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Alguns dos principais templos egípcios, da esquerda para a direita:
Philae, Esna, Edfu, Deir el-Bahari, Kom Ombo, Medinet Habu.
Os egípcios eram um dos povos mais religiosos da antiguidade, eles cultuavam vários deuses e a prática de construir e reformar templos religiosos era muito comum entre os faraós. Era uma forma de agradecer aos deuses pelas boas colheitas e pelo mantenimento da ordem no reino.
Hoje apresentamos uma lista com os 10 templos mais famosos da História do Egito Antigo. Importante esclarecer, esses são os templos mais famosos na atualidade devido ao seu bom estado de conservação e a grande procura pelos turistas. No entanto, existiam diversos outros templos na antiguidade, e é provável que muitos deles fossem maiores e mais importantes do que alguns que serão citados aqui. Mas a maioria deles não sobreviveu. Isso fica especialmente claro na região do Delta, nessa área mais povoada e mais úmida, as grandes construções se perderam há muitos séculos.
Sem mais delongas, vamos a nossa lista:
Karnak é um complexo de templos que inclui construções dedicadas a Ámon, Mut e Khonsu, a tríade de deuses tebanos. Os templos que ficavam ao norte de Tebas ocupavam uma área de mais de 30 mil metros quadrados. Paul Johnson fala sobre a construção desse complexo:
Foi Sesóstris I quem inspirou e primeiramente começou a construir o magnífico templo de Amon em Karnak, próximo a Tebas; praticamente todos os faraós posteriores do Egito o embelezaram, demolindo algum trabalho predecessor para conseguir espaço e acrescentar algo de si próprio a ele. Ao longo de dois mil anos, tempo de vida mais longo do que o de qualquer catedral cristã, o templo continuou crescendo. (p.123-124)
O gigantismo do templo refletia o poder do clero de Tebas, que não só se dedicava ao culto aos deuses, mas também era dono de muitas terras. Estima-se que no século 13 a.C, época de Ramsés II, mais de 20 mil pessoas trabalhavam a serviço do templo.
O complexo é composto por 10 pilones (portal em forma de trapézio), diversos pátios, lagos sagrados e templos. Um dos locais mais famosos do templo é a chamada Sala Hipóstila, onde 134 colunas imensas, cada uma com 21 metros de altura e 4 metros de diâmetro sustentavam o teto do templo.
Subindo o rio Nilo em direção ao sul por cerca de 2 km, se chega ao segundo templo mais famoso da antiga Tebas, o Templo de Luxor. Essa é uma construção bem menor do que o imenso complexo de Karnak, a área ocupada é de cerca de 100 x 250 metros.
Os templos de Luxor e Karnak estavam intimamente ligados. Uma vez por ano se realizava o Festival de Opet, quando as estátuas das divindades de Tebas — Ámon, Mut e Khonsu - eram levadas de barcos em uma procissão que saía do Templo de Karnak em direção ao Templo de Luxor.
Devido a essa proximidade, e pelo fato desses templos serem bastante parecidos no que diz respeito a arquitetura, há uma grande confusão na internet com relação a esses templos. Procurando por fotos de Karnak você encontrará imagens do templo de Luxor e vice-versa. É até natural que os turistas se confundam na hora de colocar as fotos na web, já que normalmente visitam os templos no mesmo dia e as fotos acabam sendo muito parecidas.
Mas o templo de Luxor possuí algumas características que o tornam mais facilmente identificável. O templo possui um único pilone, diante dele há duas estátuas e um obelisco. No interior do templo há dois grandes pátios (Pátio de Ramsés II e Pátio de Amenófis III) separados por uma uma série de 14 colunas, chamada de Colunata processional de Amenófis III. O templo ainda conta com outras salas cheias de colunas, que são menores que as salas do templo de Karnak, e possuem um estilo de coluna bem específico.
O templo de Luxor provavelmente já existia no início do Reino Médio, mas o que vemos atualmente foi construído principalmente por Amenófis III e Ramsés II. Duas estátuas de Ramsés II ladeiam a entrada do templo e o primeiro pilone apresenta relevos que descrevem a batalha de Kadesh de 1285 a.C. Originalmente dois obeliscos de 25 metros de altura estavam em frente ao templo, mas no século 19 um deles foi levado para Paris, onde foi colocado na Praça da Concórdia.
A região de Deir el-Bahari era tradicionalmente ligada ao culto da deusa vaca-Hathor. Durante o Reino Médio, o faraó Mentuhotep construiu ali um templo funerário com várias inovações: pela primeira vez as partes do templo estavam dispostas sobre vários níveis, cada um deles terminando em pórticos com colunas. Quatrocentos anos depois a rainha Hatshepsut construiu o seu templo, no mesmo local, ao lado do antigo templo de Mentuhotep.
Hoje em dia pouco resto do santuário de Mentuhotep, mas o templo de Hatshepsut está em excelentes condições e é um dos pontos turísticos mais famosos do Egito. A construção é famosa por abrigar magníficas estátuas de Osíris, Hathor e da própria rainha. Relevos e pinturas também retratam a famosa expedição comercial enviada para a região do Ponto.
O templo de Abu Simbel é o mais famoso entre os diversos templos construídos por Ramsés II na Núbia. Abu Simbel possuí dois templos: O maior, conhecido como o Grande Templo de Abu Simbel, é dedicado a divinizar o faraó. Sua fachada apresenta quatro estátuas gigantescas de Ramsés II e o interior do templo é repleto de relevos que apresentam o faraó na sua função de sacerdote, e como guerreiro na batalha de Kadesh.
O segundo templo é conhecido como O Pequeno Templo de Abu Simbel, e é dedicado a deusa Hathor e a rainha Nefertari, esposa principal e favorita do faraó. É um templo de dimensões menores, e sua fachada contém outras quatro estátuas do faraó e mais duas da rainha. Chama atenção o fato da rainha ser retratada na mesma altura do faraó. Na arte egípcia era comum o faraó ser sempre representado muito maior do que os demais, uma forma de mostrar o seu status mais elevado. Representar a rainha com a mesma altura do faraó deve ter sido considerado uma grande valorização para a sociedade da época.
Na década de 1960, sob a liderança de Nasser, o Egito construiu uma repressa para a geração de energia hidrelétrica. A construção da barragem iria inundar grandes áreas do vale do Nilo e destruir vários sítios arqueológicos. Entre 1964 e 1972 uma operação comandada pela Unesco fez a transferência do Templo de Abu Simbel para uma parte mais alta da mesma região. Toda a operação custou mais de 40 milhões de dólares. No Youtube há um vídeo oficial da Unesco sobre essa realocação, e também existe um documentário sobre o tema (em inglês) intitulado Monster Moves: Abu Simbel Temples.
Esse é o templo mortuário do faraó Ramsés III construído no século 12 a.C. Os faraós Hatshepsut e Tutmés III já haviam construído ali um templo dedicado ao deus Ámon. Baines e Málek falam sobre esse templo:
Ramsés III fez erguer o seu templo funerário, cercando as duas estruturas de grandes templos de tijolos. No interior destes havia armazéns, oficinas, edifícios administrativos e residências de sacerdotes e funcionários. (p.98)
Medinet Habu também abrigava um palácio real, que era utilizado pelo faraó durante as festas religiosas. O templo mortuário é extremamente importante do ponto de vista histórico, por conter relevos e pinturas que descrevem campanhas contra líbios, asiáticos e os Povos do Mar, que foram derrotados pelos egípcios durante o reindo de Ramsés III.
O Templo de Kom Ombo é dedicado aos deuses Hórus e Sobek (deus crocodilo do Nilo). O templo foi construído originalmente no século 15 a.C., mas o edifício atual é da época ptolomaica e romana. Os imperadores romanos Tibério, Domiciano e Caracala fizeram desde um prédio único, ao dividir o templo igualmente para os dois deuses, desde a porta de entrada até o santuário, todo o templo estava cortado pela metade, cada uma das partes sendo dedicada a um dos dois deuses.
Desde o início da História do Egito, essa região era um centro de culto do deus Hórus. Mas foi apenas no período Ptolomaico que um grande templo dedicado a esse deus foi construído nessa área. As obras do templo só foram concluídas em 57 a.C. Em parte por sua origem mais recente, o templo de Edfu é um dos mais bem conservados do Egito.
Templo da época ptolomaica-romana dedicado a deusa Hathor. O templo está em bom estado de conservação e o seu interior ainda mantêm muitas das pinturas e relevos originais. O interior desse templo é de fato um dos mais lindos de todos os templos do Egito Antigo. No teto do templo encontrava-se o célebre Zodíaco de Dendera, que atualmente se encontra no Museu do Louvre (Egyptian Antiquities, D 38), uma cópia foi colocado em seu lugar.
Além do templo de Hathor, esse complexo também conta com um templo de Ihyttro, filho de Ìsis, construído pelo faraó Nectanebo I; e um templo romano dedicado ao nascimento de Ísis.
Templo dedicado ao deus Khnum, um dos diversos deuses ligados ao Nilo. A maior parte da construção não existe mais, a única parte que restou foi a sala hipóstila pela qual se entrava no templo.
Assim como a maioria dos templos egípcios, esse também foi construído por diversos faraós no decorrer de vários anos. A maior parte dele havia sido construído no período Ptolomaico, mas a sala hipóstila que ainda sobrevive é do período romano. O teto da sala é decorado com representações dos signos do zodíaco, e as 18 colunas contêm textos sagrados e informações sobre as festas religiosas.
O templo ptolomaico da deusa Ísis é apenas uma das construções da ilha de Philae (Filae). A ilha também conta com outros templos, além do pavilhão de Trajano, construído pelo imperador romano.
Philae é conhecido como o último refúgio da religião politeísta egípcia, que passou a sofrer constantes ataques do cristianismo nas décadas finais do Império Romano. Segundo nos conta Paul Johnson:
(...) os antigos sacerdotes sofreram perseguição e pequenas basílicas cristãs foram erguidas tanto nos pátios quantos nos salões dos templos. Filae, a ilha sagrada bastante favorecida por reis ptolomaicos e imperadores romanos, foi o último baluarte da antiga religião a cair. (...) Mesmo depois de os imperadores terem se tornado cristãos, as autoridades romanas respeitavam a trégua religiosa de Filae. Chegando ao fim do século 4, entretanto, cristãos fanáticos, insuflados por seus bispos, destruíram, em Mênfis, o Serapeum e muitos outros templos que haviam sobrevivido. Nem mesmo Filae foi poupada, e abateram o falcão sagrado. Justiniano apoiou fervorosamente tal ação, tendo ele próprio, formalmente, fechado o último santuário desse tipo (p.372-373)
Os templos de Philae também tiveram que ser realocados devido à inundação causada pela repressão de Nasser. Os templos foram desmontados e reconstruídos na ilha vizinha de Agilkia.
Escolher os 10 templos que comporiam essa lista foi um verdadeiro desafio. Alguns locais consideravelmente famosos acabaram ficando de fora, por isso apresento a vocês algumas menções honrosas. Abaixo você confere os mapas e fotos de cada um deles:
Finalizarei esse artigo com uma citação dos historiadores Baines e Málek, que falam sobre a importância e o funcionamento dos templos egípcios:
Os templos mais importantes eram consagrados a divindades locais, na sua maioria consideradas, nas suas regiões, como sendo os criadores e abarcando todos os aspectos do mundo divino. O culto era praticado por uma hierarquia de sacerdotes. Não tinha a ver com a população em geral, excepto com os sacerdotes a tempo parcial que prestavam serviço um mês em cada quatro e das pessoas que trabalhavam as terras dos templos. Só os sacerdotes podiam entrar no templo. O deus deixava o templo para várias cerimónias, durante as quais as pessoas normais se podiam aproximar dele, nomeadamente para consultas de oráculo, mas mesmo nessas alturas a imagem permanecia escondida num altar e era transportada numa barca simbólica, sabendo-se assim que o deu estava presente. embora não fosse visto. (p.210)
Moacir tem 37 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.