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1421 - 360.000 escudos. — Amyot. 2. 801.250 libras, em nossa moeda.

Fontes   >    Grécia Antiga

Comparação entre Agis IV e Cleômenes III e Tibério e Caio Graco, de Plutarco

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Depois de relatar as vidas dos gregos Agis IV (265-241 a.C.) e Cleômenes III (260-219 a.C.) e dos romanos Tibério Graco (162-133 a.C.) e Caio Graco (154-121 a.C.), Plutarco traça aqui uma comparação dessas personalidades do mundo antigo. Esse texto faz parte da série de biografias escritas por Plutarco (c. 46-120), um historiador grego que viveu no Império Romano. Na série Vidas Paralelas, o autor compara vários nomes da história grega com seus equivalentes romanos.

I. Chegamos finalmente ao termo e só nos resta comparar estas vidas, pondo-as uma diante da out ra. Os dois Gracos, na verdade, foram mais propensos à virtude do que todos os romanos do seu tempo e foram bem instruídos e educados tanto que nem mesmo os seus maiores inimigos, que deles disseram toda espécie de injúrias, não o podem negar; parece que a natureza foi, porém, mais forte em Agis e em Cleômenes; pois eles foram educados insuficientemente, formados em costumes e maneiras de viver que há muito tempo haviam corrompido seus antepassados; no entretanto mostraram-se mestres e guias na sobriedade, na temperança e na simplicidade. Além disso, aqueles, vivendo num tempo em que Roma estava no auge da sua glória e esplendor e quando aí reinava mais o zelo de todas as coisas belas e boas, eles tiveram, por assim dizer, vergonha de abandonar a herança da virtude, que tinham como hereditária, das mãos de seus maiores: estes, oriundos de pais que haviam tido vontade de todo contrária, tendo encontrado seu país corrompido e enfermo, nem por isso foram mais levados a procurar os meios de o favorecer: e o maior louvor que se atribui aos Gracos, abstendo-se de tomar dinheiro, é que em todos os seus cargos e empreendimentos do Estado, eles conservaram sempre as mãos limpas, jamais tomaram coisa alguma injustamente; Agis até ficou irritado quando o louvaram por nada tomar de outrem, porque ele pôs em comum suas mesmas riquezas e deu aos seus cidadãos todos os seus bens, os quais em dinheiro somente chegavam a1421, seiscentos talentos. Por aí se pode ver quanto ele julgava grave pecado ganhar injustamente, considerando uma espécie de avareza possuir justamente mais do que os outros.

II. Ainda havia bem diferença de grandeza *entre as inovações que uns e outros apresentaram, pois os feitos dos dois romanos consistiam em preparar as grandes estradas, restaurá-las, reconstruir cidades, repovoá-las; o ato mais magnânimo de Tibério foi ter posto em comum as terras públicas e de seu irmão Caio, ter ampliado os tribunais, acrescentando trezentos cavaleiros romanos, que tinham poder de julgar: Agis e Cleômenes ao invés sendo de opinião de que querer corrigir as pequena faltas e remediá-las aos poucos, era o mesmo que cortar uma cabeça da hidra, como diz Platão, por em vez de uma, nasciam outras sete, empreendera uma renovação que podia de uma vez exterminar desarraigar todos os males de seu país, ou para falar com mais verdade, que podia eliminar a desorganização que os vícios e os males haviam introduzido no governo e nas coisas públicas, para restabelecer a cidade de Esparta na sua própria e antiga condição.

III. Quanto ao governo dos Gracos, podemos ainda dizer que os principais personagens de Roma e os maiores homens foram contrários aos seus desígnios; no que Agis, ao invés, intentou e Cleômenes realizou, eles tinham o mais belo e o mais magnífico ideal do mundo, quais as antigas leis e determinações de Esparta, relativas à igualdade, à temperança, umas instituídas outrora por Licurgo e, outras, confirmadas por Apolo.

IV. Ainda mais: pelas inovações daqueles, Roma não se tornou mais do que era; pelo que Cleômenes fez, porém, a Grécia em pouco tempo viu a cidade de Esparta sobrepor-se a todo o resto do Peloponeso e combater contra os que então eram os mais poderosos da Grécia, pela primazia, cujo fim e intenção última, era livrar a Grécia das armas dos gauleses e dos eslavos, para recolocá-la sob o honesto governo dos descendentes de Hércules.

V. Ainda parece-me, que a morte deles revela certa diferença de sua virtude: aqueles, combatendo contra seus próprios cidadãos, foram mortos, na fuga; estes, Agis por não ter querido fazer morrer nem um dos seus cidadãos, foi morto, quase voluntariamente e Cleômenes, sentindo-se injuriado e ofendido, tomou a resolução de se vingar e como a ocasião não no permitisse fazê-lo, ele matou-se, corajosamente.

VI. Pode-se, porém, em contrário, alegar que Agis jamais realizou um ato de comando, nem de general, porque foi morto antes de poder fazê-lo; às vitórias de Cleômenes, que foram muitas e belas, pode-se opor a tomada da muralha de Cartago, a qual Tibério escalou por primeiro, o que não foi um feito medíocre; a manobra que realizou diante de Numância, pela qual salvou vinte mil soldados romanos, que não tinham outro meio de escapar da morte: Caio, na mesma guerra em Numância e depois na Sardenha, praticou vários atos de bravura, de modo que eles poderiam ser comparáveis aos mais excelentes generais romanos, se não tivessem sido mortos.

VII. Ademais, quanto aos atos civis, parece que Agis os tomou muito friamente: deixou-se enganar por Agesilau, enganou seus cidadãos pobres com a divisão das terras, que lhes havia prometido; em suma, por falta de coragem, porque ele ainda era muito jovem, deixou as coisas imperfeitas; Cleômenes, ao contrário, procedeu um tanto áspera e violentamente na rebelião do governo, matando com crueldade os éforos, que ele podia facilmente dominar, pelas armas, sendo o mais forte: não é próprio nem de um médico sensato, nem de um bom político, lançar mão dos ferros, a não ser em extrema necessidade e quando não há outro remédio; é falta de competência num e noutro, mas muito mais ainda num porque a injustiça ali está unida à crueldade; dos Gracos, nem um, nem outro jamais procurou derramar sangue de seus cidadãos: até mesmo se diz que Caio, ainda que atacado, jamais se quis defender e nas batalhas era assaz valente, com as armas na mão, contra os inimigos, mas mostrou-se muito calmo nas sedições civis, contra seus cidadãos: pois ele saiu de sua casa sem armas, e retirou-se, quando os viu combater, cuidando mais em se precaver para lhes não causar mal algum, do que recebê-lo, e por isso não se lhes deve imputar a fuga como covardia ou medo, mas como um cuidado para não ferir a ninguém; pois era preciso que se entregassem aos que os perseguiam, ou se parassem, que se pusessem na defensiva, para não permitir que os ferissem.

VIII. Quanto às acusações que se fazem contra Tibério, a mais grave é ter ele privado do tribunado a um seu companheiro e ter ele mesmo pretendido depois, um segundo: quanto a Caio, acusaram-no, injustamente, da morte de Antílio, pois ele foi morto contra sua vontade; muito ele veio a sentir quando o soube: Cleômenes, deixando de parte a morte dos éforos, libertou todos os escravos e teve a realeza somente em efeito; aparentemente, porém, a ela associou o próprio irmão, que era da mesma família, e tendo persuadido a Arquidamo, ao qual pertencia o direito de sucede-lo, na realeza, da outra família real, que voltasse corajosamente de Messena a Esparta, ele deixou-o matar; não tentando vingar sua morte, confirmou a opinião que se tinha, de que ele o teria mandado matar do mesmo modo; ao contrário de Licurgo, que ele queria imitar, pois que deu a realeza voluntariamente ao filho de seu irmão Carilau e temendo ainda que, se o jovem viesse de algum modo a morrer ele não viesse a ser objeto de suspeita, ausentou-se do país e andou por muito tempo errante, pelo mundo, e não voltou a Esparta antes que Carilau tivesse tido um filho para sucedê-lo no trono; mas também nenhum outro grego há que se possa comparar com Licurgo; mostramos que entre as ações de Cleômenes, ainda houve muitas outras grandes inovações e muitas outras transgressões às leis.

IX. Assim, aqueles que censuram os costumes de uns e de outros, dizem que os dois gregos a princípio tiveram uma vontade tirânica, tendente a excitar e a suscitar a guerra; ao passo que, aos romanos, os que os odiavam e lhes votavam inveja, não podiam imputar outra coisa, a não ser sua desmesurada ambição; confessavam que eles se inflamavam excessivamente, nas contendas contra seus adversários e se deixavam transportar até o despeito e a cólera, por maus ventos, chegando a praticar os atos que por fim praticaram: nada havia, porém, de mais honesto e de mais justo que sua primeira intenção; não tivessem sido os ricos, que queriam pela autoridade e ousadia rejeitar suas leis, eles não teriam entrado, contra vontade, nesta questão, um, para salvar sua vida e o outro, para vingar a morte do irmão que eles haviam matado sem processo nem condenação ou ordem de magistrado algum.

X. E assim constatamos á diferença entre eles; para dizer o que me parece, em particular, de cada um deles, penso, que Tibério foi o mais virtuoso de todos os quatro, que Agis foi o que menos pecou e que em empreendimento e ação, Caio não se aproximou muito de Cleômenes.

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