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Templo de Júpiter Optimus Maximus, o templo mais importante da Roma Antiga

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Capa do artigo: Templo de Júpiter Optimus Maximus, o templo mais importante da Roma Antiga

O templo de Júpiter na época do imperador Constantino (século 4 d.C.) segundo maquete do Museu da Civilização Romana.

Este era um templo três-em-um dedicado a “Júpiter, o melhor e o maior”, Juno e Minerva, e era um templo central na religião romana antiga.

Um templo na colina

Como os etruscos e os gregos antes deles, os romanos são conhecidos por terem construído templos monumentais em locais altamente visíveis. Situado no topo do Monte Capitolino, no coração da antiga cidade de Roma, o Templo de Júpiter Optimus Maximus representava bem essa tradição (hoje o local é ocupado por uma praça projetada pelo artista renascentista Michelangelo, veja a foto abaixo).

A Piazza del Campidoglio ou Praça do Capitólio está localizada na Colina Capitolina, aonde Remo teria começado a construir as fundações da antiga Roma. O Monte Capitolino também era a residência dos membros da classe alta romana. A Piazza del Campidoglio foi construída por Michelangelo em 1664. No centro da praça está uma estátua em bronze do imperador Marco Aurélio. O prédio ao fundo é o Palazzo Senatorio construído mais ou menos na mesma época.

Infelizmente, negligência, espoliação e eventual adaptação do local significa que resta muito pouco do antigo Templo de Júpiter para estudo. Apesar de sua ausência, no entanto, o impacto duradouro do Templo de Júpiter Optimus Maximus pode ser observado nos muitos templos romanos que o emularam, tornando-o talvez o mais importante de todos os templos romanos em termos de influência cultural e estilo de construção.

Estado atual e aparência original

O que ainda resto do templo são partes da fundação e da base (veja a foto abaixo), bem como alguns elementos arquitetônicos de mármore e terracota. A maioria dos restos estruturais pode ser vista in situ (em seu cenário original) nos terrenos do Palazzo Caffarelli (hoje parte dos Museus Capitolinos), e os fragmentos sobreviventes estão localizados nos Museus Capitolinos.

As ruínas do que era a base do templo de Júpiter podem ser vistas dentro do Museu Capitolino, no local onde o templo foi construído.

Baseado nas partes sobreviventes da fundação arcaica, acredita-se que a base do templo provavelmente media aproximadamente 50 x 60 metros. Essas dimensões são um tanto especulativas, no entanto, já que não há consenso acadêmico sobre as medidas precisas. O melhor palpite atual é que o templo era bastante semelhante ao plano dos templos do final do período etrusco, como o Templo de Minerva em Veii (também chamado templo de Portonaccio), veja foto abaixo:

Templo de Minerva em Veii (também chamado templo de Portonaccio). Essa reconstrução foi feita a partir das descrições do arquiteto romano Vitrúvio. Museu Nacional Etrusco.

Uma base alta (plataforma) com uma única escada frontal que leva a um pronaos profundos de três colunas (alpendre), encabeçados por um arranjo hexastilo (seis colunas de diâmetro) de colunas. Uma das características definidoras do Templo de Júpiter Optimus Maximus, era o interior dividido em três partes (tripartido), com três celas adjacentes (salas) que comportavam as estátuas das três principais divindades homenageadas (Júpiter, Juno e Minerva).

Planta do templo de Júpiter Optimus Maximus. (staircase significa escadaria, em inglês)

No início o templo apresentava elementos de terracota, incluindo acrotérios (esculturas nos cantos do telhado) e uma grande estátua de Júpiter em terracota dirigindo uma quadriga (carruagem de quatro cavalos). Dentro do templo havia outra imagem de Júpiter - a estátua de culto supostamente esculpida pelo famoso escultor arcaico Vulca de Veii. Esta estátua era pintada de vermelho e serviu de base para a tradição de pintar os rostos dos generais romanos durante triunfos oficialmente sancionados.

Nessa cena da série Roma (HBO), Júlio César passa em triunfo com o rosto coberto de vermelho.

Em contraste com a modesta terracota (argila cozida) usada para adornar as versões mais antigas do templo, várias fontes romanas observam que as reconstruções posteriores feitas durante o período imperial apresentavam materiais muito mais extravagantes.

Autores antigos, incluindo Plutarco, Dion Cássio, Suetônio e Amiano Marcelino, descreveram o templo como notável em sua qualidade e aparência, com uma superestrutura de mármore pentélico, telhas douradas, portas douradas e elaboradas esculturas em relevo no seu frontão.

O templo de Júpiter na época do imperador Constantino (século 4 d.C.) segundo maquete do Museu da Civilização Romana.

Embora dedicado principalmente a Júpiter Optimus Maximus, o templo também incluía espaços para o culto de Juno e Minerva. Juntas, as três divindades compunham o que é conhecido como Tríade Capitolina - um grupo divino significativo para a religião estatal romana.

A Tríade Capitolina (Minerva, Júpiter, Juno). Museu Arqueológico Rodolfo Lanciani, Monticelo.

Júpiter, o equivalente romano de Zeus, foi a mais significativa dessas divindades. Isso é apoiado pelo aspecto específico de sua adoração, observado no título completo do culto - Iuppiter Optimus Maximus, latim para "Júpiter, o melhor e o maior".

Uma data importante para Roma

O templo foi declaradamente concluído por volta de 509 a.C. - a data em si é significativa, pois marca o suposto ano em que os romanos derrubaram a monarquia (que era etrusca, não romana) e estabeleceram um sistema republicano de governo.

Assim, não apenas o templo estava em uma localização geográfica de destaque, mas era também um lembrete duradouro do momento em que os romanos afirmaram sua independência. Essa proximidade histórica da fundação da República com a construção do Templo de Júpiter também pode ter ajudado a apoiar seu papel central na religião romana e na influência das práticas arquitetônicas.

Destruído e reconstruído

O edifício foi destruído e reconstruído várias vezes nos períodos republicano e imperial, e se beneficiou de várias restaurações ao longo dos séculos. Destruído pela primeira vez em 83 a.C. durante as guerras civis de Sulla, o templo foi rededicado e reconstruído nos anos 60 a.C.

Augusto afirmou ter restaurado o templo, provavelmente como parte de seu enorme programa de construção que começou durante sua ascensão ao poder no primeiro século a.C. O templo foi novamente destruído em 69 d.C, durante o tumultuado “ano dos quatro imperadores”.

A posição do Templo de Júpiter em relação a outras famosas construções da Roma Antiga.

Embora tenha sido reconstruído pelo imperador Vespasiano nos anos 70 d.C, o templo foi novamente queimado durante um incêndio em 80. O imperador Domiciano decretou a grande reconstrução final do templo durante seu reinado, entre 81 e 96. O fato de o templo nunca ter sido negligenciado por muito tempo é um testemunho de sua importância para os romanos.

Após o primeiro século d.C., o templo parece ter mantido sua integridade estrutural até que o imperador Teodósio eliminou fundos públicos para a manutenção dos templos pagãos em 392 (o cristianismo se tornou a religião oficial do Império Romano).

Depois disso, o templo foi espoliado várias vezes no final da Antiguidade e na Idade Média. Eventualmente, uma grande residência, o Palazzo Caffarelli, foi construída no local no século 16.

O Palazzo Caffarelli é um dos prédios que abriga o Museu Capitolino, no local onde ficava o templo de Júpiter.

Função pública

O templo de Júpiter Optimus Maximus era mais do que simplesmente um edifício religioso padrão. Desde as primeiras fases, o templo também parece ter sido um repositório de objetos de significado ritual, cultural e político.

Por exemplo, os Oráculos Sibilinos (livros contendo a profecia das Sibilas) foram mantidos no local, assim como alguns despojos de guerra, como o escudo do general cartaginês Asdrúbal. Além disso, o templo servia como o ponto final dos triunfos, um local de encontro para o Senado, um local para ostentação religiosa e política, um arquivo para registros públicos e um símbolo físico da supremacia e atuação divina de Roma.

O relevo do Arco perdido de Marco Aurélio

Talvez a melhor representação do Templo de Júpiter Capitolino possa ser vista no Painel de Sacrifícios que fazia parte de um arco do triunfo do imperador Marco Aurélio. O arco do triunfo não existe mais, mas esse relevo mostra Marco Aurélio em seu papel de Pontifex Maximus (sumo sacerdote) oferecendo um sacrifício a Júpiter em meio a uma multidão de assistentes. Um templo com três portas, presumivelmente o Templo de Júpiter Capitolino, é retratado em segundo plano.

Essa imagem, que fazia parte do Arco do Triunfo de Marco Aurélio, mostra o antigo Templo de Júpiter, que hoje não existe mais. Museu Capitolino.

Nesta representação, o templo é do tipo tetrassilício (quatro colunas na frente - provavelmente uma representação artística modificada devido ao tamanho do painel) e com colunas da ordem coríntia. O frontão apresenta Júpiter entronizado no centro ladeado por outras divindades; uma cornija com um padrão horizontal simples, e em cima de tudo uma quadriga (carruagem de quatro cavalos).

Influência duradoura

Embora o Templo de Júpiter Optimus Maximus tenha sido construído em estilo etrusco e tenha envolvido artesãos etruscos, ele ainda serve como ponto de origem para o desenvolvimento da tradição romana de construção de templos, que muitas vezes incorporava elementos locais em um modelo mais amplamente romano.

Estátua de mármore representando o deus Júpiter. 150 d.C. Museu do Louvre. Via Wikimedia Commons.

Em termos de história da arquitetura, o significado duradouro do Templo de Júpiter Optimus Maximus pode ser mais bem reconhecido por sua influência na construção de templos romanos desde os últimos dois séculos a.C. até os templos imperiais do século 3 d.C. - incluindo o Templo de Portunus em Roma, a Maison Carrée na França, e os muitos Capitolia (templos dedicados a Júpiter, Juno e Minerva) espalhados pelas colônias romanas estabelecidas no norte da África.

Templo de Portunus em Roma.Maison Carrée, templo romana na França.Capitólio de Dougga, uma colônio romana na Tunísia.Templos dedicados a Tríade Capitolina na colônia romana de Sbeitla, na Tunísia.O templo de Baalshamin em Palmira, Síria. Esse templo foi destruído pelo Estado Islâmico em 2015.


Todos esses templos demonstram uma conexão visual óbvia com o templo de Capitolino com uma frontalidade compartilhada, alpendre profundo e rico adorno escultural (algumas características são compartilhadas pelo templo de Baalshamin em Palmira, Síria).

No entanto, a influência do Templo de Júpiter Optimus Maximus também pode ser vista na abordagem romana geral do estilo da arquitetura - escala monumental, cenário urbano, decoração luxuosa e elevação imponente. Juntos, esses elementos são características dos templos romanos e sugerem que o Templo de Júpiter Optimus Maximus foi um ponto de origem para o que se tornaria uma marca arquitetônica comumente conhecida da soberania romana sobre o mundo mediterrâneo.

Tradução de texto escrito por Andrew Findley do site SmartHistory
Agosto de 2016

Foto de membro da equipe do site: Moacir Führ
Postado por Moacir Führ

Moacir tem 37 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.

Fontes bibiliográficas
  • The Temple of Capitoline Jupiter (Capitoline Museums)
  • Temple of Jupiter Optimus Maximus (The Institute for Advanced Technology in the Humanities/Rome Reborn)
  • Stefano De Angeli, “Iuppiter Optimus Maximus Capitolinus, Aedes, Templum (Fasi Tardo-Repubblicane e di età Imperiale” in Lexicon Topographicum Urbis Romae, volume 3, edited by Eva Margareta Steinby (Rome: Edizioni Quasar, 1995), pp. 148-153.
  • Ellen Perry, “The Same, But Different: The Temple of Jupiter Optimus Maximus through Time,” in Architecture of the Sacred: Space, Ritual, and Experience from Classical Greece to Byzantium, edited by Bonna Wescoat and Robert Ousterhout (Cambridge: Cambridge University Press, 2012), pp. 175-200.
  • Samuel Ball Platner, “Iuppiter Optimus Maximus Capitolinus” in A Topographical Dictionary of Ancient Rome, edited by Samuel Ball Platner and Thomas Ashby (Oxford: Oxford University Press, 1929), pp. 297-302.
  • Frank Sear, Roman Architecture. Ithaca: Cornell University Press, 1983.
  • Anna Mura Sommella, “Le recenti scoperte sul Campidoglio e la fondazione del tempio di Giove Capitolino.” Rendiconti della Pontificia Accademia Romana 70 (2000), pp. 57-80.
  • John Stamper, The Architecture of Roman Temples: The Republic to the Middle Empire. Cambridge: Cambridge University Press, 2005.
  • Gianluca Tagliamonte, “Iuppiter Optimus Maximus Capitolinus, Aedes, Templum (Fino All’ A. 83 a.C.)” in Lexicon Topographicum Urbis Romae, volume 3, edited by Eva Margareta Steinby (Rome: Edizioni Quasar, 1995), pp. 144-148.
  • J.B. Ward-Perkins, Roman Imperial Architecture. New Haven: Yale University Press, 1992.
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