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Conteúdos dos capítulos do livro

1."Idade Média" - Introdução sobre o preconceito ao período medieval, com casos da França, mostrando como esse preconceito levou ao abandono do patrimônio medieval por muitos anos, mas sua revalorização a partir da década de 1960 levou ao surgimento de uma tradição historiográfica medieval no país.

2. Deformados e Desajeitados - A limitações do Renascimento e uma nova visão da Idade média, como um período de exploração na arte. O Renascimento se limitava a copiar os exemplos clássicos, enquanto os artistas medievais estavam abertos a tentar novas práticas e novas ideias. O preconceito aos estilos de arte medievais também levava os estudiosos renascentistas a tentar encontrar a origem da arte gótica no Oriente. Comentários sobre a arquitetura medieval.

3. Rudes e Ignaros - Sobre como a cultura medieval é ignorada e só se valoriza a cultura moderna, inclusive nos meios acadêmicos (comentários válidos para a década de 1970). Autora fala das várias manifestações da cultura medieval, citando a filosofia, o teatro e a renascença Carolíngia.

4. Torpor e Barbárie - Sobre o feudalismo e o surgimento das monarquias. Os comentários da autora sobre o feudalismo são extremamente superficiais, além do que, na visão dela, o feudalismo era qualquer relação de dependência, logo, já estava presente na Europa desde o século 5. O fato da sabedoria estar inicialmente ligada ao campo, com os mosteiros sendo centros de conhecimento. O papel do rei antes do surgimento das monarquias e alguns comentários sobre o surgimento das monarquias européias.

5. Rãs e Homens - Sobre a escravidão e os servos. Grosso modo, a autora defende que ser um servo era bom, e ser escravo era ruim. Logo o período medieval seria superior ao moderno, pois no período medieval haviam poucos escravos, enquanto os europeus modernos estavam mais familiarizado com o uso dessa mão-de-obra nas colônias ultramarinas. Capítulo cheio de julgamentos morais do passado, algo que historiadores não devem fazer.

6. As Mulheres sem Alma - Sobre as mulheres na Idade Média. Autora destaca como as mulheres tinham um papel importante na época, e como sua posição foi piorando com o aumento da influência do direito romano na Europa, que foi essencial para o fortalecimento das monarquias. Esse é o melhor texto do livro, afinal é a especialidade da autora.

7. O Index Acusador - Sobre a inquisição e a perseguição as feitiçarias e heresias. Autora tenta a todo custo defender a ideia de que: 1° - Inquisição não foi tão ruim. 2° - a perseguição aos hereges foi mais intensa na Idade Moderna do que na Idade Média. Ao longo da capítulo a autora comenta qual a relação entre a Inquisição e a busca pelo fortalecimento da monarquia papal.

8. História, Ideias e Fantasias - Ideias gerais sobre a Idade Média, os erros na narração da história medieval, os problemas no estudo da área e uma nova sugestão de divisão para o período.          

9. Propósitos Simples para o Ensino de História - Um texto sobre a história ensinada para as crianças e alguns comentários gerais sobre teoria da história.

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Idade Média - O Que Não Nos Ensinaram

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Capa do livro Idade Média - O Que Não Nos Ensinaram, de Régine Pernoud
Informações técnicas

Autor: Régine Pernoud
Título original: Pour en finir avec le Moyen Age
Páginas: 231
Editora: Linotipo Digital
Ano da edição: 2016
Idioma: Português

Sinopse

“Idade das Trevas” ou “Longa Noite dos Tempos”. Com certeza você já ouviu algumas destas expressões a respeito da Idade Média nas aulas de História, em matérias de jornais ou nas universidades brasileiras. Bobagens a respeito da Inquisição, da “caça às bruxas”, da prima nocte, das Cruzadas e dos cavaleiros templários, até o imobilismo social do feudalismo. Tudo isso não passa de preconceito, invencionice ou pura lenda. Mas, diferente do imaginário comum, a Idade Média marca o surgimento das universidades, dos hospitais e de majestosas catedrais, o resgate dos clássicos da literatura grega e latina, o aprimoramento da Engenharia e do método científico, além do surgimento dos Estados nacionais europeus. Por isso a Idade Média não pode ser rotulada de maneira tão equivocada, simplista e pueril.

Historiador
Régine Pernoud

Régine Pernoud (1909-1998) oi uma historiadora, arquivista e paleógrafa francesa do século XX. Em 1929, licenciou-se em letras na universidade de Aix-en-Provence. Mais tarde, doutorou-se em letras, diplomada pela École des Chartes e na École du Louvre. Ela trabalhou como conservadora em vários museus e arquivos. Dedicou-se sobretudo ao estudo da Idade Média. Recebeu o Grande Prêmio da Cidade de Paris em 1978 e em 1997 a Academia Francesa a premiou por seu trabalho vitalício.

Anotações de leitura do livro Análise do livro
3/5 REGULAR

PERNOUD, Régine. Idade Média - O Que Não Nos Ensinaram. São Paulo: Linotipo Digital, 2016.

Idade Média - O Que Não Nos Ensinaram é uma obra da medievalista francesa Régine Pernoud, lançada originalmente em 1977. O livro tem por objetivo desmistificar o termo Idade Média, e mostrar como esse período de quase mil anos (476-1453) foi uma época de grandes realizações e avanços.

Régine Pernoud foi conhecida por promover a história da mulher na Idade Média, e muitas de suas obras tem essa temática. Além dessa, várias obras dela sobre o período medieval já foram publicadas em português:

Nessa análise, primeiramente, farei um pequeno resumo dos temas discutidos em cada um dos capítulos e depois darei minha opinião sobre a obra.

Exibir conteúdo dos capítulos

Comentários sobre o livro

Nessa obra a autora defende dois argumentos, que são repetidos à exaustão ao longo de mais de 200 páginas:

1 - A Idade Média foi, em muitos aspectos, superior ao período Renascentista
2 - No século 13-14, com o movimento de fortalecimento das monarquias nacionais, ocorre o ressurgimento do direito romano e a sua influência nas leis européias será responsável pela perda do direito das mulheres e pelo aumento da violência da igreja

Julgamentos de valor

O primeiro argumento, como fica claro, é um julgamento de valor. Algo muito difícil de se fazer. Além disso, a própria dicotomia de uma civilização ser melhor ou pior do que a outra é a responsável pelo preconceito ao período medieval: a ideia de que esse período seria inferior à Antiguidade e ao Renascimento. Para fazer essas comparações a autora pega alguns tópicos (mulheres, artes e regime de trabalho) e os compara, chegando sempre a conclusão que a Idade Média é um período superior.

Para piorar, alguns capítulos chamam atenção pelo uso de dois pesos e duas medidas. Régine Pernoud mostra a escravidão como uma invenção imperdoável, e julga as pessoas da Idade Moderna que apoiaram tal instituição, sem em nenhum momento levar em conta o contexto e a moralidade da época. Já no capitulo sobre Inquisição ela tenta mostrar que, embora ela tenha queimado, torturado e destruído a vida de milhares de pessoas, é preciso ter em mente o contexto da época. Além de defender que a Inquisição teve até seu lado positivo, estimulando o surgimento de regras e processos em julgamentos. Apenas eu percebo a hipocrisia desse discurso?

Historiadores não devem fazer comparações morais entre sociedades diferentes. Porque a Moral representa os hábitos e costumes de uma dita sociedade. Você não pode julgar os romanos com a moral da sociedade do século 20. Os romanos não viviam num mundo com a moral do século 20. Da mesma forma não é correto julgar os donos de escravos da Idade Moderna. Eles viviam em uma sociedade em que ser dono de imigrantes africanos era um sinal de status. Quanto mais escravos você possuía mais empreendedor você era. Um grande barão que possuísse 400 escravos era uma celebridade, desejado em todos os eventos e visto como um modelo de dinamismo e trabalho duro.

Hoje todos querem ser um milionário, há até programas de tv para isso. A moral é: Não importa de onde o dinheiro saiu, desde que seja meu. O objetivo de vida de uma pessoa sempre é moldado pela moralidade de sua época. Na Roma Antiga, se tornar um general romano e pacificar uma região cheia de bárbaros era um sinal de sucesso, algo almejado pelos romanos desde a infância. Na Idade Moderna, ser um empreendedor era ser dono de outros seres humanos. A moralidade do século 20 também será alvo de crítica dos seres humanos no século 22. Mas nunca caberá ao historiador fazer esses julgamentos de valor e rotular uma sociedade como superior a outra.

Idade Média = França entre 476-1453

O termo Idade Média designa um período de quase mil anos (476-1453), e engloba os acontecimentos e as culturas da civilização Mediterrânea e do Mar do Norte (Europa, Ásia Menor, Oriente Médio e Norte da África). Mas algo muito comum no estudo da Idade Média, que eu acredito ser um reflexo da grande quantidade de medievalistas franceses, é a tendência a usar a expressão "Idade Média" como sinônimo de “história da França entre 476-1453”. 

Devido a esse péssimo costume, é comum ver traços da história medieval francesa sendo descritos como valendo para toda Idade Média. É importante destacar isso: esse é um livro escrito por uma francesa sobre a história medieval francesa. 

A Itália, a Espanha muçulmana, a Europa oriental e todas as áreas que englobavam o Império Bizantino e os reinos muçulmanos tinham estruturas econômicas e sociais bem diferentes daquelas presentes na França e Alemanha, que eram influenciadas pela tradição do antigo Império Carolíngio. O próprio "Feudalismo", termo comumente utilizado para se referir ao sistema econômico medieval, era o modelo econômico-social francês e alemão, que chegou na Inglaterra apenas com a conquista dos normandos FRANCESES.

Acho importante destacar isso porque a autora, ao longo de toda a sua obra, usa o termo Idade Média como sinônimo de "História da França entre o período 476-1453".

Livros velhos e comentários finais

Ao contrário de muitos estudantes de História, eu não tenho absolutamente nenhum preconceito com livros escritos há muitas décadas atrás. Quem acompanha o site sabe disso, leio um monte de livros velhos. Mas essa é uma obra que claramente perdeu parte do seu valor devido ao tempo. A autora faz muitos comentários sobre a realidade da historiografia do seu tempo (década de 1970) e sobre a desvalorização da Idade Média nesse período. E ao falar dos métodos de pesquisa e catalogação isso fica ainda mais claro, já que a autora faleceu antes da popularização da internet, a grande revolução da tecnologia da informação da História!

Depois de chegar a metade da obra, cheguei a cogitar abandonar sua leitura. Mesmo sendo um livro de apenas 230 páginas, a obra é enrolada, não apresenta informações realmente novas e repete sempre os mesmos dois argumentos. Acredito que as outras obras da autora sejam superiores, sua especialidade parece ser o papel da mulher na Idade Média, e já que há poucos livros sobre o tema, talvez seja interessante ler suas obras dedicadas a essa temática.

Como em muitas outras obras, eu acho difícil definir qual o público que poderia ter interesse por ela. Claramente não é uma obra para um público mais avançado, já que não há nada de novo nela. Ao mesmo tempo, também não vejo como o público iniciante poderia se interessar pelo livro. Mas é claro, muitos jovens estudantes tendem a ser facilmente impressionáveis, e não se importam de lerem 200 páginas que poderiam ter sido resumidas em 10.

Eu fiz a leitura do livro usando um ebook disponível na Library Genesis. Para mais detalhes sobre o contéudo da obra, leia minhas anotações de leitura, o link se encontra acima desse texto.

Resenha escrita em 21/08/2020.

Foto do membro da equipe: Moacir Führ
Escrita por Moacir Führ

Moacir tem 37 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.

Trechos interessantes do livro

Idade Média via a antiguidade como modelo, no século 16 ela se impôs como lei da imitação
Nas letras, como nas artes — para adotar as classificações vigentes — não deixou a Idade Média de se inspirar na Antiguidade, sem, no entanto, considerar suas obras como arquétipos, como modelos. Foi no século XVI que se impôs, neste domínio, a lei da imitação. (p.47)

Sobre a História
A História não fornece solução, mas permite — e somente ela permite — apresentar corretamente os problemas. Ora, todos sabem que um problema corretamente proposto já está meio resolvido. Ela é a única que permite, porque só ela autoriza o inventário de uma situação dada; só ela fornece elementos de que essa situação deriva. Não há conhecimento verdadeiro sem o recurso da História. Em toda parte, é verdade que o Homem, a vida do Homem, estejam em julgamento. Um corpo vivo não pode ser conhecido senão por sua história. (p.150)

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