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Conteúdos dos capítulos do livro

Prefácio - Texto curto sobre os objetivos da obra.

1. Sacerdotes, guerreiros e trabalhadores - A economia e a sociedade na Alta Idade Média, antes da revolução comercial. A exploração do camponês e a atuação da Igreja e da nobreza. Estrutura do poder feudal e suas hierarquias.

2. Entra em cena o comerciante - Os limites econômicos na Alta Idade Média. A revolução comercial dos séculos 11 e 12. As Cruzadas. Veneza e as cidades italianas. O comércio no Mar do Norte e Bruges. As Feiras medievais.

3. Rumo à cidade - O crescimento das cidades na Baixa Idade Média. As Ligas Comerciais e a Liga Hanseática. A busca pela liberdade das cidades do poder dos senhores feudais. As cartas de franquia.

4. Surgem novas ideias - Sobre o conceito de Usura na Idade Média e como essa doutrina cedeu diante do avanço do capitalismo.

5. O camponês rompe amarras - A revolução comercial do século 12 causou mudanças na sociedade. A ampliação da área cultivável e o crescimento populacional. O fim das obrigações feudais e a emancipação do servo.  A Peste Negra e suas consequências econômicas. As revoltas camponesas.

6. "E nenhum estrangeiro trabalhará..." - Sobre as corporações de ofício na Baixa Idade Média. O monopólio das corporações. O conceito de preço justo. A elitização das corporações. O século 14 é um período de conflito de classes dentro das corporações. Levantes do final do século 14.

7. Aí vem o Rei! - A ascensão dos reis e dos nacionalismos no final da Idade Média. Dependência do rei do dinheiro da burguesia. Práticas protecionistas. Choque do rei com a Igreja. Porque a reforma religiosa era inevitável?

8. "Homem rico..." - O que é a desvalorização da moeda. As ideias mercantilistas. A descoberta da rota para as Índias cruzando a África. A revolução comercial do século 16. Surgem as sociedades de ações para o comércio marítimo. O poder dos mercadores e banqueiros nos séculos 16 e 17 e a Casa bancária Fugger. Antuérpia como centro financeiro.  Feiras medievais são superadas por um novo modelo.

9. "...Homem pobre, mendigo, ladrão" - A pobreza na Europa devido a elevação dos preços causada pela entrada do ouro e prata da América. Os cercamentos. Nova visão sobre a terra. Criação de exército industrial de reserva.

10. Precisam-se trabalhadores. crianças de dois anos podem candidatar-se - A queda das corporações de ofício e o avanço do sistema doméstico. Surge o capitalista intermediário. Os investimentos na indústria nos séculos 16 ao 18. As fases da evolução industrial.

11. "Ouro, grandeza e glória" - A política mercantilista. A balança comercial favorável, a posse do ouro e prata, estímulo à indústria e comércio. Concessão de monopólios. Colbert na França. Holanda como potência econômica e os Atos de Navegação na Inglaterra de Cromwell.

12. Deixem-nos em paz! - O liberalismo econômico. Adam Smith e a obra A Riqueza das Nações. O fim do mercantilismo. Os fisiocratas franceses (Laissez-Faire).

13. "A velha ordem mudou..." - Sobre a Revolução Francesa e o que ela representou: a luta da burguesia e a ascensão do capitalismo.

14. De onde vem o dinheiro? - Diferença entre dinheiro e capital. Sobre a acumulação primitiva do capital e como ela foi feita. O processo de Fechamento das terras comuns. Êxodo rural e estímulo ao sistema fabril. A adaptação das doutrinas religiosas ao novo ideário capitalista.

15. Revolução. Na indústria, agricultura e transporte - Capítulo simples e curto sobre a revolução industrial, foca mais na revolução agrícola e no crescimento populacional que ocorreu no mesmo período.

16. "A semente que semeais, outro colhe..." - Sobre a exploração do trabalho na Inglaterra da revolução industrial e sobre a união dos trabalhadores em sindicatos e greves. Também fala da repressão do governo e dos industriais aos trabalhadores. Sobre o movimento ludita.

17. "Leis Naturais" de quem? - Sobre os economistas clássicos ingleses no século 19 e suas ideias que justificavam a exploração do trabalho. Sobre a oposição a essas ideias, com destaque para o economista alemão Friedrich List.

18. "Trabalhadores de todos os países, uni-vos!" - Sobre o socialismo. Os socialistas utópicos. Karl Marx e Engels. O Manifesto do Partido Comunista e O Capital. O materialismo histórico. O conflitos de classes como força motora das mudanças na sociedade. A revolução dos trabalhadores e porque o capitalismo está fadado ao fracasso.

19. "Eu anexaria os planetas, se pudesse..." - Sobre a Teoria da Utilidade Marginal e como ela mostrava que controlar a oferta é controlar o preço. A formação de trustes e cartéis para controlar os preços através do controle da oferta. Os grandes monopólios do século 19 e o estímulo ao imperialismo pelo mundo. As ações imperialistas na África.

20. O elo mais fraco - As constantes crises do capitalismo e quais as suas causas. A teoria de Marx da tendência da redução da taxa de lucro.

21. A Rússia tem um plano - A URSS, o comunismo e as vantagens da economia planificada.

22. Desistirão eles do açúcar? - Sobre a crise do capitalismo após a quebra da Bolsa em 1929 e as ações dos governos capitalistas para resolver os problemas. A ascensão do nazi-fascismo.

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História da Riqueza do Homem

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Capa do livro História da Riqueza do Homem, de Leo Huberman
Informações técnicas

Autor: Leo Huberman
Título original: Man's Wordly Goods - The Story of the Wealth of Nations
Páginas: 318
Editora: Zahar Editores
Primeira publicação: 1936
Ano da edição: 1983
Idioma: Português

Sinopse

As sucessivas edições deste livro iluminador não constituem apenas em um êxito editorial. Tal fato é, antes de tudo, a confirmação plena de sua importância para a vida cultural do país. Este é precisamente o caso desta História da Riqueza do Homem, de Leo Huberman. Todas as manifestações do saber humano são historicamente condicionadas. Esta verdade não abrange apenas as ciências sociais ou humanas, Leibniz, que foi o filósofo que inventou o maior número de questões, lançava no Protega a tese da historicidade da própria natureza, a orgânica e a inorgânica. Sendo o homem o único animal a modificar o meio circundante através do trabalho, criando a sua circunstancia existencial, a história da riqueza que produz não será entendida se, ao reconstituí-la, fizermos abstrações das condições sociais do trabalho e seus frutos. Compreendendo tal exigência de inteligibilidade, Leo Huberman escreveu este livro magistral, cujo objetivo é explicar a História pelo estudo da teoria econômica e, ao mesmo tempo, explicar a Economia através do estudo da História.

Jornalista
Leo Huberman

Leo Huberman (1903-1968) foi um jornalista e escritor marxista norte-americano, co-fundador da revista Monthly Review. Sua obra mais conhecida, "A História da Riqueza do Homem" ("Man's Worldly Goods"), foi publicada em 1936 após pesquisa realizada na Faculdade de Economia de Londres. Dois anos depois foi nomeado chefe do Departamento de Ciências Sociais do New College da Universidade Columbia.

Análise do livro
5/5 ÓTIMO

HUBERMAN, Leo. História da Riqueza do Homem. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1983.

História da Riqueza do Homem é um clássico da história econômica lançado em 1936, e que ainda hoje permanece sendo vendido e relançado. A versão atualmente nas lojas já é a 22° edição brasileira! (A edição que li foi a 19°) A obra faz sucesso não só por ser muito bem escrita, mas também porque o autor foi capaz de explicar conceitos econômicos complexos para o público geral e traçar um panorama do desenvolvimento econômico da civilização ocidental desde a Alta Idade Média até os dias atuais.

Abaixo você confere os tópicos tratados em cada capítulo, depois farei mais comentários sobre a obra:

Exibir conteúdo dos capítulos

Comentários sobre a obra

História da Riqueza do Homem é quase um livro perfeito. Uma obra incrivelmente bem escrita, tornando a leitura extremamente agradável e prazerosa. O autor apresenta a história econômica do mundo ocidental desde a Idade Média até a década de 1930, quando a obra foi escrita.

A análise materialista histórica

O método utilizado pelo autor é a análise materialista histórica, ou seja, há um foco muito grande nos conflitos de classes, nas mudanças de sistemas econômicos e nas incoerências de cada sistema. O autor também se utiliza dos termos estrutura (relações de produção) e superestrutura (relações culturais, sociais e políticas, que são reflexos das mudanças na estrutura e não causadoras de mudanças). Esse é o ponto mais importante da análise materialista histórica: são os conflitos de classes e as mudanças nos sistemas de produção que causam todas as mudanças na sociedade, todas as demais estruturas são apenas consequências das alterações nessas áreas.

Confira um trecho da obra em que o autor descreve esse processo:

Quando ocorreu a revolução dos modos de produção e troca, que denominamos de modificação do feudalismo ao capitalismo o que aconteceu à velha ciência, ao velho direito, à velha educação, ao velho governo, à velha religião? Também se modificaram. Tinham de modificar-se. O direito do ano 1800 era totalmente diferente do direito do ano 1200. O mesmo ocorreu com o ensino religioso. O mundo dominado pelos comerciantes, fabricantes, banqueiros, exigiu um conjunto de preceitos religiosos diferentes dos do mundo dominado pelos sacerdotes e guerreiros. Numa sociedade em que o objetivo do trabalho era apenas conseguir um sustento adequado para si e para a família, a Igreja podia denunciar os aproveitadores. Mas numa sociedade em que o principal objetivo do trabalho era o lucro, então a Igreja tinha de adotar uma linguagem diferente. E se a Igreja Católica, engrenada numa economia feudal e manual, em que o artesão trabalhava simplesmente para viver, não podia modificar seus ensinamentos de forma bastante rápida para enquadrarse na economia capitalista, onde o industrial  trabalhava para ter lucro, então a Igreja Protestante podia. Ela dividiu-se em muitas seitas diferentes, mas em todas, e em graus variados, o capitalista interessado nos bens materiais podia encontrar consolo. (p.179)

Também é importante dizer: o autor é claramente de esquerda e demonstra um apreço pelos movimentos populares, critica duramente o capitalismo e descreve os primeiros anos da URSS com um certo nível de admiração pouco contido.

Mas isso não torna esta uma obra de cunho político panfletário, embora esse tenha sido um livro sempre valorizado por movimentos de esquerda, especialmente na década de 1970. Leo Huberman é muito consciente em seus argumentos e apresenta uma análise séria e inteligente do desenvolvimento econômico da nossa civilização.

Os temas

O autor deixa muito claro os objetivos e limites da obra no Prefácio. Confira nas palavras do próprio Leo Huberman:

ESTE livro tem um duplo objetivo. É uma tentativa de explicar a história pela teoria econômica, e a teoria econômica pela história. Essa inter-relação é importante — é necessária, O ensino da história se ressente quando pouca atenção se dispensa ao seu aspecto econômico; e a teoria econômica se torna monótona, quando divorciada de seu fundo histórico. A “Ciência triste” [economia] continuará triste, enquanto ensinada e estudada num vácuo histórico. A lei da renda de Ricardo é, em si, difícil e insípida. Mas situada em seu contexto histórico, vista como uma batalha na luta entre proprietários de terras e industriais, na Inglaterra do início do século XIX, ela se tornará animada e significativa. Este livro não pretende ser exaustivo. Não é uma história econômica nem uma história do pensamento econômico — mas um pouco de ambas. Tenta explicar, em termos de desenvolvimento das instituições econômicas, por que certas doutrinas surgiram em determinado momento, como se originaram na própria estrutura da vida social, e como se desenvolveram, modificaram e foram ultrapassadas, ao mudarem os padrões daquela estrutura. (p.7)

Como foi possível observar no resumo dos capítulos acima, o autor se foca nos seguintes temas:

  • História Econômica da Idade Média (cap.1-7)
  • Mercantilismo (cap.8-11)
  • Liberalismo e ascensão do Capitalismo (cap.12-17)
  • Marx e o Socialismo (cap.18)
  • o Capitalismo e o Imperialismo (cap.19, 20, 22)
  • a URSS (cap.21)


Datas e cronologia

A obra apresenta os temas de forma cronologia, mas nem tanto. Cada capítulo tem um tema e por isso é comum o autor tratar do período entre o século 12-16 em um capítulo, e depois, em outro capítulo, retornar ao século 15 para tratar de outro tema. Mas no geral a obra se apresenta de forma cronológica, o que torna a compreensão do desenvolvimento econômico mais simples.

Eu teria ficado mais feliz se o livro apresentasse mais datas, para que pudesse me posicionar melhor cronologicamente. Acho que isso teria contribuído para um entendimento ainda maior. Mas a forma como o autor apresenta os temas também deixa claro os séculos que ele está apresentando. Mas talvez para estudantes iniciantes, e com menos domínio dos temas, isso possa ser algo mais problemático.

O livro não conta com nenhuma lista de datas. Uma pena, pois uma cronologia ao final do livro teria sido interessante para posicionar o leitor diante de tantos eventos, teorias econômicas e mudanças na sociedade.

Fontes primárias

O autor oferece muitos trechos de documentos e fontes primárias para ilustrar os seus argumentos. Esse é realmente um dos pontos altos do livro, já que podemos ver os fatos sendo descritos nas palavras das pessoas que os testemunharam. As fontes primárias sempre contribuem para uma visão mais profunda. Que forma melhor de entender a lógica das Corporações de Ofício do que ler um trecho do Estatuto de uma Corporação dos Curtidores de Couro? Que forma melhor de entender a perseguição capitalista aos sindicatos do que ler um trecho da sentença de um juiz hipócrita contra líderes sindicais?

As ciências econômicas

Huberman também apresenta o desenvolvimento das ciências econômicas. Escritos econômicos complexos não são uma coisa tão antiga na história da humanidade. Os primeiros escritores a se dedicarem profundamente a tentar entender as estruturas econômicas das relações humanas, surgiram apenas com o surgimento dos Estados Nacionais, nos séculos finais da Idade Média. E foi com o mercantilismo que as ciências econômicas realmente começaram a formular teorias visando gerar e manter riqueza dentro dos Estados.

Nessa obra o autor apresenta de forma simples e didática as teorias formuladas por eles, dando destaque especial aos economistas do século 18 ao 20. Nomes como Adam Smith, os fisiocratas franceses, David Ricardo, Thomas Malthus, James Mill, John Ramsay McCulloch, Nassau Senior, John Stuart Mill, Francis Walker, Friedrich List, Karl Marx e Friedrich Engels, Robert Owen, Charles Fourier, Saint-Simon, Etienne Cabet, Stanley Jevons, Karl Menger, Léon Walras, Lênin, etc.

Probleminhas?

O livro foi escrito em 1936, então ele parece incompleto quando chegamos as páginas finais, o autor faz considerações sobre a URSS (que nem existe mais), e sobre o nazi-fascismo ANTES da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), embora o autor já parecesse pressentir que a guerra que se aproximava era inevitável. Então talvez os capítulos 21 e 22 podem ser erroneamente considerados ultrapassados por algumas pessoas, embora eles apresentem informações muito relevantes sobre as primeiras décadas do século 20.

É uma pena que o livro comece na Idade Média. Seria muito interessante ver o que o autor teria a dizer sobre a formação das primeiras sociedades, os conflitos pela terra na antiguidade (tão importantes na História da Grécia e da Roma Antiga), o escravismo antigo e o sistema de colonato dos séculos finais da antiguidade.

Quer saber ainda mais sobre a obra? Você pode conferir fotos do livro e minhas anotações de leitura (na tarja acima dessa resenha) e abaixo você encontra alguns trechos do livro, várias citações da obra para conhecer melhor o estilo de escrita do autor. O livro também está disponível na Library Genesis.

Resenha escrita em 10/07/2022.

Foto do membro da equipe: Moacir Führ
Escrita por Moacir Führ

Moacir tem 36 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.

Trechos interessantes do livro

Servo preso à terra, não podia fugir
(...) se o servo não podia ser vendido sem a terra, tampouco poderia deixá-la. “Seu arrendamento era chamado ‘título de posse’ mas, pela lei, o. título de posse mantinha o servo, não o servo ao título.” Se o servo tentava fugir e era capturado, podia ser punido severamente — mas não havia dúvida de que tinha de voltar. Nos anais do Tribunal do Feudo de Bradford, para o período de 1349-1358, há o seguinte sumário: “Ficou provado que Alice, filha de William Childyong, serva do senhor, reside em York; por conseguinte que seja levada [presa]". (p.17)

Igreja proprietária de 1/3 das terras da Europa
A Igreja foi a maior proprietária de terras no período feudal. Homens preocupados com a espécie de vida que tinham levado e desejosos de passar para o lado direito de Deus antes de morrer, doavam terras à Igreja; outras pessoas, achando que a igreja realizava uma grande obra de assistência aos doentes e aos pobres, desejando ajudá-la nessa tarefa, davam-lhe terras; alguns nobres e reis criaram o hábito de, sempre que venciam uma guerra e se apoderavam das terras do inimigo, doar parte delas à Igreja; por esses e por outros meios a igreja aumentava suas terras, até que se tornou proprietária de entre um terço e metade de todas as terras da Europa ocidental. Bispos e abades se situaram na estrutura feudal da mesma forma que condes e duques. (p.22)

Diferenças entre mercados semanais e as feiras posteriores
É importante observar a diferença entre os mercados locais semanais dos primeiros tempos da Idade Média e essas grandes feiras do século X ao XV. Os mercados eram pequenos, negociando com os produtos locais, em sua maioria agrícolas. As feiras, ao contrário, eram imensas, e negociavam mercadorias por atacado, que provinham de todos os pontos do mundo conhecido. A feira era o centro distribuidor onde os grandes mercadores, que se diferenciavam dos pequenos revendedores errantes e artesãos locais, compravam e vendiam as mercadorias estrangeiras procedentes do Oriente e Ocidente, Norte e Sul. (p.31-32)

Quando houve o choque da doutrina com as mudanças econômicas, a doutrina veio abaixo (caso da Usura)
Que aconteceu então, quando a doutrina da Igreja, destinada a uma economia antiga, chocou-se com a força histórica representada pelo aparecimento da classe de comerciantes? Foi a doutrina quem cedeu. Não de uma só vez, evidentemente. Lentamente, centímetro por centímetro, nas novas leis que diziam: “A usura é um pecado — mas, sob certas circunstâncias... “, ou então: “Embora seja pecado exercer a usura, não obstante em casos especiais...” (p.49)

O senhor deseja dinheiro: as mudanças econômicas no fim da Idade Média
Mas o senhor estava pronto a trocar o trabalho do servo pelo dinheiro. Também ele se havia familiarizado com o dinheiro e com seu valor num mundo em transformação. Tinha muita necessidade dele para pagar as belas roupas do Oriente que comprara na feira há alguns meses. E havia também uma conta antiga do armador, pela bonita cota de malha comprada para a última expedição guerreira O senhor tinha muito em que empregar qualquer dinheiro que o servo lhe pudesse pagar. Estava pronto a concordar que, a partir de então, seu servo lhe pagasse um tanto por hectare anualmente, ao invés de trabalhar dois ou três dias por semana, como até então. O senhor realmente não tinha alternativa, pois se não aliviasse as obrigações dos servos, era muito possível que alguns deles fugissem, deixando-o sem dinheiro e trabalho, e numa bela esparrela. Não, era melhor deixar os servos pagarem um arrendamento ao invés de dar trabalho, como antes. (p.55)

Principal adversário a emancipação dos servos foi a Igreja
Era de esperar que a Igreja liderasse um movimento de libertação dos servos. Mas, pelo contrário, o principal adversário da emancipação, tanto na cidade como no campo, não foi a nobreza, e sim a Igreja. Numa época em que a maioria dos senhores havia compreendido que era melhor, para seus próprios interesses, dar liberdade ao servo e contratar trabalhadores livres a salários diários, a Igreja ainda se manifestava contra a emancipação. Os estatutos da Cluníaca, uma ordem religiosa, são um exemplo da profundidade dessa atitude: “[Excomungamos] os que tendo controle de servos ou não-libertos, homens ou mulheres de condição [servil] pertencentes aos mosteiros de nossa Ordem, concedam a essas pessoas cartas e privilégios de liberdade.” (p.56)

A importância da revolução comercial do século 16
Por boas razões é este período da História chamado “Revolução Comercial”. O comércio que, como já vimos, crescia paulatinamente, passou a dar passos gigantescos. Não só o velho mundo da Europa e regiões da Ásia se abriram aos comerciantes empreendedores, mas também os novos mundos da América e África. Não mais se limitava o comércio aos rios e mares bloqueados por terras, como o Mediterrâneo e o Báltico. Se, anteriormente, o termo “comércio internacional” queria apenas dizer comércio europeu com uma parte da Ásia, agora a expressão se aplicava a uma área muito mais extensa, abrangendo quatro continentes, tendo rotas marítimas como estradas. As descobertas iniciaram um período de expansão sem par, em toda a vida econômica da Europa ocidental. A expansão dos mercados constituiu sempre um dos incentivos mais fortes à atividade econômica. A expansão dos mercados, nessa época, foi maior do que nunca. Novas regiões com que comerciar, novos mercados para os produtos de todos os países, novas mercadorias a trazer de volta — tudo apresentava um caráter de contaminação e estímulo e anunciou um período de intensa atividade comercial, de descobertas posteriores, exploração e expansão.(p.99)

O poder dos mercadores e banqueiros nos séculos 16 e 17
Os livros de História discorrem longamente sobre as ambições, conquistas e guerras deste ou daquele grande rei. É um erro a ênfase que dão a tais fatos. As páginas que consagram à história desses reis deveriam antes ser dedicadas aos poderes verdadeiros que se escondiam atrás dos tronos — os ricos mercadores e financistas da época. Constituíam o poder atrás do trono, porque os reis, a cada passo, necessitavam de sua ajuda financeira. Durante os duzentos anos dos séculos XVI e XVII as guerras foram quase contínuas. E alguém tinha que pagá-las. Com efeito, eram financiadas pelos que tinham dinheiro — mercadores e banqueiros. (p.102)

Necessidade de novo tipo de associação para financiar empreendimentos comerciais no século 16: A organização por ações
A organização tradicional das associações que se haviam criado para negociar com as velhas rotas de comércio não se adaptava às novas condições. O comércio a uma distância considerável, em terras desconhecidas, com povos estranhos, e sob condições pouco familiares, necessitava um novo tipo de associação — e, como sempre acontece, surgiu esse novo tipo, para atender às necessidades. O que uma, ou duas, ou três pessoas, separadamente, não podiam realizar, muitas, unidas num único órgão, agindo como um todo, sob uma única direção, podiam. A sociedade por ações foi a resposta dada pelos mercadores nos séculos XVI e XVII ao problema de como levantar os enormes capitais necessários a tão vastos empreendimentos como o comércio com a América, África e Ásia. A primeira sociedade por ações inglesa foi a dos Aventureiros Mercadores. Contava com 240 acionistas que entraram, cada um, com 25 libras — soma de certa importância, na época. Era pela venda de ações a muitas pessoas que se mobilizava o considerável capital necessário às grandes expedições comerciais, marítimas e colonizadoras. Essas companhias por ações foram as precursoras de nossas grandes empresas de hoje. Então, como agora, qualquer pessoa — com capital — podia tornar-.se sócia de uma sociedade anônima, comprando ações. Mesmo as expedições de corsários foram organizadas em bases de sociedade por ações. (p.100-101)

Importância da construção de navios no século 16-17
Combatentes. Tempos de guerra. Quem pensasse nesses termos naturalmente se preocuparia com o número e a qualidade dos navios, necessários tanto para defender a pátria como para atacar um país inimigo. E assim como julgavam que o fomento da indústria era vital para uma balança de comércio favorável, os mercantilistas também consideravam essencial a construção de uma marinha mercante, pelo mesmo motivo. Os governos davam ênfase, na proporção de seu interesse pelo comércio exterior, à importância de recursos marítimos adequados para transportar seus produtos industriais a outros países. Voltavam sua atenção, portanto, para o estímulo à navegação com o mesmo zelo demonstrado no fomento da indústria. Os construtores de navios recebiam prêmios governamentais; os produtos necessárias à indústria naval, alcatrão, piche, madeiras fortes, etc., eram buscados e podiam entrar no país sem pagar taxas; os homens eram obrigados a ingressar na marinha — na França, os juízes deviam condenar os criminosos às galés, sempre que possível. Na Inglaterra, a indústria da pesca era estimulada por constituir uma escola de treinamento para os homens do mar. Convencia-se o povo a comer mais peixe e, sem dúvida, a máquina de propaganda da época funcionava para convencer a todos de que o peixe continha elementos que não só eram bons para a saúde, como absoluta mente necessários para assegurar uma existência prolongada. (p.138-139)

Porque o capital existente no século 18 não era investido em melhorar os países de onde ele saía (as próprias metrópoles)?
Certamente era preciso construir estradas, levantar hospitais, havia favelas a derrubar para em seu lugar construir casas decentes. Certamente havia mil e uma coisas a fazer com o dinheiro, não? Havia. As áreas rurais precisavam de melhores estradas, os trabalhadores precisavam de casas decentes e os pequenos negócios queriam expandir-se; mesmo assim, os economistas falam de capital “excedente”. E não há dúvida disso — milhões de dólares (e francos, libras e marcos) estavam sendo exportados para outras terras. Por que? Porque o capital não pergunta: “O que é preciso fazer?” Nada disso. Pergunta: “Quanto posso conseguir pelo meu dinheiro?” A resposta a essa segunda pergunta determina onde será investido o excedente.  Lênin, discípulo de Marx e líder da Revolução Russa, explicou isso em seu livro Imperialismo, escrito em 1916: “Não é preciso dizer que se o capitalismo pudesse desenvolver a agricultura, que hoje está atrasada em relação à indústria, em toda parte, se pudesse elevar o padrão de vida das massas... ...não seria possível falar em excedente de capital... ...Mas então o capitalismo não seria capitalismo... ...Enquanto o capitalismo continuar capitalismo, o capital excedente não será usado com o objetivo de elevar o padrão de vida das massas, pois isso significaria uma queda nos lucros dos capitalistas: ao invés disso, será usado para aumentar os lucros pela exportação do capital para o exterior, para os países atrasados. Nesses, os lucros são habitualmente altos, pois o capital é escasso, o preço da terra é relativamente baixo, os salários são baixos e a matéria-prima é barata.” (p.262)

Como os nazistas conseguiram atrair os socialistas para o nazismo com falsas promessas
Eis uma tarefa difícil. A propaganda que devia atrair a massa, de mentalidade socialista, devia ser hábil. E foi. O programa do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães estava cheio de iscas, formadas de palavras-chaves socialistas, para atrair os descontentes. Eis, por exemplo, alguns trechos do famoso programa nazista de 25 pontos:
“Ponto 11 — Abolição das rendas não-ganhas com o trabalho.
“Ponto 12 — Confisco impiedoso de todos os lucros de
guerra.
“Ponto 13 — Exigimos a nacionalização de todos os empreendimentos até agora formados em companhias (trustes).”
Essas foram as promessas. E as realizações? Vejamos a resposta dada pelo correspondente de The Economist em Berlim, a 1.° de fevereiro de 1936: “A relativa tranqüilidade do ano passado, porém, foi conseguida pôr uma atitude de inatividade em relação ao programa do Partido, cuja realização vigorosa teria precipitado perigosos conflitos de interesses A questão do Socialismo contra Capitalismo, que atraiu ao partido, no passado, muitos elementos das classes pobres, degenerou numa simples troca de palavras sem sentido. De um lado, afirma-se que o socialismo está a caminho (realmente esta semana declarou-se oficialmente que ele já substituiu o capitalismo), ao passo que ao mesmo tempo se afirma que o capital privado, na terra como na indústria, não só deve permanecer intacto, mas deve ter seus lucros.” Podemos dizer, em defesa do regime nazista, que três anos de governo é muito pouco para pôr em prática as amplas promessas de seu programa. É um argumento procedente. Mas a tendência é inequívoca. Três anos de governo foi tempo bastante para os nazistas esmagarem os sindicatos, confiscarem seus fundos, prenderem seus líderes. Três anos foi tempo bastante para os nazistas reduzirem os salários e os serviços sociais — em suma, para distribuir a renda nacional de acordo com os desejos dos Grandes Negócios. (p.314-315)

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