Autor: Jorge Luiz da Cunha (org.)
Páginas: 324
Editora: Nova Prova
Ano da edição: 2004
Idioma: Português
Falar sobre a presença alemã no Brasil é possível sob diversos matizes, mas gostaria de me ater aqui à contribuição germânica para a organização rural brasileira. Os primeiros alemães que aqui chegaram, há 180 anos, espalharam-se por diferentes regiões, mas foi no Sul, indubitavelmente, que fincaram suas raízes mais profundas e transmitiram valores importantes de sua formação cultural, social e religiosa. Neste sentido, a imigração alemã deu novo significado ao uso da terra, disseminando a cultura minifundiária, com grande aproveitamento de pequenas extensões.
Uma visita ao Sul do Brasil, principalmente à área de colonização alemã, demonstra um exemplo de reforma agrária bem-sucedida. Ali não se encontram grandes áreas improdutivas, e sim uma distribuição justa da terra, com a contrapartida de sua exploração de forma sustentada. É pertinente traçar um paralelo entre esta cultura de pequenas propriedades e a evolução do cultivo de tabaco no Brasil. Nas mesmas terras escolhidas pelos alemães no interior do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, estava a área mais propícia à cultura fumageira. No início do século passado, a Souza Cruz implantou um programa de estímulo, assistência técnica e investimento aos agricultores que optassem pela atividade, encontrando forte aceitação na colônia alemã.
O resultado desta parceria foi a consolidação de urna atividade que envolve hoje 200 mil famílias de pequenos produtores rurais, grande parte deles de origem alemã. Podemos afirmar que a cultura teuto-brasileira passa pela atividade fumageira, com influência decisiva na região sul do país. Em 1918, a Souza Cruz construiu a primeira usina de processamento de fumo do país, em Santa Cruz do Siri, cidade originada por imigrantes alemães. A união destas duas forças levou a então pequena Santa Cruz a aparecer, em apenas dois anos, como a maior contribuinte entre os municípios gaúchos.
Atualmente, os padrões de Santa Cruz do Sul refletem muito da visão alemã da sociedade, sempre unta às questões de educação, saúde e de uma vida social harmônica. Santa Cruz do Sul é apenas um exemplo da história heróica e da contribuição exemplar dos alemães para o desenvolvimento do nosso país.
Se os 180 anos da imigração alemã nos levam a recordar dos primórdios, hoje já se pode falar de uma iitegração bem-sucedida. Das primeiras impressões de Hans Staden ao sucesso nas passarelas da modelo Ana Hickmann, uma filha de Santa Cruz do Sul, alemães e brasileiros foram se influenciando e se misturando no caldeirão cultural que caracteriza a formação social brasileira. A data comemorativa, portanto, celebra uma contribuição determinante ao que somos enquanto povo.
Livro feito com apoio da indústria brasileira Souza Cruz.
Jorge Luiz da Cunha é professor Titular da Universidade Federal de Santa Maria, atuando no Departamento de Fundamentos da Educação e nos Programas de Pós-Graduação em História, do Mestrado Profissional em Ensino de História – ProfHistória /UFSM e de Pós-Graduação em Educação. É doutor em História Medieval e Moderna Contemporânea pela Universität Hamburg, Alemanha, mestre em História pela Universidade Federal do Paraná e graduado em Estudos Sociais (História e Geografia e Educação Moral) pelas Faculdades Integradas de Santa Cruz do Sul (atual UNISC). Desenvolveu pesquisa de pós-doutorado junto a UNISINOS em 2019. É também membro do Comitê História, Região e Fronteira da Associação das Universidades do Grupo Montevidéu-AUGM. Desde dezembro de 2016 é presidente da Associação Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica, BIOGRAPH.
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