4,2 mil visualizações | 2290 palavras | 0 comentário(s)
Ruínas da cidade de Machu Picchu, Peru.
Apesar de arqueólogos e historiadores não concordarem, acredita-se que os incas vieram de uma região árida e montanhosa localizada nos Andes Centrais. Por razões também desconhecidas, eles deixaram seu lugar de origem em busca de novos territórios.
Ao chegar a Cuzco, aproximadamente no ano 1100, eles decidiram se estabelecer. A principal razão desta decisão foi a terra apropriada para o cultivo que eles encontraram e também por se sentirem protegidos entre as montanhas de possíveis inimigos. Cuzco é um vale rico andino, situado na confluência dos rios Huantanay e Tullumayo, rodeada de um circo de montanhas que atingem uma altura de mais de 3000 metros acima do nível do mar.
Logo os Incas se tornaram membros de uma confederação de tribos, provavelmente em uma posição dependente. A organização da confederação era feito por duas metades:
Por volta do século 14 os Incas, na figura de Inka Poka, tomaram o controle da confederação, acumulando também as funções políticas e religiosas. A obra de Inka Poka, no entanto, não sobreviveu a sua morte e foi devastadas por revoltas, mas em 1400 aproximadamente, Viracocha Inka conquistou as tribos vizinhas e lançou as bases do que se tornaria o grande império inca.
Por volta de 1438, os chanka, um povo que ocupava o vale dos Pampas, formaram uma confederação e passaram a se expandir, conquistando as tribos vizinhas até chegar a Cuzco. Lá Viracocha Inka, já envelhecido, decidiu abandonar a cidade com seu povo. Um de seus filhos, no entanto, decidiu organizar a resistência. Pachakuti reuniu todos que estavam dispostos a lutar pela cidade e enfrentou os chanka que foram completamente aniquilados.
Caía assim o único obstáculo à hegemonia Inca nos Andes. A partir de então eles se voltaram para a anexação de outras regiões e para o fortalecimento do império. E Pachakuti, que desde a vitória sob os chanka havia se tornado o novo imperador, ficou conhecido como o fundador do Império Inca. Além de grande conquistador, ele ordenara a reconstrução e o embelezamento da capital Cuzco, organizara um exército forte e uma administração eficaz das províncias.
O império continuou sempre em expansão. A medida que se expandia a guerra se fazia cada vez mais necessária para a estabilidade e a ordem internas. Os incas acreditavam na missão civilizadora e buscavam novas riquezas, mas a principal causa das constantes guerras foi o contato com novos povos. A cada nova conquista mais povos passavam a se sentir ameaçados e olhavam com desconfiança para os Incas, causando mais guerras. Quando os espanhóis chegaram na América o império dominava uma área de 950 mil km2 e compreendia uma população de cerca de 8 milhões.
O imperador era a figura principal do império. Ele não reconhecia sua filiação, no momento em que era coroado ele deveria abandonar sua família e qualquer herança que pudesse herdar dos seus pais. Alguns imperadores chegaram mesmo a casar com suas irmãs para provar que renegavam solenemente sua filiação.
O imperador então não tinha predecessores nem descendentes. O poder lhe pertencia por mérito e devia ser conquistado por seu sucessor. Toda vez que um imperador morria se iniciava um período de anarquia marcado por violência. Todos os que detinham uma posição privilegiada reivindicavam o poder e o vencedor das lutas era aceito por todos como o mais capaz. Essas lutas eram péssimas para o império, tanto que a partir de Pachakuti, a morte do imperador era mantida em segredo por um mês, para limitar à corte a luta pelo poder.
A ameaça de golpe militar também era constante, para evita-la o imperador colocava um de seus filhos no comando do exército.
A investidura do imperador acontecia no Templo do Sol, depois de recebe-la do sacerdote ele era considerado o Filho do Sol, isso o designava como mediador nas relações com o sobrenatural.
O imperador era auxiliado na administração por um conselho de quatro membros cuja opinião consultava em casos importantes. Abaixo dos conselheiros vinham os governadores provinciais, que em nome do soberano exerciam a justiça, velavam pela conservação das estradas, pontes e monumentos, além de coletar os produtos produzidos pela corvéia e supervisionar sua produção.
Em auxilio dos governadores se achavam os encarregados de registrar o numero da população efetiva das províncias sujeitas a corvéia. A cada ano ele eliminava dos registros os mortos, velhos e doentes e adicionava os jovens ingressos na idade adulta. A maneira como isso era feita era muito interessante: os incas não possuíam escrita nem um sistema de número escritos, então os encarregados dos registros anotavam os números por meio do Quipu, uma combinação de cordas de várias espessuras e cores com nós, nos quais os diferentes números eram registrados com nós de vários tamanhos e cores. Só os registradores que haviam feito o dito quipu conseguiam entender o que ele significava.
Todos esses cargos não eram hereditários e seu ocupante poderia ser demitido ou substituído a qualquer momento.
Os Incas possuíam uma extensa rede viária com cerca de 16 mil km. As estradas, na falta de veículos de roda e cavalos, eram transitadas apenas por homens e lhamas e por isso eram muito estreitas e em algumas subidas se convertiam em escadas.
Ao longo delas haviam pousadas para abrigo e postos para os mensageiros do império. O sistema de comunicação Inca era baseado em mensageiros que corriam dia e noite revezando-se em cada posto, onde sempre havia outro de prontidão para levar a mensagem até o próximo posto. Isso permitia uma rápida comunicação. Os Incas também usavam sinais de fumaça e fogo para a comunicação quando possível.
O principal ramo da economia inca era a agricultura. As terras do império eram de três tipos: Terras do Estado, terras do clero e terras da comunidade.
As terras do estado e do clero deveriam ser cultivadas em primeiro lugar (corvéia) depois cada um cultivava as terras do seu ayllu (comunidade). Essas terras eram divididas para as famílias proporcionalmente ao seu número de membros.
As colheitas do Estado serviam para sustentar a corte, a aristocracia, os militares e demais trabalhadores e as colheitas do clero sustentavam a classe sacerdotal. Em caso de calamidade ou colheitas ruins o estado distribuía o que estava em seus armazéns para a população.
Os sacerdotes eram os responsáveis por fazerem os cálculos que permitiam que a plantação e a colheita fossem feitas no momento apropriado. Eles plantavam em terraços nas montanhas e possuíam técnicas avançadas de irrigação.
Os Incas também criavam lhamas e alpacas, animais típicos de região montanhosa.
O culto solar era a religião do estado. Havia uma classe sacerdotal dedicada ao seu serviço e sob ela os imperadores mantinham forte controle. Além dos sacerdotes havia também as Mulheres Escolhidas, algumas tornavam-se virgens do sol, com juramento de castidade.
Os Incas também adoravam outras forças da natureza: a lua, o trovão, a terra, o mar e as estrelas entre outros.
Os incas não possuíam escrita, nem ao menos pictográfica. Dessa forma sua literatura não foi fixada, conhecemos alguma de suas lendas por relatos de espanhóis.
A astronomia era pouco desenvolvida, mas os incas possuíam um calendário solar dividido em 12 meses lunares.
Na metalurgia, os incas ignoravam o uso do ferro, mas trabalhavam o ouro, prata e cobre, e com ele sabiam produzir o branco (embora ele fosse muito fraco porque só utilizavam 12% de estanho). Os metais eram usados para fins ornamentais e não utilitários. As ferramentas dos camponeses eram feitas de pedra.
Não conheciam a roda e nem possuíam cavalos.
Em 1528 com a morte do imperador Wayna Kapaq, como já era costume, iniciou-se uma luta entre seus candidatos a sucessores: Ataualpa e Waskarr. Foi durante esse momento que os espanhóis desembarcaram. Eles já preparavam isso a muito tempo, desde 1524 Pizarro explorava a costa do Peru e colhia informações sobre os incas. Seus movimentos eram vigiados pelo império, mas esse nutria por eles um sentimento mais próximo a curiosidade do que ao terror.
Em 15 de novembro de 1532, Pizarro dirigiu a Ataualpa um pedido de visita. Quando um dos padres espanhóis oferecereu uma Bíblia ao imperador e esse a jogou no chão depois de examina-la sem muito interesse, os espanhóis abriram fogo. Ataualpa foi logo capturado.
No entanto, mesmo sem Ataualpa, a guerra pela sucessão continuou e o resultado dela não poderia ter sido mais favorável aos espanhóis. Menos de um mês depois os aliados de Waskarr foram derrotados e o império estava novamente unido sob um imperador, Ataualpa, mas esse estava preso.
Pizarro desde cedo decidiu apoiar qualquer revolta de cidades controladas pelos incas, com o objetivo de enfraquecer ainda mais o império. Pizarro também se prontificou a libertar o imperador se lhe pagassem um fabuloso resgate em ouro, que foi avaliado em mais de 100 milhões de dólares.
O resgate foi pago, mas tomando por pretexto possíveis ordens que Ataualpa teria dado de seu cárcere, entre elas matar o irmão Waskarr e incitar os incas contra os espanhóis, Pizarro condenou o imperador a morte em agosto de 1533. A partir daí a maioria das cidades se rendeu e o império foi gradualmente diminuindo, entretanto a posição espanhola ainda era frágil e em 1536 se iniciou uma guerra de reconquista.
A guerra foi sangrenta, os dois lados usaram dos métodos mais cruéis para alcançar a vitória. O líder inca dera ordens de matar todos os índios que ajudassem os espanhóis, por outro lado, estes não deixaram por menos e reduziram vilas, colheitas e pastagens as cinzas além de matarem mulheres, crianças e homens indiscriminadamente. A guerra terminou com a derrota dos incas em 1545, além da morte de de 1500 espanhóis e 200 mil índios a guerra matara Pizarro e o líder inca.
Um último foco de resistência sobrou no sul mas já sem a mesma força, esse foi somente o último suspiro inca. Em 1572 o vice-rei de Toledo foi enviado ao Peru para acabar com essa situação incomoda, então o ultimo líder inca foi capturado e decapitado em maio do mesmo ano. A partir de então mais nada deteu a vontade espanhola na América do Sul.
As causas da derrota inca são muitas. Em primeiro lugar, Pizarro soube escolher o momento propício para a invasão, uma guerra de sucessão, teve também sorte pela vitória do exército de Ataualpa enquanto este ainda estava em suas mãos. Além disso havia a superioridade bélica.
Os incas não utilizavam armas de metais, somente de pedra, possuíam técnicas rudimentares de batalha e não conheciam o cavalo. Os espanhóis já se utilizavam de mosquetes e canhões e faziam uso do cavalo de combate. Mas o principal fator foi a forma como Pizarro soube levar os acontecimentos. Apoiando as revoltas de classes oprimidas e de cidades sob o julgo inca, ele soube fazer com que o estado inca entrasse num colapso ainda maior.
Artigo escrito originalmente em 2010.
Moacir tem 37 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.