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Notas

1648 - Ninguém, pelo menos, com uma vingança direta. Veja-se o fim da sua Vida.
1649 - Em grego, Gália Cisalpina.

Fontes   >    Grécia Antiga

Comparação entre Díon de Siracusa e Bruto, de Plutarco

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Depois de relatar as vidas do grego Díon (c. 408–354 a.C.) e do romano Bruto (85-42 a.C.), Plutarco traça aqui uma comparação dessas duas personalidades do mundo antigo. Esse texto faz parte da série de biografias escritas por Plutarco (c. 46-120), um historiador grego que viveu no Império Romano. Na série Vidas Paralelas, o autor compara vários nomes da história grega com seus equivalentes romanos.

I. Comparemos agora estes dois personagens; é certo que tendo ambos tido grandes alternativas e esta, por primeiro, que, de bem pouco que eram, ambos se tornaram muito grandes; mas, deve-se um louvor próprio e singular a Dion, porque não teve o concurso nem auxílio alheio para se fazer, como Bruto teve o de Cássio: o qual, sem dúvida, não tinha a reputação de virtude, nem a glória semelhante à sua: mas, quanto às empresas guerreiras, ele não contribuiu menos, com seu senso, sua coragem, sua inteligência e com toda a argúcia do que ele: pelo que, vários lhe atribuem o primeiro início e a origem de toda empresa e dizem que foi ele quem deu ânimo a Bruto de conspirar contra César e matá-lo. Assim como Dion forneceu, com as próprias posses, as armas, os navios e os soldados, também ganhou ele, por si mesmo, os que lhe foram de auxílio e os companheiros, para executar o que havia planejado. Do mesmo modo não fez Bruto, o qual, pelos seus mesmos empreendimentos, se fez grande e conquistou pela guerra seu poder e suas riquezas: e, ao contrário, entregou seus próprios bens para fazer a guerra, para recobrar a liberdade dos seus cidadãos, empregando nisso o dinheiro com o qual devia sustentar-se no exílio.

II. Mais, Bruto e Cássio foram obrigados a recorrer às armas, porque não podiam estar em paz, quando estavam fora de Roma, pois estavam condenados e perseguidos de morte: para segurança de suas pessoas, foram obrigados a se expor à sorte da guerra, mais por eles mesmos, do que pelos seus concidadãos: Dion, vivendo, ao invés, em seu exílio com mais tranquilidade e mais alegremente que o mesmo tirano, que o havia exilado, expôs-se ao perigo para livrar a Sicília da escravidão: não era a mesma coisa, aos romanos, serem libertados da dominação de César, como aos siracusanos serem aliviados de Dionísio: Dionísio não negava que ele era tirano, pois cumulara a Sicília de males infinitos. Mas a dominação de César, quando se estabeleceu, é verdade, causou muitos males no seu início, àqueles que a ela quiseram resistir; depois, àqueles que, vencidos, a receberam; parece que era somente um nome, uma ilusão, uma opinião, e não uma coisa verdadeira: pois não fez um ato sequer tirânico ou cruel, mas, ao contrário, parecia um médico delicado e clemente, que um deus, por graça especial, havia dado ao império romano, para pôr um pouco de ordem em seus empreendimentos que tinham necessidade de ser reduzidos à monarquia: e, por isso, o povo romano lamentou imediatamente a César quando ele foi morto, e jamais perdoou aos que o haviam matado: do que mais os siracusanos acusaram a Dion foi de ter deixado Dionísio escapar do palácio de Siracusa e não ter querido demolir a sepultura de seu pai.

III. Agora, quanto aos feitos guerreiros, Dion sempre se mostrou um general irrepreensível, tendo sempre muito bem e sabiamente conduzido as empresas que ele tinha iniciado por própria vontade e corrigido as faltas que os outros haviam cometido, levando os negócios a uma condição melhor do que a que ele os encontrara: parece-me, porém, que Bruto, ao invés, não agiu sabiamente ao empreender a segunda batalha, visto que a ela se entregou totalmente: e depois de tê-la perdido, não soube encontrar remédio algum, nem recurso, mas perdeu o ânimo e abandonou toda esperança, não tendo nem mesmo ousado combater, pelo menos contra a má sorte, como fez Pompeu, visto que lhe haviam restado ainda, no campo, muitos recursos com que ter ainda esperança nas armas, e, além disso, ele era indubitavelmente senhor de todo o mar.

IV. O que mais, porém, se tem a reprovar em Bruto é que, tendo-lhe César salvo a vida e perdoado, quando muitos prisioneiros fizera em batalha, como ele o havia pedido, considerando-o seu amigo e honrando-o mais que a qualquer outro dos seus familiares, Bruto, no entretanto, manchou suas mãos com o seu mesmo sangue; isto não se poderia censurar a Dion, pois, ao contrário, enquanto foi amigo e aliado de Dionísio, ajudou-o e o auxiliou sempre a realizar seus empreendimentos: mas, ao depois, tendo sido exilado e ainda sofrendo um grande ultraje na pessoa de sua mulher, sendo privado de todos os seus bens, entrou então abertamente em guerra justa e legítima contra ele.

V. Mas, certamente, ao contrário, é o primeiro ponto que se volta todo ao reverso: pois aquilo em que consiste seu principal louvor, isto é, a ira contra os tiranos e contra os maus, é pura e simples em Bruto, pois nada tendo em particular de que se pudesse queixar de César, ele se expôs ao risco de matá-lo, somente para a restauração da liberdade de sua pátria: e se Dion não tivesse recebido uma injúria particular em sua vida, da parte de Dionísio, jamais lhe teria feito guerra. Isso se nota muitas vezes pelas cartas de Platão, onde se pode ver que Dion tendo sido expulso, contra sua vontade, da corte do tirano e não se tendo retirado, nem exilado voluntariamente, ele expulsou a Dionísio. Mais, a consideração pelo bem público, fez que Bruto se tornasse amigo de Pompeu, do qual antes era inimigo, e inimigo de César, do qual era amigo, como se ele não tivesse tido outros confins para limitar sua amizade ou inimizade, que o direito e a justiça: e Dion fez várias coisas em favor e em proveito de Dionísio, enquanto ainda confiava nele, e quando começou a desconfiar, então por despeito começou a fazer-lhe guerra: de tal modo que seus mesmos amigos não acreditaram que, depois de ter expulsado Dionísio, ele mesmo não se apoderaria do poder, iludindo o povo com algum outro título mais doce e mais suave que não o de tirano: quanto a Bruto, seus mesmos inimigos confessavam que, de todos os que haviam conspirado contra César, ele era o único que jamais tinha proposto outro objetivo em sua empresa que não o de restaurar o governo das coisas públicas romanas ao seu primitivo estado.

VI. Além disso, não era a mesma coisa tratar com Dionísio e tratar com César: pois todos os que antes conheceram a Dionísio o desprezavam, pois ele passava a maior parte do tempo em bebedeiras, jogo de dados e folganças: mas o ter ousado tomar a deliberação de matar a César e não ter recuado por temor de sua grande inteligência, seu poder e sua fortuna, visto que seu nome somente causava medo, e não deixava tranquilos os reis dos partos e dos indos, era bem necessário que isso viesse de uma natureza primorosa e a quem o temor, jamais teria diminuído, em nada, a sua coragem. Por isso, logo que Dion veio à Sicília, vários milhares de homens foram unir-se a ele, contra Dionísio: mas a glória de César sustentou e animou seus amigos, ainda mesmo depois de ter ele morrido, e seu nome teve tanta força, que, de uma simples criança, que por si mesma não tinha meios, nem poder algum, fez incontinente o primeiro homem dos romanos, do qual se usou como de um remédio, de um contraveneno, contra a ira, a malevolência e o poder de Antônio.

VII. Alguém diz que Dion expulsou o tirano Dionísio com grandes batalhas e feitos de armas: e, ao contrário, que Bruto matou a César, sozinho, abandonado e sem guardas: eu respondo que esse foi um ato de muito grande inteligência e de um experimentado comandante, o ter sabido tão bem escolher o tempo e o lugar próprios para surpreender, sozinho e desprevenido, um homem tão poderoso: pois não o foi atacar repentinamente em um ímpeto de ira, nem sozinho, ou com poucos companheiros: mas foi sua empresa premeditada e preparada com muita antecedência e levada a cabo com muitos outros, dos quais nem um sequer jamais falhou: assim é preciso crer-se que desde o princípio ele os escolheu a todos, homens de bem, ou por escolhê-los, os tornou tais. Dion, ao invés, quer porque desde o começo ele falhou no escolher, tendo confiado nos maus, quer porque não soube usar bem dos que havia escolhido, de homens de bem, os fez infelizes e maus, nem uma, nem outra pode ser uma ação de homem sensato: pois Platão mesmo o censura por ter ele escolhido tais indivíduos para seus amigos, os quais foram os mesmos que o mataram.

VIII. Depois que Dion foi morto, ninguém vingou sua morte1648 e, ao contrário, dos inimigos de Bruto, um (Antônio) mandou sepultar honrosamente seu corpo e César mesmo lhe tributou honras, pois havia em Milão, cidade da Gália, que está do lado da Itália1649, uma sua estátua feita de cobre, e César, passando diante dela, algum tempo depois, olhou-a atentamente, porque havia sido modelada por um hábil artista, e reproduzia-o com muita perfeição, mas, depois continuou o seu caminho: mas, parando de novo, disse na presença de vários dos oficiais da cidade, aos quais ele disse que sua cidade era-lhe inimiga e criminosa de lesa-majestade, porque ela asilava, em seu seio, um seu inimigo. À primeira vista os oficiais ficaram muito admirados, como se pode imaginar, e o negaram com firmeza: não sabendo de que inimigo queria falar, entreolharam-se: César, então, voltando-se para a estátua de Bruto, com o rosto denotando aborrecimento, disse-lhes: "Aquele que está ah de pé não é nosso inimigo?" Os oficiais ficaram ainda mais admirados do que antes, de tal modo que não souberam o que responder: então César se pôs a rir e, louvando os gauleses, por serem firmes e leais para com seus amigos, mesmo na adversidade, quis que a estátua continuasse em seu lugar, como estava.

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