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História dos Reinos Bárbaros

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Capa do livro História dos Reinos Bárbaros, de Mario Curtis Giordani
Informações técnicas

Autor: Mario Curtis Giordani
Páginas: 220
Editora: Vozes
Ano da edição: 1970
Idioma: Português

Sinopse

Expõe os acontecimentos políticos que levaram a queda do Império Romano do Ocidente até a morte de Carlos Magno. Exposição clara das causas e consequências das invasões, estudo em separado de cada povo bárbaro invasor e dos reinos que se estabeleceram no antigo território imperial romano e uso de numerosos documentos escolhidos pelo autor com a finalidade de melhor fundamentar seu relato.

Entusiasta
Mario Curtis Giordani

Mário Curtis Giordani (1921-2014) foi um escritor gaúcho. Cursou Filosofia, Teologia e fez bacharelado e licenciatura em Letras Clássicas. Também foi bacharel em Direito e professor universitário de Filosofia e Direito romano. Autor de mais de 10 livros de História, com livros que vão desde a Antiguidade até a Idade Moderna.

Análise do livro
4/5 BOM

GIORDANI, Mario Curtis. História dos Reinos Bárbaros. Petrópolis: Vozes, 1970.

Esse livro é dedicado a descrição dos eventos políticos entre os anos de 476 e 800 na Europa Ocidental. O autor Mario Curtis Giordani tem um estilo bem peculiar de escrita e de organização das suas obras. Ele separa totalmente os eventos políticos da questão cultural. A obra em questão é totalmente dedicada aos eventos políticos, e o segundo volume, se dedica a questão cultural, falando de literatura, sociedade, direito, religião e outros temas durante o mesmo período.

Esse livro é dividido em duas partes: a primeira parte (As Invasões) trata da queda do Império Romano do Ocidente. O autor descreve a sociedade e os povos Germanos, as relações entre romanos e bárbaros antes das invasões, a queda do Império (narrando os eventos entre os anos 395-476) e as causas internas e externas das invasões.

A primeira parte finaliza com um capítulo intitulado "O Assalto dos Bárbaros" que descreve os movimentos migratórios de cada um dos principais povos que invadiram o império no século 5 (hunos, alanos, visigodos, ostrogodos, vândalos, suevos, burgúndios, francos, alamanos, bávaros, lombardos, ávaros e anglo-saxões). Nesse capítulo se destacam os visigodos e vândalos, os dois povos que tiveram um papel mais importante na queda do Império do Ocidente, e os dois que saquearam a cidade de Roma em 410 e 455.

Nas palavras do autor:

As invasões são o fato inicial da Idade Média e, consequentemente, devem constituir objeto de acurado estudo e meditação para que se possa penetrar o próprio espírito da civilização que vai nascer. Explica-se assim a necessidade da primeira parte. (p.7-8)

A segunda parte da obra (Os Reinos Bárbaros até a restauração do Império do Ocidente) é descrita abaixo nas palavras do autor:

Nesta segunda parte vamos estudar a sequência dos acontecimentos políticos que, após a desintegração do Império Romano do Ocidente pelos bárbaros germânicos, culminaram com a restauração imperial no dia de Natal de 800. Nesses séculos conturbados é que se forma a Europa Medieval e Moderna com a contribuição da herança greco-romana, de elementos culturais germânicos e com a influência decisiva do cristianismo. (p.119)

Essa segunda parte apresenta uma narrativa mais positivista, focada nos reinados dos principais reis e suas ações. O autor chega realmente a citar cada um dos reis e o que se destacou em seus reinados. É interessante, mas seria muito mais se o autor tivesse focado na identificação de padrões e trabalhado as questões principais que se destacam nesse período, que são as seguintes:

  • A política de federados no final do Império do Ocidente e a relação quase patriarcal que passou a existir entre os reinos bárbaros e o Império Romano do Oriente (Bizantino) até a ascensão de Carlos Magno.
  • Conflitos entre arianos e católicos que em muitos casos foram essenciais para as disputas dinásticas.
  • Lutas dinásticas e constantes movimentos de centralização e descentralização devido ao costume bárbaro de dividir o reino entre todos os herdeiros quando da morte de um rei. Fica claro que o movimento de descentralização foi uma resposta a isso, uma tentativa de criar um cenário de maior estabilidade política.
  • O papel que o cristianismo teve no fortalecimento das monarquias bárbaras, há um padrão muito claro: o cristianismo era um sinal da transição do tribalismo para a monarquia.
  • A criação de códigos de direitos bárbaros e a nomenclatura dos reis: "rei dos francos" ao invés de "rei da Gália" refletia o caráter da dominação dos bárbaros que eram líderes de seu povo e não do espaço territorial.


Os livros de Mario Curtis Giordani se destacam pelo uso constante de fontes primárias e de muitas fontes secundárias. Citações de outros historiadores recheiam a obra e o autor sempre faz questão de citar as fontes primárias existentes o que, infelizmente, não é um costume da maioria dos historiadores.

Embora algumas partes da obra sejam maçantes, especialmente quando o autor começa a apresentar listas de reis e comentar questões dinásticas, a obra tem muitas qualidades. O livro faz um relato muito interessante especialmente das invasões visigodas e vândalas, e depois apresenta informações fascinantes sobre os reinados de vários reis germanos, especialmente Teodorico o Grande e Carlos Magno. A questão da permanência da ideia de Império Romano no ocidente também é trabalhada muito bem pelo autor, e fica claro o papel que as conquistas de Justianiano tiveram para manter fortalecida a autoridade imperial na Itália.

E, é claro, não podemos ignorar o fato de que, no Brasil, não há uma grande oferta de livros dedicados exclusivamente a esse tema. Realmente acredito que essa seja uma das melhores obras sobre as invasões bárbaras do século 5 e a formação dos reis bárbaros entre o século 5 e 8.

Tenho grandes esperanças para o segundo volume, porque ele é dedicado apenas a civilização, discutindo aspectos da organização administrativa, social, econômica, cultural, religiosa, etc.

Quer mais informações sobre o livro? Confira as fotos da obra e as minhas anotações de leitura nos links acima dessa resenha.

P.S: Demorei um pouco mais do que o normal para ler essa obra porque acabei assistindo as séries O Último Reino e Vikings nas últimas semanas. Recomendo para quem tem interesse no tema das invasões vikings do século 9. A primeira trata da invasão viking a Inglaterra, focando especialmente no ponto de vista dos anglo-saxões ingleses que sofriam as invasões, e a segunda mostra a sociedade normanda e as invasões a Inglaterra e França no século 9, e o personagem central é o lendário Ragnar Lodbrok cujas aventuras aparecem descritas em sagas do século 13. Eu provavelmente escreverei algum tipo de análise sobre essas séries nos próximos meses, quando me voltar para o estudo dos Vikings.

Resenha escrita em 05/09/2020.

Foto do membro da equipe: Moacir Führ
Escrita por Moacir Führ

Moacir tem 36 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.

Trechos interessantes do livro

Consequências ruins das reformas de Diocleciano e posteriores
As reformas introduzidas a partir de Dioclesiano tiveram uma consequência funesta: a destruição da classe média, sustentáculo do Império, e o aparecimento de uma poderosa classe de grandes proprietários que se interpôs entre o imperador e o povo. Os textos, a partir de 360, fazem referência a esses senhores chamados "potentes" (poderosos) que, em virtude de sua situação econômica, chegam a colocar-se acima da própria lei. As constituições de Valentiniano I são uma preciosa fonte para fazermos uma ideia da prepotência dessa nova aristocracia que chegou a sobreviver às invasões bárbaras. (p.45)

Sobre as similaridades entre hunos, mongóis e turcos
Huno, turco ou mongol, o homem da estepe, o braquicéfalo de cabeça grande, de busto possante, de pernas curtas, o nômade sempre na sela, o "arqueiro a cavalo" da Alta Ásia errando no limiar das culturas, não variou quase nada através de quinze séculos de razzias em prejuízo das civilizações sedentárias. (citação de citação, p.51)

Os godos se destacam entre os povos bárbaros
Entre os povos que invadiram o Império merecem destaque especial os godos. Com efeito, como observa Musset, esse povo constitui o único grupo "que atravessou o Império de lado a lado, o primeiro que fundou Estados duráveis e conseguiu uma síntese de elementos germânicos e romanos, o único, enfim, que gozou de uma cultural intelectual autônoma. (p.64)

Sobre os ávaros
Os ávaros nunca se acostumaram à agricultura; conservaram-se bárbaros salteadores e nômades. Os eslavos lavravam-lhes a terra. Seu prazer favorito era percorrer o mundo em seus ligeiros cavalos, destruindo e fazendo presas. Como os hunos, eram um povo de cavaleiros; criados sobre o cavalo, eram sobretudo hábeis em lançar suas azagaias de longe, contra o inimigo, em atraí-los a ciladas por meio de fugas fictícias; usavam couraças de ferro e de pedaços de couro; amiúde também capas para seus cavalos.(citação de citação, p.95-96)

Sobre o domínio do imperador oriental no ocidente após as invasões (puramente honorífico)
Embora idealmente continue a existir um único Império e, após 476, um único imperador, na realidade a jurisdição deste se restringe aos domínios da pars Orientis. A pars Occidentis é partilha dos chefes bárbaros que se apresentam, às vezes, como mandatários do basileu. "Durante algumas gerações hão de cunhar moedas com a sua efígie, e usarão os títulos de cônsul e de patrício que lhes foram outorgados. Tudo isto porém não significará senão que lhe reconhecem uma preeminência meramente honorífica". (p.109)

Teodorico construiu igrejas e restaurou monumentos romanos
As cidades italianas mereceram especial atenção de Teodorico: construiu igrejas e restaurou monumentos. Trieste, Aquiléia, Verona, Pavia, Milão, Ravena e a própria Roma sentiram os efeitos dessa ação benéfica. Em Ravena construiu basílicas, um batistério, palácios e um mausoléu imitando os modelos deixados por seus antecessores, maiores nostri como os designava. Em Roma restaurou monumentos como, v.g., o Coliseu. Nas grandes cidades foram designados arquitetos com a finalidade de conservar os monumentos. (p.128)

Eginardo sobre a fraqueza dos reis merovíngios
O rei nada mais possuía, além de seu título, senão a satisfação de sentar sobre o trono..., de fazer o papel de soberano, de conceder audiências aos embaixadores de diversos países e de incumbi-los de transmitir em seu nome as respostas que lhe haviam sido sugeridas ou mesmo ditadas... A administração e todas as decisões e medidas que deviam ser tomadas, tanto na política interna como na externa, eram da alçada exclusiva do mordomo do palácio. (citação de citação, p.146)

Eginardo sobre a fraqueza dos reis ociosos
Salvo o título e os meios de existência que lhe deixava o mordomo do Palácio, o rei nada mais possuía que um único domínio de fraco rendimento, uma casa e alguns servidores para fornecerem-lhe o necessário. Quando tinha necessidade de deslocar-se, ia em carro de bois que um boiadeiro dirigia com mão rústica. Era com essa equipagem que ele se locomovia para o Palácio ou para a assembléia do povo, anualmente reunida em vista do bem do reino, e tornava em seguida para sua residência. (citação de citação, p.151-152)

A transformação dos reis medievais: guerreiros na juventude e penitentes na velhice
A transformação que intervém nos últimos anos de sua vida (Carlos Magno) é a de muitos leigos da aristocracia da Idade Média. Enquanto eram vigorosos, serviam a Deus com a ponta de sua espada; com a chegada da velhice, faziam penitência por todos os pecados que eles não tinham podido evitar. (p.204)

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