WHITBY, Michael. Rome at War AD 293–696. Oxford: Osprey Publishing, 2002.
Essa é uma obra estranha sobre o Baixo Império Romano. O livro, que faz parte da coleção Essential Histories (Histórias Essenciais) da editora britânica Osprey, tenta tratar de tudo um pouco e acaba tratando de quase nada.
Vamos começar pelo título: Roma em guerra 293–696 d.C.:
O ano 293 é o início da tetraquia, governo de quatro imperadores estabelecido pelo imperador Dioclesiano. Porque o autor escolheu destacar esse ano é um mistério, afinal a obra começa falando da crise do século 3 e de eventos que ocorreram muito antes dessa data, além disso a data 293 normalmente não é citada por outros historiadores, que preferem destacar o ano de 284, quando Dioclesiano subiu ao poder.
O grande mistério, no entanto, é o ano de 696. O único local no livro onde ele é citado é na capa. O número 696 não aparece em nenhum outro lugar do livro, nem mesmo na lista de evento, que cita as datas mais importantes. Isso porque o ano de 696 não foi importante e nada de relevante realmente aconteceu nesse ano! Não acredita em mim? Dê uma olhada na página do Wikipédia sobre o ano 696. E a última data citada dentro do livro é o ano de 800, esse sim um ano importante na história, quando o papa coroou Carlos Magno como imperador.
No livro o autor tenta dar destaques iguais para o império romano do oriente e do ocidente, mas o problema é que nesse período os dois seguiram caminhos completamente opostos, e enfrentaram desafios diferentes. O império do ocidente deixou de existir em 476 e o oriente, com capital em Constantinopla, continou forte, inclusive sobrevivendo a cercos dos persas e ávaros (626) e das tropas árabes (674–678 e 717-718).
O autor é um defensor do conceito de "Antiguidade Tardia", uma periodização criada pelo historiador Peter Brown, que basicamente afirmava que as invasões que ocorreram entre os anos de 300-600 não causaram grandes problemas, muito da herança romana foi mantida e o período que normalmente é conhecimento como "Idade das Trevas" teria sido uma época de transição, mas não de declínio. Ou seja, para esses historiadores a queda do império do ocidente não representou uma ruptura real, os reinos bárbaros invasores não eram tão bárbaros assim e mantiveram as tradições romanas e o ocidente, mesmo com a destruição do império, se manteve muito similar ao que era antes.
É óbvio que para manter essa farsa, Michael Whitby é obrigado a passar por cima de todos os saques, massacres e destruições causadas pelos exércitos germânicos e hunos, o que ele faz sem dificuldades. Essas invasões são trabalhadas de forma muito superficial em sua obra.
O resto do livro o autor passa falando sobre como os bizantinos suportaram os ataques persas, coisa que eles também já vinham fazendo desde o século 3. Percebe? Tudo continuou igual, não houve grandes mudanças.... Quer mais uma prova de que as invasões não significaram nada? Antes das invasões já existia o cristianismo, e ele continou a existir depois! Viu só! Não houve crise ou colapso.
Eu simplesmente não tenho nada de positivo para falar sobre esse livro. Até há alguns momentos do livro em que o autor cita alguns dados interessantes, mas ele não se aprofunda em nenhum deles. Então a leitura é desagradável e pouco fluida.
Se você não sabe absolutamente nada sobre o período, talvez ache alguma coisa interessante nele. Mas de preferência leia outra obra. O livro A queda do Império Romano - A explicação militar é muito melhor, e apresenta muitas informações e teorias interessantes e mostra o verdadeiro impacto das violentíssimas guerras germânicas no século 4 e 5. Outro bom livro sobre o período de invasões bárbaras é a obra História dos Reinos Bárbaros. São duas obras que recomendo.
Resenha revisada em abril de 2021.
Resenha publicada em 01/05/2020.
Escrita por
Moacir Führ
Moacir tem 35 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.