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Autor: Christian Jacq
Título original: L'Egypte des grands pharaons
Páginas: 305
Editora: Bertrand Brasil
Ano da edição: 2010
Idioma: Português
Desde a 1° Dinastia, que se iniciou em 2950 a.C., até o domínio dos Ptolomeus, que se encerrou em 30 a.C. foram muitos os faraós que legaram sua história e suas lendas à humanidade. Agora, Christian Jacq compartilhará os segredos e mistérios de alguns deles.
Nascido em Paris em 1947, Jacq é um dos mais famosos egiptólogos do mundo. No fim dos anos 1960 se envolveu em estudos de Arqueologia e Egiptologia, culminando com o titulo de doutorado em Sorbonne. A sua carreira de escritor, que se iniciou aos 21 anos, segue duas linhas narrativas: uma de historiador e outra de romancista histórico. Ele e sua falecida esposa fundaram o Instituto Ramsés, que se dedica a criar descrições fotográficas do Egito para a preservação de sítios arqueológicos em perigo. Atualmente, o autor reside em Genebra, na Suíça e muitos de seus livros foram traduzidos para o português.
JACQ, Christian. O Egito dos Grandes Faraós: História & Lenda. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2010.
Christian Jacq é um egiptólogo e romancista francês famoso por publicar livros de História, mas também por seus romances históricos sobre o Egito Antigo, onde ele mistura realidade com ficção. Inicialmente tive um certo preconceito com a obra do autor, por um certo receio de que sua atividade como romancista poderia prejudicar o seu senso crítico na análise da História.
Depois de ler essa obra, um trabalho histórico de não-ficção, posso declarar com uma certa autoridade que meus medos não eram completamente infundados. Alguns erros básicos são cometidos pelo autor, embora esse livro, no geral, tenha muitas qualidades.
O autor é claramente um egiptólogo competente, isso fica claro na introdução da obra. Ao longo de 24 páginas, Jacq faz uma abertura brilhante discutindo as fontes da História egípcia, os principais problemas que os estudiosos da área enfrentam, e conceitos gerais cuja compreensão é essencial para o pleno entendimento da mentalidade egípcia.
Entretanto, o grande problema é que o autor não consegue esconder a sua paixão pela civilização egípcia. A primeira vista isso não parece um problema, porém, ao longo da obra fica claro que ele tem dificuldades para analisar a sociedade egípcia de forma crítica. Em várias passagens do livro o autor contesta teorias que retratam o Egito de forma menos elogiosa, e sempre se posiciona contra qualquer estudioso que mostre essa civilização sobre uma luz não muito favorável.
Jacq retrata um Egito utópico, e é difícil acreditar que tal visão idealizada corresponda a realidade. O autor faz muitas suposições e elas são sempre elogiosas aos personagens e a civilização egípcia, mostrando uma falta de senso crítico típico de alguém apaixonado. Coloco abaixo uma passagem retirada do livro que ilustra bem essa visão idealizada com a qual o autor mostra a civilização egípcia:
Há tempos, um outro historiador disse-me: "Não entendo o motivo de esta civilização, que tudo descobriu e tudo compreendeu, não ter inventado o dinheiro." A meu ver, o Egito preferiu não explorar essa invenção, manifestando assim uma grande sabedoria. São os gregos que, importando uma economia monetária, farão a civilização faraônica perder a sua pureza. (p.189)
A proposta da obra é apresentar biografias dos faraós mais famosos da História do Egito Antigo. A seleção feita pelo autor é composta pelos seguintes nomes: Rei-Escorpião, Menés, Djoser, Snefru, Queóps, Quéfren, Miquerinos, Pepi II, Sesóstris I e Sesóstris III, Amósis I, Hatshepsut, Tutmés III, Amenófis II, Tutmés IV, Amenófis III, Akhenaton, Tutancâmon, Seti I, Ramsés II, Ramsés III, Nectanebo II e Cleópatra VII.
A abordagem do autor trabalha bastante o sistema de crença egípcio, uma pegada de História das Mentalidades. Cada capítulo é dedicado a um faraó, o autor descreve os principais feitos do seu reinado, as justificativas para os seus atos e comenta as ideias de cada época. Diversos assuntos são trabalhados ao longo da obra, conforme o autor se aprofunda na história dos faraós ele se vê obrigado a explicar alguns conceitos básicos, então outros temas da História egícia acabam sendo discutidos.
O autor cita passagens da literatura egípcia, e comenta temas como raça, barcos, irrigação, religião, organização política, comércio, escravidão, arquitetura, escrita e escribas, exército e polícia, impostos, etc. Jacq também fala sobre a arte dos túmulos, uma das principais formas de arte egípcia, além de comentar a existência de estelas tumulares e estelas de fronteira. Seu conhecimento de fontes primárias é inegável.
A obra apresenta uma seção interna com cerca de 30 fotos, todas em preto-e-branco e com uma impressão bem ruim. Qualquer pesquisa rápida no Google retorna imagens muito mais interessantes, então esse pode ser considerado um ponto negativo.
Uma coisa que também faz muita falta na obra é um Índice remissivo! Esse recurso é algo essencial em qualquer obra que tenha a pretensão de ter algum uso acadêmico. Obras com esse tipo de índice podem ser constantemente consultadas por termos específicos, o que é essencial para quem realmente estuda em um nível mais avançado.
A obra é muito envolvente, sua leitura é agradável e algumas informações apresentadas são muito curiosas e interessantes para aqueles que desejam conhecer a História dessa civilização. Apesar disso, a obra peca pelo fato de ser uma mistura estranha de História das Mentalidades com História Positivista. Não me entendam mal, não há nada de errado com biografias. Mas a análise acrítica que o autor apresenta ao longo da sua obra, sempre que comenta as ações políticas e os atos dos líderes egípcios, é algo que vai na direção oposta do ideal de um bom historiador.
Resenha escrita em 14/01/2019.
Moacir tem 37 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.