Prefácio - Introdução.
1 - O começo - O antigo Oriente Próximo - Sobre os livros e as bibliotecas no antigo oriente, com destaque para a Mesopotâmia e a escrita cuneiforme.
2 - O começo: Grécia - A alfabetização, a importância da escrita grega (baseada na fenícia) e o surgimento da literatura ocidental. O que era um livro nessa época? Papiros e rolos. O início da venda de livros. Os primeiros colecionadores e as primeiras bibliotecas particulares.
3 - A Biblioteca de Alexandria - A biblioteca de Alexandria: o estímulo para sua criação, sua organização, os primeiros responsáveis por elas, as inovações que ela trouxe para a organização das bibliotecas do ocidente. Primeiros dicionários e gramáticas. Até quando a biblioteca existiu.
4 - O crescimento das bibliotecas - Outras bibliotecas do mundo grego. Destaque para a biblioteca de Pérgamo. A rivalidade entre Pérgamo e Alexandria. O aumento da alfabetização no mundo grego. Ler para passar o tempo. A ligação da biblioteca com o ginásio.
5 - O começo: Roma - Como a escrita latina se desenvolveu baseada na grega. Lívio Andrônico, Plauto e Ênio, os primeiros nomes da literatura latina. As primeiras bibliotecas particulares de Roma. Como era a administração das bibliotecas particulares romanas. A compra e cópia de livros. Júlio César e o primeiro plano para criação de uma biblioteca pública.
6 - Bibliotecas do Império Romano - A cidade de Roma - As primeiras bibliotecas públicas romanas no período imperial. Bibliotecas de Augusto, Tibério, Vespasiano, Trajano, etc. A diferença entre as bibliotecas gregas e romanas. As bibliotecas nos banhos públicos romanos. Os primeiros administradores de bibliotecas públicas romanas. Divisão entre livros em latim e livros em grego. Como era a administração e organização das bibliotecas romanas, quem usava, quem eram os funcionários? Começa a venda gradual de códices (em substituição aos rolos) no século 2 d.C.
7 - Bibliotecas do Império Romano - Fora da cidade de Roma - As bibliotecas romanas e a alfabetização fora da cidade de Roma. As bibliotecas de Atenas, Éfeso, Cartago e Timgad. Como eram as bibliotecas provinciais e o que sabemos sobre elas.
8 - Do rolo ao códice - A substituição gradual do rolo pelo códice. As vantagens do códice para o livro. A introdução gradual do pergaminho em substituição ao papiro.
9 - Em direção à Idade Média - A literatura e as bibliotecas entre os séculos 5 e 7. O cristianismo e a literatura cristã. Isidoro de Sevilha e Cassiodoro. Posição da Igreja com relação aos textos antigos. Como os monastérios se tornaram novos pólos de conhecimento.
Autor: Lionel Casson
Título original: Libraries in the Ancient World
Páginas: 208
Editora: Vestígio
Primeira publicação: 2002
Ano da edição: 2018
Idioma: Português
Esta deliciosa obra conta a história das bibliotecas antigas desde suas origens, quando “livros” eram tábuas de cerâmica e a escrita, um fenômeno novo. O renomado estudioso clássico Lionel Casson nos conduz em uma animada viagem, partindo das bibliotecas reais do Antigo Oriente, passando pelas bibliotecas públicas e privadas da Grécia e de Roma, até as primeiras bibliotecas monásticas cristãs. Casson traça o desenvolvimento das construções, os sistemas, s e patronos das bibliotecas, considerando questões de uma ampla variedade de tópicos, como: quem contribuiu para o desenvolvimento das bibliotecas públicas, especialmente a grande Biblioteca de Alexandria? O que as bibliotecas antigas incluíam em seu ? Como bibliotecas antigas adquiriam livros? Qual era a natureza das publicações no mundo greco-romano? Como o cristianismo transformou a natureza dos s bibliotecários? Assim como uma biblioteca recompensa quem a explora com tesouros inesperados, este interessante livro oferece a seus leitores a história surpreendente da ascensão e do desenvolvimento de bibliotecas antigas – uma história fascinante que nunca foi contada antes.
Lionel Casson (1914-2009) foi um classicista norte-americano. Professor emérito da Universidade de Nova York e um especialista em história marítima, Casson obteve um bacharelado em 1934 na Universidade de Nova York, e em 1936 tornou-se professor assistente. Obteve o Ph.D. na mesma instituição em 1939.
CASSON, Lionel. Bibliotecas no mundo antigo. Belo Horizonte: Vestígio, 2018.
Bibliotecas no mundo antigo é um livro que descreve como o conceito de bibliotecas surgiu e se desenvolveu no mundo antigo (2500 a.C. até 500 d.C.). Essa foi a última obra escrita pelo historiador Lionel Casson, e é um dos poucos livro dele já publicados no Brasil. Confira abaixo o conteúdo dos capítulos do livro:
Exibir conteúdo dos capítulosEsse é um livro muito divertido, leve e bem escrito. Uma leitura extremamente agradável! O autor dá grande destaque para as bibliotecas no mundo greco-romano. As bibliotecas orientais são rapidamente citadas no capítulo 1, mas logo depois o autor se debruça sobre as suas versões clássicas. Casson destaca que as bibliotecas do oriente não tiveram um papel muito importante no desenvolvimento das biblitecas greco-romanas, como você confere abaixo:
Em resumo, as coleções do Oriente Próximo eram de uma natureza específica que respondia às necessidades da civilização da qual faziam parte. Deixaram de existir quando essas civilizações chegaram ao fim e não foram o embrião de bibliotecas com horizontes amplos, que estavam prestes a surgir nos mundos grego e romano. No entanto, merecem uma menção honrosa no registro histórico. Foram as primeiras a usar alguns dos procedimentos fundamentais da biblioteca. (p.26)
O livro mostra como as bibliotecas surgiram no ocidente, primeiro como bibliotecas particulares e mais tarde como bibliotecas públicas sustendas por governantes ou por doações privadas. O autor também mostra como os livros se desenvolveram, das versões iniciais em rolos de papiro até a suas versões medievais em códices de pergaminho.
Mas o livro vai muito além: descreve como a alfabetização foi se popularizando e ganhando importância, graças ao surgimento do alfabeto, e como os livros fizeram a transição de meros registros burocráticos para obras literárias de ficção e não-ficção. Essas obras podiam ser lidas por pessoas que queriam entender o mundo ou apenas se divertir no seu tempo livre.
O autor também fala sobre a administração das bibliotecas e o desenvolvimento de seus sistemas de catalogação. A forma como os livros eram adquiridos, o crescimento comércio de livros e a prática de empregar escravos copistas também são discutidos. No mundo antigo não existia o conceito de direitos autorais, então qualquer obra podia ser copiada e vendida, sem que qualquer valor tivesse que ser remetido ao seu autor original. Mesmo assim, havia uma preocupação, por parte dos leitores, com a autenticidade dos textos e havia uma preferência por fazer cópia de um original confiável ao invés de comprar uma versão com um vendedor.
A obra de Casson é escrita para um público mais geral e menos exigente. Com relação às antigas obras escritas, o autor não se preocupa em detalhar com clareza o que sobreviveu e o que se sabe somente por outras fontes. E no geral, a obra dá mais importância a fluidez do texto do que a descrição de fontes e interpretações mais complexas de escavações e textos antigos. O resultado é um texto leve e agradável.
Há alguns trechos em que o autor faz longas descrições sobre a organização e a arquitetura das bibliotecas que me pareceram um pouco confusos. Pessoalmente, sempre prefiro ilustrações ao invés de longas e tediosas descrições que podem não ser muito claras. E achei que muitas dessas descrições realmente não ficaram muito inteligíveis.
A partir da metade da obra o livro passa a contar com mais ilustrações. Normalmente mapas de escavações de bibliotecas ou pinturas e mosaicos que retratam pessoas com livros ou ambientes de leitura. Não há uma preocupação muito grande com citar fontes, embora uma lista simples de referências às ilustrações esteja presente ao final da obra.
Essa obra também está disponível na Library Genesis. Quem tiver interesse em saber informações detalhadas sobre o conteúdo do livro pode conferir minhas anotações de leitura e as fotos da obra, links para ambos na tarja acima dessa resenha.
Pretendo ler outros livros do autor no futuro. Quem tem interesse em confirar outras obras dele pode ler os seguintes livros (em inglês) disponíveis na Library Genesis. O tema central da maior parte das obras do autor são os barcos e as viagens no mundo antigo:
Resenha escrita em 22/07/2023.
Moacir tem 37 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.
Importância da escrita alfabética
Algum tempo antes do início do primeiro milênio a.C., os fenícios desenvolveram uma forma de escrita alfabética. Por volta de meados do século VIII a.C. os gregos, que nessa época tinham contatos comerciais bem estabelecidos com os fenícios, pegaram emprestada essa forma de escrita e a adaptaram para a sua própria língua. Como observamos, as várias formas de cuneiforme, com seus múltiplos sinais, requeriam longo e árduo treinamento, e a escrita, consequentemente, se restringia a uma classe profissional. A escrita alfabética que os gregos inventaram, com duas dúzias ou mais de sinais capazes de representar cada palavra na linguagem, abriu caminho para a alfabetização rápida e fácil. (p.29)
Forma de ler e escrever em papiro
A escrita em papel de papiro era feita com caneta e tinta. A tinta era, normalmente, de fuligem em água, e as canetas eram de junco apontado até um ponto e dividido como uma pena de caneta moderna. Um escriba encarregado de escrever uma obra em um rolo arrumaria o texto em colunas paralelas umas às outras, estendendo-se, com espaço para as margens, desde a borda superior até a inferior. Depois de completar uma coluna, ele enrolaria com a mão esquerda e, em seguida, desenrolaria com a mão direita para obter espaço para a coluna seguinte. Os leitores iriam manusear os rolos da mesma maneira, com a mão esquerda enrolando cada coluna após leitura e desenrolando com a direita para chegar à próxima. (p.38)
Pré-requisitos para surgimento de bibliotecas públicas foram atingidos no final do século 4 a.C.
Em suma, por volta do fim do século IV a.C., os pré-requisitos para a criação da biblioteca pública haviam sido preenchidos. Obras sobre uma variedade de assuntos estavam disponíveis. O scriptoria passou a existir para produzir várias cópias, e havia negociantes para vendê-las. Com livros facilmente adquiridos, as pessoas começaram a colecioná-los e se tornaram conscientes do quão úteis essas coleções poderiam ser. Tudo isso implicou em um sólido aumento do número daqueles que não apenas eram alfabetizados, mas liam por prazer e para proveito próprio. (p.41)
O problema das aquisições de livros na Biblioteca de Alexandria
O primeiro problema que os Ptolemeus enfrentaram foram as aquisições. O Egito ostentava uma cultura longa e distinta, e havia livros – em egípcio – em grande quantidade em todo lugar. Havia livros gregos para serem comprados em Atenas e Rodes e em outros reconhecidos centros de cultura grega, mas não na recém-desenvolvida Alexandria. A solução encontrada pelos Ptolemeus foi o dinheiro e a arbitrariedade. Eles enviavam agentes com bolsas cheias de dinheiro e ordens para comprar qualquer livro que pudessem, de qualquer tipo, sobre todos os assuntos, e, quanto mais antigo fosse o exemplar, melhor. Os livros antigos eram preferidos porque, tendo sofrido menos recópias, estavam muito menos propensos a conter erros. Os agentes seguiam as ordens tão energicamente que, segundo uma antiga autoridade, para atender à demanda, surgiu uma nova indústria – a falsificação de exemplares “antigos”. O que os Ptolemeus não podiam comprar, eles requisitavam: por exemplo, confiscavam quaisquer livros encontrados em navios que estivessem descarregando em Alexandria; os proprietários recebiam cópias (uma das vantagens que os Ptolemeus realmente tinham era ter papel de papiro de sobra para realizar as cópias) e os originais iam para a biblioteca. Ptolemeu III estava tão concentrado em se apoderar das versões oficiais de Atenas das peças de Ésquilo, Sófocles e Eurípides que estava disposto não só a gastar uma enorme quantia, mas também a trapacear na negociação. Pediu emprestados os preciosos rolos para fazer cópias deles. Os patriarcas da cidade devem ter suspeitado, pois insistiram que ele pagasse uma caução de quinze talentos – uma soma enorme, o equivalente a milhões de dólares – para assegurar o seu regresso. Ele fez as cópias corretamente, usando um luxuoso conjunto de papéis de papiro da mais fina qualidade, e as enviou de volta em vez dos originais. Não havia nada que os atenienses pudessem fazer, exceto ficar com a caução. (p.47-48)
Ler para passar o tempo
Aqueles que eram alfabetizados não limitavam suas leituras apenas a fins utilitários. Em uma carta para um amigo, um residente de uma cidade egípcia escreve: “Se você já copiou os livros, envie-os, assim teremos algo que ajude a passar o tempo, porque não temos ninguém com quem conversar”. Havia muitos egípcios que, como esse, eram pessoas que liam para passar o tempo. Temos os restos do que eles liam para provar isso: entre os escritos em papiro que foram encontrados juntamente com os papéis governamentais, as reclamações para oficiais, os arrendamentos, os empréstimos, as cartas e os memorandos, entre outros, às vezes havia partes de peças literárias, às vezes obras inteiras. Nenhuma delas foi descoberta em Alexandria, uma vez que esta cidade se situa na úmida região do delta, onde o papiro não consegue sobreviver. Podemos acreditar que a cidade, sede da burocracia dos Ptolemeus e grande centro cultural, tinha tantos leitores como qualquer outro lugar no mundo antigo. Os escritos literários que sobreviveram vieram do restante do Egito e revelam que a leitura de livros continuou vigorosamente fora da capital e por toda a Terra, até mesmo, como foi mostrado na carta que acabamos de citar, em vilarejos. Também revelam quais autores as pessoas liam e, se podemos confiar em uma estimativa aproximada baseada no número de restos encontrados de cada um, quais autores eles preferiam. (p.70)
Diferença entre bibliotecas gregas e romanas
As bibliotecas gregas eram, essencialmente, pilhas de livros. Nenhuma instalação era fornecida aos leitores; eles precisavam trabalhar em uma colunata contínua que era parte do complexo onde a biblioteca estava inserida, não da biblioteca em si. As bibliotecas romanas eram exatamente o contrário: projetadas fundamentalmente para os leitores, forneciam espaços e, ambientes bonitos onde eles podiam trabalhar. Os próprios livros ficavam nas proximidades, ainda que fora do caminho, em prateleiras dentro das paredes. Tais salas, com seus nichos dispostos com bom gosto e, muito provavelmente, embelezados por estantes com portas de madeiras preciosas e artisticamente esculpidas, eram algo muito agradável aos olhos, mas, imprudentemente, representavam um desperdício de espaço, fator que certamente criava problemas quando as coleções cresciam. (p.104)
O ocidente Romano não era ignorante, o fato é apenas que poucas bibliotecas ou registros delas sobreviveram
O fato de somente duas bibliotecas terem sido comprovadas no oeste de Roma não significa, necessariamente, havia apenas essas poucas, mas sim que quaisquer que fossem as outras, haviam desaparecido entre as rachaduras dos registros históricos. Nossa informação sobre a existência de bibliotecas antigas, bem como sobre muitos aspectos do mundo antigo, deriva de fontes aleatórias. Sabemos da biblioteca de Cartago somente por causa de um comentário de um escritor; sabemos da de Timgad somente graças a uma escavação excepcionalmente meticulosa do local onde estava situada. Acontece que, na miscelânea de escritos gregos e romanos que por um motivo ou outro chegaram até nós, não há nenhuma menção sobre bibliotecas em, digamos, Marselha ou Narbona, embora haja razões para se acreditar que elas existiram nesses lugares. E quando os arqueólogos escavarem em outros lugares tão abrangentes quanto Timgad, podem muito bem encontrar uma inscrição registrando a doação de uma biblioteca por um benfeitor, ou desenterrar os restos de um edifício com os característicos nichos de estantes de livros em suas paredes. (p.140)