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As termas romanas

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Capa do artigo: As termas romanas

Essa reconstrução mostra uma terma romana durante o período imperial. Autor desconhecido.

Locais para banho e relaxamento eram uma característica comum das cidades romanas em todo o império. Os complexos de termas, muitas vezes enormes, incluíam uma grande diversidade de espaços, oferecendo diferentes temperaturas e instalações, como piscinas e locais para ler, relaxar e socializar.

Termas de Adriano em Leptis Magna, Líbia. Ilustração de Jean-Claude Golvin.

Os banhos romanos, com a necessidade de grandes espaços abertos, também foram importantes impulsionadores na evolução da arquitetura, oferecendo as primeiras estruturas de cúpula na arquitetura clássica.

Parte essencial da cultura romana

Banhos públicos eram uma característica das antigas cidades gregas, mas eram geralmente limitados a uma série de banhos de assento (onde a pessoa se senta na água até os quadris). Os romanos expandiram a idéia e incorporaram uma ampla gama de instalações, e os banhos tornaram-se comuns até mesmo nas cidades menores do mundo romano, onde frequentemente ficavam perto do fórum.

Além dos banhos públicos, os cidadãos ricos costumavam ter seus próprios banhos particulares construídos como parte de sua vila, e eles também eram construídos para as legiões do exército romano quando em campanha.

Os banhos romanos. Ilustração moderna, autor desconhecido.

No entanto, foi nas grandes cidades que esses complexos (balnea ou thermae) assumiram proporções monumentais com vastas colunatas e grandes arcos e cúpulas. Os banhos eram construídos com milhões de tijolos de terracota à prova de fogo, e os prédios acabados eram geralmente suntuosos, com pisos finos de mosaico, paredes cobertas de mármore e estátuas decorativas.

Geralmente abrindo na hora do almoço e ficando aberto até o anoitecer, os banhos eram acessíveis a todos: ricos e pobres. No reinado de Diocleciano, por exemplo, a taxa de entrada era apenas dois denários - a menor moeda de bronze disponível. Ocasionalmente, em ocasiões como feriados, a entrada nos banhos era gratuita.

Elementos típicos dos banhos romanos

As características típicas (listadas na ordem usada pelas pessoas da época) eram:

  • Apodyterium - vestiários.
  • palaestrae - salas de ginástica.
  • notatio - piscina ao ar livre.
  • laconica e sudatoria - saunas secas e e úmidas.
  • calidarium -sala quente, aquecida e com uma piscina de água quente e uma bacia separada em uma bancada (labrum)
  • tepidarium - sala quente, indiretamente aquecida e com uma piscina tépida.
  • frigidarium - sala fria, sem aquecimento e com uma bacia de água fria, muitas vezes monumental em tamanho e cúpula, era o coração do complexo de banhos.
  • salas para massagem e outros tratamentos de saúde.

As instalações adicionais podiam incluir áreas para mergulho em água fria, banhos privativos, banheiros, bibliotecas, salas de aula, fontes e jardins ao ar livre.

Sistemas de aquecimento

Nos primeiros banhos parece ter faltado um alto grau de planejamento e eles eram freqüentemente  estruturas diversas unidas. No entanto, por volta do século 1 d.C., os banhos tornaram-se estruturas harmoniosas e simétricas, muitas vezes localizadas em jardins e parques.

Os primeiros banhos eram aquecidos por meio de braseiros, mas a partir do século 1 a.C., sistemas de aquecimento mais sofisticados foram usados, como o aquecimento sob o piso (hipocausto), abastecido por fornos a lenha (prafurniae).

O hipocausto era um sistema de calefação em que o ar aquecido numa fornalha (praefurnium) circulava sob o pavimento de um edifício e daí através de tijolos perfurados colocados no interior das paredes.

Esta não era uma ideia nova, pois os banhos gregos também empregavam tal sistema, mas, como era típico dos romanos, eles pegaram uma idéia e melhoraram até a sua eficiência máxima.

Os enormes fogos das fornalhas enviavam ar quente sob o piso elevado (suspensurae), que ficava em pilares estreitos (pilae) de pedra sólida, cilindros ocos ou tijolos poligonais ou circulares. Os pisos eram pavimentados com telhas quadradas de 60 cm (bipedales) que eram então cobertas em mosaicos decorativos.

As paredes também poderiam fornecer aquecimento com a inserção de tubos retangulares ocos (tubuli) que transportavam o ar quente fornecido pelos fornos. Além disso, tijolos especiais (tegulae mammatae) tinham saliências nos cantos de um lado, que prendiam o ar quente e aumentavam o isolamento contra a perda de calor.

Caldeiras em banhos romanos.

O uso de vidro para janelas a partir do século 1 d.C. também permitiu uma melhor regulação das temperaturas e permitiu que o sol adicionasse seu próprio calor ao ambiente.

A grande quantidade de água necessária para os grandes banhos era fornecida por aquedutos construídos para esse propósito, e era regulada por enormes reservatórios no complexo de banhos.

O reservatório das Termas de Diocleciano, em Roma, por exemplo, podia conter 20 mil m³ de água.

Ruína das Termas de Dioclesiano em Roma.

A água era aquecida em grandes caldeiras de chumbo instaladas sobre os fornos. A água podia ser adicionada (via tubos de chumbo) às piscinas aquecidas usando um meio cilindro de bronze (testudo) conectado às caldeiras. Uma vez liberada na piscina, a água quente circulava por convecção.

Uso do testudo em piscinas de banhos romanos.

Exemplos notáveis

Alguns dos banhos mais famosos e esplêndidos incluem os de Lepcis Magna (terminados em 127 d.C.) com suas cúpulas bem preservadas, as Termas de Diocleciano em Roma (concluídas em 305 d.C.), os grandes complexos de banho de Timgad em Éfeso, em Bath (século 2 d.C) e os Banhos de Antonino em Cartago (162 d.C.).

Os banhos romanos na cidade de Bath na Inglaterra, um dos mais bem conservados do antigo Império.Reconstrução moderna das Termas de Trajano. Autor desconhecido.Partes da antiga Terma de Dioclesiano foram convertidas em igrejas cristãs.Ruínas das Termas de Adriano em Leptis Magna, Líbia.


As Termas de Caracala

As Termas de Caracalla, na zona sul de Roma, são talvez os mais bem preservados de todos os banhos romanos e ficam em segundo lugar em tamanho, perdendo apenas para as Termas de Trajano, também em Roma (110 d.C.).

O famoso busto do imperador Caracala, no Museu Altes em Berlim. 212-217 a.C. Via Wikimedia Commons.

Elas também foram os banhos romanos mais luxuosos já construídos. Concluído em cerca de 235 d.C., enormes paredes e arcos ainda estão de pé e atestam as dimensões imponentes do complexo, que usou cerca de 6,9 ​​milhões de tijolos e tinha 252 colunas interiores.

Termas de Caracala. Recnostraução moderna feita por autor desconhecido.

Atingindo uma altura de até 30 metros e cobrindo uma área de 337 x 328 metros, elas incorporam todos os elementos clássicos que se poderia esperar, incluindo uma piscina olímpica de um metro de profundidade e um incomum caldário circular que alcançava a mesma altura que o Panteão de Roma e media 36 metros.

O caldário também tinha grandes janelas de vidro para aproveitar o calor do sol e outras instalações incluíam duas bibliotecas, um moinho de água e até uma cachoeira.

O complexo tinha quatro entradas e poderia acomodar até 8 mil visitantes diários. 6.300 m³ de mármore e granito revestiam as paredes e o teto era decorado com mosaicos de vidro que refletiam a luz das piscinas em um efeito iridescente. Havia um par de fontes de 6 metros de comprimento e o segundo andar oferecia um terraço de passeio.

Reconstrução moderna do aspecto original das Termas de Caracala. Autor desconhecido.

A água era fornecida pelos aquedutos aqua Nova Antoniniana e aqua Marcia, além de nascentes locais e era armazenada em 18 cisternas. Os banhos eram aquecidos por 50 fornos que queimavam dez toneladas de madeira por dia.

Além das imponentes paredes arruinadas, o local tem muitas salas que ainda contêm seu piso de mosaico de mármore original e grandes fragmentos também sobrevivem dos andares superiores, representando escamas de peixe e cenas de criaturas marinhas míticas.

Influência na arquitetura

As termas e a necessidade de criar grandes salas arejadas com tetos altos impulsionaram o desenvolvimento da cúpula arquitetônica. A mais antiga cúpula sobrevivente da arquitetura romana é a do frigidarium dos banhos Stabian em Pompéia, que remonta ao século 2 a.C.

Cúpula no frigidarium dos banhos Stabian em Pompéia.

O desenvolvimento de concreto na forma de entulho sólido e pesado permitiu a construção de paredes não sustentadas cada vez mais afastadas, assim como as abóbadas de tijolo oco suportadas por arcadas de contraforte e o uso de barras de ferro.

Essas características se tornariam amplamente utilizadas em outros edifícios públicos e especialmente em grandes construções, como basílicas. Mesmo nos tempos modernos, os banhos romanos continuaram a influenciar os designers, por exemplo, tanto a Estação de Trem de Chicago quanto a Estação da Pensilvânia, em Nova York, copiaram perfeitamente a arquitetura do grande frigidarium dos Banhos de Caracalla.

Estação de Trem de Chicago conta com arcos e até com capitéis coríntios em sua estrutura.

Tradução de texto escrito por Mark Cartwright
Maio de 2013

Foto de membro da equipe do site: Moacir Führ
Postado por Moacir Führ

Moacir tem 37 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.

Fontes bibiliográficas
  • Claridge, A. Rome: An Oxford Archaeological Guide. Oxford University Press, USA, 2010.
  • Henig, M ed. A Handbook of Roman Art. Phaidon, London, 2010.
  • Hornblower, S. The Oxford Classical Dictionary. Oxford University Press, USA, 2012.
  • Oleson, J.P. The Oxford Handbook of Engineering and Technology in the Classical World. Oxford University Press, USA, 2009.
  • Swerling, G. ed. The Baths of Caracalla. Electa, Rome, 2012
  • Vitruvius. On Architecture. Penguin, London, 2009
  • Wheeler, M. Roman Art and Architecture. Thames & Hudson, London, 2011
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