CARDOSO, Ciro Flamarion S. O Egito Antigo. São Paulo: Brasiliense, 2004.
Publicado originalmente em 1982, essa obra faz parte da série Tudo é História, uma coleção de livros introdutórios lançados pela editora Brasiliense. O livro é muito curto, apenas 132 páginas, e pode ser lido tranquilamente em 1, 2 dias.
A obra é interessante para quem está começando. Quando eu estava fazendo a cadeira de História Antiga Oriental na universidade, essa foi a primeira obra cuja leitura me foi exigida. Mas o livro é muito limitado, não há como negar. Todas as questões importantes são trabalhadas em um espaço de uma página e a maior parte da obra se dedica a descrever eventos e dinastias da história política egípcia.
Embora o autor comente rapidamente alguns temas interessantes, essa é uma obra de passagem. Serve como uma base para que você então possa iniciar a leitura de livros mais complexos e artigos científicos mais específicos.
Algo que faz falta é um índice remissivo. Apesar da obra ser curta, esses índices sempre ajudam na hora dos estudos.
O livro se divide em cinco partes principais. Comentarei cada uma delas abaixo:
A falência da "hipótese causal hidráulica"
No primeiro capítulo é comentado um tópico muito discutido da História Egípcia: seriam os egípcios antigos negros ou brancos? O autor faz uma análise muito racional dessa questão.
Depois ele argumenta contra a chamada hipótese causal hidráulica. Segundo essa hipótese, a unificação da antiga civilização egípcia, por volta do ano 3000 a.C, teria ocorrido como o resultado da "necessidade de uma administração centralizada das obras de irrigação para o bom funcionamento da economia agrícola num país de clima desértico."
Ciro Flamarion apresenta bons argumentos para refutar essa hipótese, entre eles que o processo de irrigação no Egito Antigo era facilitado pelo ciclo de cheias naturais apresentadas pelo rio Nilo, que, ao contrário dos rios da Mesopotâmia, possuía períodos de cheias menos violentos. Além disso, o autor esclarece que grandes obras de irrigação só foram levadas a cabo pelos faraós no Reino Médio, até então o trabalho de irrigação sempre teve um caráter mais local.
Economia e sociedade
Nesse capítulo são apresentadas características gerais da economia dessa civilização, tais como a agricultura, a criação de animais, a população, as matérias-primas, o comércio e os padrões de referência anteriores a moeda (shat e deben).
Quanto a sociedade, cada uma das suas partes é descrita: o poder estatal, os faraós, os nobres, os camponeses e escravos. E também é comentada a questão da propriedade de terras.
O poder: sinopse da história faraônica
Nesse capítulo de cerca de 50 páginas, o autor faz um apanhado geral da história política da civilização egípcia. Apresentando os diversos períodos, principais faraós, e mudanças que ocorreram na política e na relação do faraó com os nobres e com os sacerdotes; além de citar as diversas invasões estrangeiras e as épocas de anarquia.
O período analisado pelo autor vai desde a pré-história (pré-unificação) até o domínio dos persas. O texto, embora bem escrito, é um pouco cansativo pela insistência do autor em citar dinastias, nomes de reis, e outros eventos, que comentados tão rapidamente parecem muito desinteressantes.
Aspectos da vida intelectual
Aqui o autor foca em quatro tópicos:
- Pensamento egípcio antigo: Com destaque para a visão egípcia do mundo e o poder que a palavra possuía para os antigos egípcios.
- A Religião: Os cultos, os templos, as crenças funerárias, oráculos e amuletos.
- Língua, escrita e literatura: Hieróglifos, hierático e demótico, e o limitado conhecimento dessa civilização.
- Artes plásticas: Arte, arquitetura, escultura e pintura.
Conclusão: "modo de produção asiático"?
No último capítulo o autor comenta o conceito de Modo de produção asiático, proposto por Karl Marx e por historiadores marxistas posteriores como um modelo de organização social e política das antigas sociedades do oriente. Segundo esse modelo, essas sociedades compartilhariam algumas características, as seguintes são enumeras pelo próprio autor:
- Um nível das forças produtivas mais avançado do que o das sociedades tribais primitivas.
- A existência da comunidade de aldeia.
- A existência de um Estado despótico acima das comunidades de aldeia.
- A relação entre o Estado e as comunidades aldeãs se expressa na chamada "escravidão generalizada".
- Embora existam escravos no sentido comum do termo, não constituem a base da produção social.
- A inexistência de comércio e artesanato como atividades suficientemente autônomas para alterar a ordem social.
- A tendência à estagnação.
Ciro Flamarion faz algumas observações sobre cada uma dessas características, e ao final, embora se posicione fortemente contra a característica número 7, ele admite que "o Egito Antigo talvez constitua o caso histórico que melhor reflete tal modelo".
Resenha publicada em 18/12/2018.
Escrita por
Moacir Führ
Moacir tem 36 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.