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Uma cena de um documentário sobre a Era Tudor na Inglaterra Moderna. Disponível no Youtube.
Nesse artigo pretendo comentar sobre erros cometidos por alguns documentários de História. Mas espero que essa análise não soe muito pretensiosa, realmente não é minha intenção. Apenas acredito que ter consciências desses problemas, ajudará a todos a aproveitar as muitas qualidades que esses programas ocasionalmente possuem.
Há vários canais que produzem documentários nessa área, tais como o History Channel, National Geographic, BBC e Discovery Channel, além de outros documentários feitos de forma independente. O Youtube está cheio deles. Pessoalmente, eu gosto de ver documentários quando eles tratam de algum tema em que sou iniciante, e ainda tenho pouco ou nenhum conhecimento. Eles são excelentes portas de entrada.
Mas fato é que, quanto mais erros um documentário têm, mais interessante ele fica. Pelo simples fato de que a História é complexa, e é muito difícil produzir um documentário com emoção mostrando as coisas como elas realmente são, em todos os seus detalhes.
Documentários tendem, muitas vezes, a ser uma romantização da História, com supervalorização de líderes e curiosidades culturais, e pouca ou nenhuma análise das estruturas sociais, econômicas e políticas. Alguns documentários, na busca por criar um roteiro instigante, se afastam tanto da realidade, que viram verdadeiras obras de ficção. Isso sem falar nas afirmações bombásticas e exageradas, típicas de cliffhangers do History Channel...
Além disso, muitos documentários sobre guerras, fazem uma análise extremamente superficial, ignorando as principais características das armas, maneiras de lutar e limitações culturais e tecnológicas dos povos. Essa questão militar é uma das que mais sofre com a propagação de ideias erradas, sendo distorcida tanto por documentários quanto por filmes (já publicamos um artigo sobre isso aqui).
Abaixo comento os quatro pontos em que os documentários costumam ser problemáticos.
Esse é um problema que também é comum em livros de História mais básicos. Simplicações e generalizações visam tornar a História mais interessante para o público geral, que vê a incerteza do passado como algo irritante. Muitas informações sobre o passado ainda são alvo de discussão, mas alguns documentários mostram tais dados com certeza e convicção, quando na verdade ainda existe dúvidas e debates acalorados entre historiadores.
Toda vez que um documentário usa as expressões Sempre, Nunca, Jamais, A Verdade, Todos; a tendência é de que haja alguma simplificação em andamento.
Embora essa seja o principal ponto positivo de alguns documentários, em outros, acaba sendo um ponto negativo. Muitos documentários costumam usar imagens sem fornecer qualquer tipo de referência, e em muitos casos a reconstrução do passado - de roupas, construções, armamentos, etc - é completamente equivocada, seja por falta de pesquisa ou por falta de orçamento.
É muito comum que especialistas sobre o tema sejam chamados para contribuir, com pequenas participações ao longo dos documentários. Embora isso passe uma certa credibilidade, a verdade é que as frases desses especialistas são muitas vezes tiradas de contexto e/ou cortadas.
Embora os especialistas tenham um grande conhecimento, os produtores dos documentários, muitas vezes, usam sua presença apenas com o intuito de dar credibilidade às suas próprias afirmações. As opiniões mais complexas fornecidas pelos especialistas acabam sendo descartadas, e as frases que são utilizadas são somente as mais polêmicas, aquelas que esses profissionais usariam com muito mais cautela, se estivessem escrevendo um livro ou falando para um público mais qualificado.
Essa visão positivista da História é marcada pela desvalorização dos fatores sociais, econômicos e políticos, focando nas grandes decisões e ações de alguns líderes. Essa característica visa dar a História um caráter de romance, e mostrar os eventos históricos como resultados de paixões, desejos e sacríficios individuais. É uma forma extremamente superficial de analisar o passado.
Não, eu não quero que você se sinta assim...
Para finalizar não posso deixar de mencionar que existem, sim, muitos documentários de qualidade. Pessoalmente tenho um apreço especial pelo conteúdo produzido pela BBC, onde parece haver uma liberdade maior para que os especialistas na área produzam documentários chatos mesmo, onde algumas questões mais profundas ganham espaço de análise.
Mas mesmo assim, vejo esse recurso como algo útil apenas para os primeiros passos. Uma vez que você possua um bom conhecimento básico, os livros de História são o caminho para adquirir um conhecimento mais profundo.
Se você gosta de documentários, excelente. Continue assistindo-os sem medo mas, consciente desses problemas, você poderá aproveitá-los muito mais.
Moacir tem 37 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.