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Armas e armaduras - Perguntas frequentes

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Capa do artigo: Armas e armaduras - Perguntas frequentes

Armadura do século 16 (1585-1595) atribuída ao armeiro italiano Pompeo della Cesa.

1. Como os homens com armadura iam ao banheiro?

Esta é uma das perguntas mais populares, principalmente entre os visitantes mais jovens do Museu, para a qual, infelizmente, não existe uma resposta definitiva. Quando a pessoa que usava armadura não estava envolvida na guerra, ela simplesmente fazia o que as pessoas fazem hoje. Ela se dirigia a um banheiro (nos tempos medievais e renascentistas geralmente chamado de latrina ou garderobe) ou algum outro local isolado, removia partes relevantes de sua armadura e roupas e atendia ao chamado da natureza.

Soldados medievais fazendo o número dois. Cerca de 1332-1350. Paris, França. BL Royal 16 G VI Chroniques de France ou de St Denis, 185v

Estar no campo de batalha deve ter sido um assunto diferente. Nesse caso, não sabemos a resposta. No entanto, devemos ter em mente que, no meio da batalha, ir ao banheiro provavelmente era uma das menores preocupações.

2. A saudação militar origina-se do levantamento da viseira? Incerto

Às vezes, argumenta-se que a saudação militar teve origem durante a República Romana, quando os assassinatos eram comuns e os cidadãos eram obrigados a abordar os funcionários públicos com a mão direita levantada para mostrar que não escondiam uma arma.

Um relato mais comum é que a saudação militar moderna se originou de homens em armaduras levantando as viseiras de seus capacetes antes de cumprimentar seu senhor ou seus camaradas. Este gesto teria tornado uma pessoa reconhecível e vulnerável, ao mesmo tempo demonstrando que a mão direita (ou seja, a mão da espada) não carregava uma arma, sendo ambos sinais de confiança e boa intenção.

Príncipe Harry, da Inglaterra, ao lado de oficial da aeronáutica britânica. Observe como os dois executam a saudação militar de forma diferente, em diferentes regiões do mundo a posição das mãos e dos dedos pode variar durante a saudação.

Embora essas teorias sejam convincentes (e românticas), na verdade há poucas evidências para apoiar qualquer uma delas como a origem direta da saudação militar moderna. Quanto à prática romana, seria virtualmente impossível provar que ela durou quinze séculos (ou foi revivida durante o Renascimento), levando em linha reta à saudação militar moderna. Também não há evidências diretas para a teoria do visor, embora ela seja mais recente. A maioria dos elmos de guerra posteriores a 1600 costumavam não ter visores, e os elmos tornaram-se raros nos campos de batalha europeus após cerca de 1700.

Seja como for, os registros militares ingleses do século 17 indicam que "o ato formal de saudação consistia na remoção do chapéu". Por volta de 1745, um regimento inglês, os Guardas Coldstream, parecem ter corrigido este procedimento, sendo instruídos a "colocar as mãos nos chapéus e fazer uma reverência ao passarem".

A famosa Guarda Coldstream, um símbolo da Inglaterra.

Esta prática foi rapidamente adotada por outros regimentos ingleses e pode ter se espalhado da Inglaterra para a América (através da Guerra da Independência) e Europa Continental (através das Guerras Napoleônicas). Consequentemente, a verdade pode estar em algum lugar no meio, com a saudação militar originando-se como um gesto de respeito e polidez paralelo ao costume civil de levantar ou tirar o chapéu, possivelmente em combinação com o costume do guerreiro de mostrar a mão direita desarmada.

3. “Cota de malha” ou “Malha”?

As vestimentas defensivas compostas de anéis interligados devem ser corretamente referidas como “malha” ou “armadura de malha”. O termo comum "cota de malha" é na verdade um pleonasmo moderno (um erro lingual que significa "o uso de mais palavras do que o necessário para expressar uma ideia": neste caso, tanto "cota" quanto "malha" referem-se a um objeto feito de anéis interligados). Resumindo, o termo “cota de malha” diz a mesma coisa duas vezes.

Cota de malha do século 15 de origem alemã feita de aço com detalhes em latão. A cota de malha já existia desde a antiguidade, era usada por soldados romanos e permaneceu em uso durante a Idade Média e a Idade Moderna. MET. N° 14.25.1540

Como acontece com tantos conceitos errôneos, as origens desse nome impróprio podem ser encontradas no século 19. Quando os primeiros estudiosos de armadura olharam para as obras de arte medievais, eles notaram o que pensaram ser representações de muitas formas diferentes de armadura: anéis, correntes, faixas de anéis, escamas, placas pequenas, etc. Com licença poética, todas as armaduras iniciais eram referidas como “malha”, distinguido apenas por sua aparência, daí os termos “malha circular”, “cota de malha”, “malha com faixas”, “malha em escala”, “malha com placas” e assim por diante.

Hoje é comumente aceito, entretanto, que a maioria dessas diferentes representações são, na verdade, várias tentativas de artistas de mostrar com eficiência a superfície de um tipo de armadura que é difícil de representar tanto em pintura quanto em escultura. Em vez de mostrar cada anel interligado, os pequenos elos eram estilizados por pontos, barras, formas em S, círculos e semelhantes, que prontamente se prestavam a interpretações erradas.

4. Quanto tempo levava para produzir uma armadura?

Dar uma resposta definitiva a essa pergunta é impossível por vários motivos. Em primeiro lugar, quase nenhuma evidência sobreviveu que forneça um quadro completo para um determinado período. Poucas evidências estão disponíveis a partir do século 15 sobre como a armadura era encomendada, em que época o pedido era concluído e quanto custavam as peças ou a armadura inteira.

Em segundo lugar, uma armadura completa podia incluir elementos feitos por vários armeiros especializados. As peças também podiam ser mantidas em estoque semiacabadas e então equipadas por uma comissão específica.

As armaduras eram produzidas em oficinas de ferreiros altamente especializados.

Finalmente, a questão é complicada por diferenças regionais e nacionais. Em todas as terras de língua alemã, a maioria das oficinas de armeiros era controlada por rígidos regulamentos da guilda, que limitavam o número de aprendizes e, portanto, tinha um efeito direto no número de peças que podiam ser produzidas por um mestre e sua pequena oficina. Na Itália, por outro lado, não existiam tais regulamentações, e as oficinas poderiam ser muito maiores, o que sem dúvida deve ter aumentado a velocidade e a quantidade de produção.

Em todo caso, é preciso ter em mente que a produção de armas e armaduras era um negócio próspero durante a Idade Média e o Renascimento. Armeiros, ferreiros de lâmina, fabricantes de armas, fabricantes de besta e arcos e flechas eram encontrados em todas as grandes cidades. Na época, como agora, seu mercado era regulado pela oferta e demanda, e o trabalho eficiente em termos de tempo deve ter sido uma parte essencial de um negócio de sucesso.

O mito comumente repetido de que “levava anos para fazer uma única cota de malha”, portanto, é um absurdo (o que não é negar, no entanto, que a confecção de malha era uma ocupação extremamente trabalhosa).

A produção de cota de malha é um processo muito lento, que pode levar semanas.

A resposta a esta pergunta é, portanto, tão simples quanto elusiva. O tempo necessário para fazer a armadura dependia de vários fatores, a saber, quem encomendou o trabalho, de quem o trabalho foi encomendado (ou seja, quantas pessoas estiveram envolvidas na produção e quão ocupada a oficina estava com outras encomendas) e, finalmente , que qualidade de armadura foi solicitada.

Dois exemplos famosos podem servir para ilustrar esse ponto. Em 1473, Martin Rondelle, provavelmente um armeiro italiano trabalhando em Bruges, que se autodenominava “armeiro de Meu Senhor, o Bastardo da Borgonha”, escreveu a seu cliente inglês, Sir John Paston. O armeiro informou a Sir John que ele podia fazer a armadura solicitada assim que o cavaleiro inglês lhe dissesse quais peças ele precisava, de que maneira e quando a armadura devia ser concluída (infelizmente, nenhum prazo é fornecido).

Nas oficinas da corte, a produção de armaduras para um cliente principesco parece ter exigido mais tempo. Aparentemente, o armeiro da corte Jörg Seusenhofer (e um pequeno número de assistentes) levou cerca de um ano para completar uma armadura de cavalo e uma grande armadura encomendada em novembro de 1546 pelo rei (posteriormente imperador) Fernando I (1503-1564) para ele e seu filho , e entregue em novembro de 1547. Não sabemos se Seusenhofer e sua oficina também estavam trabalhando em outras encomendas naquela época.

5. Detalhes das armaduras: explicadando o descanso da lança e a braguilha

Existem dois detalhes nas armadura de placas que parecem estimular a imaginação pública mais do que qualquer outro recurso: um é muitas vezes referido como "aquela coisa saindo do lado direito do peito", enquanto o outro geralmente é apenas mencionado sob uma risadinha abafada como “Aquela coisa entre as pernas.” A terminologia de armas e armaduras conhece ambos os objetos como o Descanso da lança (lance rest) e a Braguilha (codpiece).

O descanso da lança apareceu logo após o surgimento da couraça sólida no final do século 15 e permaneceu em uso até o declínio da armadura. Ao contrário do que o termo “descanso de lança” parece sugerir, entretanto, seu objetivo principal não era suportar o peso da lança. Seu propósito real é duplo e um tanto melhor descrito pelo termo francês “parada peitoral” (arrêt de cuirasse).

O descanso da lança (Arrêt de Cuirasse) foi implementado em armaduras usadas por cavaleiros a partir do final do século 14. Essa reconstrução moderna mostra como ele ajudava o cavaleiro a segurar a lança e a conter o recuo causado pelo impacto da lança em um oponente. Foto de vídeo produzido por Robert N. Charrette.

Ele permitia que o guerreiro montado segurasse a lança firmemente apoiada sob seu braço direito, assim “prendendo” ou impedindo que ela deslizasse para trás. Isso servia para estabilizar e equilibrar a lança, permitindo uma melhor pontaria. Além disso, o peso e a velocidade combinados do cavalo e do cavaleiro eram transferidos para a ponta da lança, tornando-a uma arma formidável. Se o alvo fosse atingido, o descanso da lança também atuava como um amortecedor, impedindo a lança de "atirar" o cavaleiro para trás e dispersando o impacto através do peitoral por toda a parte superior do corpo, em vez de deixá-lo concentrado na mão, pulso, cotovelo e ombro direito.

É digno de nota que na maioria das armaduras usadas em batalha, o descanso da lança geralmente podia ser dobrado para cima, ou retirado, de modo que não impedisse a mobilidade do braço da espada, após a lança ter sido descartada.

Já a história da braguilha blindada (codpiece) está intimamente relacionada à sua contraparte em trajes civis masculinos. De meados do século 14 em diante, as roupas masculinas para a parte superior do corpo ocasionalmente se tornavam tão curtas que quase revelavam a virilha. Naquela época, antes do desenvolvimento das calças, os homens usavam leggings amarrados à roupa de baixo ou a um cinto, e a virilha era escondida com uma aba presa à borda superior interna de cada legging.

Retrato de Antonio Navagero (1565) pelo artista Giovanni Battista Moroni. Observe como a braguilha se destaca nas roupas masculinas do século 16.

No início do século 16, essa aba começou a ser acolchoada e, assim, enfatizada visualmente. Como tal, a braguilha permaneceu comum no traje masculino europeu até o final do século 16. Na armadura, a braguilha como uma peça separada de placa de defesa para os genitais apareceu por volta de 1520 e permaneceu em uso e moda até cerca de 1570. Grossa e acolchoada por dentro, era presa à armadura no centro da borda inferior da saia.

A famosa armadura de justa do Henrique VIII (1540) é conhecida por sua braguilha bem pronunciada. A armadura tem 187 cm de altura e 35,3 kg. Royal Armouries, Leeds. N° II.8

Embora sua forma inicial fosse bastante semelhante a uma cúpula, permaneceu sob a influência direta do traje civil, e os exemplos posteriores são um pouco mais apontados para cima. No entanto, não era normalmente usado com armadura a cavalo; primeiro, porque isso atrapalharia e, segundo, porque o arco frontal blindado da sela de guerra geralmente oferecia proteção suficiente para a região da virilha. Assim, a braguilha costuma ser encontrada em armaduras usadas para lutar a pé, tanto na guerra quanto em torneios, e, embora tenha algum valor protetor, sempre foi um elemento de moda quanto de defesa.

6. Os vikings usavam chifres nos capacetes? Muito improvável

Uma das imagens mais duradouras e populares de um guerreiro medieval é a de um Viking, imediatamente reconhecível por seu elmo adornado com um par de chifres. Há, no entanto, poucas evidências que sugiram que os vikings usaram chifres como decoração para seus elmos.

O primeiro uso de um par de chifres (estilizados) como uma crista parece ser o pequeno grupo de capacetes sobreviventes da Idade do Bronze Céltica, particularmente na Escandinávia e na área da França, Alemanha e Áustria dos dias modernos. Essas cristas eram gravadas em bronze e podiam assumir a forma de dois chifres ou de um perfil triangular achatado, às vezes ambos.

Elmo de bronze encontrado em Moosbruckschrofen, Áustria. Século 14 a.C.Elmo Waterloo. Uma peça de bronze produzida por volta de 150-50 a.C. Atualmente no Museu Britânico. Via Wikimedia Commons.


Esses capacetes datam provavelmente do século 12 ou 11 a.C. Dois mil anos depois, por volta de 1250 em diante, os pares de chifres tornaram-se novamente populares em toda a Europa e permaneceram como uma das cristas heráldicas mais amplamente usadas em capacetes para batalhas e torneios durante o final da Idade Média e o Renascimento. É fácil ver que nenhum desses períodos coincide com o período geralmente associado aos ataques escandinavos do final do século 8 ao final do século 11.

No centro desse manuscrito é possível observar um cavaleiro lutando com um elmo com chifres. Elmos assim também podiam ser utilizados em justas, onde elmos estilizados eram mais comuns. Cerca de 1300-1350, Áustria. WLB HB XIII 6 Weltchronik & Marienleben, 143v.

Os elmos usados ​​pelos guerreiros Viking eram geralmente de formato cônico ou hemisférico, às vezes feitos de uma única peça de metal, às vezes construídos de segmentos mantidos juntos por fios de metal conectando (Spangenhelme).

Vários deles parecem ter sido equipados com uma proteção facial, que podia ter a forma de uma barra de metal simples que se estendia sobre o nariz (nasal), ou uma placa facial composta por uma nasal com proteção adicional para os olhos e maçãs do rosto superiores em placa ou, finalmente, uma proteção total de todo o rosto e pescoço feita de malha.

O famoso elmo viking conhecido pelo nome de Gjermundbu helmet. Descoberto em 1943 na Noruega. É um dos poucos elmos originais da Era Viking que sobreviveu. Museu de História Cultural de Oslo.

A terceira e última parte desse artigo, trazendo as últimas seis perguntas frequentes, será publicada nos próximos dias. Fique ligado!

Tradução de texto escrito por Dirk H. Breiding
Outubro de 2004

Foto de membro da equipe do site: Moacir Führ
Postado por Moacir Führ

Moacir tem 36 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.

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