Autor: Ciro Flamarion Cardoso
Páginas: 141
Editora: Brasiliense
Ano da edição: 1992
Idioma: Português
A velha História narrativa, patriótica enaltecia falsos heróis e criava mitos, contribuindo para a preservação das estruturas vigentes. A História "nova", com seu enfoque globalizante e sua ênfase no social, convém muito mais à elaboração de pesquisas e a um ensino eficiente. Para os jovens historiadores brasileiros, a renovação das perspectivas e uma redefinição profissional adequada são objetivos importantes: trata-se de adquirir as ferramentas teórico-metodológicas que lhes permitam cumprir, profissional e efetivamente, a sua função social.
Ciro Flamarion Santana Cardoso (1942-2013) nasceu em Goiânia e cursou História na Universidade Federal do Rio de Janeiro, formando-se em 1965. Depois de lecionar dois anos na mesma universidade e na Universidade Católica de Petrópolis, empreendeu estudo de pós-graduação em História, concluindo em 1971 o Doutorado na Universidade de Paris X (Nanterre). Foi, em seguida, pesquisador do Programa Centro-Americano de Ciências Sociais, na Costa Risca (1971-1975) e no México (1976-1979). Algumas de suas obras incluem a série Domínios da História, A Cidade-Estado Antiga, Trabalho compulsório na antiguidade, Uma introdução à história, entre outras.
CARDOSO, Ciro Flamarion. Uma Introdução à História. São Paulo: Brasiliense, 1992.
Uma Introdução à História é uma obra lançada originalmente em 1981 e voltada para o estudo da História como área de conhecimento. É uma obra para historiadores e para estudantes de graduação em História.
Meu primeiro comentário sobre ela é o seguinte: Não se deixe enganar por esse título inocente. Essa não é uma obra de caráter introdutório! O título mais apropriado seria A Ciência da História e o seu método.
Se você nunca leu nada sobre a História da Historiografia, e não sabe nada sobre as discussões que repercutem no cenário da Teoria da História, essa não é uma obra para você. Esse livro é muito complexo e trata de algumas questões bastante complicadas, que exigem um bom conhecimento nessa área. Se você realmente está começando, e quer uma obra introdutória, leia o livro O que é História? de Vavy Pacheco Borges.
O livro também chama atenção por uma linguagem excessivamente rebuscada. O autor até se viu obrigado a criar ao final do livro uma seção Glossário, para assim esclarecer o significado de termos como axioma, estocástico, silogismo, etc. Esse é um ponto que torna a leitura bastante cansativa.
Essa obra tem três temáticas principais, vou discutí-las separadamente para tornar a análise mais clara:
Ciro Flamarion Cardoso dedica muito tempo apresentando todas as possíveis respostas a essa pergunta. Porque essa, afinal, não é uma pergunta com uma única resposta possível.
O autor detalha a concepção de diversas áreas do conhecimento sobre a cientificidade da História. Para os cientistas "a História não é nem pode ser ciência pela incapacidade de testar os resultados" obtidos durante as pesquisas. Neopositivista, marxistas, cientistas sociais e historiadores, todos possuem visões diferentes sobre as capacidades de análise da História e os seus limites.
O próprio autor defende que "a conquista do método científico em História ainda está se elaborando, e que portanto a História é uma ciência em construção." (CARDOSO, 1992, p.12-13)
Para tentar compreender melhor essa questão o autor detalha o funcionamento do método científico.
O não cientificismo baseia suas conclusões em critérios subjetivos (como o gosto pessoal), dogmáticos (critério da autoridade), intituitivos e pragmáticos (o que é útil).
A ciência difere dessa visão da realidade pois seu método se baseia em verificar, controlar e corrigir os novos conhecimentos mediante contraste com conhecimentos existentes, mais os fatos empíricos, através da realização de experiência controladas.
A seguir Flamarion esclarece passo a passo as etapas do processo científico: a coleta de dados ou fatos empíricos, a formulação de teses ou teorias gerais, a dedução das consequencias dessa ultima, e a verificação ou confirmação das teorias.
A partir de então, a obra começa a contar a história do desenvolvimento desse método e seus principais vultos, pessoas como Bacon, Descartes, Galileu, Newton, Leibniz, Locke, Whewell, etc. O autor realmente não perde tempo discutindo a vida das pessoas, apenas cita as suas contribuições para o tema.
Assim ele demonstra como o conhecimento se transformou de uma busca pela verdade absoluta, para a visão atual: a busca de conhecimentos prováveis e não seguros, e a acumulação de verdades parciais. Uma visão que se tornou lugar comum a partir do final do século 19.
O neopositivismo surgiu como um movimento de combate a essa visão dentro da História, enquanto o Materialismo Histórico (Marxismo) e a Escola dos Annales contribuiram para fortalecer essas ideias.
Nas páginas seguintes o autor foca naquilo que chama de História-disciplina, e detalha o seu desenvolvimento com essas três grandes correntes de pensamento: o Positivismo, o Materialismo Histórico e a Escola dos Annales. Ele dedica cerca de 25 páginas a esses temas, e essa é uma das partes mais interessantes do livro.
Essa seção faz uma crítica ao método da história tradicional e mostra as críticas e escrutínios pelos quais as fontes devem passar.
O autor descreve passo a passo as etapas do método de pesquisa: a colocação do problema, a construção do modelo teórico e invenção das hipóteses, a dedução das conseqüências particulares comprováveis das hipóteses, a prova das hipóteses, a introdução das conclusões obtidas no corpo teórico.
É uma parte bastante interessante do livro, mas seria ainda mais se o autor apresentasse exemplos práticos para cada uma das etapas, infelizmente as descrições de cada parte do processo são feitas em um nível abstrato.
Essa parte do livro, que começa a partir da página 81, é excelente para aqueles estudantes que estão começando a cursar a disciplina de Pesquisa em História na universidade. O autor mostra passo a passo como funciona uma pesquisa em História.
Primeiro, as partes de um projeto de pesquisa histórica são detalhadas: a formulação e justificação do problema, os objetivos, o quadro teórico, a formulação de hipóteses, a descrição das fontes e escolha do método, o cronograma de execução e a bibliografia. Cada uma dessas questões é discutida separadamente com um certo nível de profundidade, exceto a questão do quadro teórico, no qual o autor não se aprofunda.
O autor também esclarece que a principal dificuldade dos estudantes brasileiros é a etapa da formulação de hipóteses, pela qual ele culpa a falta de um ensino universitário de qualidade.
Nessa parte do livro, Flamarion também aborda o trabalho com fontes e arquivos, ferramentas de controle e gerenciamento de informações. Embora, nesse ponto, eu tenha ficado com algumas dúvidas, porque essas são as ferramentas e métodos da década de 80/90. O livro foi escrito antes da popularização do computador, do smartphone e da internet. Então, como não tenho muita experiência na área de pesquisa, fiquei curioso se esses métodos não sofreram alterações. Talvez o livro esteja ultrapassado nesse ponto.
No final o autor se dedica a detalhar o processo de síntese e redação de uma pesquisa histórica (uma dissertação, tese, etc). Falando de questões como listas de fontes e bibliografias, notas, anexos, peças justificativas, parte gráficas, e índices.
Essa obra também foi lançada em um formato diferente pela mesma editora Brasiliense, com a seguinte capa:
Resenha escrita em 11/10/2018.
Moacir tem 37 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.