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Comparação entre Agesilau II e Pompeu, de Plutarco

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Depois de relatar as vidas do grego Agesilau II (444-360 a.C.) e do romano Pompeu (106-48 a.C.), Plutarco traça aqui uma comparação dessas duas personalidades do mundo antigo. Esse texto faz parte da série de biografias escritas por Plutarco (c. 46-120), um historiador grego que viveu no Império Romano. Na série Vidas Paralelas, o autor compara vários nomes da história grega com seus equivalentes romanos.

I. Tendo assim exposto as vidas de Agesilau e de Pompeu, vamos agora conferi-las juntas, tocando ligeiramente nas diferenças que há entre os dois, que são as seguintes: a primeira é que Pompeu alcançou a sua glória e poder por uma via muito justa, tendo ele mesmo a iniciativa e, em vários e grandes empreendimentos, ajudou Sila a libertar a Itália do domínio dos tiranos; quando parece, ao contrário, que Agesilau usurpou a realeza da Lacedemônia contra todo o direito dos deuses e dos homens, fazendo declarar Leotíquidas bastardo, que seu pai havia confessado ser seu filho legítimo, transformando em sarcasmo a profecia dos deuses, que se referia a uma realeza manca. A segunda é que sempre demonstrou honra e respeito a Sila, enquanto viveu e, ainda depois de morto, sepultou o corpo honradamente, apesar de Lépido, e deu sua filha em casamento a Fausto Sila, seu filho; Agesilau expulsou e desonrou Lisandro por motivo fútil e, no entanto, Pompeu não havia feito menos por Sila como este por ele. Ao contrário, Lisandro havia feito Agesilau rei da Lacedemônia e capitão-geral de toda a Grécia. A terceira é que as injustiças que cometeu Pompeu no governo, foram em favor de seus aliados; pois a maioria dos erros que praticou, foi para comprazer a César e a Cipião, seus dois sogros, quando Agesilau, para gratificar o amor de seu filho, salvou a vida a Esfódrias, que havia merecido a morte pelos danos causados aos atenienses e sustentou afetuosamente Fébidas, a não ser por outro motivo senão pelo crime que cometeu, ultrajando os tebanos em plena paz. Em resumo, os mesmos males que Pompeu suscitou aos romanos por ignorância ou por não ter recusado nada a seus amigos, Agesilau os fez por cólera e por obstinação contra os seus, tendo inflamado a guerra contra os beócios.

II. É preciso considerar a sorte de um e de outro entre os erros que cometeram; os romanos não podiam esperar nem temer a de Pompeu, ao passo que a de Agesilau não permitiu aos lacedemônios evitar os inconvenientes que conheciam e previam, por ser um rei manco. Pois se bem que Leotíquidas tivesse dez mil vezes sido provado e se evidenciado como bastardo, nem por isso a raça dos Eurotionidas ficou curta, por não poder fornecer um outro rei legítimo, que caminhasse direito, se não houvesse Lisandro, em favor de, Agesilau, procurando encobrir aos lacedemônios a verdadeira interpretação do oráculo. Mas também, por outro lado, nunca se encontrou tão sábia inovação em matéria de lidar com os homens, como aquela de Agesilau quando, procurando remediar a desconfiança e dificuldade em que se achavam os lacedemônios, se referiu àqueles que haviam fugido da batalha de Leutres ao aconselhar que deixassem dormir as leis durante aquele dia; não se poderia opor em contrário igual gesto de Pompeu, o qual não quis observar as leis que ele mesmo havia feito, para demonstrar aos seus amigos que tinha poder. Quanto a Agesilau, encontrando-se em tal situação, viu-se constrangido a abolir as leis para salvar a vida a seus concidadãos e inventou um tal expediente, pelo qual as leis não prejudicaram o público nem foram abolidas pelo medo.

III. Dou também o título de virtude civil e ato de sábio governo, ao incomparável feito de Agesilau quando abandonou todas as conquistas que havia feito na Ásia, logo que recebeu o apelo que lhe enviavam de seu país, chamando-o de volta; pois não fez como Pompeu, o qual se tornou grande, aproveitando-se da ocasião; assim, em oposto, em atenção ao bem público, abandonou uma glória e grande poder, como nenhum capitão, nem antes, nem depois houve igual nesses setores, exceto Alexandre, o Grande. E para retomar um outro caminho, referir-me-ia aos feitos de guerra e proezas de armas; quanto ao número dos triunfos pel as vitórias ganhas e o poder dos exércitos que Pompeu conduziu, penso que Xenofonte mesmo, se vivesse, não saberia comparar as vitórias de Agesilau, ainda que pelas outras belas e boas qualidades que possuiu, lhe tenham concedido isto como um privilégio especial, poder dizer e escrever tudo o que desejou desse príncipe; parece-me que há ainda diferença entre esses dois personagens, quanto à equidade e bondade que tiveram para com seus inimigos; pois um, querendo escravizar a cidade de Tebas e por completo exterminar e destruir a de Messena, uma sendo em tudo e por tudo cidade antiga de seu país e a outra cidade-mãe e capital de toda a nação beócia, bem pouco faltou para que não perdesse ele mesmo a cidade de Esparta; aliás, perdeu ela a primazia que tinha sobre toda a Grécia. E o outro, em oposição, deu as cidades para os corsários habitarem, aos que quiseram mudar seu modo de viver; e estando em seu poder levar Tigranes a Roma em triunfo preferiu mais fazê-lo aliado e confederado dos romanos, dizendo que lhe era mais cara a glória de todo um século, do que a de um dia.

IV. Mas, se é razoável atribuir o primeiro lugar e o primeiro prêmio de honra da virtude militar de um capitão, às maiores proezas e feitos de armas de maior repercussão, o lacedemônio deixa o romano muito atrás, pois primeiramente não abandonou nunca sua cidade, nem saiu, ainda que fosse assaltada por setenta mil combatentes e que tivesse dentro poucos soldados de defesa, os quais haviam sido pouco antes derrotados na batalha de Leutres; e Pompeu, por ter ouvido dizer que César, com cinco mil homens da infataria somente, se havia apoderado de uma cidade da Itália, fugiu de Roma, tão grande era seu pavor. Assim, teria que optar por uma ou outra coisa: fugir covardamente devido aos poucos soldados de que dispunha ou encarar com otimismo a situação; pois que levou sua mulher e seus filhos, mas abandonou os outros, fugindo, quando precisava ou vencer, combatendo pelo seu país, ou receber as condições de paz que lhe oferecia aquele que era o mais forte; pois além de tudo, era um seu concidadão e um aliado seu. E ele, que havia estimado ser coisa insuportável prolongar o termo de seu governo, ou lhe ceder um segundo consulado, dá-lhe meios e ocasião, deixando-o apoderar-se da cidade de Roma e dizer a Metelo e aos outros que os considerava seus prisioneiros de guerra.

V. O que portanto é o principal num bom comandante, obrigar seus inimigos a virem ao combate quando se sente o mais forte, e, quando é o mais fraco, evitar ser constrangido, Agesilau, observando bem, manteve-se sempre invencível; e César soube bem evitar não ser nunca prejudicado quando era o menos poderoso e, ao contrário, soube agir tão bem que obrigou Pompeu a aventurar-se em sua ruína total na batalha em terra, onde se sentia mais fraco e tornando-se por esse meio, sem demora, senhor do dinheiro, dos víveres e do mar, quando seus inimigos tinham tudo nas mãos, sem combater. E o que se alega procurando escusá-lo, é o que mais gravemente o acusa e condena, mesmo para um tão grande e tão experimentado capitão. Pois como é concebível que um jovem comandante possa ser desviado de um conselho sábio e seguro pela gritaria e tolices de aniquiladores de cabeças, que lhe puseram ante os olhos, aquilo que lhe seria uma grande vergonha e uma covardia de coração?

Mas, se fizesse de outro modo, também seria aquele erro perdoável. Mas o grande Pompeu, a cujo acampamento os romanos denominavam seu país, e sua tenda o Senado, e chamavam aos que estavam em Roma, manejando os negócios da república, pretores e cônsules, de rebeldes e traidores do império romano; aquele que não havia visto jamais ser comandado por outrem, mas que havia sido sempre capitão em tantas guerras em que se achara e onde sempre agira bem; quem poderia desculpá-lo de se deixar ir, como se diz, forçar as mordacidades de Faônio e Domício, até a aventurar uma batalha onde estava em jogo toda a situação do império e da liberdade de Roma, e pelo medo chamassem o rei Agamenon?

VI. Pois se não considerava somente a desonra e a infâmia presentes, devia fazer frente e combater desde o início mesmo pelas muralhas da cidade de Roma, não dando a entender que sua fuga fosse uma imitação de ardil, como outrora havia usado Temístocles e depois, após considerar que lhe era vergonhoso descansar na Tessália algum tempo sem vir ao combate; pois a planície da Farsália não era uma liça nem um campo fechado que os deuses lhe tivessem preparado, para aí decidir a quem ficaria o império, e não havia também arautos que o chamassem ao combate, como nos jogos de prêmio, quando é preciso responder ao seu nome e vir combater, ou então abandonar a honra da coroa a um outro; mas havia muitos outros campos e inúmeras cidades, ou para melhor dizer, toda a terra habitável, e ainda a comodidade que tinha na marinha, davam-lhe a escolha e opção, se tivesse antes querido seguir Fábio Máximo ou Mário, ou Lúculo, ou mesmo Agesilau, o qual não sustentou menores tumultos dentro da própria cidade de Esparta, quando os tebanos aí foram admoestá-lo a sair para defender a região plana e, igualmente no Egito, on de suportou suavemente várias imputações falsas e caluniosas, cujo rei mesmo o acusava, pedindo-lhe e admoestando-o sempre a que tivesse um pouco de paciência; e afinal, tendo seguido o melhor conselho, segundo o que havia resolvido desde o início, em seu pensamento, salvou os egípcios apesar deles e, agora sozinho, na cidade dos espartanos, sobre seus pés em um tão violento desmoronamento, levantou um troféu dentro da própria cidade de Esparta contra os tebanos, tendo proporcionado meios aos seus concidadãos de vencerem depois e não se tendo deixado constranger para os conduzir então a sua perda e ruína certas, o que ocorreu, sendo depois altamente elogiado pelos que havia assim salvo, apesar deles. E em oposição, Pompeu foi censurado por aqueles mesmos, cuja ambição e persuasão o haviam feito cometer a falta; todavia, há os que dizem ter sido ele enganado pelo seu sogro Cipião, o qual, querendo desviar a maior parte do dinheiro que havia trazido da Ásia e o guardar para si, apressou-o e pediu para iniciar a batalha, dando-lhe a entender que não havia mais dinheiro. Mas ainda que isso fosse verdade, não devia um bom capitão cair neste erro, nem se deixar assim facilmente descontentar, e expor-se ao perigo de perder tudo. Colocando-os portanto, assim, um diante do outro, podemos melhor considerá-los.

VII. Em suma, quanto à sua ida ao Egito, um para aí fugiu por necessidade, ao passo que o outro foi voluntariamente, dando pouco apreço à honra, para ganhar dinheiro servindo aos bárbaros, com a intenção de guerrear depois os gregos. E o que censuramos nos egípcios pelo fato de agirem cruelmente contra Pompeu, isso mesmo censuram os egípcios em Agesilau pela farsa que lhes pregou; pois um foi deslealmente ultrajado na morte, por aqueles a quem havia confiado sua vida; e o outro abandonou os que haviam confiado nele e virou-se contra aqueles mesmos em socorro dos quais havia primeiramente vindo.

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