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Alguns dos achados arqueológicos que serão citados no artigo (da esquerda para a direita): Máscara de Warka, Estátua de Tell Asmar, Touro de ouro na frente de harpa encontrada no Cemitério de Ur, Estátua de Gudea de Lagash, Prisma de Weld-Blundell. Para mais informações leia o texto.
Esse é o primeiro de uma série de artigos que tem por objetivo apresentar os achados arqueológicos mais importantes da História da Mesopotâmia. Os itens apresentados foram escolhidos devido a sua popularidade, já que aparecem em praticamente todos os livros que tratam desse tema. Também levamos em conta a existência ou não de informações referentes as obras. Há muitos itens encontrados na Mesopotâmia cujas datas, propósitos e localização atual não estão muito claras. Esse foi um fator para que alguns itens não entrassem nessa lista.
Importante destacar que o objetivo dessa série, não é fornecer uma lista exaustiva de todos os vestígios materiais já encontrados. O intuito é apenar prover uma amostra, e apresentar àqueles itens que são mais comumentes citados por historiadores.
Começaremos essa série tratando de vestígios materiais da civilização da Suméria, cidades da região sul da Mesopotâmia que tiveram o seu auge de desenvolvimento durante o período 3200 a 2300 a.C.
Data aproximada: 3200–3000 a.C.
A máscara e o vaso de Warka foram encontrados na antiga cidade de Uruk. Warka é o nome atual da cidade em árabe.
A Máscara de Warka ou Máscara de Uruk também é muitas vezes referenciada como A Dama de Uruk (Lady of Uruk). Segundo Roaf, essa máscara "representa uma mulher. Originalmente tinha uma peruca, e os olhos e as sombrancelhas tinham incrustações. (...) É provável que a máscara fizesse parte da estátua de uma deusa, talvez Inanna." (ROAF, 2006, p. 58)
O vaso de Warka é feito de alabastro e tem 91 cm de altura, pesando incríveis 270 kg. Ele apresenta quatro faixas horizontais esculpidas em relevo, com uma cena de oferenda onde aparecem o rei e a deusa Inanna.
Durante a invasão do Iraque em 2003 o vaso de Warka foi roubado, mas alguns meses depois, durante uma anistia dada pelo governo iraquiano, ele foi devolvido quebrado em 14 pedaços. O vaso foi restaurado em parceria com a Universidade de Chicago.
A máscara também foi roubada, mas foi recuperada por uma operação liderada por um coronel da marinha norte-americana. A máscara estava enterrada na fazenda de um agricultor no norte de Bagdá e, felizmente, não havia sido danificada.
Atualmente ambos, o vaso e a máscara, estão expostos no Museu Nacional do Iraque.
Data aproximada: 2900-2550 a.C.
Esse conjunto de 12 estátuas descoberta em Eshunna (atual Tell Asmar) em 1933 permanece sendo alguns dos melhores exemplares da arte da suméria. O site do Museu Metropolitano de Nova York descreve uma das imagens com o seguinte comentário:
Esta figura de pé, com as mãos entrelaçadas e um olhar de olhos arregalados, é um adorador. Foi colocado no "Templo Quadrado" em Tell Asmar, talvez dedicado ao deus Abu, a fim de orar perpetuamente em nome da pessoa que representava. Segundo os sumérios, os humanos estavam fisicamente presentes em suas estátuas. Estátuas semelhantes às vezes foram inscritas com os nomes dos governantes e suas famílias.
Essas estátuas estão atualmente distruídas nos seguintes museus: Museu Metropolitano de Nova York, Museu Nacional do Iraque e Instituto Oriental de Chicago.
Data aproximada: 2600-2500 a.C.
O cemitério de Ur, e os túmulos reais nele descobertos, permanecem sendo até hoje uma das grandes descobertas da arqueologia na Mesopotâmia. Tanto é assim que eu dediquei um artigo inteiro a tarefa de descrever essas grandes obras de arte, também escrevi outro artigo sobre a história das escavações. Dê uma passada lá para mais detalhes.
As obras de arte encontradas por Leonardo Wooley no Cemitério de Ur, estão espalhadas pelo mundo nos seguintes museus: Museu Britânico, Museu Metropolitano de Nova York, Museu Nacional do Iraque e Museu da Universidade da Pensilvânia. Abaixo você confere fotos de algumas das obras de arte que fazem parte desse acervo.
Data aproximada: 2600-2350 a.C.
A Estela dos Abutres (Stele of Voltures, em inglês) é também conhecida como estela de Eanatum, soberano de Lagash por volta de 2400 a.C. Segundo Roaf:
"(estela) em comemoração da sua vitória sobre a Cidade-Estado de Umma. A estela foi encontrada em pedaços em Girsu. (...) vêem-se os exércitos na batalha. Os corpos dos mortos são alimento para as aves, sendo por isso conhecida como Estela dos Abutres. A longa inscrição documenta os pormenores do conflito fronteiriço que opunha as duas Cidades-Estados de Lagash e Umma." (ROAF, 2006, p.86)
Apenas alguns fragmentos da estela ainda existem. O tamanho original dela teria sido de 1,8 m de altura por 1,3 m de largura. Os fragmentos da estela estão atualmente em exposição no Museu do Louvre, em Paris. Os números de registros são AO 16109, AO 50, AO 2346, AO 2348.
Data aproximada: 2400 a.C. em Lagash
Estátua de basalto negro retratando um escriba sentado, identificado por uma curta descrição nas costas como "Dudu". Estátua de 45 cm de altura. Atualmente em exposição no Museu Nacional do Iraque.
Data aproximada: 2150-2125 a.C.
Gudéia foi um famoso rei de Lagash do final do Terceiro Milêncio a.C. Segundo Roaf,
"em escavações de jazigo foram encontradas 11 estátuas que o representam. (...) As estátuas de Gudéia representam-no de pé ou sentado. Em uma delas, sustenta nos joelhos um plano do templo que está construindo. Em algumas estátuas, Gudéia aparece com a cabeça raspada, enquanto em outras, como nesta, usa um chapéu recoberto de espirais, provavelmente indicando que era de couro." (ROAF, 2006, p.98)
Algumas das estátuas de Gudéia de Lagash estão em exposição no Museu do Louvre (AO 3293, AO 4108, AO 3293) e no Museu Metropolitano de Nova York (59.2).
Data aproximada: 1827-1817 a.C.
A prática de escrever textos na escrita cuneiforme em prismas e cilindros foi muito comum durante toda a história da Mesopotâmia. Isso porque, como os textos em cuneiforme eram escritos em tábuas de argila (com apenas dois lados), havia uma grande dificuldade no momento em que era necessário escrever um texto mais longo. Então formatos alternativos foram adotados. O formato de prisma fornecia quatro lados iguais e mais dois menores, facilitando a escrita, a conservação e o transporte de textos mais longos.
O prisma Weld-Blundel possui textos escritos nos quatro lados, e na parte de cima e de baixo há um buraco atravessando todo o bloco. É provável que o prisma fosse conservado e transportado com a ajuda de uma vareta que transpassava toda sua estrutura.
Segundo Roaf:
O exemplar mais bem conservado da lista de reis sumérios está escrito em cuneiforme no Prisma de Weld-Blundell. Esta lista contém os nomes dos soberanos da Suméria desde antes do dilúvio até Sinmargir, rei Isin (1827-1817 a.C.). (...) O objetivo dessa Lista Real era mostrar que, desde a primeira vez 'que a monarquia desceu do céu', foi escolhida determinada cidade para dominar todas as outras'. (ROAF, 2006, p.80)
O prisma de Weld-Blundel foi descoberto em uma expedição liderada pelo arqueólogo britânico Herbert Weld Blundell (1852-1935). O artefato foi entregue a coleção do museu Ashmole, em Oxford, e permanece lá até hoje. O bloco possui 20 cm de altura por 9 cm de largura.
No próximo artigo falaremos sobre os achados arqueológicos mais importantes da Acádia.
Moacir tem 37 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.