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Detalhe da Estela de Naram-Sin da Acádia, cerca de 2240 a.C. Museu do Louvre.
Esse artigo é um resumo da palestra da professora Irene Winter para o Instituto Oriental de Chicago. Winter é especialista em Arte do antigo Oriente Médio e professora da Universidade de Harvard. Nessa aula, intitulada "A Estela e o Estado: Monumentos e Política na Antiga Mesopotâmia" ela comenta sobre como os Monumentos Públicos constituíram uma das principais contribuições da antiga Mesopotâmia para a história mundial.
Do terceiro milênio a.C. ao primeiro, os governantes dedicaram estelas de pedra à si mesmos, aos deuses e às suas façanhas em batalha. Embora estejamos longe de ter um registro completo de todos esses monumentos, trabalhos suficientes foram recuperados no registro arqueológico para podermos ver tanto a similaridade quanto a diferença, e ter uma noção do significado específico de obras individuais em importantes conjunturas históricas.
A palestra fornece um resumo de monumentos conhecidos, a fim de enfatizar o poder que tais obras tiveram e o papel que desempenharam na propagação da ideologia real.
Estelas comemorativas ainda são comuns, por exemplo, na China, como uma forma de informar o público sobre alguma realização do governo. As estelas mesopotâmicas serviam ao propósito de comemorar atos e conquistas dos reis, e informar a população iletrada através de grandes relevos, que visavam transmitir uma mensagem.
É importante não confundir com os Kudurru, que eram pedras de fronteira, e de assinaturas de contrato, que eram colocadas em templos. A professora define as estelas como tendo as seguintes características:
Na Mesopotâmia do 4° Milênio, não há estelas propriamente ditas, embora alguns fragmentos tenham sido encontrados. A chamada "Estela da Caça ao Leão" pode ser considerada uma precursora, assim como o Vaso de Warka, ambos foram encontrados em Uruk.
O vaso é uma das primeiras representações artísticas que estabelece a ideia da representação de uma história com a clássica divisão em linhas, com cada linha contando uma parte da história.
A Estela dos Abutres é o primeiro exemplo de uma estela propriamente dita. Ela foi feita com o objetivo de comemorar a vitória da cidade de Lagash sobre a cidade de Umma, por volta do século 25 a.C.
A estela conta a história de como o rei passou a noite no templo, pedindo a ajuda dos deuses. Na manhã seguinte foi para a guerra, na sua carruagem de batalha. A quarta linha mostra a batalha em si, e na quinta os abutres devoram os mortos do exército perdedor.
Essa magnífica estela representa o rei Naram-Sin liderando os acádios contra um exército invasor, que é derrotado. O rei é mostrado com um corpo sedutor, muito definido, em contraste com os corpos dos outros que aparecem na estela. Ele usa um elmo de chifres, talvez associado com a sua pretensa divindade, e um símbolo divino precede seu nome.
O rei é elevado a categoria de representante de deus através da apresentação perfeita de seu corpo. Naram-Sin é divino e por isso pode ser rei!
Três sóis são mostrados no topo da estela, segundo a professora, para representar as várias posições do sol, mostrando como a batalha se arrastou ao longo do dia.
A Estela de Naram-Sin foi produzida com um material de pedra sedimentária e foi se deterriorando com o tempo, mas originalmente era muito alta. Ainda hoje ela chama atenção por seu tamanho, de cerca de 2 metros de altura.
Ela foi descoberta em Susa, para onde foi levada pelo elamitas como espólio de batalha. Acredita-se que nesse época ela estava em Sippar. A distância entre Sippar e Susa é de cerca de 400 km. O fato desse monumento, que é feito de uma material relativamente frágil, ter sido levada à tamanha distância mostra o quanto essa obra de arte era importante para os povos conquistadores. Ela provavelmente foi exibida em uma posição de destaque na capital elamita.
O próposito da Estela é um pouco obscuro, talvez tenha sido comemorar a construção do complexo do Templo de Nanna e do seu zigurate. Ur-Nammu também também construiu o templo de Nippur em Enlil.
Esse é um aspecto que chama a atenção quando do estudo das civilizações mesopotâmicas: os reis e suas construções. Durante os seus reinados e, principalmente, após conquistas, era muito comum os reis iniciarem grandes projetos de construção e reformas de templos.
É provável que o patrocínio para essas obras servisse tanto para estimular a economia, como para agradar as populações locais e, em especial, as suas elites, que haviam acabado de ser subjugadas. A representação de reis como construtores foi bastante comum na arte mesopotâmica. Veja alguns exemplos abaixo:
Ur-Nammu e seu filho Shulgi, tiveram estátuas suas colocadas dentro das paredes das construções, para que fossem vistas apenas pelos deuses, e por aqueles que no futuro viessem a reformar o templo.
Esse também era um costume frequente, é usual encontrar estátuas de divindades e de deuses dentro das paredes de templos. Além disso, o rei Nabucodonosor II da Babilônia, também gravou o seu nome em diversos tijolos que foram usados para construções na cidade, e a inscrição não ficava visível para o público.
As estelas tiveram um importante papel em comunicar conceitos simples para a população, disseminando a ideologia que justificava o poder dos reis, e os representava como grandes líderes e bem-feitores daquela sociedade. Nesse sentido, a professora argumenta, que a utilização de imagens para a criação e disseminação de narrativas políticas pode ter sido uma das contribuições da Mesopotâmia para o mundo.
Moacir tem 37 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.