Sociedade Brasileira - Vol. 1 Uma História através dos movimentos sociais

AQUINO, Rubim Santos Leão de. Sociedade brasileira: uma história através dos movimentos sociais. Rio de Janeiro: Record, 2000.

Sociedade brasileira: uma história através dos movimentos sociais é uma obra organizada por Rubim Leão de Aquino com a colaboração de Fernando Antônio da Costa Vieira, Carlos Gilberto Werneck Agostinho e Hiran Roedel, e publicada originalmente em 1999. É o primeiro volume de uma série de dois livros que cobrem toda a História do Brasil de 1500 até 2000.

Somados os dois livros tem mais de 1500 páginas. Nesse volume o autor cobre os três séculos e meio entre os anos de 1500 e 1870. Ou seja, os temas abordados são:

• Período Colonial
• 1° Reinado
• Período Regencial e
• 2° Reinado (só a primeira fase)
  

Rubim Leão de Aquino é conhecido por organizar diversas obras de História de nível básico/intermediário. Também são de autoria dele as obras sobre a História da América, Pré-História e História Antiga e Medieval, História Moderna e Contemporânea. Os trabalhos dele são conhecidos por serem altamente didáticos, de linguagem simples e agradável e extremamente amplos (a maior parte dos livros dele conta com mais de 500 páginas).

O autor é marxista, sempre fala de conflitos de classes e usa outros termos do materialismo histórico. O foco da obra é a a política e os grandes movimentos sociais populares. Até há alguns capítulos sobre a questão cultural, mas são textos curtos e confusos que apenas tocam na superfície do tema.

Um dos principais pontos positivos da obra são as centenas de citações apresentadas pelo autor. Ele está constantemente citando obras de outros historiadores e trechos de documentos históricos, algo que aumenta muito o valor da obra. Há muitos documentos históricos, fontes primárias, que são citadas pelo autor mas não são apresentadas na obra, isso não é realmente um problema hoje em dia, já que uma rápida pesquisa na internet é capaz de trazer essas fontes. Por isso eu fiquei muito satisfeito com essas citações, porque elas me apresentaram muitos documentos que eu ainda não conhecia.

Esse é com certeza um dos melhores livros sobre a História do Brasil para o público já saído da escola que se interessa pelo tema ou para estudantes do curso de História. Uma outra obra muito famosa para esse nicho é a obra História do Brasil de Boris Fausto, mas eu posso afirmar sem medo que o livro de Aquino é imensamente superior, não só pela qualidade da escrita mas, obviamente, pela quantidade de conteúdo discutidos, já que a obra de Aquino é muito mais ampla.

Alguns pontos negativos

Índice ruim: o índice da obra é ruim, já que muitos títulos são genéricos e não ajudam a localizar as informações dentro de uma obra de 600 páginas. Títulos como "Os extremos se tocam", "Novos horizontes", "Uma nova sociedade?" não contribuem em nada para o estudante que deseja retornar à obra no futuro. Esse tipo de prática é muito comum entre jornalistas, que vêem os seus livros de cunho histórico mais como objetos de auto-glorificação intelectual do que como ferramentas para facilitar o acesso a informação. É uma pena que muitos historiadores copiem essa prática. Além disso a obra não conta com um índice remissivo. Para facilitar à consulta eu cheguei a produzir um índice mais detalhado para mim mesmo, você pode conferi-lo aqui.

Escolha dos temas: a escolha dos temas é um tanto estranha. O autor decidiu se focar nos chamados movimentos sociais, que nada mais são do que "ações coletivas mantidas por grupos organizados da sociedade que visam lutar por alguma causa social" (Brasil Escola). Para esse fim, muitos eventos importantes consagrados pela historiografia tradicional são quase que ignorados em benefício de alguns levantes e conflitos praticamente desconhecidos. Enquanto a famosa Guerra do Paraguai - o conflito militar mais importante da História do Brasil - é narrado em menos de 6 páginas, a Conjuração do Rio de Janeiro (1794), uma conspiração desconhecida para 90% dos brasileiros e que nem chegou a sair do papel ganha mais de 8 páginas. Isso sem falar na imigração européia. A imigração de italianos, alemães e outros povos para o Brasil no século 19 foi praticamente ignorada pelo autor, sendo citada em alguns parágrafos, quase como um evento de menor importância, digno das notas de rodapé da história do Brasil. O autor também mostra, nesse primeiro volume, uma clara predileção aos eventos ocorridos no sudeste e nordeste, ignorando quase que completamente as demais regiões. Para mim, que moro no Rio Grande do Sul, essa diferenciação ficou óbvia demais.

Ausência de fotos: esse é um defeito que se aplica a maioria dos livros de História, mas que não pude deixar de citar novamente. Parece haver um preconceito com relação a fotos em livros para adultos, muito embora eu sempre tenha achado que fotos, pinturas e outras imagens são importantes fontes históricas e assim como outros documentos escritos não devem ser ignorados. Uma obra que não apresenta nenhuma (absolutamente nenhuma) imagem, me chama atenção negativamente, tendo em vista o poder que as imagens tem para informar e dar uma referência visual sobre os fatos. Esse é mais um livro que se encaixa nessa categoria. Não há nenhuma foto ao longo de suas 600 páginas. Talvez isso até seja perdoável hoje em dia, quando todo mundo conta com um celular e pode rapidamente buscar referências visuais durante a leitura, mas se levarmos em conta que a obra foi publicada nos anos 2000, uma época sem esses privilégios, isso é algo imperdoável.

Mas, mesmo com todos esses problemas, eu recomendo a obra. Para mais informações confira os links acima dessa resenha. Você encontrará minhas anotações de leituras (com imagens) e muitas fotos do livro.

Resenha escrita em 07/11/2021.