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Achados arqueológicos mais famosos: Babilônia

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Capa do artigo: Achados arqueológicos mais famosos: Babilônia

Alguns dos achados arqueológicos que serão citados no artigo (da esquerda para a direita): Estátua de homem rezando, Estela de Hamurabi, Cabeça de rei, Kudurru da Era Cassita. Para mais informações leia o texto.

Nesse artigo, continuação da série sobre os achados arqueológicos mais famosos da Mesopotâmia, apresentaremos objetos do período Babilônico, incluindo a Dinastia Cassita, que dominou o sul da Mesopotâmia. Trabalharemos o período que vai do século 19 ao século 12 a.C.

Relevo Rainha da Noite

Data aproximada: Século 19-18 a.C.

Painel de relevo retangular de argila queimada também conhecido como Relevo Burney. Modelado em relevo na frente, representando uma figura feminina nua com asas e garras emplumadas, de pé com as pernas juntas; usando um cocar composto por quatro pares de chifres encimados por um disco e elaborados colares e pulseiras em cada pulso; segurando as mãos ao nível dos ombros com uma vara e anel em cada um; figura sustentada por um par de leões  acima de um padrão representando montanhas ou terreno montanhoso, e ladeado por um par de corujas em pé.

Não sabemos qual divindade o relevo representa. Algumas teorias discutidas sugerem Inanna (Ishtar), Lilith, ou Ereshkigal. Em um excelente artigo escrito para o site Ancient.eu, Joshua J. Mark analisa cada uma dessas hipóteses, e apresenta os argumentos dos especialistas para cada uma delas.

Ao final, a resposta permanece aberta, mas há grandes indícios que apontam para a hipótese de se tratar da deusa Ereshkigal, irmã de Ishtar e rainha do mundo inferior. Confira:

O motivo das asas apontando para baixo foi usado em toda a Mesopotâmia para indicar uma divindade ou espírito associado ao submundo e a Rainha tem tais asas. Ereshkigal vivia no palácio do submundo de Ganzir, que se pensava estar localizado nas montanhas do leste, o que explicaria a cadeia montanhosa representada ao longo do rodapé da placa. (...) Ereshkigal é notoriamente retratada no poema Descida ao Submundo, de Inanna, como estando nua. (...) Da mesma forma, os leões sob os quais a rainha se encontra poderiam representar a supremacia de Ereshkigal até mesmo sobre os seres vivos mais poderosos, e as corujas, associadas à escuridão, poderiam estar ligadas à terra dos mortos. Toda a iconografia da placa da Rainha da Noite parece indicar que a deidade representada é Ereshkigal (...) (MARK, 2014)

O autor completa dizendo que, infelizmente, como não possuímos nenhuma outra representação dessa deusa, não temos como fazer uma comparação para acabar com esse mistério.

Tamanho: 49,5 cm de altura x 37 cm de largura. Museu Britânico. N° 2003,0718.1Reconstrução da pintura original.

Deus de Ur

Data aproximada: 2000-1750 a.C.

Estátua de argila queimada de um deus sentado. A análise química mostra que ela era originalmente pintada. A barba era preta e as partes expostas do corpo eram vermelhas. Há vestígios de uma arma no braço esquerdo. A figura usa um chapéu com quatro pares chifres, típico das representações de divindades na arte mesopotâmica.

Estudiosos acreditam se tratar de uma representação do deus sol Shamash. A estátua foi originalmente encontrada em Ur, nas escavações realizadas por Leonard Wolley em 1930-31.

Fragmentos de estátua de divindade. 7,2 cm de altura. Museu Britânico. N° 122934

Estátua de homem rezando

Data aproximada: 1792–1750 a.C.

Também conhecida como "O adorador de Larsa" (Worshipper of Larsa). Um personagem que está meio ajoelhado, com uma mão na frente da boca, em atitude de oração. Uma longa inscrição na base indica que a estatueta foi dedicada ao deus Amurru ou Martu, deus patrono dos amorreus, por um homem da cidade de Larsa, pela vida de Hamurabi. Uma pequena tigela foi anexada à frente da base.

Em muitos livros essa estátua costuma ser atribuída ao próprio Hamurabi. Mas não há nenhuma evidência que comprove que ela represente o próprio rei.

Tamanho: 19,6 cm de altura x 14,8 cm de comprimento. Museu do Louvre. N° 15704


Estela de Hamurabi

Data aproximada: 1792-1750 a.C.

O Código da Lei de Hamurabi é o emblema da civilização mesopotâmica. Esta alta estala de basalto erigida pelo rei da Babilônia no século 18 a.C. é uma obra de arte, história e literatura, e o compêndio legal mais completo da Antiguidade. Levado por um príncipe do país vizinho de Elam, no Irã, no século 12 a.C, esse monumento foi exibido na cidade de Susa, junto com outras obras-primas mesopotâmicas de prestígio. Descoberta por Jacques de Morgan em escavações realizas em Susa em 1901-1902.

Essa estela  possuí o código de leis do rei babilônico Hamurabi gravado em cuneiforme. Graças a essa descoberta, tivemos acesso a versão mais completa de um código de leis da Mesopotâmia. Se você tem mais interesse no Código de Hamurabi, leia a nossa série de artigos sobre o tema, começando por aqui.

Tamanho: 2,2 metros de altura x 65 cm de comprimento. Museu Britânico. N° Sb 8


Cabeça de rei

Data aproximada: 2000 a.C.

Esta pequena cabeça esculpida é uma das obras mais famosas do mundo da arte antiga oriental. A qualidade excepcional da escultura e a idade avançada da pessoa representada levaram alguns a acreditar que se tratava de um retrato de Hamurabi, rei da Babilônia (1792-1750 a.C). No entanto, o trabalho provavelmente antecede o reinado do governante. De fato, alguns detalhes, como a maneira como o cabelo é colocado na testa e ao redor do pescoço, permitem que a escultura seja datada por volta de 2000 a.C.

Esta cabeça de estatueta foi descoberta em Susa, Irã (hoje Shush), onde provavelmente foi tomada como espólio no século 12 a.C..], juntamente com outras obras de arte saqueadas, pelo rei elamita Shutruk-Nahhunte I. cabeça representa um soberano da Mesopotâmia com um penteado e vestindo chapéus de abas altas característica do final do terceiro milênio e início do segundo milênio a.C.

O rosto é uma mistura surpreendente de características convencionais e realismo. As sobrancelhas, representadas com o motivo tradicional de espinha de peixe, e a barba, consistindo de uma infinidade de argolas superpostas e cuidadosamente organizadas, seguem modelos da mesma época.

No entanto, a expressão no rosto, que reflete a idade da pessoa representada, seu caráter e estado de espírito, é diferente da aparência estática e impessoal da figura real esculpida no Código de Hamurabi (veja acima), que mostra um soberano envolvido em um ato oficial e é projetado para ser visto à distância. Os olhos meio-fechados, amendoados, com bolsas debaixo deles, e as bochechas proeminentes sublinham o lado austero deste homem com características pronunciadas, e o autocontrole que ele alcançou com as experiências de uma vida longa e plena; Hamurabi teria sido um homem assim no final de sua vida.

O estilo naturalista, quase expressionista, destaca-se entre as obras mesopotâmicas esculpidas da maneira tradicional. Pode ser comparado com as representações aproximadamente contemporâneas dos faraós egípcios do Império do Meio, também mostradas como velhos, como Sesóstris III (1887-1850 a.C) ou Amenemhat III (c. 1850-1800 a.C). Essa cabeça talvez tenha sido esculpida em uma oficina aberta a influências estrangeiras, longe de centros de produção normais e, portanto, menos sujeita a convenções escultóricas.

Este trabalho é de qualidade excepcional, mas devemos nos prevenir de vê-lo como um retrato no sentido moderno do termo. A noção de um retrato pessoal é estranha à arte do Oriente Próximo. Esse rosto de um homem envelhecido, imbuído de gravitas, é o rosto de um sábio, um príncipe escolhido pelos deuses, cuja longa experiência do mundo e dos homens garante um governo justo e equitativo. Reflete também as novas idéias que circulavam nos círculos culturais do período: a reflexão pessimista sobre a precariedade da condição humana e a idéia de que o destino de todo homem, mesmo que ele seja um príncipe todo-poderoso, é uma morte inelutável. A inscrição identificando este homem teria estado no corpo da estátua, que agora está perdida.

Adaptado de Iselin Claire, Museu do Louvre.

Tamanho: 15,2 cm de altura x 9,7 cm  de largura. Museu do Louvre. N° Sb 95


Kudurru da Era Cassita

Data aproximada: 1595-1155 a.C.

Após a queda da primeira dinastia Babilônica após a idade de ouro do reinado de Hamurabi, o reino gradualmente se recuperou sob a dinastia Cassita. Os Cassitas adotaram rapidamente a língua, os costumes e as tradições babilônicas. Eles introduziram o uso de pequenas estelas de pedra conhecidas como kudurrus - uma tradição mantida por dinastias posteriores até o século 8 a.C.

Kudurrus eram estelas de pedra que eram esculpidas e gravadas com inscrições que registravam a cessão de terra por governantes babilônicos a membros de sua família ou a altos dignitários civis ou religiosos.

Kudurrus provavelmente foram colocados em templos, onde seriam visíveis tanto para os adoradores quanto para os deuses. Inscrições em Kudurrus são geralmente em duas partes. A primeira descreve a natureza do presente e as cláusulas anexadas a ele. Isto é seguido por uma súplica que invoca uma maldição divina sobre qualquer um que se oponha ao presente. O presente foi, portanto, não apenas gravado e exibido para todos verem, mas também colocado sob proteção divina. O emblema de cada deus invocado é representado na estela.

Fonte: Pouysségur Patrick, Museu do Louvre

Os exemplos abaixo são apenas uma pequena amostra. Há centenas de kudurrus espalhados por diversos museus do mundo.

Kudurru conhecido como 'Michaux Stone', atualmente exposto na Biblioteca Nacional da França. Século 11 a.C. 45 cm de altura. Via Wikimedia Commons.Kudurru com 36 cm de altura. Cerca de 1125-1100 a.C. Museu Britânico. N° 102485Kudurru com 65,4 cm de altura. Século 11 a.C. Museu Britânico. N° 90841Kudurru com 51 cm de altura e 61,5 kg. Cerca de 1186-1172 a.C. Museu Britânico. N° 90829Kudurru com 50 cm de altura e 48,5 kg. Cerca de 954 a.C. Museu Britânico. N° 90835Kudurru do rei Melishipak II (1186-1172 a.C) Museu do Louvre. N° Sb 22

No próximo artigo falaremos sobre os principais achados arqueológicos da Mesopotâmia no período Assírio.

Foto de membro da equipe do site: Moacir Führ
Escrito por Moacir Führ

Moacir tem 36 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.

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