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Parte da pintura de Sir William Blake Richmond retratando Arthur Evans nas ruínas de Cnossos, Creta.
Obra pintada em 1907. Atualmente no Museu Ashmolean, em Oxford.
A existência de uma civilização antiga na ilha de Creta não era completamente desconhecida no século 19, ela já havia sido referenciada em obras antigas de Homero, Tucídides e Heródoto, e nas lendas gregas de Teseu e do Minotauro, e de Dédalo e Ícaro. E objetos como selos de pedra e tabletes de argila com estranhas inscrições eram constantemente encontrados por camponeses locais.
Mas no final do século 19, quando a arqueologia dava os seus primeiros passos, nenhuma escavação profissional ainda havia sido realizada na ilha.
Schliemann, o arqueólogo alemão que havia descoberta as ruínas de Tróia, Micenas e Tirinto alguns anos antes, decidiu ir até a ilha para descobrir mais uma grande civilização, conforme nos conta Will Durant:
(ele) anunciou sua convicção de que aquele local cobria as relíquias da antiga Cnosso, e encetou negociações com o proprietário da terra de modo a começar as escavações. Porém o proprietário regateou e tentou trapacear; e Schliemann, que fora negociante antes de virar arqueólogo, retirou-se, encolerizado por ter perdido a maravilhosa chance de acrescentar à história mais uma civilização. E pouco depois morreu. (DURANT, p.5)
Arthur Evans foi um arqueólogo inglês nascido em 1851. Seu pai e avô eram ligados a pesquisa científica e à estudos antropológicos e arqueológicos, e ele logo se interessou pela área, se tornando um colecionador de antiguidades.
Evans era fascinado pela História e se especializou em moedas e jóias romanas e gregas. Ele também tinha interesse em idiomas, sendo fluente em francês, italiano e alemão. Entre 1884 e 1908, ele foi o Guardião do Ashmolean em Oxford, realizando um grande trabalho de reorganização do museu.
No final do século 19, parte de seus estudos eram voltados para a questão da extensão e do caráter da influência das antigas culturas orientais nas primeiras civilizações da Europa. No outono de 1893, Evans anunciou à Sociedade Helênica sua crença de que tinha uma pista para a existência de um sistema de escrita pictográficas em terras gregas.
Em 1894, aos 43 anos, ele visitou Creta pela primeira vez, e encontrou com os camponeses da região muitos selos com escritas pictógraficas, além de uma escrita linear presente em pedras, vasos e figuras de argila e bronze.
A partir de então a cultura cretense passou a ser o seu principal foco de interesse, e o museu Ashmoleam, onde ele trabalhava, passou a contar com um tesouro de objetos cretenses incomparável fora da ilha.
Nessa época, Evans já adquirira terras em Heraclião, onde trincheiras superficiais haviam descoberto uma parede maciça e cacos de cerâmica que lembravam aqueles encontrados nas tumbas circulares de Micenas. Visitas a ilha se repetiram em 1895 e 1896.
Esta compra deu a Evans a capacidade de vetar escavações de qualquer outra pessoa; e então se tornou fácil adquirir as demais propriedade, e solicitar uma licença de escavação como proprietário de terras de Creta. Um Fundo de Exploração Cretense foi organizado e as escavações começaram em 23 de março de 1900.
Os resultados da primeira temporada superaram todas as expectativas. Um grande palácio foi descoberto, além de diversos achados como afrescos, estátuas de cabeças de touros e deusas e um grande número de tabletes de argila com uma escrita linear. E isso foi só o começo.
Nos oito anos seguintes o trabalho continuou e novos escavações foram abertas ao redor do palácio e em cemitérios próximos. Ao mesmo tempo, outras escavações eram levadas a cabo em outros sítios da ilha de Creta, tais como Psicro, Presos, Palaicastro, Zacro, Faestos, Hagia Tríada, Mália e outros.
O reconhecimento pelas escavações foi imediato. Arthur Evans recebeu muitos títulos honorários, e uma renda considerável foi adicionada ao fundo da escavação. O que era muito necessário agora que as escavações se espalhavam por uma área gigantesca, e tinham mais de 7 metros de profundidade, chegando ao subtrato neolítico.
Mas com o tempo o interesse popular diminuiu, como era inevitável, e o ônus financeiro caiu pesadamente sobre o escavador. Evans se usou de heranças pessoais para continuar as escavações.
Devido a falta de pessoal especializado, Evans se responsabilizou por boa parte da interpretação dos achados e foi fazendo publicações em jornais acadêmicos e no The Times, narrando os avanços das escavações.
O aspecto linguístico precisou de um tratamento especial e, em 1909, Arthur Evans (agora com 58 anos) lançou "Scripta Minoa", descrevendo os símbolos pictográficos que primeiro haviam chamado sua atenção.
Em 1921 ele publicou o primeiro volume de uma série chamada The Palace of Minos (O Palácio de Minos). Essa obra foi terminada em 1936 (quando Evans tinha 85 anos). A dificuldade de tal composição era excepcional, pois novas descobertas estavam sendo feitas ao longo dos quarenta e dois anos desde que Evans desembarcou em Creta, e houve muitos rearranjos e ilustrações adicionais. Confira abaixo algumas fotos da edição inglesa lançada na época:
"Você não faz a menor ideia", ele disse categoricamente no volume I, "como é editar uma quarta edição antes que a primeira seja lançada". Para facilitar as pesquisas uma versão condensada foi publicada em 1933 por J. D. S. Pendlebury.
Em 1922, com Evans já com 71 anos, começaram negociações para a transferência da sua propriedade em Creta para a Escola Britânica de Arqueologia em Atenas. Quando a negociação foi concluída, Arthur Evans foi aclamado publicamente como cidadão honorário de Heraclião, coroado de louros, e um busto seu em bronze foi apresentado e colocado na cidade, próximo ao palácio de Cnossos.
Arthur Evans é até hoje conhecido como um grande arqueólogo e seu gigantesco trabalho de escavação, catalogação e publicação das descobertas de Creta é admirável. Mas muitas críticas são feitas a ele, porque muitos erros foram cometidos durante as escavações e algumas decisões, como a de reconstruir parte do palácio de Cnossos é vista até hoje como muito controversa. Falaremos mais sobre isso em outro artigo.
O Museu Ashmolean, onde Arthur Evans trabalhou durante mais de duas décadas (1884-1908), tem hoje uma das maiores coleções de objetos da Creta Minóica fora da Grécia, são mais de 10 mil itens. Arthur Evans é o grande responsável pela construção da coleção, e muitos objetos de propriedade dele foram legados para o museu após a sua morte.
Abaixo você pode conferir algumas fotos da exposição do museu com os objetos recuperados por Arthur Evans. A exposição conta com um setor que homenageia o arqueólogo, com uma grande pintura dele feita por Sir William Blake Richmond em 1907.
Os demais objetos encontrados em escavações em Creta estão espalhados pelos diversos museus da ilha, principalmente no Museu de Heraclião, próximo a Cnossos.
Moacir tem 37 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.