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Setembro de 1934. Hitler discursa para o exército alemão em Nuremberg.
Produzido pelo cineasta sueco Peter Cohen o documentário Arquitetura da Destruição (Undergångens arkitektur, Suécia, 1989) mostra a teoria nazista da beleza através da violência. Discorre sobre o gosto que Hitler tinha pelas artes, sua fixação pelo estilo clássico e sua luta para tornar a Alemanha uma nação unificada artisticamente e etnicamente.
O filme discursa sobre a ideia que Hitler tinha de uma unificação artística na Alemanha, com a valorização somente das artes que refletissem às belezas da antiguidade clássica, e estimulassem o homem a se tornar cada vez mais perfeito; proibindo qualquer arte que mostrasse o anormal, o diferente ou que transmitisse uma ideia contestadora da realidade vigente. Assim os movimentos artísticos com uma visão mais surreal eram considerados responsáveis por subverter o ideal humano.
Hitler é mostrado como um artista fracassado, que após falhar ao tentar ingressar na Universidade de Arte de Viena, acaba se voltando para a política, onde liga seus ideais de padronização artística à busca pela limpeza racial do povo alemão. Hitler levou aos extremos o discurso da eugenia, e logo que subiu ao poder tratou de eliminar deficientes físicos e mentais, além de perseguir minorias étnicas. Ligando imagens de deficientes físicos às obras de artistas surreais, Hitler conseguiu convencer muita gente de que as artes modernas estavam desempenhando um papel importante no corrompimento da raça alemã.
Como já é normal, o filme se foca muito na perseguição aos judeus – como se esse houvesse sido o único povo perseguido pelos nazistas. Os filmes de Goebbels, chefe da propaganda nazista, comparavam os judeus aos ratos que infectavam uma casa, mostrando que apenas com sua eliminação seria possível alcançar a desejada saúde. É um tanto irônico que no final, venenos para pestes e ratos, acabaram sendo usados em câmaras de gás para executar judeus e outros grupos presos.
A fascinação de Hitler pela arquitetura também ganha destaque. Com a ajuda de um arquiteto alemão chamado Albert Speer, o Füher começou a planejar uma nova capital para o Reich. O próprio Hitler fez os rascunhos da maior parte dos prédios. A nova capital exigiria a demolição de boa parte da antiga Berlim e contaria com uma imensa avenida, um gigantesco arco do triunfo e um enorme prédio do governo. Tudo tendia ao megalomaníaco.
A construção da nova capital começaria assim que a guerra fosse vencida. Ao final da guerra, enquanto Berlim sofria seus últimos ataques dos exércitos aliados, Hitler – já totalmente fora do controle de suas capacidades mentais - comentava em seu bunker, que a destruição da capital facilitaria a reconstrução da cidade após a guerra.
Mas o que realmente chama a atenção no projeto de Speer é a influência do estilo Greco-romano e o uso excessivo de linhas retas e fachadas imponentes numa tentativa exagerada de realçar o caráter ordeiro do Reich.
Mesmo com uma grande influência do estilo clássico antigo é difícil ver alguma qualidade artística no projeto de Speer, que é pesado demais e pouco agradável aos olhos. A falta de suavidade das linhas arquitetônicas nazistas reflete com perfeição a mentalidade desse partido e sua visão de sociedade.
Para finalizar, vale lembrar que a busca do nazismo pelo fenótipo alemão ideal incentivou a entrada de muitos médicos no partido nazista. A introdução de novas práticas de higiene entre o povo alemão pode realmente ser citada como algo positivo. Mas no geral, a atuação dos médicos dentro do regime, visou muito mais a busca por uma uniformidade racial através da violência e morte de grupos que não se encaixavam nesse padrão procurado.
Artigo escrito originalmente em 2010.
Moacir tem 37 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.