Átila foi o rei dos hunos entre 434-453. Os hunos eram um povo nômade das estepes, conhecidos por serem grandes guerreiros a cavalo cuja arma principal era o arco composto.
Durante seu reinado, o poder dos hunos era tamanho que os romanos pagavam um tributo anual em ouro para que os hunos não invadissem o império. Um desses acordos foi o Tratado de Margo de 439.
Mas os hunos não se importavam muito com tratados, e ele foi quebrado depois que os romanos tiraram as suas tropas do Danúbio. Átila adorava a guerra e uma demonstração de fraqueza como essa era o mesmo que pedir por um ataque.
Em 441, hunos entraram no império e arrassaram cidades na Hungria, Grécia, Espanha e Itália. Átila enviou riquezas capturadas de volta à sua terra natal e convocou soldados para o seu próprio exército, enquanto frequentemente queimava as cidades invadidas e matava seus ocupantes civis.
Mas a riqueza aparentemente não era seu único objetivo. Átila e seu exército pareciam genuinamente desfrutar de guerra, os rigores e recompensas da vida militar eram mais atraentes para eles do que cultivar ou cuidar de animais. Os ataques só pararam com a assinatura de um novo acordo que triplicava o ouro que Roma pagaria aos hunos.
Em 445, o irmão de Átila, com que ele dividia o trono, morreu e ele passou a ser o único rei dos hunos. Novas invasões se seguiram em 446/447. Em 450 ocorreu um fato inusitado. Honória, irmão do imperador do ocidente, tentando escapar de um casamento arranjado, enviou seu anel de noivado a Átila pedindo sua ajuda. O rei dos hunos interpretou isso como uma proposta de casamento e invadiu o império, exigindo sua esposa e metade do ocidente como dote.
A simples reputação de Átila como um líder brutal fez a população da Gália fugir para se salvar. Os romanos encontraram os hunos na planície dos Campos Cataláunicos (atual França) em 451. Seu exército era liderado pelo general Aécio e pelo visigodo Teodorico I, que morreu em batalha. Foi a primeira vez que os hunos foram derrotados, foi uma grande vitória para os romanos.
Mas em 452 Átila retornou e invadiu a Itália, saqueando vários cidades. E dessa vez, os romanos não possuíam um exército capaz de detê-lo. Na planície do Pó, no norte da Itália, as tropas de Átila pararam e o rei se encontrou com o papa Leão I. Os detalhes da reunião são desconhecidos, mas depois dela Átila e os hunos se retiraram da Itália.
Em 453 em uma festa após seu casamento com outra mulher, Átila bebeu demais e morreu. Seu corpo teria sido enterrado, segundo a tradição, em três caixões no leito de um rio.
Representação de Átila produzida no século 17 por Claude Vignon. Museu Britânico. N° 1952,0405.175
Genserico foi rei dos vândalos entre 428-478 e é considerado o maior rei vândalo e a figura política mais importante do século 5. Os vândalos eram um dos povos germânicos que cruzaram o Reno em 406, se movendo em direção a Espanha, onde entraram em conflito com romanos e visigodos.
Genserico assumiu nesse período e decidiu levar seu povo para a África. O que o levou a decidir isso ainda é discutido entre historiadores, mas a África com certeza era uma região essencial para o império e controlá-la traria muitos benefícios.
Os vândalos teriam chegado lá em 429 com 80 mil pessoas, segundo alguns fontes. Eles rapidamente conquistaram todo o lado ocidental do norte da África, fazendo centenas de prisioneiros romanos. Mas a eles foi oferecida a liberdade, desde que jurassem não pegar em armas contra os vândalos.
O imperador Valentiniano III reconheceu as conquistas de Genserico, mas os romanos se mantiveram em Cartago. Essa cidade só foi tomada pelos vândalos em 439.
Com o domínio do norte da África, os vândalos passaram a controlar todo o Mediterrâneo, e segundo o historiador Arther Ferill, foi a conquista da África pelos vândalos que selou o destino de Roma, já que o império do ocidente perdeu sua maior fonte de renda. Mesmo assim, em 442, o imperador assinou um tratado com Genserico, reconhecendo sua posse da África.
Como se isso não bastasse, em 455, com o assassinato do general Aécio e do imperador romano, Genserico alegou que o contrato havia sido anulado e marchou sobre Roma. Genserico desembarcou em Óstia e se moveu em direção ao Roma, mas o papa da época fez um acordo para que ele saqueasse a cidade sem causar destruição e mortes. Genserico concordou e, depois de roubar todos os bens da cidade, voltou para a África.
Nos anos seguintes, romanos e visigodos se aliaram para invadir a África e destruir o poder naval vândalo, mas Genserico, que estava bem informado sobre essas alianças, lançou um ataque preventivo e destruiu a frota romana em 461. Uma outra tentativa de invasão naval foi feita em 468, quando o império do oriente se uniu ao do ocidente e juntos organizaram uma grande frota que se lançou em direção ao norte da África. O general romano Basilisco, no entanto, cometeu vários erros, ancorando no local errado e depois oferecendo uma trégua de cinco dias para os vândalos. Durante esse intervalo, Genserico preparou uma contra-ofensiva e destruiu completamente a frota romana.
Depois disso, Genserico organizou uma série de ataques de retaliação ao império do oriente, atacando o Egito e a Ásia Menor. Mas em 474, ele e o imperador Zenão assinaram um novo acordo de paz e o oriente reconheceu o reino vândalo. Genserico morreu em 478 em Cartago, de causas naturais, tendo sido o maior de todos os reis vândalos.
Genserico saqueando Roma. Pintura de Karl Briullov (1833–1836). Via Wikimedia Commons.
Alarico foi um chefe militar que liderou os godos no final do século 4 e início do 5. Ele é famoso por ter saqueado a cidade de Roma em 410, em meio a maior crise militar da história romana, que acabou levando a queda do império do ocidente.
Alarico aparece pela primeira vez na história lutando ao lado dos romanos na batalha do rio Frígido (394). Nos anos seguintes a relação de Alarico com os romanos mudava dependendo das circunstâncias: quando percebia que Roma estava enfraquecida, fazia exigências em dinheiro e saqueva cidades por todo o império; quando Roma se fortalecia, ele tentava se aliar a ela ou fugia.
Após a morte do imperador Teodósio em 395, o império foi dividido entre seus dois filhos: Honório (ocidente) e Arcádio (oriente). Honório era muito novo para deter o controle real, então o comando militar do ocidente ficou nas mãos de um general chamado Estilico, que era romano mas tinha descendência germânica. Nos anos seguintes, esse general lutaria e derrotaria Alarico várias vezes em batalha, e em outras ocasiões se aliaria a ele contra inimigos comuns.
A crise nas relações entre Roma e Alarico realmente começaram a partir da morte de Estilico em 408. Ele foi morto a mando do imperador Honório, que agora já tinha 22 anos, e seu assassinato fez parte de uma grande movimento anti-germânico na política romana. A política de apaziguamento e acomodação bárbara dentro do império, aplicada por Teodósio e Estilico, era vista com péssimos olhos depois de anos de ataques sofridos nas mãos dos bárbaros. E a grande invasão do Reno em 406 só piorou esse sentimento.
Conforme essa crise se acentuava, e germanos e descendentes de germanos sofriam cada vez mais preconceito na sociedade romana, os exércitos romanos foram se enfraquecendo cada vez mais. Alarico aproveitou a oportunidade para se tornar ainda mais rico: ele começou a fazer exigências em terras e dinheiro ao imperador e a saquear cidades por toda Itália.
Ao mesmo tempo, o imperador Honório mudou a capital de Milão para Ravena, afastando-a do caos que se espalhava pela Gália com as invasões germânicas. Alarico tentava extorquir o imperador ameaçando atacar a cidade de Roma, que por essa época tinha uma importância apenas simbólica. Depois de muitas tentativas sem sucesso, em 410 Alarico atacou e saqueou a cidade. O saque de Roma pelos godos representou um golpe violento na moral das tropas romanas e do império do ocidente.
Depois disso, foi para o sul e tentou invadir a África, mas sua frota foi destruída e, enquanto retornava ao norte, acabou morrendo. Ele foi enterrado no leito de um rio por seus seguidores godos.
Alarico entrando em Atenas após a conquista da cidade em 395. Ilustração feita na década de 1920. Autor desconhecido. Via Wikimedia Commons.
Julia Aurelia Zenobia foi a rainha do Império de Palmira, que declarou independência de Roma durante a crise do século 3. O império compreendia parte da Ásia Menor, Síria e Egito.
Zenobia era cidadã romana e era educada em grego e latim, além de ser fluente em egípcio e aramaico. Em 258 ela era casada com o governador romano da Síria, cuja capital era Palmira, uma cidade importante na Rota da Seda entre o oeste e leste.
Em 260 o imperador romano Valeriano foi morto após ser capturado pelos persas em batalha. E, como seu filho não pôde fazer nada para impedir o avanço persa, Odenato, governador romano e marido de Zenobia, derrotou os persas em batalha e foi homenageado por Roma, recebendo o controle de toda parte oriental do Império. Isso tudo aconteceu antes de Dioclesiano e da construção de Constantinopla, em uma época em que a ideia de dividir o império em duas partes ainda não havia passado pela cabeça dos romanos.
Odenato morreu em 267 e Zenobia assumiu o comando do oriente, em meio a uma das maiores crises da história do império. Vários imperadores romanos governaram por apenas alguns anos ou meses e, enquanto isso, Zenobia se mantinha fiel ao império. Em 269 ela enviou um exército ao Egito para derrotar um rebelde que havia se revoltado contra o domínio romano. E seu império começou a se expandir, embora ela ainda mantivesse o discurso de que defendia os interesses de Roma.
Na verdade ela já governava como uma rainha independente, cunhando moedas com seu rosto, assinando acordos comerciais sem consultar Roma e se intitulando Augusta. Em 271 seu império atingiu a extensão máxima, indo da Turquia ao Egito.
No entanto, no ano seguinte, Aureliano consolidou sua posição como novo imperador romano e marchou em direção ao leste para enfrentar Zenobia. Os dois exércitos se confrontaram nas batalhas de Imae e de Emesa (272), que resultaram em duas derrotas para Zenobia. Ela então tentou fugir para o oriente, onde esperava receber refúgio entre os persas, mas foi capturada pelos romanos e enviada a Roma.
O que aconteceu depois disso ainda é objeto de discussão. As fontes romanas se contradizem, e enquanto algumas falam de execução, outras dizem que ela foi julgada e absolvida e passou seus últimos dias confortavelmente em Roma.
Zenobia retratada em uma moeda da época. Via Wikimedia Commons.
Decébalo era o rei da Dácia no início do século 2 d.C. quando ela foi conquistada pelos romanos. Inicalmente um poderoso general, ele se tornou rei da Dácia em 87 a.C.
A primeira guerra com os romanos começou em 85 a.C., quando o rei Douras invadiu a província da Mésia, durante o reinado do imperador Domiciano. A guerra acabou em um empate e ambos os lados acertaram um acordo de paz, que estabelecia que os romanos pagariam uma indenização anual aos dácios. Quando o imperador Trajano assumiu, ele decidiu acabar com essa situação.
Trajano considerou um insulto a ideia de pagar um subsídio anual aos dácios, que haviam atacado e ofendido os romanos. Na visão de Trajano, era preciso lidar com a Dácia antes que o reino se fortalecesse demais e causasse problemas.
A primeira campanha de Trajano (101) foi um sucesso absoluto, e a capital dácia, além da irmã do rei, foram capturadas. Novo acordo de paz foi feito, e dessa vez Decébalo concordou com as condições romanas e se tornou oficialmente um amigo de Roma. Mas sua intenção era apenas conseguir um período de paz, para se reorganizar e atacar os romanos novamente.
Trajano marchou sobre a Dácia novamente em 105, no meio do caminho, um assassino enviado por Decébalo foi capturado e confessou o plano para matar o imperador. Decébalo também capturou um general romano e tentou forçar Trajano a se retirar, sobre ameaça de matá-lo. O próprio general se suicidou na prisão e Trajano manteve sua marcha. No caminho, os romanos construíram uma famosa ponte de pedra sobre o Danúbio.
Ao chegar a Dácia, os romanos se viram diante de uma guerra de guerrilha. Decébalo sabia que não podia enfrentar os romanos em uma batalha aberta e por isso se manteve nas montanhas. Quando percebeu a derrota inevitável se suicidou. Os povos nativos da Dácia foram expulsos e a região foi uma das que sofreu uma das colonizações mais intensas pelos romanos, por isso o nome moderno do país: Romênia.
O rei dácio Decébalo retratado na Coluna de Trajano em Roma. Cena CXXVII-CLV (127-155).
Boudicca foi a rainha celta da tribo iceni na Grã-Bretanha, que liderou uma revolta contra Roma em 60/61 d.C. Tácito e Cássio Dio são os dois historiadores romanos que deixaram narrativas do conflito. Há discrepâncias nos dois relatos, mas a descrição de Tácito é comumemente mais aceita, já que seu sogro era governador da Grã-Bretanha na época.
O conflito começou com a morte do rei dos iceni, Prasutagus, que dividiu o seu reino em seu testamento, entre suas filhas e o imperador Nero. Mas os romanos desrepeitaram essa divisão e tomaram todo o reino, além de açoitar a víuva Boudicca e estuprar suas duas filhas.
As tropas revoltosas dos iceni chegaram a cidade de Camulodunum (moderna Colchester) e massacraram a população. Os primeiros soldados romanos enviados para sufocar a rebelião foram facilmente derrotados. O mesmo massacre ocorreu quando os revoltosos chegaram a Londinium (moderna Londres) e a cidade de Verulamium (St. Albans) também teve o mesmo destino.
Os romanos se organizaram para enfrentar os britânicos em um local em que os inimigos, em número superior, não pudessem cercá-los. Os revoltosos chegaram confiantes, inclusive trouxeram suas famílias para assistir a batalha. Suas carroças de suprimentos foram instaladas na retaguarda. Quando a batalha começou, os romanos massacram os britânicos, que tentaram fugir mas se viram impedidos pelas suas próprias carroças. Essa é conhecida como a batalha de Watling Street. Boudicca e suas filhas fugiram mas logo se envenenaram para escapar da captura.
Estátua em homenagem a Boudica localizada ao lado do parlamento inglês em Londres. Foi produzida por Thomas Thornycroft no século 19.
O nobre germânico Armínio foi o líder de uma resistência ao domínio romano no início do século 1 d.C., durante o reinado de Augusto. Quando crianças, Armínio e seu irmão Flavus, filhos de um líder germânico, foram entregues como reféns aos romanos, e permaneceram ao seu lado por vários anos, lutando com seu exército.
Em 9 a.C., Armínio era o auxiliar do comandante romano Varus, que governava a Germânia e tinha recebido do imperador Augusto ordens para fortalecer o domínio romano na região. Na época, muitas tribos já haviam sido pacíficadas, graças a campanhas romanas lideradas pelo futuro imperador Tibério. Varus, no entanto, govenou a região de forma violenta e tirânica e isso estimulou a resistência por parte de muitas tribos. Armínio, em segredo, se juntou a causa dos revoltosos e começou a tramar um grande golpe contra os romanos.
Armínio sabia que a única forma de vencer os bem equipados e numerosos romanos era através de uma emboscada. Então ele organizou uma revolta no noroeste e, quando Varus se organizou para reprimi-la, ele sugeriu que os romanos tomassem o caminho que passava pela floresta de Teutoburgo. Quando os romanos estavam embrenhados na floresta, Armínio inventou uma desculpa para se afastar e se juntou aos germanos, que atacaram as tropas romanas por todos os lados e perseguiram os sobreviventes até que todos fossem mortos.
Foi uma das maiores derrotas romanas da história. E fez com que Augusto alterasse os planos de colonizar a região, ao invés disso, foram organizadas campanhas de retaliação. Quando Augusto morreu e foi sucedido por Tibério (14 d.C.), Germânico passou a liderar as tropas romanas e conseguiu derrotar Armínio em duas ocasiões, na Batalha do Rio Weser e na Batalha dos Muros Angrivarianos, embora Armínio tenha fugido em ambas. Nessas batalhas, ele chegou a enfrentar seu irmão Flavus, que estava no exército de Germânico.
No ano seguinte a guerra na Germânia foi abandonada. Em 17 a.C., Germânico foi homenageado com um triunfo, em que foram expostos a esposa e o filho de Armínio, que haviam sido capturados. Durante todo esse tempo, Armínio se manteve como a principal liderança na Germânia. Mas, muitas tribos se ressentiram de sua autoridade e das ambições de Armínio de ser seu rei. Em 19 d.C., Armínio foi morto após ser traído por seus parentes.
Imensa estátua de Armínio construída na Alemanha no século 19, durante o período de unificação do país. Ela está localizada próxima a floresta de Teutoburgo. O monumento é conhecido como Hermannsdenkmal (Monumento à Armínio).
Vercingetórix foi um chefe gaulês que liderou as tribos da Gália em uma grande rebelião contra o domínio romano em 52 a.C. Ele chegou a lutar ao lado dos romanos, no início das campanhas de César na Gália, quando os romanos auxiliavam os gauleses na luta contra invasões de tribos germânicos.
A rebelião começou em 52 a.C. e Vercingetórix, bem informado sobre as derrotas anteriores que os gauleses haviam sofrido nas mãos dos romanos, decidiu usar uma tática de guerrilha, evitando enfrentar as forças romanas em uma batalha aberta. Vercingetórix usou uma política de terra arrasada, destruindo cidades e fazendas para que não caíssem nas mãos romanas. Mas quando chegou a Avacirum, uma das grandes cidades gaulesas, foi convencido por sua população a poupá-la. A cidade acabou sendo conquistada por César e sua população foi massacrada.
Notícias do que aconteceu em Avaricum, estimularam outros gauleses a lutar contra Roma e o exército de Vercingetórix quase dobrou em número. Mas depois de algumas derrotas para os romanos, os gauleses decidiram se refugiar na cidade de Alésia. O cerco a cidade e a batalha que se seguiram são conhecidas como a maior e mais espetacular vitória militar de César. O cerco levou a rendição de Vencingetórix e a conquista definitiva da Gália. O líder gaulês foi mantido como prisioneiro em Roma, sendo morto somente seis anos depois, durante o Triunfo de César.
Estátua idealizada de Vercingetorix no sítio arqueológico de Alésia, no departamento da Côte-d'Or, na França.
Ambiórix foi o co-governante da tribo Eburone da Gália belga (nordeste da Gália , moderna Bélgica) que liderou uma insurreição contra as forças de ocupação de César na Gália no inverno de 54-53 a.C. Nada se sabe sobre ele antes disso, ele só aparece nos registros históricos nos diários de César na Gália. Ele é famoso por ter destruído toda uma legião romana, enganando os seus comandantes, Sabino e Cota.
A revolta gaulesa começou com um pequeno ataque que matou alguns soldados romanos, depois disso Ambiórix pediu para conversar com os líderes romanos Sabino e Cota, e explicou que só havia atacado os romanos para agradar a maioria da população, e que os gauleses estavam se organizando para uma grande revolta. Ele, no entanto, desejava permanecer amigo dos romanos e por isso iria dar a eles um salvo-conduto para que saíssem de se acampamento e se juntassem às outras legiões romanas da região.
Os romanos se reuniram dentro do acampamento e avaliaram suas possibilidades. A legião mais próxima, comandada por Quinto Túlio Cícero, estava há 80 km. Os Eburones também eram conhecidos como amigáveis e estavam entre as tribos gaulesas mais fracas, era difícil acreditar que eles escolheriam atacar os romanos. No fim, eles decidiram sair do acampamento e se juntar as demais legiões da região.
Enquanto eles discutiam, Ambiórix preparava uma emboscada ao longo do caminho que ele sabia que seria tomado pelos romanos. Quando os romanos chegaram ao vale em que a armadilha havia sido preparada, Ambiórix e seu exército atacaram por todos os lados e mataram os romanos, incluindo os dois comandantes, Sabino e Cota.
Depois dessa vitória, outras tribos se juntaram ao levante e sua força mais do que dobrou. Ambiorix, então, decidiu atacar o acampamento de Quinto Túlio Cícero. Os gauleses sofreram pesadas baixas no ataque à fortaleza, e acabaram decidindo por levantar um cerco, e matar os romanos de fome.
César, que acampava há alguns quilômetros dali, se mantinha ignorante sobre todos esses eventos. Mas Cícero conseguiu enviar uma mensagem até ele pedindo ajuda, e César correu em seu auxílio imediatamente.
Ao saber da chegada de César, Ambiórix levantou o cerco ao acampamento e movimentou suas tropas para enfrentar as tropas de César. Os romanos construíram um acampamento e se esconderam, fingindo vulnerabilidade e medo de uma possível luta, e Ambiórix, interpretando isso como um sinal de fraqueza, abandonou sua posição privilegiada no topo de uma colina e atacou o forte romano. Os romanos então saíram do forte e trucidaram as tropas gauleses. Ambiórix fugiu para a Germânia e nunca mais foi visto.
Estátua idealizada de Ambiórix, na cidade belga de Tongeren.
Espártaco (cerca de 111-71 a.C.) foi um escravo e gladiador romano que liderou uma grande revolta de escravos que ficou conhecida como a Terceira Guerra Servil entre 73-71.
Pouco sabemos da vida de Espártaco antes da revolta. Ele era um trácio que havia servido nas tropas auxiliares do exército romano. Não sabemos como se tornou um escravo, mas acabou sendo adquirido por Lentulus Batiatus, um lanista de Cápua, no sul da Itália. Em 73 a.C. ele e outros gladiadores dessa ludus se revoltaram e fugiram, se refugindo no Monte Vesúvio. Vários exércitos romanos foram enviados para acabar com a rebelião e foram derrotados. Mas apenas dois anos depois, quando o general Crasso recebeu 10 legiões para derrotá-lo, é que os rebeldes foram finalmente mortos.
Após a derrota dos escravos rebeldes, em que mais de 60 mil escravos foram mortos, outros seis mil foram crucificados ao longo da Via Ápia para servir de exemplo.
Representação idealizada de Espártaco no Museu do Louvre, feita pela artista Denis Foyatier no século 19.
Mitrídates o Grande (132-63 a.C.) era o rei do Ponto, atual nordeste da Turquia. Seu nome era persa e significava "enviado por Mitra" (deus do sol persa). Sua história foi narrada por Plutarco e Apiano.
Seu pai foi assassinado quando ele tinha 11 anos, e sua mãe foi regente até ele chegar aos 15, quando mandou prendê-la e ao irmão e expurgou o palácio dos assassinos de seu pai. A partir de então, conquistou vários povos da região ampliando seus domínio e seu exército. Era conhecido e admirado por ser muito alto e forte. Há uma história, de que desde da infância, ele tomava pequenas doses de veneno para se tornar imune a todos os tipos de venenos, para não ser assassinado como o pai.
A guerra com Roma começou quando Mitrídates tomou os reinos da Bitínia e da Capadócia, aliados de Roma. Inicialmente Mitrídates recuou, mas depois de ser provocado pelo cônsul romano Mânio Aquílio, atacou e rapidamente derrotou os romanos. Aquílio foi executado tendo ouro derretido derramado em sua garganta.
O ressentimento contra Roma, pelos altos impostos e extorções, eram grandes na Ásia Menor. Então em 89 a.C., Mitrídates não teve dificuldade em organizar um grande massacre de italianos na Ásia Menor. Mais de 80 mil teriam sido mortos nesse levante. Os escravos que assassinaram seus senhores receberam liberdade e os devedores que mataram seus credores italianos ou romanos receberam a promessa de alívio da dívida. Historiadores modernos acreditam que o número de mortos pode ser ainda maior, chegando aos 150 mil. Esse grande massacre ficou conhecido como Vésperas Asiáticas.
Quando a guerra entre Roma e Mitrídates começou, o rei do Ponto se aproveitou do caos político que Roma vivia (guerras entre Mario e Sula) para prolongar o conflito. As tropas de Mitrídates foram primeiramente derrotadas na Grécia, e depois disso uma paz foi assinada entre Sula e Mitrídates, já que o líder romano estava mais preocupado com a situação em casa.
Novos conflitos surgiram entre 83-82 e em 73 os dois lados entraram novamente em guerra, dessa vez pela posse da Bitínia, cujo rei havia morrido. Depois de anos de luta, contra os generais Lúculo e Pompeu, Mitrídates foi traído pelos próprios filhos e cometeu suicídio em 63 a.C., para não ser exibido e morto em triunfo romano.
Busto de Mitrídates, século 1 a.C. Museu do Louvre.
Jugurta (160-105 a.C.) foi um rei da Numídia, no norte da África. Era neto de Massinissa, rei númida que se aliou aos romanos na Segunda Guerra Púnica. A principal fonte para a história de Jugurta, é o historiador romano Salústio, que usou a Guerra Jugurtina como plano de fundo para retratar a corrupção do final do período republicano.
Na juventude, Jugurta foi enviado pelo rei númida a Espanha para lutar ao lado dos romanos, ocasião em que se destacou por sua habilidade e coragem. Ao voltar para casa foi adotado como filho e herdeiro pelo rei, seguindo recomendações de Roma.
Quando o rei morreu, Jugurta matou um de seus irmãos e o outro fugiu para Roma em busca de ajuda. Aproveitando-se da corrupção romana, Jugurta conseguiu apoio dos senadores para que os dois dividissem a Numídia em duas partes. Depois disso, confiante na sua capacidade de comprar a boa vontade romana, Jugurta matou o irmão e reunificou o reino. Na confusão da batalha, muitos romanos que viviam na cidade foram mortos e isso gerou reações raivosas em Roma. Em 112 a.C. os romanos declararam guerra a Jugurta.
Através da compra de oficiais romanos, Jugurta conseguiu estender o conflito, mesmo sofrendo derrotas consideráveis. Ele chegou a ser convocado a Roma, para se pronunciar sobre as acusações de corrupção de romanos, mas durante o tempo que passou na cidade, conseguiu corromper romanos para que não precisasse se pronunciar.
Essa situação se manteve até que os romanos enviaram contra ele o general Quinto Cecílio Metelo Numídico, que se mostrou ser incorruptível, e em uma série de batalhas foi, gradativamente, minando o poder de Jugurta na região. Apenas em 107 a.C., o comando foi entregue a Caio Mario, que junto com o seu subordinado Sula (o futuro ditador) derrotou e capturou Jugurta, que foi trazido para Roma e exibido vivo no triunfo de Mario. Não se sabe se ele foi executado por estrangulamento ou se morreu de fome na prisão.
Moeda mostrando Jugurta e seus elefantes. Site Gallica N° btv1b85522000
Talvez o mais famoso de todos os inimigos romanos, Aníbal (247-183 a.C.) foi um general que comandou os cartagineses na Segunda Guerra Púnica. Ele é considerado um dos grandes generais da antiguidade e suas táticas ainda são estudadas em escolas militares. Era filho de Hamílcar Barca, o grande general da Primeira Guerra Púnica.
Com 25 anos de idade se tornou líder das tropas cartaginesas na Espanha. Três anos depois a guerra contra Roma recomeçou, devido a um conflito na cidade de Sagunto. Aníbal decidiu invadir a Itália e atacar os romanos de surpresa. Ele cruzou os Alpes com soldados e elefantes, em uma famosa ação que levou 17 dias. Poucos elefantes sobreviveram a viagem, e metade de seus homens morreu na travessia.
Ao chegar a Itália, Aníbal se colocou como o libertador, que vinha para liberar as cidades italianas do domínio romano. E em uma série de batalhas históricas no ano de 218 a.C. (Ticino, Lago Trasimeno, Trébia e Canas) derrotou de forma humilhante os exércitos romanos.
A guerra começou a virar depois de Canas. Cipião, um jovem comandante na época com apenas 24 anos, começou uma guerra na Espanha (208), para destruir a base do poder de Aníbal. Depois disso, em 205, os romanos desembarcaram em Cartago, numa tentativa de tirar os exércitos de Aníbal da Itália e forçá-lo a voltar para casa e defender sua cidade.
Em 202, romanos e cartagineses se enfrentaram e Aníbal foi derrotado pela primeira vez, depois de dezenas de vitórias contra tropas romanas. Depois da derrota que causou o fim da guerra, Aníbal se manteve em Cartago por algum tempo, participando da política da cidade, mas em 195 ele fugiu para Tiro, depois para a Ásia Menor e por fim para a Bitínia, onde cometeu suicídio em 183 a.C. para evitar ser capturado pelos romanos. Ele tinha 65 anos.
Busto de Aníbal no Museu Nacional de Cápua. O busto foi encontrado na cidade, mas acredita-se que tenha sido esculpido no século 16.
Pirro (319-272 a.C.), foi o rei de Epiro, reino na costa noroeste da Grécia. E é conhecido como o primeiro inimigo estrangeiro a ser enfrentado por Roma. Pirro nasceu apenas quatro anos após a morte de Alexandre o Grande, e durante toda sua vida esteve envolvido na chamada Guerra dos Diádocos, conflitos entre líderes militares gregos e macedônios pelo controle de pedaços do antigo Império de Alexandre. Pirro inclusive chegou a governar a Macedônia por um curto período, entre 288-284.
Epiro fica há apenas 150 km do calcanhar da Itália, cruzando o Mar Adriático, e Pirro já tinha interesses expansionistas na Itália e na Sicília no começo do século 3 a.C. Em 280 ele recebeu um pedido de ajuda da cidade de Taranto, que estava sendo atacada pelos romanos, no processo de unificação da península. Ele atendeu ao chamado e desembarcou na Itália com um exército de 25 mil homens, 20 elefantes e 3 mil tropas de cavalaria. Foi a primeira vez que os romanos viram elefantes de guerra.
Pirro venceu os romanos em Heracléia em 280 e Ásculo em 279. Mas a vitória veio a um alto custo e segundo Plutarco, Pirro teria dito uma famosa frase depois desses batalhas: "Mais uma vitória como essa sobre os romanos nos destruirá completamente!" É daí que vem o termo "vitória pirrica", que se refere a qualquer sucesso militar que acarreta um alto custo para o vencedor.
Depois de uma aventura na Sicília, onde lutou contra os cartagineses ao lado de Siracusa, ele voltou para a Iália e foi derrotado pelos romanos na batalha de Benevento em 275. Depois desse revés, e lutando contra um inimigo capaz de suportar enormes perdas, Pirro decidiu que era hora de deixar a Itália. Ele voltou para a Grécia tendo perdido 2/3 do seu exército, e morreu três anos depois, em 272, ainda no meio de conflitos para conquistar a Macedônia.
Busto romano de Pirro, cópia de original helenístico. Atualmente no Museu Arqueológico de Nápoles.
Breno foi um chefe militar gaulês líder de uma tribo conhecida como os senones, que teriam saqueado Roma em 390 a.C. A invasão dos senones é narrada por vários historiadores antigos, entre eles Lívio, Políbio e Plutarco. Segundo eles, a Itália teria sido invadida no começo do século 4 a.C., e os senones teriam sitiado a cidade de Clusium, há cerca de 120 km de Roma. Quando os romanos foram em auxílio dessa cidade, os senones se sentiram insultados por Roma e por seus embaixadores, três irmãos da família patrícia Fabii, e decidiram levantar o cerco a Clusium e, ao invés disso, atacar Roma.
Os romanos, demonstrando pouca consideração para com o inimigo, reuniram um pequeno exército e encontraram os senones na batalha de Allia, sofrendo uma das maiores derrotas de sua história. Após esse desastre, notícias chegaram a Roma da aproximação do exército dos senones, e a maioria da população decidiu fugir e buscar refúgio em cidades aliadas. Apenas um pequeno grupo se manteve na cidade, defendendo uma posição no monte Capitolino. Quando Breno e seu exército chegaram, os portões estavam abertos e a cidade foi rapidamente tomada, mas ele se viu incapaz de derrotar os defensores no topo da colina.
Nesse meio-tempo, tropas senones que saqueavam outras cidades da região foram derrotadas pelo general Camilo, que nessa época estava num exílio imposto por Roma. Ao saber da vitória de Camilo, sobreviventes de Roma pediram para que ele liderasse a libertação da cidade. Camilo então liderou o exército romano e derrotou Breno e suas tropas fora da cidade. A veracidade dessa vitória ainda é discutida, alguns historiadores acreditam que Roma teria pago os senones para se retirar da cidade, e a história da vitória militar seria um embelezamento posterior para manter a honra de Roma intacta.
Mas o saque de Roma com certeza ocorreu e teve um papel fundamental na formação da psique romana. Essa foi a primeira vez na história que a cidade foi tomada e saqueada por um inimigo externo. Mais de 300 anos depois, quando Júlio César derrotou os gauleses, os romanos ainda se lembravam do ocorrido e comemoram por finalmente se verem livres dessa ameaça.
Representação moderna e idealizada de Breno, no Museu Nacional da Marinha em Paris. Breno foi o nome de um navio de guerra francês do final do século 19, e essa estátua era parte de sua decoração. Via Wikimedia Commons.
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Os grandes inimigos de Roma (da esquerda para a direita): Pirro rei de Epiro, Aníbal de Cartago, Mitrídates VI do Ponto, Vercingetórix da Gália. Mais informações sobre as imagens dentro do artigo.
Alguns líderes da antiguidade se destacaram por sua resistência contra o poder romano, e ficaram marcados como os grandes inimigos desse império. Esse artigo visa apresentar uma biografia curta de cada um dos líderes que, na minha opinião, foram os maiores inimigos de Roma.
É importante frisar que eles eram apenas isso: líderes. Eles comandaram grandes movimentos, e só conseguiram se opor a uma potência como Roma, porque conseguiram o apoio da população e o respaldo de elites locais. Ninguém faz um levante ou uma revolução sozinho. Falar dos grandes líderes é uma visão extremamente positivista, mas não por isso, uma lista como essa, se torna menos divertida e informativa.
Como eles eram inimigos dos romanos e foram, na sua maioria, derrotados por eles, os únicos relatos históricos que sobreviveram são as versões romanas desses eventos. O mesmo pode ser dito das imagens: os bustos e estátuas dos grandes inimigos de Roma não costumavam ser preservadas, logo, a maior parte deles não conta com representações da época e muitas imagens usadas nesse artigo são produções bastante recentes.
Mas sem mais enrolação, vamos a nossa lista, que está ordenada por data, do mais antigo para o mais recente:
Moacir tem 37 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.
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