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Gladiadores saudam o imperador romano. Pintura "Ave Caesar Morituri te Salutant" (1859) de Jean-Léon Gérôme , uma das diversas telas do pintor que retrata os gladiadores nas arenas romanas.
Galeria de Arte da Universidade de Yale. N° de registro: 1969.85
Cerca de dois mil anos atrás, cinquenta mil pessoas enchiam o Coliseu em Roma para participar de um dos eventos mais fascinantes e violentos que já ocorreram no mundo antigo. Lutas de gladiadores eram o fenômeno de sua época - uma celebração de coragem, resistência, bravura e violência contra um pano de fundo de fama, fortuna e escrutínio social. Hoje, mais de 6 milhões de pessoas se reúnem todos os anos para admirar o Coliseu, mas o que aconteceu dentro dessas antigas muralhas tem sido uma questão tanto de debate acadêmico quanto de interesse geral.
As lutas assassinas eram uma forma de entretenimento popular para as massas, pobres e ricas. Os antigos romanos tinham uma fascinação mórbida pelo gladiador e, até hoje, o gladiador continua sendo um assunto intrigante na academia e na cultura popular. Para ajudar a separar o mito popular da realidade, reunimos alguns dos fatos mais interessantes sobre uma das figuras mais emblemáticas do Império Romano, extraída do artigo “Gladiadores, combatentes em jogos”, de Garrett G. Fagan no Dicionário Clássico de Oxford, Continue lendo para ver o quanto você sabe sobre os gladiadores romanos.
De acordo com interpretações acadêmicas modernas, os jogos de gladiadores eram talvez veículos de controle social e funcionavam para distrair as massas e impedi-las de reconhecer sua autonomia reduzida sob o domínio imperial. Os jogos de gladiadores eram um fenômeno no mundo romano, e estudiosos antigos e modernos mantiveram diferentes interpretações dos jogos e seu lugar na história romana. Alguns argumentam que os jogos refletem virtudes típicas romanas, como coragem, resistência e habilidade marcial, enquanto outros, como o satírico romano Juvenal, pensavam que os jogos se aproveitavam das obsessões doentias do romano com “pão e circo” (Sat. 10.78– 81). Interpretações modernas consideram os jogos distrações que mantiveram as pessoas subjugadas e incapazes de perceber a perda real de poder sob o império.
A elite instruída se opunha aos eventos de gladiadores e os via como entretenimento de massa para as classes mais baixas. Sua oposição, no entanto, nunca foi motivada pelo altruísmo. Na verdade, eles estavam muito menos preocupados com as vidas daqueles que participavam do combate de gladiadores, que eles consideravam sem valor e merecedores de seu destino. Sua oposição se originou a partir do que eles viam como indolência moral e as indignidades da indulgência.
Judeus e cristãos também estavam aparentemente despreocupados com as vítimas da violência na arena. Seus argumentos em oposição aos jogos se concentraram no que eles viam como idolatria, já que o show de gladiadores freqüentemente ocorria durante festivais religiosos pagãos, e apresentavam ídolos e imagens de deuses pagãos.
Gladiadores eram considerados infames (pessoas de má reputação). A maioria dos gladiadores eram escravos, ex-escravos ou indivíduos livres que lutavam sob contrato com um gerente. Eles eram frequentemente classificados abaixo de prostitutas, atores e cafetões, e geralmente considerados como marginais morais e sociais.
Apesar disso, os gladiadores eram os símbolos sexuais da sua época. Os gladiadores desfrutavam de um pouco de popularidade, especialmente das mulheres - tanto que um nome foi cunhado para essas antigas tietes (ludiae, ou “meninas da escola de treinamento”, termo cunhado por Juvenal (Sat. 6.104).
Alguns gladiadores foram homenageados com monumentos. Nem todos os gladiadores eram simplesmente mortos e rejeitados. Os gladiadores mais populares tinham lápides e inscrições que revelavam suas origens, carreiras e visões de sua profissão. Lápides eram muito caras, e ainda mais se fossem gravadas. Enquanto a questão permanece, se os sentimentos deixados para trás eram deles, esses epitáfios eram freqüentemente a única janela para a personalidade desses guerreiros.
Nem todos os gladiadores eram homens. Não está claro se as mulheres já lutaram na arena, mas há evidências que sugerem que existiam gladiadoras femininas. Dizia-se que o imperador romano Domiciano encenava lutas entre gladiadoras e anãs. Outro relevo sugere que a antiga cidade de Halicarnasso sediou uma luta entre duas guerreiras chamadas “Amazonas” e “Achillia”. Mas, embora essas lutas possam ter realmente ocorrido, eram provavelmente espetáculos para o imperador e apenas uma novidade da época.
As lutas de gladiadores eram originalmente parte de cerimônias fúnebres. Exibições de gladiadores eram originalmente associadas a comemorações funerárias. À medida que a popularidade dos jogos cresceu, também aumentaram sua escala e finesse. Uma exibição notável ocorreu em 216 a.C, quando 22 lutas foram realizadas ao longo de três dias para marcar a morte de um proeminente senador.
Os gladiadores eram (normalmente) recrutados e treinados, da mesma forma que os atletas são hoje. Gladiadores viviam e treinavam em escolas (ludi gladiatorum) sob o olhar atento de seus gerentes (lanistae). Os gladiadores livres trabalhavam sob contrato, enquanto os demais gladiadores (geralmente escravos) eram comprados por um ludus gladiatorum ou condenados pelas cortes romanas à lutar na arena.
A morte era um resultado aceitável, mas não um resultado inevitável, de shows de gladiadores. A maioria das representações modernas de combates de gladiadores costuma retratar lutas como um sangrento todos-contra-todos que geralmente termina com um participante brutalmente mutilando o outro, mas esse nem sempre foi o caso. Como os gladiadores eram profissionais qualificados, seria um golpe econômico devastador para os gerentes se eles perdessem um membro de seu estoque de gladiadores.
Os jogos de gladiadores foram oficialmente banidos por Constantino em 325. Constantino, considerado o primeiro imperador "cristão", proibiu os jogos com o discurso de que eles não tinham lugar "em um tempo de civilidade e paz interna" (Codex Theodosianus. 15.12.1). No entanto, não há evidências que sugiram que a proibição tenha sido implementada por razões humanitárias. De fato, os pretensos gladiadores foram enviados às minas para assegurar um fluxo constante de trabalho. Outras evidências sugerem que os jogos simplesmente se tornaram muito caros e que a recente “cristianização” do império resultou em menos combatentes.
Publicado originalmente em 19 de setembro de 2016.
Zackery Cuevas é editor assistente da divisão de referência acadêmica da Oxford University Press. Cassandra Gill é uma coordenadora de marketing da OUP. As informações deste post foram extraídas do artigo “Gladiadores” de Garrett G. Fagan no Dicionário Clássico de Oxford.
Tradução de texto escrito por Zackery Cuevas e Cassandra Gill
Moacir tem 37 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.