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Devoção e escravidão A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos no distrito diamantino no século 18

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Capa do livro Devoção e escravidão, de Julita Scarano
Informações técnicas

Autor: Julita Scarano
Coleção: Brasiliana
Páginas: 192
Editora: Companhia Nacional
Ano da edição: 1978
Idioma: Português

Sinopse

Os estudos monográficos, resultado da elevação do ensino da História, no país, ao nível de pós-graduação, vão revelando aspectos cada vez mais complexos da vida social na colônia. Ao simplismo dos relatos primitivos que reduzia a administração na época a uma hierarquia única, absoluta e pavorosa, tudo qualificado com um termo vago e abusivo de feudal, vem sendo substituída uma organização bem mais humana e ativa. Um dos pontos menos estudados era exatamente a atividade dos sodalícios religiosos que, com extrema e notável maleabilidade, abrangiam todas as camadas sociais. (Hesitamos em empregar a expressão mais precisa de classe.) Há quem desconheça, ou se recuse a reconhecer essa rede que se estendia por toda a população e nela difundia profundamente os princípios do cristianismo, pressupostos de toda a construção jurídica, sem os quais o Estado não se justificaria e se desmantelaria.

Este livro é um estudo honesto e em profundidade de um sodalício, pelo qual se verifica a injustiça de considerar a prática dos sacramentos uma superfetação das camadas privilegiadas. Pelo contrário, as autoridades eclesiásticas e civis lutaram sempre pela igualdade de escravos e senhores perante os benefícios oferecidos pela Igreja no terreno espiritual. As organizações religiosas, regularmente estabelecidas conforme ambos os direitos, o civil e o canônico, constituíam uma trincheira na qual se defendiam os direitos, até dos ínfimos escravos, ao acesso à vida religiosa. Se estas organizações não houvessem atuado, o povo não teria sido cristianizado e é duvidoso que a nação houvesse conservado a base de crença religiosa que até hoje está resistindo à onda de dessacralização da vida social.

Este trabalho é igualmente uma demonstração dos obstáculos que terá de enfrentar o investigador brasileiro para atingir as fontes essenciais ao estudo de qualquer tema da era colonial. A publicação de documentos existentes além-mar é ínfima em face do acervo existente. É preciso ir aos arquivos portugueses e atingir diretamente os papéis que aguardam uma corajosa e cada vez mais urgente divulgação sistemática e completa. Para esse empreendimento é preciso o apoio de entidades. Na lista dos agradecimentos, cuidadosa e conscienciosamente elaborada pela autora, verifica-se o número considerável de autoridades que deram apoio eficaz a um trabalho indefesso de anos seguidos a fim de que G estudo não se limitasse a uma monótona repetição dos velhos cronistas, que não podiam prever os pontos em que hoje nos colocamos para examinar os problemas que eles encaravam de forma simplesmente piedosa.

Por trás de uma organização religiosa repontava uma defesa de interesses profissionais que nós hoje chamaríamos de corporativos. A onda absolutista vai arrasar estes movimentos que se opunham a um domínio total do Estado sobre o indivíduo. O manto sagrado da Igreja acobertou ainda longo tempo uma estrutura social que estava realizando eficazmente uma obra humana de solidariedade.

A bibliografia a respeito desse aspecto da estrutura social da colônia ainda é escassa. Foi um desafio aos jovens investigadores brasileiros anteciparem-se, com a vantagem que levam de conhecimento da língua - e sobretudo com maior sensibilidade para as reações do ambiente - aos "brasilianistas" de várias nacionalidades que se debruçam diante das revelações da história do Brasil, até bem pouco tempo considerada uma simples projeção da influência européia. Ainda é de minha geração a recusa de estabelecimentos estrangeiros em ensinar aos alunos, e principalmente às alunas, a história nacional. "O Brasil não tem história", dizia convictamente uma professora, aliás competente e de boa fé. E realmente aquilo que se encontrava nos velhos compêndios, com raras exceções, era um árido aranzel de fatos banais, ou panfletos políticos destituídos de qualquer senso científico.

São pesquisas desse tipo, nos setores religioso, econômico. administrativo, artístico e cultural, que vão fornecer uma verdadeira renovação histórica. Não uma demonstração de conclusões já antecipadamente previstas, às quais o pesquisador é compulsoriamente forçado a chegar dentro de um esquema previamente aceito. Mas uma pesquisa autêntica, elaborada à vista dos fatos e documentos, com instrumentos ascéticos e válidos.

O Brasil tem uma história, que não é uma simples aplicação dos princípios do colonizador, mas essa história terá de ser continuamente renovada pela pesquisa e pelas indagações derivadas de novos problemas específicos.

Historiador
Julita Scarano

Julita Scarano é poeta, contista, historiadora, ensaísta. Formou-se em História e dedicou-se à carreira universitária. Sua produção intelectual caracteriza-se pela pluralidade de temas, organizados pelo fio condutor: Brasil. A partir dele, abordou tópicos como a escravidão, a religião e a imigração. Pesquisadora e ensaísta, publicou regularmente na imprensa e revistas especializadas. Entre várias obras, destacam-se Negros nas terras de ouro: cotidiano e solidariedade século XVIII , Saímos a rever estrelas e Fé e milagre . Atenta para a formação dos jovens, escreveu textos dirigidos ao público infantil, como Uma viagem aventurosa: percorrendo o Brasil em 1850 e Descobrindo o Brasil , onde manteve o rigor teórico e metodológico da pesquisa histórica.

Análise do livro

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