Autor: Mario Curtis Giordani
Páginas: 395
Editora: Vozes
Ano da edição: 2008
Idioma: Português
A grandiosa construção política de Roma fê-la herdeira de multimilenares civilizações orientais e da multissecular civilização grega. Esse enorme patrimônio cultural não só foi fundido, conservado, aproveitado e, até certo ponto, adaptado e ampliadop elo senso prático dos romanos, mas, sobretudo, foi transmitido às nações e estados que sucederam à desintegração do Império Romano do Ocidente e que foram constituindo o germe de uma nova civilização, a civilização ocidental. Nessa herança colossal que Roma nos legou reside, sobretudo, o interesse do estudo de sua história. Com efeito, direta ou indiretamente, sentimos, ainda hoje, bem viva a presença de Roma, quer na língua, que no direito, quer na religião, quer nos costumes, quer em muitos outros aspectos de nossa civilização.
Mário Curtis Giordani (1921-2014) foi um escritor gaúcho. Cursou Filosofia, Teologia e fez bacharelado e licenciatura em Letras Clássicas. Também foi bacharel em Direito e professor universitário de Filosofia e Direito romano. Autor de mais de 10 livros de História, com livros que vão desde a Antiguidade até a Idade Moderna.
GIORDANI, Mario Curtis. História de Roma. Petrópolis: Vozes, 2008.
História de Roma é uma obra de caráter introdutório sobre a Roma Antiga que trata do período que vai da Realeza (753-509 a.C.) até a última reunificação do império no reinado do imperador Teodósio o Grande em 392 d.C.
As obras de Mario Curtis Giordani possuem algumas características interessantes. O autor apresenta um resumo rápido da história política e depois divide a civilização estudada em tópicos (Instituições políticas, Direito, Vida Cotidiana, Ciências, Forças Armadas, etc) e trabalha cada uma das questões individualmente.
Como Giordani não é um historiador, ele apresenta muitas citações de especialistas da área para fortalecer seus argumentos e tentar provar as suas conclusões. As obras dele se destacam por contarem com uma quantidade assombrosa de informações, com a apresentação de dados que a maior parte dos livros não consegue cobrir.
A obra sofre com a ausência de bons mapas, isso fica claro especialmente no início quando o autor faz muitos comentários sobre a geográfica da península itálica. Embora o autor goste de citar locais (rios, montanhas, etc) os mapas, quando existem, são ruins e não contribuiem para a compreensão do tema.
O texto do livro é fragmentado demais. É como se o autor tivesse dado Ctrl+C Ctrl+V em vários livros, sem a preocupação de criar um texto coeso. Embora muitas informações sejam importantes e interessantes, a leitura da obra é cansativa.
Se o autor realmente tivesse feito um trabalho de produção textual visando criar uma obra coesa, esse poderia ser um dos melhores livros sobre o tema. A divisão da obra por temáticas foi especialmente danosa nesse caso porque, a cada tema que o autor iniciava ele precisava fazer a divisão entre Realeza, República, Alto Império e Baixo Império.
Isso gerou uma obra extremamente confusa e fragmentada. Se ao invés disso, Giordani tivesse optado por escrever vários capítulos sobre a Realeza, comentando sobre todos os tópicos e depois tivesse falado sobre a República, e sobre o Alto Império e Baixo Império, produzindo textos que traçassem quadro complexo de cada um desses períodos, o resultado teria sido uma obra muito mais interessante.
Esses problemas ficaram ainda mais evidente quando Giordani tentou comentar sobre a organização política e judiciária. O próprio autor é formado em direito, mas não parece muito preocupado em explicar conceitos de direito para o público leigo. Algumas passagens da sua obra até parecem saídas de um livro de direito, com todo o linguajar desnecessariamente complicado e com constantes referências a termos em latim, que são esperados em uma obra dessa área.
O direito romano foi essencial para a formação do direito contemporâneo ocidental. Era de se esperar que um professor de direito soubesse demonstrar as razões disso para um público leigo. Infelizmente o capítulo sobre direito, e as demais referências às leis romanas, são confusas e deixam muito a desejar.
O grande problema da obra: o cristianismo - Já havia lido vários livros do autor e sempre o considerei capaz de produzir um texto histórico relativamente útil. Mas fiquei realmente decepcionado quando cheguei aos capítulos finais dessa obra.
O autor é claramente cristão (se formou em Teologia no Seminário) e isso influencia de forma óbvia os escritos dos capítulos 17 ao 20, que não são dignos de um livro de História, sendo pura propaganda cristã, cheios de preconceitos e demonstrando uma total incapacidade de crítica das fontes. Um exemplo perfeito de uma escrita completamente parcial. Dê só uma olhada no preconceito embutido nesse parágrafo sobre os judeus na antiguidade:
Os judeus da diáspora em contato com os gentios não se limitaram somente a uma atitude passiva de assimilação de elementos da civilização helenística; possuidores de uma milenar tradição religiosa monoteísta, incomparavelmente superior às aberrações politeístas, detentores de uma doutrina elevada que sobrepujava, por seu conteúdo ético, a todos os preceitos religiosos e filosóficos da antiguidade (...) (p.323)
Um último comentário também deve ser feito sobre a diagramação da obra: o trabalho de diagramação e produção da editora Vozes é horrível, o que chama atenção pois também tenho outras obras da editora e elas são de uma qualidade aceitável. Então o texto e a organização de Giordani, que já são desorganizados e confusos, ficam ainda piores com um péssimo trabalho de diagramação; deve ser assinalado que essas características estão presentes em todas as obras do autor publicadas pela Editora Vozes.
Depois de todos esses comentários negativos, é importante deixar claro: as obras do autor normalmente são muito úteis, e embora sejam desorganizadas, costumam ser uma excelente fonte de conhecimento. E mesmo nessa obra, os 16 primeiros capítulos são uma boa fonte de pesquisa.
Resenha escrita em 10/11/2019.
Moacir tem 37 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.