Lisímaco.

LXII. O exército de Demétrio; se amotina contra ele

LXII. Por isso Demétrio julgou que seria conveniente afastar-se dele o mais possível, e voltar suas forças contra Pirro, pois ele era do seu país e familiarmente conhecido da maior parte deles, por ter estado com Alexandre, o Grande, e a seu juízo, os macedônios não preferiam Pirro, que era estrangeiro, a ele; mas, nisso ele se enganou; pois apenas colocou seu campo perto dele, os macedônios, que sempre tinham tido veneração e singular admiração pela sua virtude e coragem, e que desde toda a antiguidade costumavam julgar mais digno de ser rei, aquele que era mais hábil nas armas e mais valente na guerra, e que ainda pretendiam contar como ele tinha tratado com benevolência, os prisioneiros: acrescente-se que há muito tempo eles tinham vontade de deixar Demétrio, e para isso buscavam os meios de entregar-se a Pirro ou a qualquer outro; então, começaram a se afastar e secretamente fugiam uns após outros, em pequenos grupos, no começo; mas, depois rebentou no campo uma revolta e uma sedição geral, contra ele, de modo que por fim foram à sua tenda dizer-lhe que se retirasse, que se salvasse, porque os macedônios estavam já cansados de ter as armas na mão para combater para seu prazer: Demétrio ainda julgou estas palavras as mais modestas e as mais doces, em comparação às ultrajosas e ásperas que outros lhe haviam dito.

LXIII. Ele foge

LXIII. Retirou-se à sua tenda, envolveu-se num manto negro, em lugar das vestes luxuosas e soberbas que costumava usar, como faria, não um rei, mas um ator de tragédia, depois de terminado o espetáculo; e depois ausentou-se secretamente: tendo-se espalhado esta notícia, por todo o campo, muitos soldados correram incontinente à sua tenda, para saqueá-la, e cada qual, querendo arrebatar o mais possível, acabaram por destruí-la totalmente, chegando a desembainhar as espadas para lutar: mas Pirro, que chegara, acalmou os exaltados, e logo no início, sem derramamento de sangue, conquistou todo o campo de Demétrio; depois dividiu pela metade todo o remo da Macedônia com Lisímaco, no qual Demétrio havia reinado em paz durante sete anos. Assim, miseravelmente privado de seus bens e de seu reino, fugiu Demétrio para a cidade de Cassandra, onde estava sua mulher Filia, que, ferida pela dor, não pôde suportar a humilhação de vê-lo como um homem privado, derrubado e expulso do seu trono, e o mais miserável de todos os reis, que antes haviam existido. Não tendo então mais nenhuma esperança, e detestando a sorte de seu marido, muito mais firme nas adversidades do que na prosperidade, ela matou-se tomando veneno; Demétrio retirou-se à Grécia, com intenção de reunir ainda o pouco que lhe restava do seu naufrágio, e lá convocou todos os seus generais e os amigos que ainda tinha.

LXIV. Reflexões sobre as vicissitudes da fortuna de Demétrio

LXIV. Parece-me esta a comparação que Menelau faz da sua fortuna em uma das tragédias de Sófocles, nestes versos:

Incessantemente meu destino gira
como uma roda, jamais permanece
no mesmo estado, como a lua,
que nunca fica duas noites na mesma forma,
mas, depois de se ter ocultado,
aparece um pouco, na noite iluminada,
primeiro em seu novo crescente,
que pouco a pouco vai aumentando
e depois se enche completamente de fecunda
luminosidade, em sua bela face redonda:
depois, novamente vai diminuindo
e volta ao seu primeiro nada.

Esta comparação, digo, se poderia muito melhor e mais a propósito aplicar-se às aventuras de Demétrio, aos seus progressos e retrocessos, ao apogeu e à ruína de suas empresas, pois quando parecia a todos que seu poder e sua força estavam completamente esgotados e aniquilados, novamente elas surgiam e se reorganizavam, muitos soldados pouco a pouco iam-se novamente reunindo em torno dele, reanimando-lhe as esperanças. Foi esta a primeira vez que o viram andar vestido simplesmente, como um homem do povo, por toda a região, sem insígnias, nem distintivos de rei; alguém, vendo-o neste estado, em Tebas, aplicou-lhe sarcasticamente alguns versos de Eurípides, assim:

Tendo1525 mudado sua figura imortal e sua fortuna em natureza mortal, ele veio ao rio de Dirceu e passou ao longo do Ismeneu.

LXV. Dispõe o cerco diante da cidade de Atenas e o levanta

LXV. Quando, porém, ele outra vez sentiu a esperança, como, por assim dizer, no grande caminho dos reis, e quando novamente começou a reunir em torno de si alguns homens, que formaram um como corpo e lhe deram algo de aparência real e de poder soberano, ele deu liberdade e seu governo aos tebanos: mas os atenienses abandonaram-no uma segunda vez1526, e reclamaram a dignidade e o sacerdócio de Difilo, que naquele ano tinha sido criado sacerdote dos salvadores, em lugar de prefeito, que antigamente era chamado Epônimo, como já dissemos antes, e ordenaram que desde então, em diante, os antigos magistrados e ordinários seriam escolhidos e eleitos como antigamente; e os mandaram a Macedônia, a Pino, mais para causar medo e temor a Demétrio, que eles viam novamente readquirir seu antigo poder e autoridade, do que pela esperança de vê-lo vir em seu auxílio. Mas Demétrio foi atacá-los com grande fúria, e cercou fortemente a cidade; então os atenienses mandaram a ele o filósofo Crates, homem de grande reputação e de autoridade, que tanto fez junto dele, rogando-o e advertindo-o seriamente, que ele levantou incontinente o cerco. Tendo depois reunido muitos navios, e embarcando doze mil homens de infantaria e alguns de cavalaria, ele se pôs ao mar e navegou para a Ásia, com intenção de tirar a Lisímaco as províncias da Caria e da Lídia e fazê-las voltar-se contra ele: e lá, Eurídice, irmã de sua mulher Filia, recebeu-o perto da cidade de Milet, tendo consigo uma das filhas de Ptolomeu e dela, chamada Ptolemaida, a qual antes lhe havia sido nada como n oiva, por meio de Selêuco: e assim ele a esposou com o desejo e o consentimento de sua mãe Eurídice. E logo após as núpcias ele se pôs ao campo e prosseguiu, para alcançar as cidades, algumas das quais o receberam de boamente, e outras foram tomadas à força: dentre as quais tomou Sardes, e aí generais de Lisímaco foram entregar-se a ele levando-lhe alguns soldados e uma boa soma de dinheiro.

LXVI. Extremos a que o reduz Agátocles

LXVI. Tendo, porém, sido avisado de que Agátocles, filho de Lisímaco, seguia as suas pegadas com um poderoso exército, passou para a Frígia; pois imaginava que se conseguisse alcançar a Armênia, facilmente ele poderia levantar e rebelar toda a Média e tentaria conquistar as outras altas províncias da Ásia, onde poderia ter vários refúgios, se por acaso fosse depois perseguido. Mas Agátocles perseguia-o bem de perto, e no entretanto, todas as vezes que eles travavam escaramuças, Demétrio sempre levava a melhor; mas Agátocles cortava-lhes os víveres de todos os lados, e o apertava fortemente, tanto que seus homens não ousavam, se afastar do campo para procurar forragem, e por isso sofriam grande penúria de víveres; começaram então seus homens a duvidar e suspeitar de que ele os queria conservar perto dele, e levá-los à Armênia e à Média. A fome crescia todos os dias, cada vez mais, no seu exército, e aconteceu que por ter perdido-o caminho e não ter bem experimentado o vau ao atravessar o rio de Lico, a força e a impetuosidade das águas carregaram muitos de seus homens que morreram afogados; no entretanto, apesar de tantos desastres, eles ainda se alegravam cem ele, pois alguém escrevera até, à entrada da sua tenda, o primeiro verso da tragédia de Edipo, o Colônio, escrita por Sófocles, trocando apenas algumas palavras: Ó filho do velho cego Antígono, onde estamos e a que lugar viemos? Por fim a peste começou a se misturar com a fome, como sói acontecer, porque os homens, levados pela necessidade comem tudo o que encontram e lhe foi necessário deixar para trás o que restava dos soldados, pois ele tinha perdido mais ou menos oito mil homens ao todo, bons e maus.

LXVII. Tentativas inúteis de Demétrio para conseguir o auxílio de Selêuco

LXVII. Quando chegou à província de Tarso ordenou que não se tocasse em nada, porque ela estava então sob a dominação de Selêuco, ao qual ele não queria absolutamente prejudicar: mas, quando viu que isso era impossível, pois seus homens estavam reduzidos à extrema necessidade, e Agátocles tinha feito murar e fechar as passagens do monte Tauro, ele escreveu uma carta a Selêuco, que continha, antes, uma longa lamentação e queixa amarga sobre a sua sorte, e depois de humildes súplicas e orações, pedia que tivesse piedade de seu aliado, que tinha caído em tão difícil e miserável infortúnio, tão grande que poderia mover à compaixão os seus maiores inimigos. As suas palavras comoveram um pouco o coração de Selêuco, de modo que ele escreveu aos prepostos e governadores que ele tinha naqueles lugares, que fornecessem para a sua pessoa, tudo o que era necessário para o palácio de um rei, e víveres à vontade aos seus soldados. Todavia, um certo indivíduo de nome Patrocles, que tinha a reputação de ser um homem de muito entendimento, e leal amigo de Selêuco, veio fazer-lhe ver, que dar de comer aos soldados de Demétrio, não era a maior falta que ele cometia, e da qual ele devia fazer mais conta, mas que não era, ao invés, muito prudente, com relação aos seus empreendimentos, deixar que Demétrio permanecesse em suas terras, pois desde todos os tempos, ele tinha sido assaz violento e mais ousado em acometer grandes empresas, do que nenhum outro príncipe, e agora estava reduzido a tal extremo e a tal desespero, o qual faz os mais tímidos e medrosos temerários em empreender e violentos em executar todas as tentativas ousadas contra o seu natural.

LXVIII. Selêuco marcha contra ele

LXVIII. Selêuco, considerando estes motivos, se pôs imediatamente a caminho da Cilícia Com um grande exército; Demétrio assustado com tal mudança, e temendo seu grande poder retirou-se aos lugares mais fortes e mais ásperos do monte Tauro: depois mandou a Selêuco, embaixadores, pedindo-lhe permissão para subjugar e conquistar algumas regiões dos bárbaros nas imediações, que ainda não tinham reis, e viviam com suas leis, a fim de que lá pudesse passar tranquilo os seus últimos dias e por fim ao seu exílio, detendo-se em algum lugar que lhe fosse determinado; ou então, se isso não fosse do seu agrado, que ele lhe quisesse sustentar o exército somente no inverno, no lugar onde ele estava, e que não tivesse o coração tão duro para expulsá-lo desprovido de tudo e de todas as coisas mais necessárias, para expo-lo aos seus mais cruéis e ferozes inimigos. Mas Selêuco suspeitando de tudo o que ele lhe pedia, mandou-lhe, ao invés, dizer que passasse somente ali dois meses de inverno, e não mais, na região da Catonia, dando-lhe como refém seus melhores amigos; no entretanto fazia impedir todas as passagens e caminhos por onde se pudesse passar à Síria.

LXIX. Doença de Demétrio

LXIX. Por isso Demétrio, vendo-se cercado e rodeado de todos os lados como um animal que se quer prender numa teia, por necessidade, recorreu à forca; vasculhou toda a região, nos arredores; e todas as vezes que tratava escaramuças com Selêuco sempre levava a melhor; mesmo quando várias vezes lançaram contra ele carros armados de foices, ele passou por cima e os pôs em fuga; depois desalojou os que guardavam os cumes das montanhas, e fechavam as passagens para impedir que ele passasse à Síria e as ocupou em seguida. Em suma, vendo seus homens animados e decididos, criou ânimo também, a ponto de se preparar e deliberar dar combate ao mesmo Selêuco, e de arriscar-se de qualquer modo, e assim o próprio Selêuco não sabia o que devia fazer; pois ele tinha feito voltar o auxílio que Lisímaco lhe havia mandado, porque o temia e não confiava nele; e por outra parte, ele duvidava em combater sozinho contra Demétrio, temendo enfrentar um homem desesperado; duvidando também da instabilidade da sua fortuna, a qual, muitas vezes, de extrema necessidade o havia elevado a grande prosperidade. Mas, nesse ínterim, Demétrio adoeceu gravemente, ficando extremamente fraco e débil, perdendo por completo as forças do corpo, e com isso arruinou todas as suas empresas; de seus soldados, alguns foram se entregar aos inimigos, outros debandaram e espalharam-se cá e lá sem licença. Quando mais tarde a custo recobrou a saúde, refazendo~se durante quarenta dias, com apenas poucos soldados que lhe permaneceram fiéis, ele apareceu fazendo menção aos seus inimigos de partir para a Cilícia; depois, repentinamente, à noite, sem dar sinais, nem toques de trombetas, ele movimentou-se e passou para o outro lado, pelo monte Amano, saqueando toda a região que estava abaixo, até as terras da Cirrestica.

LXX. O exército de Demétrio passa para o lado de Selêuco

LXX. Selêuco, porém seguiu-lhe as pegadas, e foi acampar bem perto dele; Demétrio, então, armou imediatamente seus homens, e durante a noite, foi ao seu encontro, enquanto ele dormia, e não suspeitava absolutamente de nada; de tal sorte, que ele não soube desta surpresa senão muito tarde porque alguns traidores do campo de Demétrio, que haviam fugido na frente, vieram às pressas adverti-lo, quando ele ainda dormia, e trazer-lhe a notícia do grande perigo que corria. Selêuco, muito assustado, levantou-se incontinente, deu o sinal de alarme, vestiu-se e preparou-se, clamando e dando ordens em altas vozes, aos seus amigos e servidores: "Temos agora que enfrentar um animal selvagem e muito perigoso!" Mas Demétrio, imaginando pelo grande ruído que escutava no campo inimigo, que seu ardil tinha sido descoberto, retirou-se apressadamente: no dia seguinte ao raiar do dia, Selêuco foi apresentar-lhe batalha. Demétrio preparou-se para recebê-lo, e tendo confiado o encargo de uma das pontas do seu exército a um dos seus mais fiéis amigos, tomou ele a outra, e venceu alguns inimigos, do seu lado. Mas Selêuco no meio do combate desceu do cavalo, e tirando seu capacete, tomou somente um escudo no braço, dirigiu-se às primeiras filas do seu exército, apresentando-se e mostrando-se aos soldados de Demétrio, aconselhando-os a se voltarem contra ele, e a reconhecer, pelo menos, no fim, que havia muito tempo que ele evitava dar-lhe batalha, mais para poupá-los, que não a Demétrio. Ouvindo isto os soldados de Demétrio fizeram-lhe uma reverência, e saudando-o como seu rei, reconhecendo-o tal, entregaram-se totalmente a ele.

LXXI. Demétrio entrega-se a Selêuco

LXXI. Então Demétrio, que tinha experimentado antes tantas vicissitudes, tantas mudanças e alterações em sua fortuna, cuidando de escapar desta última, fugiu para as portas Amanidas, que são algumas passagens e estreitos do monte Amano, onde encontrou um bosque muito espesso e ali deliberou esperar a noite, com alguns companheiros, gentis-homens de sua corte, alguns oficiais e servos, que o haviam seguido em pequeno número, para depois, se lhe fosse possível, retomar o caminho da cidade de Cauno, e chegar até à costa do mar, onde esperava encontrar algum dos seus navios; mas quando lhe disseram que não havia víveres e outra provisão qualquer senão para aquele dia, unicamente, ele começou a ter outras preocupações e a falar de outro modo até que Sosígenes, um de seus familiares, chegou, o qual tinha no cinto mais ou menos quatrocentas peças de ouro. Assim, esperando com aquele dinheiro poder escapar até o mar, retomaram o caminho, durante a noite, para o alto da montanha; mas, vendo que os inimigos já estavam perto, vigiando, e haviam feito grandes fogueiras, eles perderem a esperança de poder passar sem ser percebidos: voltaram então ao mesmo lugar, de onde haviam partido, não todos, porém, pois alguns haviam fugido, e os mesmos que haviam ficado não se mostravam tão animados como antes. Um houve que ousou dizer que não havia outro meio de salvação senão entregar Demétrio a Selêuco. Demétrio então desembainhou sua espada e quis matar-se, mas seus amigos o impediram, e puseram-se todos a persuadi-lo que ele o devia fazer; por isso ele mandou dizer a Selêuco que se entregava, e com isso Selêuco experimentou grandíssima alegria, e disse que não era a boa sorte de Demétrio que o salvava, mas a dele a qual, além de outros grandes bens e honras, que lhe tinha concedido, oferecia-lhe ainda uma tão honrosa ocasião e essa felicidade de mostrar a todo o mundo sua clemência e humanidade.

LXXII. Selêuco o desterra para Quersoneso da Síria

LXXII. Mandou imediatamente chamar seus mordomos, e ordenou-lhes que construíssem uma tenda real, e que aprontassem todas as outras coisas convenientes para se receber e tratar magnificamente a Demétrio. Havia na corte de Selêuco um gentil-homem de nome Apolonide que outrora fora muito íntimo de Demétrio: Selêuco mandou-o incontinente a ele, para assegurar-lhe de uma boa recepção, e que poderia vir sem nenhum temor ao seu rei, pois nele encontraria um amigo e um aliado. Logo que se tornou conhecida a vontade do rei, alguns cortesãos compareceram à sua presença, em pequeno número, a princípio; mas logo depois, cada qual a porfia corria para chegar primeiro, pois julgavam todos que imediatamente teriam crédito e autoridade perante Selêuco: isso, porém, foi causa de se mudar a piedade em raiva e de dar ocasião aos invejosos e aos indivíduos de má índole, de impedir e deturpar a humanidade do rei; pois lhe foram falar de suspeitas dizendo que dentro de pouco tempo, desde que o vissem os soldados, então grandes novidades haveriam de surgir, e grandes mudanças em seu campo. E assim pouco depois que Apolonide, muito satisfeito por trazer boas notícias, havia chegado a Demétrio, e quando outros também satisfeitos iam repetindo e comentando as gentis palavras de Selêuco, e o mesmo Demétrio, depois de tão grande infelicidade, (ainda que antes ele pensasse ter feito uma ação ignommiosa, entregando-se nas mãos do seu inimigo) mudara de ideia e começara a tranquilizar-se e a retomar esperança de poder voltar ao seu primitivo estado; eis que chega um dos generais de Selêuco, de nome Pausânias, com uns mil homens de infantaria e cavalaria, com os quais rodeou Demétrio, mandou afastarem-se todos os outros que lhe estavam perto, pois tinha o encargo de o levar, não à corte do rei, mas a Quersoneso da Síria, onde ele foi desterrado, com uma guarda numerosa que o custodiava.

LXXIII. Como Antígono recebe a notícia do cativeiro de seu pai

LXXIII. Depois Selêuco mandou-lhe oficiais, dinheiro e tudo o de que se precisava para a casa de um príncipe, e todos os dias preparavam-lhe tudo tão opulentamente, para o seu viver, que nada mais se poderia desejar. Além disso foram-lhe determinados vários lugares de passeio, onde havia belas corridas, e ele podia divertir-se, montando a cavalo ou passeando, pomares, parques cheios de animais, onde ele podia caçar: aos que o tinham acompanhado, de sua corte, era permitido conviver com ele, se quisessem; vinham frequentemente pessoas da parte de Selêuco trazer-lhe boas palavras, e confortá-lo, dando-lhe sempre esperanças de que apenas Estratonice e Antíoco tivessem voltado, eles lhe fariam uma visita. Estando pois Demétrio reduzido a este estado, ele escreveu a seu filho Antígono e aos seus oficiais e amigos que estavam em Corinto e em Atenas, que não prestassem fé a nenhuma carta que lhes fosse endereçada em seu nome, nem mesmo ao seu selo, se nelas estivesse gravado; mas, ao invés conservassem para Antígono as cidades que eles tinham, e o resto de seu poder, como se ele tivesse morrido. Antígono depois de ter sabido do deplorável estado de seu pai, ficou assaz amargurado, vestiu-se de luto, escreveu a todos os outros reis, até mesmo a Selêuco, suplicando-lhes que o tomassem como refém, por seu pai, pois ele estava pronto a deixar tudo o que lhe restava para sua libertação; o mesmo lhe pediram várias cidades e quase todos os príncipes, exceto Lisímaco, o qual lhe prometia, por seus embaixadores uma boa soma de dinheiro, se o quisessem fazer morrer. Mas Selêuco que já há muito não o amava e o tinha em grande desprezo, considerou-o ainda mais malvado, mais cruel e mais bárbaro, por esta vil e baixa perseguição; ele, porém, adiava sempre e prolongava o tempo, porque queria que Demétrio fosse libertado por seu filho Antíoco e por Estratonice, a fim de que devesse a sua libertação aos mesmos, e para sempre de boamente eles soubessem disso.

LXXIV. Morte de Demétrio

LXXIV. Demétrio, desde o princípio, suportou pacientemente o seu exílio e a sua infelicidade, e cada dia mais se acostumava a levar facilmente o estado em que se encontrava: pois, em primeiro lugar, ele exercitava seu corpo em corridas e caçadas, enquanto o lugar o permitia, e lhe era concedido; mas pouco a pouco começou a se enfastiar e a se aborrecer de tais exercícios, e entregou-se à embriaguez e aos jogos de dados, tanto que passava a maior e a melhor parte do seu tempo nesses divertimentos, quer para evitar os enfadonhos pensamentos da sua infelicidade, que lhe traziam à memória o tempo em que ele vivia sobriamente, quer para abafar o que ele tinha na mente com esses excessos de comer e de beber, ou ainda reconhecendo em si mesmo que era aquela a vida que ele por tanto tempo havia procurado, almejado e desejado, e por loucura de vã ambição, se tinha desviado e tinha deixado o verdadeiro caminho, dando a si mesmo e aos outros, muitas penas e aborrecimentos, para cuidar de encontrar em exércitos e esquadras, por terra e por mar, a felicidade e o soberano bem que ele tinha encontrado no descanso e na ociosidade, quando não mais esperava outra coisa nem mais a desejava. Que outro fim de seus trabalhos, perigos e guerras, podem propor-se os maus e mal aconselhados príncipes e reis? São eles grandemente enganados, não somente porque perseguem com afã as delícias e a voluptuosidade, como seu bem soberano em lugar da virtude e da verdadeira honestidade: mas também porque não sabem, na verdade, empregar bem o tempo em folganças, nem em gozar acertadamente do prazer. Demétrio então, depois de ter estado três anos relegado no Quersoneso, contraiu pela ociosidade, pela gula e pela embriaguez uma enfermidade, da qual morreu na idade de cinquenta e quatro anos; o mesmo Selêuco foi grandemente censurado e depois arrependeu-se muito de ter suspeitado dele, e de não ter pelo menos seguido a honestidade e a cortesia de Dromicates, homem bárbaro, nascido na Trácia, que tinha tratado Lisímaco com tanta humanidade e de modo real, sendo ele seu prisioneiro de guerra: e todavia, ainda teve ele uma certa pompa trágica e teatral no aparato do seu funeral.

LXXV. Exéquias fúnebres que lhe presta seu filho Antígono

LXXV. Seu filho Antígono, quando foi avisado que traziam suas relíquias e suas cinzas, pôs-se ao mar com todos os seus navios e foi ao seu encontro, para recebê-las, até as ilhas, e depois de as ter recebido, as colocou numa urna de ouro, na popa da galera capitania, e todas as cidades diante das qua is passava, ou onde eles aportavam, umas cobriam a urna de coroas de flores, outras enviavam homens vestidos de luto para as acompanhar e para lhes prestarem as honras merecidas, e assistirem aos funerais até o fim. Assim navegava toda a frota, para a cidade de Corinto e via-se de longe essa urna em lugar elevado sobre a popa da nau-chefe, toda circundada de púrpura e por cima o diadema real, com o estandarte, e ainda muitos jovens armados, como guarda de honra. Além disso, Xenofanto, o mais exímio músico daqueles tempos, sentado junto da urna, tocava na flauta, uma melodia tão piedosa e devota, que combinava com o movimento dos remos e das vagas e cujo som se misturava com graça às lamentações daqueles que batiam no peito, a cada estrofe da canção. Mas o que causava tristeza e mais levava o povo de Corinto a chorar e a se lamentar, quando, postado ao longo do mar, aguardava a chegada, era Antígono, que se lhes apresentava todo macilento de dor, trajado de luto. Depois de terem atirado flores, muitos ramalhetes e festões sobre a urna, depois de lhe terem prestado todas as honras possíveis à cidade de Corinto, Antígono fez transportar a urna para sepultá-lo na cidade de Demetríade, que tinha o nome do falecido, e era uma cidade nova, que tinha sido povoada e construída de pequenas outras cidades, em redor de Iolcos. Demétrio deixou dois filhos de sua primeira esposa Filia, isto é, Antígono e Estratonice; e dois outros, ambos chamados Demétrio, um apelidado o Magro, de uma mulher da região dos Ilírios e o outro, que foi príncipe de Cirene, de sua mulher Ptolomaida: e de Deidâmia um outro chamado Alexandre, que viveu no Egito: e diz-se que ainda teve um outro filho chamado Corrabo, de sua mulher Eurídice, e continuou sua posteridade reinando por sucessão de pai a filho, até Perseu que foi o último rei, no tempo do qual os romanos subjugaram e submeteram à sua dominação o reino da Macedônia. Agora é tempo, depois que o macedônio representou o seu papel, que o romano venha ao palco, para também desempenhar o seu.

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