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Um cerco assírio a uma cidade inimiga. Ilustração moderna de Angus McBride.
Esse novo exército se tornou mais diversificado, com muitas tropas estrangeiras incorporadas as unidades profissionais assírias. Todos usavam uniforme e equipamento assírio e se tornaram indistínguiveis nas fileiras. Mesmo com essa grande participação de estrangeiros, era claro o elemento assírio principalmente na cavalaria e nas carruagens de guerra.
Além desse exército permanente também havia a guarda pessoal do rei, composta de cavalaria, carruagens e infantaria. Em época de campanha esses dois núcleos recebiam o reforço de tropas de camponeses fornecidas pelas províncias. Essas tropas usavam o seu próprio uniforme, tendo um equipamento menos profissional. No entanto, em muitas ocasiões, não era necessário recorrer a elas.
A proporção do exército assírio era de uma carruagem para cada dez cavaleiros e cem soldados de infantaria. Analiseramos agora cada uma dessas unidades:
A infantaria formava o grosso do exército. E existiam vários tipos e funções, sendo as principais: arqueiros, lanceiros, soldados com fundas, e portadores de escudos.
Arqueiros eram a força ofensiva principal. Atuavam em duplas, sendo um deles o portador do escudo. Os escudos variavam em forma mas o que ficou mais famoso era aquele com a altura de um homem e uma curva no topo, feito de junco trançado.
Fundeiros atuavam em conjunto com arqueiros, jogando projetos para que caíssem de cima para baixo, atrás das linhas de escudos inimiga.
A lança foi introduzida no exército por Tiglath-Pileser III e os soldados de infantaria usavam como proteção apenas escudo e elmo, mas os soldados de elite usavam a chamada armadura lamellar no tronco (como a usada pelo arqueiro na ilustração acima). Escaramuçadores leves eram fornecidos pelas tropas estrangeiras.
É interessante analisar o desenvolvimento da cavalaria a partir do seu uso no exército assírio. Há evidências de que cavalos eram usados pelos exércitos desde o século 9 a.C. Mas a cavalaria só se tornou uma força realmente importante para o exército a partir do século 7 a.C.
Registros mostram que, nessa época, os cavaleiros já eram capazes de controlar seus cavalos individualmente e utilizar armas como arcos e lanças sobre eles. Os cavalos também já possuíam alguma proteção no tórax, peito e flancos contra ataques de lanças e flechas.
No desenvolvimento da cavalaria assíria, houve um grande papel dos povos iranianos. Através de diversas campanhas além dos montes Zagros, os assírios entraram em contato com elamitas, medas e persas, que foram os primeiros povos a adaptar o uso de cavalos para a guerra.
O encontro com tais forças, obrigou os assírios a se adequar a essa nova forma de fazer guerra. No tempo de Tiglath-Pileser III (r. 745-727), incursões no Irã já eram levadas a cabo unicamente por tropas de cavalaria, com o objetivo de capturar, saquear e destruir assentamentos iranianos para levar espólios. As incursões assírias chegavam a reunir até 1000 cavaleiros e alcançaram o monte Damavand, mostrando a eficência do uso da cavalaria.
Para manter o estoque de cavalos do exército, os assírios possuíam quatro fontes:
Os carros de guerra foram durante muito tempo a principal força ofensiva do exército. Serviam como plataforma móvel para arqueiros e atuavam como um veículo de choque para quebrar linhas inimigas.
As carruagens assírias eram as maiores da antiguidade, podendo levar de 3 a 4 homens. Seu uso era limitado a terrenos regulares, mas em planícies ela era imparável, sendo muito rápida e pesada. No século 7 a.C. ela carregava 4 homens e era puxada por 4 cavalos, e sua chegada deveria ter causado horror nos olhos inimigos.
Todas as grandes cidades da antiguidade tinham muralhas. Logo, embora os assírios preferissem lutar em campo aberto, as armas de cerco eram essenciais. As cidades eram isoladas, buscando levar sua população a fome e ao caos social, e levar a sua rendição.
Os assírios possuíam armas e táticas voltadas para o cerco, mas o caráter delas era mais psicológico. As cidades normalmente não eram conquistadas através de invasões e ataques diretos. As práticas de cerco visavam abalar a moral dos habitantes e forçá-los a rendição. Era comum que cercos durassem meses ou até anos.
No começo do século 7 os assírios fizeram um cerco a cidade da Babilônia que durou cinco meses. Algum tempo depois, em 652, uma nova revolta levou a um novo cerco à cidade. Esse se arrastou por quatro anos, até que o povo faminto da cidade se rendesse. Há registro de que, antes da rendição, parte da cidade já havia se entregue a práticas de canibalismo para sobreviver.
Os assírios eram metódicos, desenvolviam táticas de cerco de acordo com as características específicas das fortificações inimigas. Faziam tentativas de enfraquecer as muralhas com uso de máquinas com lâminas, e também através da atuação de mineiros, que usavam ferramentas para fragilizar a muralha.
Assalto diretos à cidades sitiadas costumavam causar muitas baixas no exército assírio e, por isso, eram evitadas.
Quando os assírios eram convocados para a guerra, a reunião das tropas acontecia nos arsenais de Kalhun, Nínive e Dur-Sharrukin. Ordens eram enviadas aos governadores para convocar os levies, e preparar um estoque de milho, óleo e equipamentos de guerra. Se necessário, os estados vassalos convocavam suas tropas.
Essa organização permitia a reunião de um grande número de soldados. Shalmaneser III fala de um exército de 120 mil indo em direção à Síria. Um exagero, é claro, é mais provável que os números girassem em torno de 50 mil ou menos. Segundo Healy, alguns registros falam que essa coluna de soldados era capaz de andar 48 km por dia.
Os principais inimigos dos assírios no período do Novo Império foram os sírios, egípcios, urartianos e elamitas. Esses últimos foram eventualmente destruídos, em campanhas realizadas no reinado de Ashurbanipal III (r. 668-627). Segundo os anais dos assírios, eles arrasaram a região do Elam durante um mês e 25 dias. O vácuo de poder deixado pelos elamitas permitiu a ascensão dos medos e persas nas décadas seguintes.
Mas o grande problema dos assírios foram os Babilônicos.
A relação com essa cidade sempre foi muito complexa. Os assírios tomaram o controle dela na época do rei Tiglath-Pileser III e isso permaneceu assim até a queda do império. Durante os mais de cem anos de dominação, a Babilônia foi uma região sacudida por revoltas, e foi uma das que mais sentiu o peso da mão do exército assírio. Mas, embora a cidade tenha sido destruída e saqueada pelos assírios em algumas ocasiões, vários reis assírios fizeram esforços para reconstruir a Babilônia. Segundo nos conta Healy:
"Essa mudança de coração reflete a ambivalência que muitos assírios sentiam em relação à Babilônia, que estava no centro da forma como o norte lidava com o vizinho do sul. Considerada a segunda cidade do império, também foi vista com reverência como cidade santa e um grande centro cultural. Tais sentimentos geraram fortes paixões, e havia claramente partidos pró e anti-Babilônicos na corte Assíria. Embora inicialmente simpático, o rei assírio adotou uma política cada vez mais hostil à medida que as questões se intensificaram." (HEALY, 1999, p.46, tradução nossa)
O grande líder das rebeliões na Babilônia era Merodoch-Baladan, que contou com o apoio do Elam para tentar desestabilizar o poder assírio. Diversos conflitos entre Babilônia e Assíria ocorreram no século 8 e 7 a.C., levando eventualmente a queda do Império Assírio em 612 a.C., quando os Babilônicos formaram um coalizão com a nova potência do leste, os Medas.
Abaixo você confere uma galeria com ilustrações modernas da aparência do exército assírio. Também coloquei alguns relevos de palácios assírios que retratam cenas de batalhas e aspectos do militarismo assírio.
Moacir tem 37 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.
Ilustração moderna, autor desconhecido.
Ataque assírio durante um cerco a uma cidade com muralhas protegidas por arqueiros. Assírios utilizam uma torre com aríete empurradas por rodas. Cerca de 865-860 a.C. Museu Britânico. Via Wikimedia Commons.
Relevo mostrando soldados assírios com elmos pontudos e armadura escalonada, um oficial eunuco atira com um arco, ele é protegido por um homem com um largo escudo, atrás dele estão dois fundeiros. Cerca de 700-695 a.C. Museu Britânico, N° 124789
Detalhe de relevo. Prisioneiros são trazidos diante do rei Senaqueribe e alguns são executados. Cerca de 700-692 a.C. Museu Britânico. N° 124910
Detalhe de relevo. Dois soldados e um homem com dois cavalos cruzam uma montanha. Cerca de 874 a.C. Museu Britânico. N° 124558
Detalhe de relevo mostra soldados assírios nadando com bóias e cavalos para cruzar um rio. Partes das carruagens e armamentos são levados em um barco. Figuras são mostradas completas e não com a metade submersa, o que é típico da arte assíria. Cerca de 865 a.C. Museu Britânico. N° 124543
Detalhe de relevo carruagem de guerra assíria. Cerca de 645-635 a.C. Museu Britânico. N° 136774
Detalhe de relevo mostra soldados assírios atacando uma cidade com uma muralha tripla. É mostrado uma torre com aríete subindo uma rampa artificial construída pelos assírios. Cerca de 728 a.C. Museu Britânico. N° 118902
Elmo de ferro em formato cônico com um topo pontudo, feito a partir de uma única placa de ferro. É decorado com bronze em forma de linhas paralelas na base do elmo. Dos lados da base há uma série de buracos, provavelmente para passar alguma linha que seguraria o elmo na cabeça. Cerca de 800-700 a.C. Museu Britânico. N° 22496
Detalhe do relevo mostra um ataque assírio sendo realizado por diversos lados. Um grupo ataca com lanças, outro usa uma escada para tentar invadir a cidade, do lado oposto, uma torre com um aríete sobe uma rampa, e arqueiros assírios atiram flechas. Também aparecem algumas pessoas empaladas do lado de fora da muralha, provavelmente prisioneiros inimigos executados para servir de aviso aos defensores.Cerca de 730-727 a.C. Museu Britânico. N° 115634