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Pesos no formato de patos em hematita. Segundo milênio a.c. Coleção do Instituto Oriental da Universidade de Chicago. OIM A9684
Agora que já conversamos um pouco sobre a questão da terra, a utilização de animais na agricultura e os empréstimos, o comércio e a navegação, vamos discutir a questão monetária.
Ao falar da economia nas civilizações antigas é essencial lembrar de uma questão importante: a moeda, tal qual nós a conhecemos, só surgiu na história no século 7 a.C. na Lídia (atual Turquia), provavelmente devido ao fato da Lídia ser um grande centro comercial com vasto suprimento de ouro.
Sociedades anteriores a esse período se utilizavam de outras formas de "moeda" para suas transações comerciais. O Código de Hamurabi (escrito no século 18 a.C.) deixa bem clara a maneira pela qual os babilônicos faziam as suas operações: a cevada e a prata eram os meios utilizados.
Nas linhas seguintes do artigo você encontrará uma tabela de preços formulada a partir de valores apresentados no Código. Tudo, desde operações médicas, até aluguel de barcos, pagamento de multas, compra de escravos e animais, pagamento de salários, enfim, tudo era realizado através de uma determinada quantidade de prata ou cevada.
Para tal era necessário um eficiente sistema de pesos e medidas, e esse será o tema do nosso próximo tópico. Mas é importante frisar que a própria lei previa casos em que houvesse fraudes nas medidas. Por exemplo, o artigo 108 pune a taberneira com a morte por afogamento, caso ela cometa fraude nas medidas de pagamentos realizados por seus clientes.
A prata era usada também para o comércio internacional. Já a maior parte dos pagamentos ligados a agricultura, eram realizados com cevada.
Sobre a renda dos mesopotâmicos, refiro a título de exemplo: A renda anual de um trabalhador rural girava em torno de 96 gramas de prata, ou cerca de 3600 litros de cevada.
No código de Hamurabi há mais de 20 leis prevendo o pagamento de multas e indenizações com valores em prata. São as seguintes: 4, 9, 17, 24, 59, 101, 139, 140, 198, 201, 203, 204, 207, 208, 211, 212, 213, 214, 241, 251, 252, 259, 260.
Na antiga Mesopotâmia não havia um sistema de unidades e medidas padronizado, mas o Código de Hamurabi cita ao longo de seus artigos diversas unidades de medida, usadas principalmente para a contagem de cevada e prata, as "moedas“ da época. Abaixo você confere os valores dessas unidades convertidas para o nosso sistema atual de quilos, litros, gramas e hectares.
As medidas de peso provavelmente eram realizadas com algum tipo de balança. Conjuntos de pesos utilizados para esse fim foram encontrados em escavações arqueológicas, como o exemplo abaixo:
Segundo McIntosh:
O valor de bens levados por mercadores eram contados com pesos de prata ou grãos de cevada, assim como as mercadorias que o mercador trazia de volta de suas expedições. Anéis e espirais de fios de prata que podiam ser facilmente cortados em pedaços, e outras pequenas unidades (comumente de 40 gramas) eram regulamente usadas em transações, a quantidade requisitada de prata sendo pesada para fazer compras ou pagar por serviços. (MCINTOSH, 2005, p.132, tradução nossa)
Segundo Emanuel Bouzon, as leis de Eshnunna, que são cerca de 50 anos mais velhas que o código de Hamurabi, definem em seu artigo primeiro, o preço da cevada em relação ao preço da prata. 1 GUR de cevada seria equivalente a 1 siclo de prata. Ou seja: 1 grama de prata é igual a 37,5 kg de cevada.
O código de Hamurabi define os valores de alguns produtos e serviços em cevada e outros em prata. Então, usei o valor acima como métrica para converter o preço de diversos itens:
LEI |
SERVIÇO OU PRODUTO |
VALOR EM PRATA (gramas) |
VALOR EM CEVADA (kg) |
- |
Compra de escravo homem |
128 a 240 |
4800 a 9000 |
- |
Compra de boi |
16 a 250 |
600 a 9375 |
- |
Compra de jumento |
40 a 160 |
1500 a 6000 |
121 |
Aluguel de celeiro para cevada (a cada 300 kg armazenados) |
0,13 |
5 |
215 |
Médico cura awilum com operação/cura olho com cirurgia |
80 |
3000 |
216 |
Médico cura filho de muskenum com mesma operação |
40 |
1500 |
217 |
Médico cura escravo de awilum com mesma operação |
16 |
600 |
221 |
Médico conserta osso quebrado/ músculo doente de awilum |
40 |
1500 |
222 |
Médico conserta osso quebrado/ músculo doente de muskenum |
24 |
900 |
223 |
Médico conserta osso quebrado/músculo doente de escravo |
16 |
600 |
224 |
Veterinário fez operação e cura animal |
1,33 |
49,8 |
228 |
Pedreiro constrói casa para awilum (a cada 36m2 construídos) |
16 |
600 |
234 |
Barqueiro calafeta barco para até 18 toneladas |
16 |
600 |
239 |
Aluguel de barqueiro (anual) |
48 |
1800 |
242 |
Aluguel de boi - boi de trás (anual) |
32 |
1200 |
243 |
Aluguel de boi - boi da frente (anual) |
24 |
900 |
257 |
Um ano de trabalho de agricultor |
64 |
2400 |
258 |
Um ano de trabalho de vaqueiro |
48 |
1800 |
261 |
Salário anual de pastor de animais |
64 |
2400 |
268 |
Um dia de aluguel de boi para trilhar grão |
0,53 |
20 |
269 |
Um dia de aluguel de jumento |
0,26 |
10 |
270 |
Um dia de aluguel de bode |
0,02 |
1 |
271 |
Um dia de aluguel de bois, carro de carga e condutor |
4,8 |
180 |
272 |
Um dia de aluguel apenas do carro de carga |
1,06 |
40 |
273 |
Salário anual de trabalhador rural |
96 |
3600 |
275 |
Um dia de aluguel de barco a vela |
0,15 |
5,6 |
276 |
Um dia de aluguel de barco a remo para subir o rio |
0,125 |
4,6 |
277 |
Um dia de aluguel de barco grande de 18 toneladas |
1,33 |
49,8 |
Os valores para compra de escravos humanos, bois e jumentos foram retirados da edição do código comentada por Emanuel Bouzon, página 187 e 191.
Moacir tem 37 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.