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O teatro na Grécia Antiga: a Tragédia

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Capa do artigo: O teatro na Grécia Antiga: a Tragédia

Uma recriação moderna de um Coro grego, um grupo de artistas que cantavam ou diziam as suas falas em uníssono durante as peças do teatro grego.

A tragédia grega foi uma forma popular e influente de drama apresentada nos teatros da Grécia antiga desde o final do século 6 a.C. Os dramaturgos mais famosos do gênero foram Ésquilo, Sófocles e Eurípides, e muitos de seus trabalhos ainda eram apresentados séculos depois de sua estréia inicial.

A tragédia grega levou à comédia grega e, juntos, esses gêneros formaram a base sobre a qual se baseia todo o teatro moderno.

As origens da tragédia

As origens exatas da tragédia (tragōida) são debatidas entre os estudiosos. Alguns ligam a ascensão do gênero, que começou em Atenas, à uma forma de arte anterior, a performance lírica da poesia épica. Outros sugerem uma forte ligação com os rituais realizados no culto de Dionísio, como o sacrifício de bodes - um ritual cantado chamado trag-ōdia - e o uso de máscaras.

O deus Baco (o Dionísio grego) em pintura do renascentista Caravaggio (1571-1610).

De fato, Dionísio tornou-se conhecido como o deus do teatro e talvez haja outra conexão - os rituais de bebida que resultavam no derrotado perdendo total controle de suas emoções e, com efeito, tornando-se outra pessoa, como atores (hupokritai) esperam fazer quando se apresentam.

A música e a dança do ritual dionisíaco foram mais evidentes no papel do coro e da música proporcionada por um tocador de aulos (espécie de flauta), mas elementos rítmicos também foram preservados na entrega das palavras faladas.

Uma Tragédia

Realizada em um teatro ao ar livre (theatron) como o de Dionísio em Atenas e aparentemente aberto a toda a população masculina (a presença de mulheres é contestada), o enredo de uma tragédia era quase sempre inspirado em episódios da mitologia grega, que eram muitas vezes uma parte da religião grega.

O teatro de Dionísio, na encosta sul da Acrópolis de Atenas, é o teatro mais antigo do mundo.

Como conseqüência deste assunto sério, que freqüentemente lida com os conceitos morais de certo e errado, nenhuma violência era permitida no palco e a morte de um personagem não era vista, mas ouvida dos bastidores.

Da mesma forma, pelo menos nos estágios iniciais do gênero, o poeta não podia fazer comentários ou declarações políticas através da peça, e o tratamento mais direto dos eventos contemporâneos teve que esperar pela chegada de um gênero menos austero e convencional, a comédia grega.

Máscaras usadas no teatro grego do século 4-3 a.C. Museu da Ágora de Atenas.

As primeiras tragédias tinham apenas um ator que se apresentava com uma fantasia e usava uma máscara, permitindo-lhe a presunção de se passar por um deus. Aqui podemos ver, talvez, a ligação com rituais religiosos anteriores, onde esses procedimentos poderiam ter sido realizados por um sacerdote.

O ator costumava falar com o líder do coro, um grupo de até 15 atores que cantavam e dançavam, mas não falavam. Esta inovação é creditada à Téspis em cerca de 520 a.C.

Veja abaixo uma demonstração de uma abertura do Coro no teatro grego:

O filme Poderosa Afrodite (1995) também fez uma recriação bem humorada da atuação do Coro no teatro grego, confira o vídeo legendado abaixo:

O ator também mudava de figurino durante a performance (usando uma pequena tenda atrás do palco, o skēne, que mais tarde se tornaria uma fachada monumental) e assim dividia a peça em episódios distintos.

O teatro e o skene. Ilustração do site Whitman College.

Frínico é creditado pela idéia de dividir o coro em diferentes grupos para representar homens, mulheres, idosos, etc. (embora todos os atores no palco fossem de fato homens). Eventualmente, três atores foram permitidos no palco - uma limitação que permitia a igualdade entre poetas em competição.

No entanto, uma peça poderia ter tantos artistas que não falantes quanto quisesse, então, sem dúvida, peças com maior apoio financeiro poderiam produzir uma produção mais espetacular com figurinos e cenários mais refinados. Finalmente, Agaton é creditado pela adição de interlúdios musicais desconectados da história em si.

Competição de Tragédias

A competição mais famosa para a realização das tragédias fazia parte do festival de primavera de Dionysos Eleuthereus, em Atenas, mas havia muitos outros. Aquelas peças que procuravam ser realizadas nas competições de um festival religioso tinham que passar por um processo de audição julgado pelo arconte.

Somente aquelas consideradas dignas do festival receberiam o apoio financeiro necessário para conseguir um custoso coro e tempo de ensaio. O arconte também indicaria os três chorēgoi, os cidadãos que deveriam financiar o coro de uma das peças escolhidas (o estado pagava o dramaturgo e os atores principais).

Caldeirão de bronze com tripé encontrado em Chipre. Século 8-7 a.C. É provável que o prêmio para o vencedor do teatro grego fosse algo similar a esse objeto. Nenhum dos 'troféus' verdadeiros sobreviveu.

As peças dos três dramaturgos selecionados eram julgadas por um painel e o prêmio para o vencedor de tais competições, além de honra e prestígio, era freqüentemente um caldeirão de tripé de bronze. A partir de 449 a.C. também houve prêmios para os principais atores (prōtagōnistēs).

Os escritores das Tragédias

Ésquilo

O primeiro dos grandes poetas trágicos foi Ésquilo (c. 525-456 a.C.). Inovador, ele adicionou um segundo ator para partes menores e, incluindo mais diálogos em suas peças, ele extraiu mais drama das histórias mais antigas já familiares para o público.

Busto de mármore de Ésquilo do século 1 d.C. É um retrato altamente idealizado dessa personalidade que viveu 600 anos antes do busto ser produzido. Museu Capitolino de Roma.

Como as peças eram submetidas à competição em grupos de quatro (três tragédias e uma peça sátira), Ésquilo frequentemente seguia com um mesmo tema entre as peças, criando sequências. Uma dessas trilogias é Agamênon, As Coéforas e Fúrias (ou As Eumênides), conhecidas coletivamente como A Oresteia.

Dizem que Ésquilo descrevia seu trabalho como "os restos do banquete de Homero" (Burn, p.206). Ele produziu pelo menos 70 peças, das quais somente seis ou sete sobreviveram.

Sófocles

O segundo grande poeta do gênero foi Sófocles (c. 496-406 a.C.). Tremendamente popular, ele adicionou um terceiro ator aos procedimentos e empregou cenários pintados, e às vezes até mudanças de cenário dentro da peça. Três atores agora permitiam muito mais sofisticação em termos de enredo.

Busto de bronze helenístico conhecido como The Arundel Head, fazia parte de uma estátua, que alguns acreditam ser de Sófocles. Século 2 a.C. Museu Britânico. N° 1760,0919.1

Um de seus trabalhos mais famosos é Antígona (cerca de 442 a.C.), em que o personagem principal dá sua vida para enterrar seu irmão Polinices contra os desejos do rei Kreon de Tebas. É uma situação clássica da tragédia - o direito político do traidor Polinices ter os seus ritos funerários negados é contrastado com o direito moral de uma irmã que procura dar um descanso a alma de seu irmão.

Outros trabalhos incluem Édipo Rei e As Traquínias, mas ele escreveu mais de 100 peças, das quais apenas sete sobreviveram.

Eurípides

O último dos poetas clássicos da tragédia foi Eurípides (c. 484-407 a.C), conhecido por seus diálogos inteligentes, belas letras corais e um certo realismo em seu texto e apresentação de palco. Ele gostava de fazer perguntas estranhas e desestabilizar o público com seu tratamento instigante de temas comuns.

Cópia romana de um busto grego de Eurípedes produzido em 330 a.C. Museu do Vaticano.

É provavelmente que essa seja a razão para que, embora ele tenha sido popular com o público, tenha ganhado apenas algumas competições de festivais. De cerca de 90 peças, apenas 19 sobreviveram, entre as mais famosas está Medéia - onde Jason, do Velo de ouro, abandona a personagem-título pela filha do rei de Corinto, e como consequência, Medéia mata seus próprios filhos por vingança.

O legado da Tragédia grega

Embora as peças fossem especialmente encomendadas para a competição durante festivais religiosos e outros tipos de festivais, muitas eram reproduzidas e copiadas em roteiros para publicação "em massa". Esses roteiros considerados clássicos, particularmente pelos três grandes trágicos, eram até mantidos pela pólis como documentos oficiais e inalteráveis ​​do Estado. Além disso, o estudo das peças "clássicas" tornou-se uma parte importante do currículo escolar.

Havia, no entanto, novas peças sendo continuamente escritas e executadas, e com a formação de guildas de atores no século 3 a.C. e a mobilidade de trupes profissionais, o gênero continuou a se espalhar pelo mundo grego, com teatros se tornando uma característica comum do paisagem urbana da Magna Grécia à Ásia Menor.

Teatro grego de Siracusa, uma colônia grega na Sicília.

No mundo romano, peças de tragédia eram traduzidas e imitadas em latim, e o gênero deu origem a uma nova forma de arte do século 1 a.C., a pantomima, que se inspirou na apresentação e nos temas da tragédia grega.

Tradução de texto escrito por Mark Cartwright
Março de 2013

Foto de membro da equipe do site: Moacir Führ
Postado por Moacir Führ

Moacir tem 37 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.

Fontes bibiliográficas
  • Aeschylus. Prometheus Bound, The Suppliants, Seven Against Thebes, The Persians Trans. Vellacott P.. Penguin, Harmondsworth, 1970
  • Anonymous. The Oxford Handbook of Hellenic Studies. Oxford University Press, USA, 2009.
  • Burn, A.R. The Penguin History of Greece. Penguin Books, 1966.
  • Hornblower, S. The Oxford Classical Dictionary. Oxford University Press, 2012.
  • Sophocles. The Theban Plays Trans. Watling E.F.. Penguin, Harmondsworth, 1951
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