Nossa Herança Clássica

DURANT, Will. Nossa Herança Clássica. Rio de Janeiro: Record, 1995.

Esse é o segundo volume da gigantesca série A História da Civilização, escrita por Will e Ariel Durant e publicada no Brasil em 11 volumes pela Editora Record. Como cada um dos volumes é muito extenso, também há uma edição mais antiga que divide as obras em múltiplos tomos, fazendo com que, nessa versão, essa coleção tenha mais de 20 volumes.

Eu sou um grande fã da obra de Will Durant e pretendo postar aqui no site as resenhas de todas essas obras nos próximos anos (são mais de 8000 páginas!).

Nossa Herança Clássica é um livro totalmente dedicado a civilização da Grécia Antiga, desde os primórdios na ilha de Creta, até a conquista romana em 146 a.C.

A obra é dividida internamente em cinco livros, os seguintes:

1. Prelúdio Egeu (3500-1000 a.C.) - pág. 2/52 - Creta Minóica, Período Micênico e Idade das Trevas Grega
2. Ascensão da Grécia (1000-480 a.C.) - pág. 53/190 - Período Arcaico
3. A Idade de Ouro (480-399 a.C.) - pág. 192/358 - Período Clássico
4. Declínio e queda da liberdade na Grécia (399-322 a.C.) - pág. 359/435 - Do fim da guerra do Peloponeso à morte de Alexandre o Grande
5. A Dispersão Helenística (322-146 a.C.) - pág. 436/526  - Da morte de Alexandre o Grande à conquista romana
   
   

Os pontos negativos

Essa é uma obra muito boa, então citarei rapidamente os pontos negativos antes de me debruçar sobre os grandes pontos positivos.

A obra não conta com nenhuma ilustração e nenhum mapa. Essa falta de mapas é especialmente ruim nos primeiros capítulos, quando o autor faz alguns comentários sobre a situação geográfica e localiza as cidades e os locais mais importantes da civilização grega.

As vezes parece que o autor se importa mais com a forma, em detrimento do conteúdo. Seu estilo de escrita é belíssimo, mas Durant ocasionalmente parece se perder em devaneios, se dedicando demais a exibir sua própria erudição (que é impressionante, sem dúvida).

A fonte do livro é muito pequena. A obra tem cerca de 500 páginas mas fica a impressão que o livro poderia ter tranquilamente 1000 páginas, se a fonte fosse colocada em um tamanho mais agradável. Como se isso não bastasse, há algumas partes do livro onde a fonte fica ainda menor. Isso porque o autor decidiu colocar em um tamanho menor as partes que não são totalmente essenciais para a leitura, embora em muitas ocasiões eu tenha ficado com a impressão de que alguns dos textos mais interessantes foram marcados dessa forma.

Essa é uma obra muito extensa, lendo cerca de 3 horas por dias eu levei 22 dias para ler esse livro.

O livro é excelente, mas os primeiros capítulos que tratam da civilização minóica, micênica e da Idade das Trevas deixam um pouco a desejar e são o ponto fraco da obra. Embora não sejam ruins,  as vezes são um pouco confusos em comparação com o resto do livro.

Em algumas partes da obra o autor se refere a datas depois de Cristo com a abreviatura a.d.. Esse é um erro de tradução, o a.d. é o equivalente em inglês do d.C. (depois de Cristo) usado no português do Brasil.

Os Pontos Positivos

A pesquisa para essa obra foi primorosa! O autor traz dados que outros livros não trazem, criando um quadro muito mais complexo, rico e vivo. O autor se utiliza muito de fontes primárias, como trabalhos de historiadores gregos, obras de arte e peças de teatro; e também cita comentários de diversos historiadores modernos.

Em cada linha da obra fica clara a paixão de Will Durant pela História.

O autor dá um caráter bastante humano a História ao contar os dramas e alegrias da vida de indivíduos da época, para ilustrar o momento histórico que está trabalhando. Will Durant destaca as grandes personalidades, mas não de uma forma positivista, ele faz isso para dar vida aos acontecimentos e vê esses grandes nomes como resultado do momento histórico e não como criadores desse momento.

A obra trabalha a História focando principalmente nas questões políticas e culturais. O autor dedica longos capitulos ao desenvolvimento da filosofia, das artes e à vida cotidiana. Guerras e batalhas são ocasionalmente citadas, mas, na maior parte do tempo, o autor não dá grande importância a elas. Os dois conflitos militares mais importantes da Grécia Antiga, as Guerras Médicas e a Guerra do Peloponeso, recebem 8 e 16 páginas, respectivamente.

Will Durant faz muitos comentários sobre a arte de todas os períodos, citando muitos exemplos. Ele normalmente fala em que museu a arte se encontra no momento, mas o livro não apresenta nenhuma foto. Por isso, para tirar mais proveito dessas passagens, fui obrigado a ler muitos capítulos com o smartphone na mão, fazendo constantes pesquisas na internet para ter uma referência visual do que o autor estava falando. Mas esse não é um problema apenas dessa obra, mas uma caractéristica de todos os livros de História.

Will Durant, o conservador

Durant é um conservador, e destaca o papel dos conflitos de classes como uma sucessão de ricos se corrompendo pelo luxo, e pobres se corrompendo pelo assistencialismo. Ao longo da obra, ele também rotula qualquer ideia de mudança como uma "utopia".

Mesmo assim, chama a atenção a capacidade de crítica e imparcialidade que o autor demonstra durante a obra. Os capítulos que tratam dos conflitos de classe na Atenas do século 6 são simplesmente maravilhosos!

Veredito final

Essa é uma obra maravilhosa! Embora algumas partes do livro sejam um pouco arrastadas, na maior parte do tempo essa é uma obra de leitura extremamente prazerosa e muito informativa.

Os capítulos referentes a Atenas (5), Esparta (4), Péricles (11), a Literatura e o teatro da Era Clássica (17), ao auge da filosofia grega (21) e todos os capítulos que traram do período Helenístico (22 ao 29) são obras-primas da escrita! Esse é um livro imperdível para quem se interessa por esse período.

Se você puder ler apenas um livro sobre a História da Grécia Antiga, leia esse!

Resenha escrita em 26/05/2019.