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Hipaspistas (infantaria pesada) do exército macedônico do século 4 a.C. Ilustração moderna de Christa Hook.
A palavra 'guerra', em inglês War, vem da palavra da antiga língua alemã 'Werran' (que significa confundir ou causar confusão) e através da palavra do inglês antigo 'Werre' (que significa o mesmo). A guerra é um estado de conflito armado aberto e usualmente declarado entre entidades políticas tais como estados soberanos ou entre facções políticas ou sociais rivais dentro do mesmo estado.
O analista militar prussiano Carl Von Clausewitz, em seu livro Sobre a Guerra, chama ela de a “continuação da política através de outros meios”. A guerra é travada por entidades políticas, nações ou, anteriormente, Cidades-Estado, para resolver disputas políticas ou territoriais, e é realizada no campo de batalha por exércitos compostos de soldados das nações em conflito, ou por mercenários pagos por um governo para travar uma batalha.
Ao longo da história, indivíduos, estados ou facções políticas ganharam soberania sobre as regiões através do uso da guerra. A história de uma das primeiras civilizações do mundo, a da Mesopotâmia, é uma crônica de contendas quase constantes.
Mesmo depois de Sargão o Grande, da Acádia (2334-2279 a.C.), unificar a região sob o Império acadiano, a guerra ainda era travada para afastar os invasores. Acredita-se que o início do período dinástico do Egito (3150-2686 a.C.) tenha surgido da guerra quando o faraó Menés do sul conquistou a região do norte do Egito (embora essa alegação esteja aberta a discussão).
Na China, a Dinastia Zhou ganhou ascendência através da batalha em 1046 a.C. e o conflito do Período dos Reinos Combatentes (476-221 a.C) foi resolvido quando o Estado de Qin derrotou os outros estados em guerra e unificou a China sob o domínio do imperador Qin Shihuang.
Este mesmo padrão vale para outras nações ao longo do tempo, seja através do sucesso de Cipião Africano (236-183 a.C.) na derrota de Cartago (e consequente ascendência de Roma) ou de Filipe II da Macedônia (382-336 a.C) unindo as Cidades-estado da Grécia.
Exércitos contingentes de nações opostas historicamente têm resolvido disputas políticas no campo de batalha, embora, com o tempo, esses exércitos tenham mudado de formação e tamanho.
Inicialmente os exércitos continham dois tipos de infantaria: tropas pesadas, cujo propósito era atacar as forças opostas e tentar quebrar suas linhas, e tropas ligeiras, que eram mais móveis e se moviam em uma formação mais solta a fim de disparar armas de longo alcance contra o inimigo.
Segundo o historiador Simon Anglim
"A infantaria é a espinha dorsal de qualquer exército, sendo a única unidade que pode atacar ou defender de forma igualmente eficazmente. A maioria das batalhas usou a capacidade da infantaria de atacar o inimigo e matá-lo." (p.7)
E isso se manteve como um padrão na maioria dos casos, mesmo após a introdução das unidades de cavalaria e da carruagem de guerra.
Os primeiros exércitos eram relativamente pequenos corpos de infataria pesada até a introdução de unidades leves. Na Batalha de Megido, em 1479 a.C., o exército egípcio era de 20 mil homens; quando Shalmaneser III governou o Império Assírio em 845 a.C., os exércitos já haviam crescido em massa e tamanho. As forças de Shalmaneser em suas campanhas foram mais de 120 mil homens.
Os assírios precisavam de grandes exércitos devido à sua política de expansão territorial e à supressão implacável de revoltas contra o governo central e, isso, resume a causa principal da guerra: a mentalidade tribal.
A guerra cresceu naturalmente a partir da mentalidade tribal. Anglim observa:
"Uma tribo é uma sociedade que remonta a um único ancestral, que pode ser uma pessoa real, um herói mítico ou mesmo um deus: eles geralmente vêem pessoas de fora como perigosas e lutam contra elas. A posse de territórios permanentes para defender ou conquistar trouxe a necessidade de uma batalha em larga escala na qual o exército derrotado seria destruído, para melhor garantir o território em disputa. O advento da "civilização", portanto, trouxe a necessidade de corpos organizados de tropas de choque "(p.8).
A mentalidade da tribo sempre resulta em uma dicotomia de um "nós" contra um "eles", e gera um medo latente do "outro", cuja cultura está em desacordo, ou pelo menos é diferente da sua. Esse medo, associado ao desejo de expansão ou proteção aos recursos necessários a sobrevivência, muitas vezes resulta em guerra.
A primeira guerra registrada na história ocorreu na Mesopotâmia em 2700 a.C., entre a Suméria e o Elam. Os sumérios, sob o comando do rei de Kish, Enmebaragesi, derrotaram os elamitas nesta guerra e, está registrado, que "levaram como despojos as armas do Elam".
Aproximadamente na mesma época desta campanha, o rei Gilgamesh de Uruk teria marchado contra seus vizinhos, a fim de obter cedro (madeira) para a construção de um templo. Embora tenha sido argumentado que Gilgamesh é um personagem mitológico, a evidência arqueológica de um rei histórico Enmebaragesi, que é mencionado na Epopéia de Gilgamesh, reforça a afirmação de que o último também pode ter sido uma figura histórica real.
A região da Suméria tradicionalmente encarava o Elam como "o outro" a ponto de, no período da Terceira Dinastia de Ur (2047-1750 a.C.), o rei Shulgi ter construído uma grande muralha para manter os elamitas e os amorreus a distância.
A guerra, no entanto, certamente não começou em 2700 a.C. Os primeiros pictogramas de exércitos em guerra vêm do reino de Kish, datados de cerca de 3500 a.C.
Jericó, que, juntamente com Uruk, tem direito ao título de cidade mais antiga do mundo, forneceu aos arqueólogos evidências sólidas de que uma cidade fortificada existia no local antes de 7000 a.C. As paredes da fortaleza mediam 3 metros de espessura por 3,9 metros de altura, cercadas por um fosso de 9,1 metros de largura e 3 metros de profundidade.
O arco simples estava em uso na Mesopotâmia já em 10.000 a.C. e cemitérios do norte da Mesopotâmia e do Egito atestam a existência da guerra em uma escala bastante significativa. Há evidências de um conflito ocorrido em Jebel Sahaba, Egito, no chamado Sítio 117: cinquenta e nove esqueletos foram descobertos, os quais mostram evidências claras de morte violenta mais ou menos na mesma época.
A guerra na antiga Mesopotâmia foi travada por tropas de choque de infantaria até a introdução do arco composto egípcio. Em 1720 a.C, o Egito havia sido conquistado pelos hicsos, um povo semita de origem desconhecida, que introduziu uma série de avanços tecnológicos no Egito. Juntamente com a carruagem de guerra, armas de bronze e novas táticas, os hicsos trouxeram o arco composto.
Antes da chegada dos hicsos, o exército egípcio usava "arcos simples de madeira ou cana com um alcance de cerca de 100 metros, enquanto o arco composto era capaz de desferir um golpe poderoso a 200 metros." (Anglim, et.al. p.10).
O desenvolvimento do arco composto mudaria o modo como a guerra era travada, já que tropas de choque que se aglomeravam juntas se tornavam alvos fáceis para os arqueiros, enquanto as formações mais esparsas tornavam as tropas vulneráveis a ataques da infantaria oposta. Isso levou a mudanças nas formações de batalha em geral e ao desenvolvimento das táticas militares.
A primeira formação foi a falange, que foi empregada pela primeira vez na Suméria por volta de 3000 a.C. e se tornaria o padrão para as formações de infantaria por milhares de anos. Ela ficou famosa na Batalha de Maratona em 490 a.C, quando os gregos a empregaram efetivamente para derrotar os persas, e foi aperfeiçoada por Alexandre, o Grande em 332 a.C. em suas campanhas, e se tornou ainda mais formidável quando usada pelos exércitos de Roma.
A falange foi empregada, de uma forma ou de outra, pela maioria das forças de combate no mundo antigo. Os gregos empregaram a cavalaria para proteger os flancos e os tebanos usaram uma combinação de cavalaria, infantaria e tropas rápidas.
A introdução da carruagem de guerra e, mais tarde, o uso de elefantes em batalha, complementaram o papel da infantaria, mas nunca diminuíram sua importância.
A guerra tem sido um fator importante na criação de estados e impérios ao longo da história, e foi igualmente essencial na sua destruição. Grandes avanços na ciência, tecnologia e engenharia surgiram a partir da necessidade em tempos de guerra.
Está registrado que o exército do rei Creso da Lídia (560-547 a.C) foi uma vez parado em seu avanço pelo rio Hális, que parecia impossível de atravessar. O filósofo Tales de Mileto, membro do exército de Creso, mandou que uma equipe de engenheiros cavasse um canal rio acima, dando-lhe uma forma crescente, “para que ele corresse pelas costas de onde o exército estava acampado, sendo desviado dessa maneira de seu antigo curso e passando pelo campo, e depois fluindo novamente para seu antigo curso "(Kaufmann, 9).
Uma vez que o rio havia se tornado raso em ambos os canais, foi fácil atravessar. Histórias como essa fornecem exemplos da importância dos engenheiros na prática da guerra.
O aumento do desenvolvimento de táticas militares ou, neste caso, obstáculos geográficos, exigiu um corpo de engenheiros como parte regular de qualquer exército. Os exércitos de Alexandre o Grande e de Roma são bem conhecidos por seu uso de engenheiros na guerra, notavelmente por Alexandre no Cerco de Tiro (332 a.C) e por Júlio César no cerco de Alésia (52 a.C)
Esses dois generais tiraram o máximo proveito de todos os recursos à sua disposição para esmagar o inimigo e avançar sua causa e os engenheiros, juntamente com avanços tecnológicos como a torre de cerco, tornaram-se um meio particularmente importante para atingir esses fins.
Tradução de texto escrito por Joshua J. Mark
Setembro de 2019
Moacir tem 37 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.