Busque no site
Ver mais opções

Textos   >    Grécia Antiga

O Oráculo de Delfos

13 mil visualizações    |    1267 palavras   |   0 comentário(s)

Capa do artigo: O Oráculo de Delfos

O Oráculo, pintura de 1880 do italiano Camillo Miola, atualmente no Museu Paul Getty.
Via Wikimedia Commons.

O santuário de Apolo em Delfos era um dos centros religiosos mais importantes da Grécia Antiga. Situado junto ao monte Parnaso, no centro da Grécia, há cerca de 120 km de Atenas, Delfos era considerada o centro do mundo. Havia uma lenda que dizia que Zeus havia soltado duas águias dos extremos do mundo, no intuito de descobrir o seu ponto central, e elas haviam se encontrado em Delfos.

As ruínas do antigo templo de Apolo em Delfos.

A importância de Delfos para a cultura grega é inegável. O santuário era considerado um local sagrado por todos os gregos. Líderes políticos e pessoas influentes e poderosas visitavam o oráculo em busca de orientação diante de situações difíceis: Uma guerra deveria ser iniciada? Uma nova colônia daria certo? Uma nova aliança deveria ser selada?

Reconstrução do Templo de Apolo. Ilustração moderna, autor desconhecido.

A adivinhação e a profecia eram praticadas por todo o mundo grego, existiam oráculos em muitas cidades e muitos locais de culto contavam com sacerdotes especializados na arte da profecia e da leitura de augúrios. Mas o oráculo de Delfos era, sem dúvida, o mais famoso.

As principais profecias

Ao chegar a porta do templo de Apolo o visitante de defrontava com várias inscrições, dentre elas, "Conhece-te a ti mesmo" gravadas em frente ao templo. Delfos era um local de peregrinação para aqueles que queriam conhecer seu futuro, mas as profecias não eram apresentadas de forma direta, mas possuíam uma forma enigmática, aberta a interpretação.

Quando a profecia não se cumpria, os antigos simplesmente supunham que ela havia sido interpretada erroneamente. Segundo nos relata Holland:

Os conselhos de Apolo com frequência pareciam claros, mas nem sempre o eram. O senhor do oráculo de Delfos nem fala, nem fica em silêncio, mas sugere pistas. Aqueles que interpretam mal o deus, que deixam de reconhecer as ambiguidades que podem estar incutidas em seus pronunciamentos, precipitando-se em ações baseadas no que querem acreditar, invariavelmente correm para a ruína. (HOLLAND, p.118)

Algumas das profecias realizadas pelo Oráculo de Delfos ganharam fama e são conhecidas até hoje.

Em meados do século 6 a.C., o rei da Lídia, Creso, estava se sentindo ameaçado pelo avanço do Império Persa, e pediu para o Oráculo se deveria enfrentar os persas em batalha. O Oráculo respondeu que, se houvesse uma batalha, um império iria cair. Acreditando que o império condenado era o persa, Creso atacou e descobriu que havia se enganado. Os persas venceram e o império que deixou de existir foi o seu.

A sacerdotisa de Delfos, pintura de John Collier (1891).

Várias profecias realizadas durante as guerras entre gregos e persas foram registradas por Heródoto, o pai da História. Aliás, durante o conflito o Oráculo foi consultado inúmeras vezes. Na mais famosa delas, após a derrota grega em Termópilas e Artemísio, o oráculo declarou que os atenienses deveriam abandonar a sua cidade, e somente uma "parede de madeira" seria capaz de deter o avanço persa.

Depois de muita discussão os atenienses concordaram que a "parede de madeira" da profecia se referia a sua frota de barcos de guerra. E foi com uma batalha naval em Salamina que a cidade de Atenas resistiu ao ataque dos exércitos orientais.

Cílice de Vulci, cerca de 440-430 a.C. Oráculo de Delfos e o Rei Egeu. Museu de Berlim. Via Wikimedia Commons.

Como parte da cultura da época, o Oráculo de Delfos também foi representado no teatro grego. Na consagrada peça "Édipo Rei", de Sófocles, a profecia do oráculo exerce um papel central no terrível destino do personagem principal.

A pítia

O templo de Apolo ficava aberto apenas nove dias por ano, no sétimo dia após a lua cheia. Eram nesses dias que as Pítias, as sacerdotisas do templo recebiam os visitantes. Houve momentos em que até três Pítias chegaram a existir simultaneamente.

Essas sacerdotisas eram mulheres, de uma idade mais avançada. Segundo Jones, em seu artigo sobre a Pítia:

A Pítia era escolhida entre as sacerdotisas do templo após a morte da Pítia anterior. O caráter moral era de extrema importância, e mesmo se a recém-escolhida Pítia fosse casada e tivesse uma família, ela teria que renunciar a todos os deveres familiares a fim de preencher seu papel no templo. As pitias eram provavelmente mulheres de famílias de classe alta, eram educadas e bem instruídas. (JONES, tradução nossa)

A sacerdotisa e os visitantes passavam por um processo de purificação antes do ritual no templo. Um animal trazido pelo visitante era sacrificado e, só depois disso, a Pítia se preparava para se unir ao deus Apolo.

A sacerdotisa ficava em um local do templo onde havia um brecha no chão, lá ela se sentava sobre um tripé. Gases emanavam dessa brecha e levavam a Pítia a um transe. Acreditava-se que esses gases entravam no corpo feminino da sacerdotisa, e ocorria uma espécie de união de caráter sexual entre a sacerdotisa e o deus Apolo. Os vapores com certeza adicionavam um pouco de drama a cena.

Ilustração moderna mostrando a Pítia sobre o tripé e a brecha que exalava os vapores sagrados. Algumas fontes falam que o ritual ocorria em uma caverna sob o templo, outras falam que acontecia dentro do própria templo.

No transe em que ela se encontrava, a sacerdotisa pronunciava a profecia. As fontes antigas discordam com relação a forma como a profecia era proferida. Alguns falam que a própria sacerdotisa declarava a mensagem de Apolo, outros afirmam que ela resmungava frases incompreensíveis, que eram traduzidas pelos sacerdotes que acompanhavam a cena.

O transe da pítia: uma análise arqueológica

O santuário de Delfos foi escavado por arqueólogos pela primeira vez em 1892, por uma equipe francesa. Na época, não foi encontrado nenhum sinal que comprovasse a existência de vapores vindos do chão, e que justificassem a história contada pelas fontes antigas.

Mas em 2001, uma nova equipe de estudiosos liderada pelo geologista Jelle Z. de Boer descobriu evidências da presença do Etileno (C2H4) nas proximidades do templo. Acontece que o santuário de Delfos se situava sobre duas falhas geológicas, que se cruzavam exatamente sob o templo de Apolo, dessa falha saía o gás que pode ter sido o responsável pelo estado de transe da Pítia.

O geologista Jelle Z. de Boer.

O Etileno é um vapor de arome doce, que provoca euforia verbal e transe, então a teoria faz sentido. Mesmo assim, muitos estudiosos ainda são cínicos em relação a ideia. É possível que o transe fosse auto-induzido, ou até, que fosse simulado.

Para quem tiver mais interesse nas descoberta do geologista Jelle Z. de Boer, há um excelente documentário do History Channel sobre o tema. Para assisti-lo em inglês clique aqui.

Foto de membro da equipe do site: Moacir Führ
Escrito por Moacir Führ

Moacir tem 37 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.

Fontes bibiliográficas
Mais textos sobre Grécia Antiga
Comentários sobre o texto

Cadastre-se ou faça login para comentar

Cadastre-se

Ainda não há comentários nessa página.
Seja o primeiro a comentar.

Utilizamos cookies essenciais e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade e, ao continuar navegando, você concorda com estas condições.