FIELDS, Nic. The Roman Army of the Punic Wars 264-146 BC. Oxford: Osprey Publishing, 2007.
A falta de boas obras sobre as Guerras Púnicas é um problema do mercado editorial brasileiro. O único livro em português que consegui encontrar na internet é a obra de Adrian Goldsworthy, A Queda de Cartago: as Guerras Púnicas 265-146 A.C., mas como essa é uma edição portuguesa publicada pela Edições 70, o preço é absurdo. O livro de 524 páginas está sendo vendido a 294 reais!!
Como não sou rico, decidi me contentar em ler alguns artigos científicos e algumas obras em inglês que consegui obter de formas "não convencionais". Há alguns dias atrás, li a obra The Punic Wars 264–146 BC (de Nigel Bagnall) e essa semana me debruçei sobre essa coisa linda, que é a obra de Nic Fields.
Diferente do livro de Nigel Bagnall, essa obra não visa oferecer um relato completo das Guerras Púnicas, mas se foca apenas na organização do exército romano durante o século 3 e 2 a.C.
O livro mostra os diversos tipos de soldados que compunham o exército, o uso de tropas aliadas, as estruturas de comando dentro das legiões, as táticas em batalha e a engenharia de guerra (acampamentos, estradas e máquinas de cerco).
E as últimas 30 páginas da obra são dedicadas a uma descrição das principais batalhas e do cenário militar durante a 2° Guerra Púnica (218-201 a.C.). Essa é a parte mais fraca da obra, porque não há realmente nada de muito novo, mas o autor apresenta alguns bons mapas de batalha mostrando em detalhes as movimentações dos exércitos, o que contribuí para entender as táticas usadas pelos dois lados.
A obra é excelente! Os primeiros capítulos, voltados para a organização do exército são perfeitos, e trabalham a fundo todas as informações que estão disponíveis sobre o tema. As Guerras Púnicas foram um dos primeiros conflitos da Roma Antiga sobre os quais temos informações relativamente confiáveis. Os historiadores Políbio (que estava em Roma durante a 2° Guerra Púnica) e Tito Lívio (que nasceu 150 anos após a 2° Guerra) são as nossas principais fontes sobre o conflito, e o autor faz constante uso de seus comentários para tentar elucidar os temas tratados no livro. Nic Fields, inclusive, cita as ocasiões em que Políbio e Lívio parecem discordar sobre a organização dos exércitos e o número de mortos em batalha.
No tocante a organização do exército, o autor trabalha não só os tipos de soldados (velites, hastati, princeps, triarii e equites) e a formação das linhas, mas também os seus armamentos. Nic Fields descreve em detalhes o gládio, o pillum e o scutum, as principais armas do soldado romano dessa época.
É muito importante, ao falar do exército romano das Guerras Púnicas, se lembrar de que essa era uma milícia cidadã. Os romanos ainda não possuíam um exército profissional, isso só surgiria com as reformas militares de Mario em 107 a.C., quase cem anos após o fim da 2° Guerra Púnica.
As Guerras Púnicas foram um período de grande aprendizado para os exércitos romanos, e muitos armamentos e táticas só se estabeleceram a partir desse conflito. Quando as guerras com os cartagineses começaram em 264 a.C., os romanos tinham acabado de unificar a península itálica, e ainda estavam sendo muito influenciados pelos métodos gregos de luta, afinal os povos do sul da Itália eram todos de origem grega.
Quando as Guerras Púnicas começaram, os romanos se viram pela primeira vez envolvidos em guerra com uma cultura completamente diferente, e muitas mudanças acabaram sendo feitas na sua forma de lutar, para se adaptar a essa nova realidade. A criação de uma marinha de guerra e a adaptação a luta no mar, foi a mais importante mudança causada pela 1° Guerra Púnica.
Existe, de fato, muita discussão sobre quando exatamente certas mudanças ocorreram. Como já comentei, as fontes antigas antes dessas guerras não são muito confiáveis, então há muitas coisas que não sabemos sobre o exército romano que unificou a Itália. Mas alguns historiadores acreditam que a substituição da falange pelo manípulo, e a adoção do gládio espanhol, podem ter acontecido durante as Guerras Púnicas.
Quer saber mais sobre o contéudo da obra? Acima dessa resenha você encontrará um link para acessar as minhas anotações de leitura. São 10 páginas com muitos detalhes sobre os contéudos trabalhados pelo autor.
Resenha publicada em 15/03/2020.
Escrita por
Moacir Führ
Moacir tem 36 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.