Autor: Vavy Pacheco Borges
Páginas: 88
Editora: Brasiliense
Ano da edição: 1984
Idioma: Português
Há muito que a História está, no Brasil, confinada à prisão das escolas e universidades. Encontra-se, pois, afastada de sua principal finalidade - levar o ser humano a refletir sobre as formas de vida e de organização social em todos os tempos e espaços, procurando compreender e explicar suas causas e implicações. E uma vez que presente e passado estão indissociavelmente ligados à História, o ensino e o estudo dessa disciplina se tornam imprescindíveis para o perfeito entendimento dos tempos modernos.
Vera Hercília (Vavy) Faria de Pacheco Borges é professora de História. Especializou-se na época da Primeira República Brasileira. Publicou em 1979 o livro 'Getúlio Vargas e a Oligarquia Paulista: História de uma esperança e muitos desenganos'.
BORGES, Vavy Pacheco. O que é História?. São Paulo: Brasiliense, 1984.
O livro de Vavy Pacheco Borges é uma excelente introdução para quem deseja entender um pouco os métodos e princípios básicos do estudo da História. Quando eu estava fazendo faculdade, lá em 2008, e fiz a disciplina de Teoria da História I, essa foi uma das obras cuja leitura foi exigida. É realmente uma excelente porta de entrada para o tema.
A maioria das pessoas que não fez faculdade de história, tem pouca ideia de como o estudo dessa disciplina funciona na prática, e quais são os grandes dilemas e discussões dos profissionais da área. Nesse pequeno livro Vavy Pacheco Borges apresenta um resumo da História da História, descreve em detalhes gerais o papel do historiador e comenta os principais problemas da História no Brasil.
Nesse capítulo é descrito o desenvolvimento do conceito de história, mostrando como o mito foi a primeira tentativa humana de explicar suas origens. A autora segue detalhando a grande mudança ocorrida na Grécia Antiga (com Heródoto e Tucídides), e com a história se tornando mais crítica, se afastando de uma visão causal divina para explicar e narrar os eventos do ponto de vista dos homens.
O livro segue descrevendo o desenvolvimento da visão da História passando pela Roma Antiga, Idade Média, encontrando o humanismo e racionalismo renascentistas e sendo transformada pela visão iluminista, de uma história como um desenvolvimento linear, progressivo e ininterrupto da razão humana.
Na Idade Contemporânea vemos os historiadores românticos, o desenvolvimento da história científica alemã, do positivismo histórico e do materialismo histórico surgido a partir do idealismo alemão e da sua dialética. Isso até chegarmos ao grande evento da história contemporânea: a Escola dos Annales, à partir da década de 1920. A autora também discute a visão eurocêntrica da história, e questões de ótica histórica e como a história pode e é utilizada pelas elites para pregar os seus próprios valores.
O livro ainda discute o papel do historiador, a busca vã pela imparcialidade e a impossibilidade do historiador de fazer previsões sobre o futuro. O conceito de Fonte histórica e sua abrangência também são trabalhados. Nesse capítulo, também é reiterado a função da história como uma ferramenta para compreender melhor o presente a partir do passado.
A autora termina sua análise da história com um alguns comentários sobre os problemas da História no Brasil. Entre eles o mito da democracia racial e o fato de historiadores brasileiros terem, por muito tempo, fugido de temas que retratassem o lado negro da história brasileira, como as guerras contra os índios e os conflitos sociais. Havendo uma tendência para mostrar o Brasil como uma terra de fantasia, pacífica, onde o consenso é sempre atingido por meios pacíficos.
O livro finaliza com uma crítica aos historiadores que rejeitam a sua função de produzir conteúdo para as massas e contribuir para a divulgação da história. Um tema incrivelmente atual (o livro foi lançado na década de 1980), tendo em vista que o mercado editorial brasileiro de história é completamente dominado por livros de jornalistas. Um dos motivos sendo justamente esse abandono por parte da classe acadêmica, que nas próprias palavras da autora "se fecha na 'torre de marfim' que é a universidade" (BORGES, 1984, p. 77).
Atualização em 28/04/22: Fiz uma releitura do livro e produzi anotações que estão agora disponíveis no Google Docs. O link é encontrado na tarja acima dessa resenha.
Resenha escrita em 29/09/2018.
Moacir tem 37 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.