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Autor: Jaime Pinsky (org.)
Páginas: 111
Editora: Contexto
Ano da edição: 1994
Idioma: Português
Discute as formas de os historiadores "criarem" o fato histórico, de os livros didáticos reproduzirem essas "verdades" e de muitos professores apresentarem-nas como definitivas. Embora com posições teóricas diferentes, os autores (professores universitários e de ensino médio) colocam-se numa postura antipositivista e ressaltam a importância da historicidade e até do subjetivismo como ingredientes da interpretação do passado. Obra de extrema relevância para a reflexão sobre a pesquisa e o ensino de História no Brasil.
Livro da Coleção Repensando o Ensino.
Historiador e editor. Completou sua pós-graduação na USP, onde também obteve os títulos de doutor e livre-docente. Foi professor na atual Unesp, na própria USP e na Unicamp. Escreve regularmente no Correio Braziliense e, eventualmente, em outros jornais e revistas do país. Tem mais de duas dezenas de livros publicados (autoria, coautoria, e/ou organização).
PINSKY, Jaime (org.). O Ensino de História e a Criação do Fato. São Paulo: Contexto, 1994.
Acima você confere a foto dos autores do livro, todos são professores de História com formação diversa. Jaime Pinsky e Paulo Miceli são os mais famosos, já tendo muitas obras publicadas sobre temas diversos da História.
A presente obra foi lançada originalmente em 1988, e essa versão que irei analisar é a 6° edição, publicada em 1994 pela editora Contexto. É importante ter isso em mente, porque várias temas do livro já ficaram bastante ultrapassados, especialmente àqueles que fazem críticas aos livros didáticos.
Para os professores, ou futuros professores, de História é importante destacar: Esse livro não visa ajudá-lo a dar aulas, não há dicas do que ou de como fazer. Mas ele pode ajudar os professores a não cometer certos erros, e a serem mais críticos com relação aos livros didáticos, aos temas que devem ser ensinados e com relação a própria capacidade dos alunos.
Essa é uma obra com uma abordagem materialista histórica. Ou seja, marxista. Os autores utilizam termos como ideologia, alienação, classes sociais, elites, burguesia, classes dominantes e classes populares.
A seguir farei alguns comentários sobre cada um dos sete capítulos:
Jaime Pinsky discorre sobre a invenção da ideia de nação no Brasil. Citando Pero Vaz de Caminha, Hans Staden e outros estrangeiros e focando, principalmente, no trabalho do historiador Francisco Adolfo Varnhagen, autor de História Geral do Brasil (1854).
Também discute as dificuldades ligadas a meta de criação da nação, com destaque para a questão do negro e do índio. Nessa área se destacou o trabalho de Gilberto Freyre, que criou a ideia da escravidão do bem, e de uma nação de iguais.
Os livros didáticos ainda seguem essa ideia, ignorando o preconceito racional e os conflitos com indígenas, que foram corriqueiros, principalmente, durante o período colonial. Embora, não nos esqueçamos, continuem acontecendo até hoje. O autor finaliza comentando a distância entre o Brasil real e o Brasil imaginado por ideólogos da nação brasileira.
Elza Nadai comenta as ideias que estimularam o surgimento da História como disciplina escolar autônoma. E os problemas que esses ideiais trouxeram para a modernização dessa área, que tem muita dificuldade de superar antigos paradigmas e se adaptar à uma escola contemporânea, que faça sentido para todas as classes sociais.
As distorções dos livros didáticos e o sentido do Fazer História são temas do artigo de Paulo Miceli. O autor também critica os professores e sua dificuldade de adaptação às novas ideias da área. E finaliza falando sobre a necessidade de uma escola mais engajada, em que a História ajude a contestar o mundo real, e o professor seja mais corajoso para enfrentar as regras.
Algumas partes desse artigo são um pouco confusas, e o autor não parece ter muito claro quais são os argumentos que quer defender.
Nesse artigo de Circe Bittencourt, é demascarado o papel da História como legitimadora dos ideiais nacionais. A autora conta a história da ideia de atividade cívica como forma de pregar o patriotismo, e o papel de pessoas como Olavo Bilac e Coelho Netto, além de movimentos como o Escotismo.
O foco nos grandes personagens, como José Bonifácio, Duque de Caxias e Tiradentes é desnudado como uma tentativa de criar "Pais Fundadores" do Brasil, seguindo o modelo nacionalista norte-americano. A glorificação de batalhas, e a exaltação dos bandeiras e sua ligação com o desenvolvimento paulista são mostrados como tentativas de se criar uma mitologia nacional.
Uma crítica geral aos professores que, segundos as autoras, seriam resistentes à mudanças. Nadai e Bittencourt também apresentam os resultados de uma pesquisa realizada com alunos do ensino fundamental (1º Grau na época), que visava medir a capacidade desses alunos entenderem a noção de tempo histórico.
A pesquisa foi feita em 1986 com a apresentação de duas imagens, seguidas por um questionário de duas páginas com perguntas objetivas sobre o entendimento dos alunos. A conclusão da pesquisa, segundo as autoras, é a reafirmação da possibilidade do ensino de História nas séries inicias do Ensino Fundamental; já que os alunos teriam demonstrado um bom entendimento da noção de tempo passado.
Maria Galzerani fala como o estudo, não só da resistência, mas também da apatia do povo diante das mudanças, é importante para que os alunos se vejam como parte integrante da História. No entanto, as forças populares não devem ser superestimadas e deve se fugir da idealização de líder populares. Assim se busca entender a participação popular no passado de forma mais crítica.
A autora mostra os resultados de uma pesquisa realizada com a utilização de oito livros didáticos (da década de 1980), mais a obra Formação do Brasil Contemporâneo, de Caio Prado Jr. E utilizando esses livros analisa os erros e acertos cometidos nas discussões sobre quatro temas que fazem parte da História do Brasil: o Eurocentrismo e o Etnocentrismo, a Escravidão, o Povoamento, e a Cafeicultura. E destaca que apenas com a consciência do papel de todos no passado, será possível superar a sociedades de classes.
Nesse breve artigo de Maria Galzerani, a autora faz uma crítica rasa da visão marxista da História. Segundo ela, essa abordagem foi a mais utilizada na produção de livros didáticos na década de 70 e 80 no Brasil.
Ela dedica um bom tempo a censurar as conclusões apresentada em outra obra, em que são feitas críticas ao livros didáticos utilizados nas séries iniciais, em que a História é apresentada como uma disciplina com a função de mascarar o mundo real para as crianças, de acordo com os interesses da classe hegemônica.
Ao mesmo tempo que defende a análise do materialismo histórico, Galzerani critica a visão maniqueísta de alguns estudiosos que utilizam essa abordagem.
Resenha escrita em 12/10/2018.
Moacir tem 37 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.