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Inconfidência Mineira para Iniciantes

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Capa do artigo: Inconfidência Mineira para Iniciantes

Recorte da obra Tiradentes Esquartejado, óleo sobre tela de 1893 do pintor brasileiro Pedro Américo de Figueiredo e Melo. Atualmente o quadro se encontra no Museu Mariano Procópio, em Juiz de Fora.

A Inconfidência ou Conjuração Mineira  foi uma tentativa de revolta contra a Coroa Portuguesa organizada nas Minas Gerais durante o período colonial brasileiro. Em sua maioria, os envolvidos da Conjuração eram membros da elite colonial, como mineradores, fazendeiros, advogados e oficiais de alta patente. Sendo uma das exceções, José Joaquim da Silva Xavier, um oficial de baixa patente falido que nas horas vagas trabalhava como dentista, tendo recebido por isso o apelido depreciativo de Tiradentes.

As Causas da Conjuração:

A Inconfidência Mineira coincidiu com a queda da produção de ouro na região das Minas Gerais e com a troca de seu governador provincial. Em 1788 a Coroa substituiu o corrupto governador por um novo, o visconde de Barbacena, que tinha ordens expressas de conseguir recolher 1500 kg de ouro em impostos por ano.

Caso esse objetivo não fosse atingido, o governador deveria instituir a derrama. Do ponto de vista prático isso queria dizer que os soldados da Coroa invadiriam as casas da região e retirariam todas as riquezas até que o objetivo de 1500 kg fosse atingido. O novo governador também tinha ordens para investigar e cobrar daqueles que já tinham dividas com a Coroa portuguesa. Tudo isso contribuiu para deixar muitos membros da elite mineira em extremo desconforto.

As idéias iluministas européias serviram de base ideológica para o movimento. Muitos jovens de Minas Gerais estudavam em Portugal ou em outros países europeus e assim entravam em contato com as novas idéias que lá surgiam, principalmente sobre livre comércio e ideais republicanos. Vale lembrar que a Inconfidência Mineira foi desbaratada em 1789, apenas alguns meses antes da queda da Bastilha e do início da revolução francesa, um movimento liberal que mudaria o mundo.

Que Estado os conjurados planejavam construir?

As principais medidas planejadas pelos conjurados após o fim vencedor da rebelião eram: o fim dos monopólios comerciais (livre-comércio), incentivo a indústria, criação de uma universidade em Vila Rica, formação de milícias integradas por cidadãos para a defesa do Estado (ou seja, não havia planos para um exército nacional), e distribuição de terras aos pobres.

São João Del Rei seria a capital do novo Estado, que provavelmente englobaria todas as Minas Gerais. Esse Estado já possuía até uma bandeira que continha um triangulo em verde cercado pelos dizeres em latim do poeta romano Vírgilio: “Libertas, quae sera tamem.” (Liberdade, ainda que tardia.).

A política do novo Estado ainda não havia sido definida, haviam discordâncias sobre o modelo a se seguir, se seria o Americano (República) ou o Inglês (Monarquia parlamentar). A escravidão também foi outro tema de discussão em que os conjurados não haviam chegado a uma conclusão, mas provavelmente ela seria mantida, afinal a maioria dos rebeldes era formada por grandes proprietários de terras ou de minas que dependiam dessa forma de trabalho.

Traição e prisão:

Em 15 de março de 1789, o membro da conjuração Silvério dos Reis, traiu o movimento e entregou todos os outros membros ao governador provincial, que prendeu praticamente todos eles.  Alguns deles, como João Rodrigues de Macedo, um rico contratador, ficaram livres, provavelmente subornando o governador.

Tiradentes que estava no Rio de Janeiro, provavelmente buscando apoio para a conjuração, foi preso lá mesmo e os outros membros foram presos em Minas Gerais.

Até hoje não sabemos exatamente quem foi o líder da conjuração. Segundo o traidor, o líder era Tomás Antônio Gonzaga, mas como esse era um inimigo pessoal dele não podemos ter certeza. Outro que pode ser sido o líder do movimento é Cláudio Manual da Costa que, após ser preso, em maio de 1789, morreu na prisão sob circunstâncias suspeitas. O relatório do governo diz que ele havia se suicidado, muito embora seja difícil acreditar que alguém seja capaz de se enforcar “de pé usando as pernas como alavanca para consumar o suicídio.” (AQUINO,  2000, p. 345)

Também segundo Aquino:

“Não se deve concluir ter sido Tiradentes o chefe do movimento libertador. Ao que tudo indica, o cabeça do movimento foi o tenente-coronel Francisco de Paulo Freire de Andrade, comandante do Regimento de Cavalaria Regular de Minas Gerais e em cuja residência se realizaram inúmeras reuniões dos conjurados.” (AQUINO, 2000, p. 343)

O destino dos conjurados:

Aqueles que foram presos foram enviados para fortalezas militares no Rio de Janeiro. O longo processo do caso só terminou três anos depois da traição de Silvério dos Reis. Toda uma encenação foi feita para reforçar o poder da Coroa Portuguesa. Vários réus foram condenados a forca, no entanto, uma carta da clemência da rainha de Portugal transformou todas as penas em banimento para Angola, Benguela e Moçambique, exceto a de Tiradentes, que foi condenado por, segundo a própria carta da rainha “disseminar o movimento” em outras províncias. Uma referência a ida de Tiradentes ao Rio de Janeiro.

José Joaquim da Silva Xavier foi enforcado em praça pública e seu corpo foi esquartejado, sendo seus pedaços enviados para exposição em vários locais no Rio de Janeiro e em Minas Gerais.

Artigo escrito originalmente em 2011.

Foto de membro da equipe do site: Moacir Führ
Escrito por Moacir Führ

Moacir tem 36 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.

Galeria de imagens 1 de 3

'Tiradentes Esquartejado', óleo sobre tela de 1893 do pintor brasileiro Aurélio de Figueiredo e Melo. Atualmente o quadro se encontra no Museu Mariano Procópio, em Juiz de Fora. Via Wikimedia Commons.

Pintura 'O martírio de Tiradentes' (1893), de Aurélio de Figueiredo e Melo, Museu Histórico Nacional, RJ.

'Retrato de Tiradentes' (1922), pintura de Oscar Pereira da Silva. Tiradentes é retratado como uma figura quase divina, um 'Jesus Cristo Brasileiro'.

Fontes bibiliográficas
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