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Roma nem sempre foi a capital do Império Romano - Conheça as outras cidades

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Capa do artigo: Roma nem sempre foi a capital do Império Romano - Conheça as outras cidades

As colunas de São Lorenzo, na cidade de Milão, são um grupos de ruínas romanas do século 4, localizadas em frente a Basílica de São Lorenzo.

Roma, a cidade que deu nome ao Império Romano, se manteve como a cidade mais importante e a capital dos romanos durante todo o período republicano (509-27 aC.) e durante a primeira fase do período imperial, que comumente chamamos de o Principado (27 a.C.-235 d.C.). Em 235 uma grande crise econômica e militar, cuja principal causa foi uma grande onda de invasões bárbaras nas fronteiras do Reno e Danúbio, levou o império a se reorganizar e, a partir de então, a cidade de Roma perdeu grande parte de sua importância e nunca mais voltou a ser a capital do Império.

A crise terminou apenas 49 anos depois em 284, com a ascensão de um novo imperador chamado Dioclesiano. Seu reinado foi marcado por uma série de reformas, que foram mais tarde completadas pelo imperador Constantino (306-337). Esses dois homens foram os imperadores mais importantes do Baixo Império, e mudaram a cara do Império Romano para sempre.

Busto de Dioclesiano no Museu de Istambul (esquerda) e cabeça de grande estátua de Constantino (direita) que costumava adornar a Basílica de Constantino em Roma, atualmente no Museu Capitolino em Roma. Os dois grandes imperadores do Baixo Império.

Suas reformas foram amplas, lidando com questões econômicas, sociais, políticas, administrativas e militares. A maioria dessas reformas não entra no escopo do presente artigo, basta dizer que a nova política imperial com relação a questão militar foi essencial para a mudança de status da cidade de Roma.

Antes da crise do século 3, os romanos tinham uma política militar baseada na manutenção e proteção de fronteiras bem definidas. Nas áreas de divisa eram construídas fortificações, como a Muralha de Adriano, e os soldados ficavam aquartelados nessas áreas prontos para reprimir qualquer incursão de povos bárbaros. Esse conjunto de fortificações e barreiras nas bordas do império era conhecido como Limes.

Essa reconstrução do forte de Housesteads mostra como eram as fortificações dos exércitos romanos que defendiam a Muralha de Adriano no final do Principado.

Depois das reformas militares, a nova tática passou a ser manter os exércitos arquatelados em cidades próximas das regiões de fronteira, e relegar as defesas do limes a um papel secundário. Quando houvesse uma invasão, os exércitos eram acionados e se movimentavam em direção ao invasores para lhes dar combate. Os imperadores também passaram a ter um papel militar mais importante, já que muitos chegavam ao poder com o apoio do exército e lideravam as suas próprias tropas em batalha. Essa prática ia na direção oposta da maioria dos imperadores do Principado, que se mantinham em Roma e enviavam generais para lutar as suas guerras. Devido a essa mudança, as cidades mais importantes passaram a ser àquelas em que o imperador estava no momento.

Ao mesmo tempo, o Baixo Império foi um período em que os conflitos na fronteira oriental se tornaram mais constantes. Os romanos já tinham dificuldades na fronteira do Reno e Danúbio, mas com a ascensão dos persas sassânidas no século 3, a fronteira oriental também se tornou motivo de preocupação.

Império Romano no século 4 e as cidades que detiveram o título de capital.

O caráter móvel dos imperadores, o aumento da importância das cidades da Gália (mais próximas da fronteira do Reno) e do norte da Itália e a maior preocupação com o oriente, foram os principais fatores que levaram a cidade de Roma a ir cada vez mais para uma posição secundária. Nos séculos 4 e 5, o império teve que lidar com constantes invasões no Reno e no Danúbio, e toda política fiscal se voltava a sustentar um grande exército, muito maior do que na época republicana, para manter o império em segurança.

Roma ainda era visitada pelos imperadores ocasionalmente e alguns triunfos chegaram a ser realizados na cidade, para comemorar grandes vitórias militares. Mas o saque de Roma em 410, ao mesmo tempo em que o imperador se escondia atrás das muralhas de Ravena, ilustra bem a situação degradante em que a cidade foi deixada no século 5.

Mas quais foram essas novas capitais?

Nicomédia, Sirmio, Milão, Trier

A primeira mudança ocorreu com Dioclesiano. Ele decidiu dividir o império em quatro partes (um sistema chamado de Tetrarquia) e criou quatro novas capitais: Nicomédia, Sirmio, Milão e Trier foram escolhidas por sua posição geográfica, que era mais vantajosa dentro da nova política de defesa.

Colunas romanas na cidade de Nicomédia (atual İzmit). The Izmit Arcaelogy Museum.Uma maquete da Sirmio romana. Observe que a cidade contava com seu próprio hipódromo. Atualmente a cidade também conta com um museu arqueológico no local do antigo Palácio Imperial. Visitors Center in Sremska Mitrovica. Via Wikimedia Commons.Milão foi uma cidade extremamente importante no Baixo Império. Sua posição no norte da Itália facilitava a organização de campanhas militares nas fronteiras. Essas são as muralhas de uma fortaleza romana no Museu Arqueológico de Milão, que também conta com estátuas, vasos e diversos achados arqueológicos da época romana.Essa construção é conhecida como Porta Nigra e data do século 3. É uma estrutura de defesa com 21,5 metros de altura construída na época em que os romanos lutavam para manter a fronteira do Reno. Trier, Alemanha.


A partir de então Roma continuou tendo um grande papel simbólico, mas nunca mais voltou a ser a capital do império. Milão e Trier continuaram a ter grande importância nos reinados dos imperadores seguintes e ocasionalmente eram usadas como capitais administrativas e recebiam a corte. O imperador Valentiniano I (364-375), por exemplo, foi um dos que estabeleceu a corte em Trier durante suas campanhas.

York

Como já comentei, devido ao caráter de líderes militares dos imperadores, as cidades em que o governante estava no momento ganhavam o status de capital do império. Em 306, o imperador do ocidente Constâncio I, estava na Britânia reprimindo uma invasão de pictos ao norte da Muralha Antonina, sua residência ficava em York quando ele morreu. Seu filho Constantino, foi aclamado pelas legiões como o novo imperador e nos anos seguintes conseguiu reunificar todo o império.

Essas ruínas conhecidas como Multangular Tower são restos de um forte romano que existia em York.Estátua de Constantino em frente a catedral de York. A estátua foi inaugurada em 1998 e é uma criação moderna.


Assim como nas demais capitais do Baixo Império, há poucos vestígios da presença romana em York. Mas em 1998 a cidade inaugurou uma grande estátua do imperador em frente a catedral da cidade, para homenagear o primeiro imperador cristão do Império Romano.

Constantinopla

Desde Dioclesiano o oriente já havia ganhado muita importância e sua própria capital, a cidade de  Nicomédia. Mas o imperador Constantino decidiu construir uma nova capital, e o local escolhido foi a antiga cidade de Bizâncio, há 80 km de Nicomédia. Ela se destacava por ficar no Bósforo, o estreito que marca os limites entre a Europa e a Ásia, uma posição militar e econômica estratégica que facilitava o controle de todo império oriental.

Essa reconstrução mostra a aparência do fórum elíptico de Constantino em Constantinopla. Constantinopla se tornou a capital do Império do Oriente, que durante a Idade Média foi conhecido como Império Bizantino. No início da Idade Moderna foi conquistada pelos muçulmanos e hoje é a capital da Turquia, renomeada como Istambul. Pouco restou das primeiras construções do século 4 e 5.

Constantinopla se manteve como a única capital de 330 a 395, e durante esse período o império era governado de lá, enquanto uma autoridade militar escolhida pelo imperador governava o ocidente, usando como capital Milão, Trier ou alguma cidade da Gália, dependendo de qual fosse mais adequada aos desafios militares do momento.

Quando o imperador Teodósio (379-395) morreu, o império foi dividido pela última vez entre seus dois filhos. A capital oriental continuou a ser Constantinopla, mas no ocidente uma série de capitais diferentes era o reflexo perfeito da situção instável dessa parte do império.

Ravena

Em 402, devido a uma série de invasões dos godos na Itália, o imperador Honório (filho de Teodósio) decidiu mover a capital de Milão para Ravena, uma cidade no nordeste da península itálica conhecida por ser cercada por pântanos, o que a tornava praticamente inexpugnável.

Essa estrutura em Ravena é conhecida como o Mausoléu de Gala Placídia, esposa do imperador Constâncio III. Mas ainda há debates sobre a data da construção. É um dos mais antigos edifícios cristãos já construídos. Via Wikimedia Commons.

Ravena se tornou uma cidade importante nos últimas décadas do império. Não só o último imperador romano, Rômulo Augusto, nasceu em Ravena, mas o reino ostrogodo que conquistou a Itália posteriormente, decidiu fazer de Ravena a sua capital. E no século seguinte, quando o Império Bizantino conquistou a Itália, Ravena ganhou uma série de reformas financiadas por Constantinopla.

Arles

A cidade de Arles, na Gália (atual França) também foi capital do Império Romano do Ocidente. Era uma das cidades favoritas do Imperador Constantino, que a utilizou como capital durante um longo período em que esteve envolvido com a repressão de povos germânicos na fronteira do Reno. E o seu filho Constantino II nasceu na cidade. Em 408, o general usurpador Constantino III fez dela a sua capital, mas nessa época a Gália romana já havia sido praticamente perdida para os bárbaros.

Arles é uma das cidades francesas com edifícios romanos em melhor estado de conservação. Essa foto mostra o teatro e o anfiteatro da cidade.

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Foto de membro da equipe do site: Moacir Führ
Escrito por Moacir Führ

Moacir tem 37 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.

Fontes bibiliográficas
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