Autor: Pierre Montet
Título original: La vie quotidienne en Égypte au temps des Ramsès, 1300/1100
Coleção: A Vida Cotidiana
Páginas: 367
Editora: Companhia das Letras
Ano da edição: 1989
Idioma: Português
Arqueólogo consagrado, Pierre Montet reconstituiu aqui o dia-a-dia dos habitantes das cidades e do campo do Egito antigo. Isso nos permite acompanhá-los desde sua toalete matinal até o serão com jogos ou conversas, passando pelo trabalho em seus variados aspectos. Lazer, comércio, estudos, viagens, culto, banquetes com muita cerveja e assistidos por servas seminuas e por músicos - tudo é mostrado em detalhe para que penetremos, a partir daí, na complexa e não raro corrupta hierarquia do poder; na autoridade divina do faraó (também visto de perto em seus encargos e na intimidade); e até nas disputas entre os deuses. Trata-se, em suma, de um microcosmo capaz de descortinar todo o esplendor dessa civilização.
Pierre Montet (1885-1966) dirigiu, no Líbano e no Egito, expedições arqueológicas que resultaram em algumas das mais importantes descobertas do século. Se tornou mundialmente conhecido pela descoberta da tumba do faraó Psusennes I (r.1039-991 a.C), em Tânis. Professor da Universidade de Estrasburgo e do Collège de France, destacou-se também como membro renomado de institutos de arqueologia da França, do Egito e da Alemanha.
MONTET, Pierre. O Egito no Tempo de Ramsés. São Paulo: Companhia das Letras/Círculo do Livro, 1989.
O Egito no Tempo de Ramsés é uma obra escrita pelo famoso arqueólogo francês Pierre Montet. O livro faz parte da série A Vida Cotidiana, uma coleção que trata de descrever a vida das pessoas e suas experiências culturais em momentos históricos importantes. A obra foi lançada no Brasil pela Companhia das Letras em parceria com a Círculo do Livro, no início da década de 1990.
Para uma descrição detalhada dos temas apresentados na obra, veja a foto do índice do livro na galeria acima. Há muitas coisas a dizer sobre essa obra, por isso irei dividir meus comentários em duas seções: Pontos Positivos e Negativos.
O autor usa muitas fontes primárias para compor sua obra: textos literários, documentação gravada em papiros, paredes de templos, objetos recuperados. Montet claramente possuí um grande conhecimento das escavações no Egito Antigo.
A quantidade de temas abordados é absurda! São muitos tópicos, pouca coisa fica de fora. Realmente é um livro bastante completo, que ajudará qualquer pessoa a ter uma noção muito clara de como era a vida do egípcio pobre e do egípcio rico. Alguns capítulos desse livro são excelentes, e acredito que para os leitores com um conhecimento básico sobre o Egito Antigo, a maior parte das informações apresentadas será uma grande novidade. É uma obra de nível intermediário.
Agora trabalharei em cima de alguns aspectos negativos da obra, mas que fique claro: o livro é útil, talvez sua leitura seja cansativa, mas é uma boa fonte para pesquisa, sem dúvida.
Minhas principais críticas a essa obra podem ser divididas em três pontos, vamos a eles:
O livro conta com apenas 13 ilustrações em preto e branco de baixa qualidade. Elas estão atiradas no meio do livro e não servem para muita coisa. Esse é um aspecto muito triste dessa obra. O autor passa boa parte do livro descrevendo ilustrações, lugares e objetos, e a falta de ilustrações que acompanhassem o texto é uma grande oportunidade perdida.
As descrições do autor são, normalmente, cansativas, mas a utilização do auxílio visual transformaria esse livro em uma obra muito mais útil. Em algumas ocasiões, Montet até dá boas referências, assim o leitor pode encontrar o objeto ou local que ele está descrevendo na internet. Mas em muitos casos ele apenas comenta "há um objeto no museu tal" ou "no local tal foi encontrado um objeto desse tipo".
Essa característica, de ignorar completamente a referência visual e, em pleno século 20, escrever uma obra descrevendo objetos sem colocá-los no livro é imperdoável. A pouca importância que os estudiosos dão para as imagens me deixa estupefado. A referência visual é essencial para a compreensão da História!
O livro não possui um índice remissivo. Eu não consigo entender como um livro voltado para o público acadêmico não conta com um índice por tema. É um absurdo! Ainda mais pelo fato de que, pela forma como foi escrita, essa não parece ser uma obra feita para ser lida do início ao fim. Mas antes parece servir como uma ferramenta de pesquisa e leitura ocasional.
Esse é um bom livro, um livro útil, mas a forma como o texto foi escrito torna a leitura de um tema muito interessante em um evento cansativo. A escrita é arrastada e desorganizada, embora haja uma divisão por capítulos e subcapítulos, e isso facilite um pouco.
O autor romantiza a História, ao invés de problematizá-la. Montet apenas narra fascinado os causos mostrados na literatura e na documentação egípcia. Essa falta de análise crítica parece, infelizmente, ser o padrão dos estudiosos da civilização egípcia. Devido a isso, alguns capítulos do livro são quase que completamente inúteis, alguns tópicos são vistos muito superficialmente, e embora haja muita informação, há pouca ideia de como apresentá-la.
O autor tenta, em alguns momentos, romantizar o período e criar uma narrativa, e isso só consegue tornar a escrita mais entediante. Dos livros que li sobre o Egito Antigo, até o momento, esse é o mais tedioso e com a escrita mais truncada e pouco fluída. Também há momentos em que dá pra notar que ele está descrevendo alguma pintura ou passagem literária, mas ele nem sempre se importa de deixar claro que está fazendo isso e qual é o item que está sendo descrito.
A capa do livro apresenta uma imagem da Estela do Harpista (Harpist's Stele) que está em exibição no Museu do Louvre. É interessante que, embora o livro fale do período dos Ramsés, a ilustração de capa é de um período completamente posterior. Esse tipo de estela é do 3° período intermediário (1069-664 a.C), e apresenta o deus com cabeça de falcão Rá-Horakhty (uma junção dos deuses Rá e Hórus).
O livro também foi lançado em uma versão em capa dura, que conta com uma imagem clássica da tumba de Sennedjen, um artesão de Deir El-Medina. Abaixo você confere a capa dessa versão:
Resenha escrita em 28/01/2019.
Moacir tem 37 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.