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Ao contrário de hoje, onde a construção naval é baseada na ciência e onde os barcos são construídos usando computadores e ferramentas sofisticadas, a construção naval na Roma antiga era mais uma arte que se baseava em regras práticas, técnicas herdadas e experiência pessoal, em vez de uma ciência da engenharia.
Os romanos não eram tradicionalmente marinheiros, mas um povo principalmente terrestre que aprendeu a construir barcos com os povos conquistados, no caso, os cartagineses (e seus predecessores fenícios), os gregos e os egípcios.
Existem alguns documentos escritos sobreviventes que fornecem descrições e representações de barcos romanos antigos sobre mastros, velas e cordames. Navios encontrados por arqueólogos também fornecem algumas pistas sobre técnicas antigas de construção naval. O que os estudos desses documentos antigos e desses restos nos ensinaram, é que os antigos construtores navais romanos construíam primeiro o casco externo e depois prosseguiam com a estrutura e o restante do navio.
As pranchas usadas para construir o casco externo eram inicialmente amarradas juntas. A partir do século 6 a.C., elas foram juntadas usando o método caixa e espiga.
Então, nos primeiros séculos da era atual, os construtores navais mediterrâneos adotaram outro método de construção naval, ainda em uso hoje, que consistia em construir a estrutura primeiro e depois prosseguir com o casco e os outros componentes do navio. Esse método era mais sistemático e reduziu drasticamente o tempo de construção dos navios.
Os navios de guerra eram construídos para serem leves, rápidos e muito manobráveis. Eles não afundavam quando danificados e freqüentemente ficavam aleijados a deriva na superfície após uma batalha naval. Eles precisavam navegar perto da costa, razão pela qual não tinham lastro e foram construídos com uma proporção comprimento / largura do casco subaquático de cerca de 6:1 ou 7:1.
Eles tinham um aríete na proa geralmente feito de bronze, usado para furar os cascos ou quebrar os remos dos navios inimigos. Os navios de guerra usavam energia do vento e humana (remadores) e, portanto, eram muito rápidos.
Antes da Primeira Guerra Púnica, que durou 23 anos (264–241 a.C.), os romanos tinham poucos navios de guerra. Na verdade, em 311 a.C., foi criado um comitê para planejar o desenvolvimento da marinha romana. Naquela época, Roma tinha apenas 20 navios de guerra, todos eles trirremes, enquanto Cartago, com a maior marinha do mundo, tinha centenas de grandes quinqueremes.
Acredita-se que os romanos tenham feito cópias de um quinquereme cartaginês que encalhou ao tentar bloquear a passagem de navios romanos a caminho da Sicília. Os romanos conseguiram então construir 100 quinqueremes, que eram, no entanto, mais pesados e menos manobráveis do que os seus rivais cartagineses. Eventualmente, a marinha de Roma se tornou a maior e mais poderosa do Mediterrâneo e os romanos dominaram o que chamaram de Mare Nostrum ("nosso mar").
Haviam muitos tipos de navios de guerra. O trirreme (derivado do latim "triremis", que significa "com três margens de remos") era o navio de guerra dominante do século 7 ao 6 a.C. Ele tinha três linhas com remadores nas linhas superior, média e inferior e aproximadamente 50 remadores em cada linha.
Os remadores na linha inferior tinham a posição mais desconfortável, pois estavam embaixo dos outros remadores e ficavam expostos à água que entrava pelos orifícios dos remos. Vale ressaltar que, ao contrário da percepção popular, os remadores não eram escravos, mas principalmente cidadãos romanos inscritos nas forças armadas.
O trirreme foi depois substituído por navios maiores: os quadrirremes e quinqueremes. O quadrireme tinha quatro fileiras de remadores, enquanto o quinquereme tinha cinco.
Segundo Políbio, o quinquereme romano tinha um total de 300 remadores com 90 remos de cada lado. Tinha cerca de 45 metros de comprimento e 5 de largura e pesava cerca de 100 toneladas. Era superior ao trirreme, sendo mais rápido e com melhor desempenho em mau tempo.
Os navios mercantes eram construídos para transportar grande quantidade de carga a longas distâncias e a um custo razoável, portanto a velocidade e a manobrabilidade não eram uma prioridade.
Eles tinham uma relação comprimento / largura do casco subaquático de cerca de 3: 1, tábuas duplas e lastro para maior estabilidade. Ao contrário dos navios de guerra, o casco em forma de V era profundo debaixo d'água, o que significa que eles não podiam navegar muito perto da costa.
Eles geralmente tinham dois enormes lemes laterais (ou um longo remo) localizado na popa e controlado por uma pequena barra de leme conectada a um sistema de cabos. Eles tinham de um a três mastros com grandes velas quadradas e uma pequena vela triangular chamada supparum na proa.
A capacidade de carga do navio mercante romano era geralmente de cerca de 100-150 toneladas (sendo 150 toneladas a capacidade de um navio que transportava 3.000 ânforas). Os navios menores tinham capacidade para 70 toneladas, enquanto os maiores podiam ter capacidade para 600 toneladas, com um comprimento de cerca de 46 metros.
A carga podia incluir produtos agrícolas (por exemplo, grãos do vale do Nilo do Egito, vinho, óleo etc.), matérias-primas (barras de ferro, cobre, lingotes de chumbo, mármore e granito) e outros bens. Assim como os navios de guerra, os navios mercantes também podiam usar remadores.
Após o colapso do Império Romano, nenhum navio com a capacidade de carga dos navios romanos foi construído até o século 16, cerca de 1100 anos depois.
Tradução de texto escrito por Victor Labate
Março de 2017
Moacir tem 37 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.