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Quem quer que tenha tido o privilégio de ter acesso ao Palácio Norte do rei assírio Assurbanipal em Nínive, pode considerar-se parte de algo atemporal. Graças à grande obra do arqueólogo Hormuzd Rassam (1826-1910), que descobriu um grande número de baixos-relevos de alabastro, que uma vez decoraram as paredes do Palácio do Rei (construídas por volta de 645 a.C): as cenas de caça aos leões assírios!
Essas extraordinárias esculturas, tão dinâmicas e cheias de movimentos, são tão realistas que são alguns dos artefatos antigos mais notáveis já encontrados. Elas foram descobertas por Rassam no ano de 1853, e desde 1856 estão em exposição no Museu Britânico
Rassam afirmou em sua autobiografia que “uma divisão dos operários, após 3-4 horas de trabalho pesados, foi recompensada pela grande descoberta de um belo baixo-relevo em perfeito estado de conservação ”.
Rassam ordenou que seus homens cavassem um grande buraco no monte; depois de mais de 2000 anos, os restos de um palácio real foram encontrados. Os tijolos de barro, obviamente, haviam desaparecido completamente, mas os relevos, que uma vez decoravam as paredes do palácio, felizmente sobreviveram.
No coração das galerias assírias, na Sala 10a do Museu Britânico em Londres, as lajes de pedra decoram as paredes de cada lado da sala. Elas descrevem um grupo de guerreiros liderados por uma figura mais alta, que usa um chapéu cônico; este é o rei assírio.
Os homens parecem estar caçando um grande número de leões. Rassam, inicialmente, não sabia quem era o rei. Ele fez cópias das inscrições em cuneiformes nos relevos do palácio e elas foram enviadas para Henry Rawlinson (1810-1895), o cônsul britânico em Bagdá.
Rawlinson sabia ler os cuneiformes e escreveu de volta a Rassam dizendo que esse era o palácio de Assurbanipal; um nome que ainda era desconhecido até aquele momento!
Acredita-se que o objetivo dos relevos não era gerar pena pelas criaturas moribundas, mas sim destacar sua presença crua e perigosa e mostrar como elas desmoronavam em agonia nas mãos do rei assírio que, através do apoio dos deuses e de sua habilidade com armas, trazia a civilização para o mundo caótico e desordenado que o animal representava.
Assurbanipal foi representado muitas vezes (sobre uma uma carruagem real, de pé no chão e nas costas de seu cavalo em movimento); Seu traje usual, rosto, barba e gestos foram esculpidos de forma muito requintada e vívida. Mas mesmo que o rei tenha ganhado destaque; são os leões que formam o núcleo central das cenas.
Acredita-se que um único artista tenha criado esses relevos, auxiliado por muitos assistentes; também se pensa que o próprio rei poderia às vezes intervir para acrescentar/alterar alguns detalhes da imagem.
As cenas de caça, cheias de tensão e realismo, estão entre as melhores realizações da arte assíria. Elas descrevem a liberação dos leões, a perseguição e a sua subsequente morte.
Embora muito brutal e sangrento, o “massacre” parece muito bonito! Teria sido essa a intenção do escultor? Estas lajes decoravam ambas as paredes de um corredor dentro do palácio (Sala C) e uma câmara privada com um portal (Sala S).
Além do rei, seus cortesãos e alguns de seus visitantes, quem mais poderia teria tido acesso a eles? O público? Em outras palavras, quem eles visavam impressionar?
O escultor estava habilmente apontando o contraste entre o rei cruel e suas nobres vítimas; entretanto, as pessoas para as quais as cenas foram projetadas viam o rei como o paradigma da nobreza, e os leões como inimigos cruéis que deveriam merecer um doloroso, e até grotesco, massacre.
A primeira cena documentada de caça ao leão remonta a 3000 a.C; era um governante que estava caçando leões. O palácio Noroeste do rei assírio Ashurnasirpal II em Nimrud (883-859 a.C), também abrigava algumas cenas de caça de leões, indicando que esse ato estivera presente há séculos.
A arena é cercada por uma linha dupla de soldados com escudos altos e arcos e flechas, e em alguns pontos há guardiões com cães, para evitar que leões escapem da arena.
O público-alvo, o povo, está assistindo de uma colina; homens e mulheres estão subindo a encosta, aterrorizados ou para chegar a um ponto com uma boa visão da ação que está prestes a começar. Enquanto isso, o rei e seus acompanhantes se preparam para a ação; com cavalos, arcos, lanças.
Os leões e leoas não estão livres dentro da floresta selvagem; eles são trazidos para a arena dentro de gaiolas; isso indica que os animais foram capturados de antemão. Uma pessoa, geralmente uma criança, levanta o alçapão e libera o leão.
Os cavaleiros próximos conduzem/atraem os leões para o rei e seus guardas para que eles enfrentem seu destino final através de uma multidão de cenas dolorosas, cinematográficas e notavelmente representadas.
Os leões foram representados em muitas atitudes de luta contra a morte (sendo atingido por flechas, lanças e/ou espadas) ou já mortos. As expressões faciais e os olhos dos animais foram retratados de uma forma muito realista, mostrando horror, derrota e agonia. Há no total 18 leões/leoas representados nessa sala.
Esta sala privada com um portão foi decorada com cenas de caça em escala relativamente pequena, dispostas em três registros horizontais paralelos. Nenhuma das cenas aqui retrata uma carruagem real. Em vez disso, o rei aparece a pé no chão ou em cima de um cavalo em movimento; ele usa um diadema, e não a típica coroa cônica dos reis assírios.
O próprio rei usa uma variedade de armas, refletindo suas grandes habilidades; um arco, espada e lança. Ele foi retratado três vezes em sua carruagem real, protegido e ajudado por seus homens.
Às vezes, o rei aparece de pé no chão e mata leões com uma espada. Ele também monta um cavalo e usa um arco/lança para matar sua presa. Em um relevo, o rei agarra um leão pelo pescoço com a mão esquerda e apunhala o leão com força e profundidade com a espada na mão direita, num evento muito dramático.
Em todas as cenas, o rei e seus homens parecem rígidos e frios. Teria o rei realmente enfrentado esses animais tão agressivamente e colocando sua vida em risco? Será que esses homens, encontravam esse grande número de animais hostis, usando apenas lanças, flechas e espadas?
O artista/escultor documentou alguns momentos “inesperados” e perigosos que o rei havia enfrentado. Os relevos da Sala S foram esculpidos em três registros paralelos e cenas diferentes, enquanto os eventos em Painéis da Sala C ocupavam todas as lajes.
Abaixo você confere um galeria com algumas pinturas e ilustrações modernas baseadas nos relevos descritos acima.
Tradução de texto escrito por Osama S. M. Amin
Março de 2016
Moacir tem 37 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.