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As relíquias cristãs e os relicários de Carlos Magno

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Capa do artigo: As relíquias cristãs e os relicários de Carlos Magno

Karlsbüste, o mais famoso retrato de Carlos Magno, na verdade se trata de uma produção do século 14. Tesouro da Catedral de Aachen.

O culto de relíquias religiosas foi muito forte durante os primórdios do cristianismo e durante a Idade Média. Peregrinos de toda a Europa percorriam longas distâncias para chegar a igrejas que contavam com objetos da vida de um santo ou figura religiosa. Acreditava-se que se aproximar de tais objetos, ou mesmo contemplá-los, poderia ajudar a curar doenças, e vários milagres foram atribuídos a eles.

Essas relíquias costumavam ser guardadas em igrejas em objetos chamados relicários. Muitos deles contavam com uma decoração artística belíssima com pedras e metais preciosos. A qualidade desses relicários e a quantidade de relíquias de uma congregação costumavam depender da sua riqueza e do poder se seus patrocinadores.

Cinco relicários foram feitos durante a Idade Média para guardar os restos mortais de Carlos Magno. Aparentemente, na época de sua morte, em 28 de janeiro de 814, o imperador foi colocado em um sarcófago antigo do século 2 ou 3 que mostrava o rapto de Perséfone, uma história da mitologia grega, que supostamente teria sido trazido por Carlos de Roma para ser usado como seu túmulo. Esse sarcófago ainda existe no Tesouro da Catedral de Aachen.

O sarcófago de Perséfone (Proserpina sarcophagus) é uma peça de mármore romana do início do século 3, no qual Carlos Magno teria sido enterrado em 814. Tesouro da Catedral de Aachen, Alemanha.

Por volta do ano 1000, Otão III abriu e removeu vários objetos (um livro de evangelhos, uma espada e sua coroa). 165 depois, Frederico I Barbarossa, quando canonizou Carlos Magno, exumou seu corpo. Essa "canonização", que ocorreu durante o cisma de 1159 a 1170 e foi anunciada inicialmente apenas pelo anti-papa Pascal III, era uma ação da autoridade imperial motivada pelo desejo de reunir as potências políticas e eclesiásticas do Império.

Frederico I ordenou que fosse escrita uma biografia (uma hagiografia) de Carlos Magno: a Vita Karoli Magni (A Vida de Carlos Magno) e encomendou o primeiro relicário por volta de 1170. Esse relicário que contém um braço é conservado no Museu do Louvre, e aparentemente vem de uma oficina de Mosan, atual Bélgica. Sob a forma de um altar/caixão, é decorado com uma arcada de doze nichos emoldurando os bustos de figuras importantes, incluindo Frederico I e sua esposa Beatrice.

Relicário do braço de Carlos Magno (Reliquaire du bras de Charlemagne). Século 12. Museu do Louvre. Proveniente do Tesouro da Catedral de Aix-la-Chapelle.

Em 1481, os ossos do braço de Carlos Magno foram colocados em outro relicário de braço, também conservado em Aachen, dessa vez com uma forma que retrata seu contéudo.

Relicário do braço de Carlos Magno (Armreliquiar Karls des Großen). Século 15. Tesouro da catedral de Aachen.

Frederico II havia colocado o corpo de Carlos Magno em uma urna de ouro e prata, que ele havia encomendado, e finalmente concluído em 25 de julho de 1215. Este santuário do tipo châsse tem o formato de uma basílica/sarcófago e têm figuras sentadas em várias arcadas ao seu redor. Carlos Magno, entronizado, coroado e com uma auréola, é representado em uma das extremidades, flanqueado pelo Papa Leo III e pelo arcebispo de Reims, Turpin. Ambos inclinam a cabeça em direção ao imperador. A maioria das outras figuras são reis que foram coroados em Aachen.

Urna de Carlos Magno (karlsschrein) produzida por ordens de Frederico II. Século 13. Catedral de Aachen.Detalhe de Carlos Magno, ao centro, flanqueado pelo papa e pelo arcebispo.


Cenas da lenda de Carlos Magno, tiradas do Vita Karoli Magni são representadas no telhado em baixo-relevo. Em particular, este texto enfatiza as cruzadas lendárias de Carlos a Jerusalém e Santiago de Compostela, e Aachen aparece como seu terceiro lugar de peregrinação. As motivações de Fredrico II, como as de Frederico Barbarossa, eram de natureza política e essa obra foi feita após a batalha de Bouvines, em 1214, que contribuiu para colocar Frederico II no poder.

Outro imperador que tinha uma veneração especial por Carlos Magno, era Carlos IV (1316-1378), que se tornou imperador do Sacro Império Romano em 1355. Vários anos antes de sua coroação como rei da Alemanha, em 25 de julho de 1349, ele deu à catedral de Aachen um relicário de busto contendo o crânio de Carlos Magno. O rosto é muito expressivo e a cabeça é adornada com uma coroa boêmia mais antiga, decorada com pedras preciosas e camafeus antigos. Águias e flores de lis, símbolos do Sacro Império Romano e do reino francês, aparecem na parte inferior do busto. Este relicário está na tradição de representações da realeza que vinha desde o século 13 e o artista parece ter sido francês.

Karlsbüste, o mais famoso retrato de Carlos Magno, na verdade se trata de uma produção do século 14. Tesouro da Catedral de Aachen.


Vários anos depois, outro relicário, aparentemente da mesma oficina, foi criado; e também é conservado em Aachen. Em forma de capela com três torres, possui uma galeria de três nichos com três estátuas: a Virgem com o menino Jesus é ladeada por Carlos Magno segurando uma maquete da catedral de Aachen e Santa Catarina segurando um relicário. Essas estátuas lembram o papel de Carlos Magno como fundador de igrejas, assim como o relicário de 1215.

O relicário das torres (karlsreliquiar turmtabernakel), uma peça do século 13. Tesouro da catedral de Aachen.Detalhe da estátua de Carlos Magno no relicário.


Este relicário contém várias relíquias: um pedaço da cruz, um pedaço da coroa de espinhos, um osso do braço de Carlos Magno (que na verdade é um osso da perna), três dentes de Carlos Magno, um dente de Santa Catarina e restos de outros santos, cada um acompanhado por uma inscrição. Todo o relicário é segurado por oito pequenas figuras: quatro anjos, o papa Leão III, o arcebispo Turpin, Rolando e Oliver.

Todos esses relicários vêm de Aachen e foram encomendados por figuras imperiais que queriam legitimar seu próprio poder, associando-se a Carlos Magno e fazendo dele um imperador santo. Aachen tornou-se assim o local de peregrinação mais importante para o culto de Carlos Magno. Através de textos e obras de ouro, Aachen fez todo o possível para atrair mais peregrinos. Imagens e palavras foram reunidas para aumentar a fama de Carlos Magno e o poder econômico, religioso e político de sua capital.

Tradução de texto escrito por Laurence Terrier Aliferis
2012

Foto de membro da equipe do site: Moacir Führ
Postado por Moacir Führ

Moacir tem 37 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.

Fontes bibiliográficas
  • Belghaus, Viola, Der erzählte Körper Berlin 2005.
  • Charlemagne, exh. cat. Aachen, 1965.
  • Grimme, Ernst Günther, Aachener Goldschmiedekunst Köln, 1957.
  • Krönungen: Könige in Aachen, exh. cat. in Aachen Mainz, 2000.
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