1406 - Ele foi morto no fim do ano 621 de Roma; havia nascido no fim do ano 591 ou no começo do ano 592 de Roma e Caio no ano 600.
1407 - No ano 628 de Roma.
1408 - No ano 631 de Roma.
1409 - Dois anos, somente, segundo Aulo-Oelo.
1410 - Acrescente-se: por ter procurado ajudar os aliados e ter estado, etc.
1411 - Cidade do Lácio, que Opimio, então pretor, tomou e destruiu.
1412 - No ano 632 de Roma.
1413 - Isto não está no texto grego. A légua tem 24 estádios.
1414 - Ele foi cônsul n o ano 632 de Roma. Veja as Observações.
1415 - O padre Pétau coloca, portanto, mal, o repovoamento de Cartago e sua restauração, no ano 631 de Roma; aqui ele vem a cair no ano 632.
1416 - No ano 625 de Roma.
1417 - Deve-se ler: Lúcio Opimio, como se dirá em seguida, no cap. XLVII.
1418 - No ano 633 de Roma.
1419 - No ano 633 de Roma.
1420 - Alguns anos depois. Veja Salústio, cap. XVI.
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Parte de Os Graco, estátua do escultor francês Jean-Baptiste Claude Eugène Guillaume (1822-1905).
Caio Semprônio Graco (154-121 a.C.) foi um político da República Romana no século 2 a.C.. Foi um proeminente líder da facção dos populares e por lutar por medidas que favorecessem o povo acabou sendo assassinado pelos senadores. A biografia de Caio Graco faz parte de uma série de biografias escritas por Plutarco (c. 46-120), um historiador grego que viveu no Império Romano. Na série Vidas Paralelas, o autor compara vários nomes da história grega com seus equivalentes romanos. Caio e seu irmão Tibério foram comparados aos reis espartanos reformadores Agis IV e Cleômenes III.
Esse texto é uma continuação da biografia iniciada com a vida de Tibério Graco.
XXXII. De resto, Caio Graco, no começo, quer porque temia os inimigos de seu falecido irmão, quer porque procurava ainda os meios de torná-los mais odiados pelo povo, ficou uns tempos sem aparecer em público, conservando-se quieto em sua casa, como quem está contente com a situação e desejava apenas viver modestamente sem tomar a peito empreendimento algum; assim ele deu motivo a alguns de pensar e de dizer que ele não aprovava, mas achava más, as obras que seu irmão tinha realizado: ele era, então, ainda muito jovem, pois tinha nove anos menos que seu irmão Tibério, que não havia completado trinta1406 quando foi morto: todavia com o tempo, ele começou, pouco a pouco, a patentear seus hábitos e sua natureza; não era amigo das delícias nem da preguiça, nem amante dos prazeres e menos ainda da cobiça de riquezas; exercitava-se, porém, na eloquência e provia-se como de asas, para depois lançar-se nos trabalhos do governo e do Estado, de modo que era evidente que, quando tivesse chegado o seu dia, ele não descansaria mais.
XXXIII. Como um de seus amigos chamado Vécio tivesse sido citado em juízo, ele tomou o encargo de defendê-lo no julgamento; quando o povo o viu, discursando, estremeceu de júbilo, pela sua maneira de falar, fácil e alegre, mostrando muito prazer em vê-lo e ouvi-lo; todos acharam que ele falava excelentemente, e os outros oradores pareciam crianças perto dele. Por isso os ricos e os nobres começaram de novo a sentir medo e já murmuravam entre si, que era preciso estar muito atento para que ele não fosse escolhido para o cargo de tribuno do povo: aconteceu por acaso que tendo sido eleito questor, coube-lhe por sorte ir com o cônsul Orestes1407, para a ilha da Sardenha, pelo que seus inimigos muito se alegraram e ele não ficou aborrecido, pois era bom soldado, não menos exercitado nas armas do que na tribuna dos oradores e na eloquência; mais: ele temia ainda a tribuna dos oradores e o desempenho dos cargos públicos, e no entretanto não podia de todo resistir à vontade do povo e dos amigos que o chamavam; por isso, ele ficou satisfeito por ter aquela ocasião legítima de se ausentar da cidade, fazendo essa viagem, embora outros sejam de opinião que ele era ainda mais popular e mais ambicioso do favor e das boas graças do povo do que seu irmão, todavia a verdade é o contrário; pois ele foi levado à força a iniciar a sua vida de homem do governo, que não por vontade e propósito deliberado; escreve o orador Cícero que ele tinha resolvido fugir de toda administração pública e queria viver em paz, como um homem privado; mas seu irmão apareceu-lhe em sonho e, chamando-o pelo nome, disse-lhe: "Por que protelas mais, meu irmão? Não é possível que possas escapar, pois uma mesma vida e uma mesma morte nos foi predestinada por nos termos dedicado ao bem do povo".
XXXIV. Caio chegou à Sardenha onde deu as provas que poderia dar do seu valor, mostrando-se mais valente que todos os da sua idade, contra os inimigos, mais justo para com os súditos e mais obediente para com os comandantes, pela honra que lhes prestava e pela benevolência que lhes dedicava; na temperança, na sobriedade e em suportar a fadiga ele sobrepujou mesmo aos que eram mais velhos do que ele. Chegou o inverno, muito incomodo e fértil em doenças, na Sardenha; ordenou o comandante às cidades que fornecessem agasalhos aos soldados: elas, porém, mandaram com urgência emissários a Roma para pedir ao Senado que as isentasse daquela obrigação. O Senado achou suas razões muito sensatas e escreveu ao comandante que procurasse outro meio para agasalhar seus homens. O general não podia fazer de outro modo, porque os soldados naquele tempo sofriam de muitos males; Caio então percorreu as cidades apresentando-lhes tão boas razões, que elas por si mesmas mandaram o socorro de que os soldados romanos necessitavam; isto foi relatado em Roma e interpretou-se logo como sendo o princípio para ele conquistar as boas graças do povo: o fato deu muito que pensar ao Senado.
XXXV. Chegaram da África alguns embaixadores do rei Micipsa, que disseram que seu senhor em consideração e em atenção a Caio Graco tinha mandado trigo para seu exército na Sardenha: isso causou grande despeito aos senadores que expulsaram os embaixadores do Senado e determinaram mandar outros soldados para lá, no lugar dos que se encontravam com Orestes, ficando, porém, ele ainda como comandante, imaginando que Caio também continuaria como questor: ele, porém, sabendo disso, tomou o navio e veio imediatamente a Roma, muito irritado1408 . Quando o viram de volta a Roma, contra a expectativa de todos, ele foi censurado, não somente por seus inimigos, mas também pelo povo, ao qual parecia estranho que ele tivesse voltado antes do comandante do qual era questor. Disso foi ele acusado perante os censores, mas pediu audiência para se justificar. Compareceu e respondeu de tal modo ante a assembleia, que destruiu todos os seus argumentos e a opinião dos presentes, tanto que não houve um só que não julgasse que lhe haviam mesmo feito uma grave injustiça: porque ele provou que tinha estado doze anos na guerra, quando todos eram obrigados apenas ficar dez e que ele tinha sido questor, de seu comandante, por três anos1409, quando a lei permitia que no fim de um ano pudesse voltar, que ele somente, de todos os que haviam estado naquela guerra, tinha levado sua bolsa cheia e a trazia completamente vazia, e lá, todos os demais tinham bebido o vinho que haviam levado em seus tonéis e os haviam trazido de volta, cheios de ouro e de prata.
XXXVI. Depois quiseram ainda acusá-lo1410, de ter tomado parte numa conspiração que fora descoberta na cidade de Fregeles1411. Mas ele conseguiu destruir a suspeita e justificou-se plenamente; pôs-se então a pleitear imediatamente o cargo de tribuno do povo, no que teve como adversários jurados, todos os homens de classe, sem exceção; mas também, ao contrário, teve grande favor do povo que acorreu de todas as partes da Itália, em enorme multidão, para assistir à sua eleição; tão grande era o número, que muitos não encontraram alojamento; o campo de Marte não era bastante grande, para conter a massa popular, e muitos davam o voto de cima das casas e dos telhados. Não puderam então os nobres forçar a vontade do povo nem diminuir a esperança de Caio; apenas, nisto puderam prejudicá-lo: esperava ele ser c primeiro tribuno, no entretanto, alcançou o quarto lugar: mas, logo que tomou posse do cargo1412, tornou-se incontinente o primeiro, sendo mais eloquente que os outros, e porque servia-se do motivo que lhe dava toda a força no falar, isto é, deplorar a morte de seu irmão: sempre que falava o argumento para esse ponto, relembrando-lhes o acontecimento e pondo-lhes diante dos olhos os exemplos de seus antepassados, que outrora haviam feito a guerra aos faliscos, por causa de um certo Genúcio, tribuno do povo, ao qual eles haviam injuriado e condenaram a morrer a Caio Vetúno, porque ele sozinho não quisera ceder lugar a um tribuno do povo, que passava pela rua: "Estes, dizia ele, na vossa presença e diante dos vossos olhos, mataram a pauladas meu irmão Tibério, arrastaram seu corpo, desde o Capitólio por toda a cidade para lançá-lo no rio e também mataram cruelmente a vários outros, dos seus amigos, que puderam apanhar, sem que passassem pelos trâmites da justiça: e no entretanto, segundo o costume observado desde todos os tempos nesta cidade de Roma, quando alguém é condenado a pena capital e deve ser encaminhado ao castigo que lhe foi imposto, manda-se pela manha à porta de sua casa, uma trombeta para convidá-lo ao som da mesma a se apresentar e os juízes costumam condenar só quando esta cerimônia foi inteiramente observada: os nossos predecessores foram ponderados e reservados quando se tratava da morte de um cidadão romano".
XXXVII. Caio com semelhante linguagem logo entusiasmou o povo; tinha além do mais, uma voz forte e vibrante e propôs então duas leis: a primeira: "Que aquele que tivesse já sido uma vez deposto de um cargo, pelo povo, não podia ser eleito para outro; a segunda: que se algum magistrado tivesse exilado um cidadão sem lhe ter antes movido um processo em regra, o julgamento e a decisão final pertenciam ao povo". Destas leis, a primeira, feria com a infâmia, evidentemente, a Otávio, que Tibério havia feito depor do seu cargo, pelo povo; e a outra, visava a Popílio, que sendo pretor, tinha exilado os amigos de Tibério: pelo que ele não esperou o término do julgamento, mas foi voluntariamente para o exílio, saindo da Itália.
Quanto à primeira ele mesmo a revogou depois, dizendo que entregava Otávio, pelos rogos de sua mãe Cornélia, que lho havia pedido e com isso o povo ficou muito satisfeito e o entregavam, honrando essa senhora, não menos em consideração aos filhos, do que a Cipião, seu pai, pois, tendo feito erigir uma estátua de cobre em sua honra, nela fez gravar esta inscrição: "Cornélia, mãe dos Gracos". Encontramos por escrito várias frases assaz banais e que revelam a vulgaridade das expressões que Caio proferiu contra alguns dos seus inimigos: como quando disse: "Ousas falar mal de Cornélia que foi mãe de Tibério?" Aquele que falara era suspeito do pecado de sodomia, disse-lhe: "Em que tens a ousadia de te comparar a Cornélia? Tiveste filhos como ela? E no entretanto não há em Roma quem não saiba que ela, que é mulher, viveu mais tempo sem homem, do que tu que és homem". Assim eram ferozes e pungentes as invectivas de Caio; poderíamos acrescentar ainda muitas outras, tiradas de seus escritos.
XXXVIII. Ele propôs ainda várias leis para aumentar o poder do povo e diminuir o do Senado: uma, com relação ao repovoamento de várias cidades, pelas quais distribuía todas as terras comuns aos cidadãos pobres que eram mandados para povoá-las; outra, ordenava que se distribuísse a indumentária dos soldados, às expensas do governo, sem que por isso se lhes diminuísse o soldo ordinário e que não se podia alistar nem receber a soldo um cidadão, que não tivesse pelo menos dezessete anos. Uma outra dava igual direito nas eleições de magistrados a todos os aliados e confederados residentes na Itália, como aos próprios burgueses que habitavam na cidade de Roma. Outra determinava o preço bem baixo do trigo que se distribuía aos pobres: outra, visava os que podiam ser juízes, pela qual se limitava de muito as prerrogativas e a autoridade, do Senado, porque antes os senadores eram os únicos juízes em todos os processos e por isso eles eram muito honrados e temidos pelo povo e pelos cavaleiros romanos; acrescentava-lhes trezentos cavaleiros romanos, tantos quantos senadores; fez que os julgamentos de todas as causas fossem comuns entre esses seiscentos homens. Fazendo passar esta lei, diz-se que ele observou diligentemente todas as outras coisas e também este ponto; quando todos os outros oradores, falando ao povo, voltavam-se p ara o edifício onde se reunia o Senado e para a praça que se chama Comício, ele, ao contrário, voltava-se, discursando, para fora, na direção da outra extremidade da praça; e o que desde então sempre observou com todo o cuidado; com um movimento insignificante ele causou uma mudança completa, transferindo por assim dizer, toda a força do governo, do Senado para o povo, colocando o poder que antes estava nas mãos da nobreza, inteiramente nas do povo, insinuando aos oradores que apresentavam a matéria em público, que era ao povo que eles se deviam dirigir e não ao Senado.
XXXIX. O povo não somente recebeu e aprovou sua lei, com relação aos julgamentos, mas deu-lhe ainda o poder de escolher entre os cavaleiros romanos os que ele quisesse, para serem juízes; com isso ele concentrou em suas mãos um poder absoluto, por assim dizer, de tal modo que mesmo o Senado recebia conselhos dele; na verdade, ele dava-lhe sugestões, apresentava propostas que visavam a sua mesma dignidade como dentre outras, o decreto que ele propôs, por ter o vice-pretor Fábio mandado da Espanha certa quantidade de trigo, o que foi justo e mui honroso; pois ele persuadiu ao Senado que mandasse vender o trigo e restituísse o dinheiro às cidades e comunidades que o haviam mandado e se enviasse uma censura a Fábio porque tornava o império romano odioso e pesado aos seus súditos. Esta proposta granjeou-Ihe grande glória e grande benevolência nas províncias sujeitas aos romanos. Além disso propôs repovoar várias cidades destruídas, reparar e melhorar as estradas principais, construir grandes celeiros, para se fazerem grandes provisões de trigo; de todas essas obras ele mesmo tomava o encargo e a superintendência, para a sua realização, não se cansando, por mais trabalho que tivesse, de prover e de dar ordens a tantos e tão grandes empreendimentos, mas terminando-os todos, com tanto êxito e rapidez, que parecia que ele só tinha isso a fazer, de modo que aqueles mesmos que o odiavam e temiam, admiravam-se por ver como ele era ativo e expedito em todas as coisas.
XL. O povo do mesmo modo maravilhava-se, vendo sempre em redor dele uma grande multidão de operários, empregados, embaixadores, oficiais, soldados, literatos; a todos ele satisfazia com maravilhosa solicitude, sempre conservando sua dignidade e usando de cortesia e humanidade, acomodando-se a cada um deles, de sorte que ele tornava seus caluniadores importunos e aborrecidos quando estes diziam que ele devia ser temido, taxando-o de violento e intolerável; porque ele sabia conquistar a benevolência do povo, em suas palavras e em suas obras, bem como em seus discursos. Mas o trabalho no qual ele empregou maior diligência e solicitude, foi em reparar e melhorar as estradas principais; tinha o cuidado de que a graça e a beleza nelas estivessem unidas à comodidade; fazia-as traçar em linha reta através dos campos, em terras firmes e tornando-as ainda mais resistentes, pavimentando-as com pedras duras, espalhando depois por cima muita areia, que para lá fazia transportar. Quando havia vales ou canais, que as águas cavavam, os fazia encher ou construir pontes por cima, de igual altura em ambos os lados; assim a obra vinha a se realizar plana, no mesmo nível, muito agradável de se ver. Ainda mais: mandou dividir toda a estrada por milhas, contando cada milha mais ou menos oito estádios1413, (uma meia légua) pondo no fim de cada milha uma pedra, para marcá-la: mandou ainda colocar nas duas margens da estrada assim pavimentadas, cá e lá outras pedras um pouco elevadas, menos distantes uma da outra, para ajudar os viajantes a montar a cavalo, sem ter necessidade de outra pessoa para o fazer.
XLI. Por isso, o povo o enaltecia e festejava com entusiasmo, sempre pronto a dar-lhe demonstrações de benevolência e de amor; ele disse, um dia, falando em público, que lhe tinha apenas uma graça a pedir: se aprouvesse ao povo conceder-lhe, ele ficaria inteiramente satisfeito e se lha recusassem, não se queixaria de modo algum. Cada qual pensou que era o consulado, que ele lhes queria pedir, e todos julgavam que ele ia pleitear ao mesmo tempo o tribunado e o consulado; mas quando chegou o dia da eleição dos cônsules, todos estavam atentos para ver o que aconteceria; ficaram admirados quando o viram descer ao campo de Marte, levando Caio Fânio com amigos dele para auxiliá-lo na conquista do consulado. Isso foi tão útil a Fânio que imediatamente foi eleito cônsul1414 e Caio também foi eleito tribuno do povo, pela segunda vez, sem que o tivesse pedido nem pleiteado, mas o povo o quis assim; vendo que tinha o Senado como inimigo declarado e o cônsul Fânio mostrava-se por sua vez muito frio e indiferente, ele recomeçou a procurar as boas graças e o favor do povo, por meio de novos editos e novas leis, propondo que se mandassem burgueses pobres p ara repovoarem as cidades de Tarento e de Cápua e que se concedesse pleno direito de burguesia romana a todos os povos latinos.
XLII. O Senado, vendo isso, temendo que se tornasse tão poderoso que eles não lhe pudessem mais resistir, determinou tentar um meio novo de afastar o favor do povo, procurando agradá-lo, concedendo-lhe coisas que não eram absolutamente razoáveis; um dos companheiros de Caio, no ofício do tribunado, de nome Lívio Druso, homem de boa família e mais instruído que qualquer outro em Roma, no seu tempo, e que resistia àqueles que por suas riquezas e por sua eloquência eram os mais estimados e tinham mais autoridade no governo. Os principais membros do Senado dirigiram-se a ele, rogando-lhe que passasse para o seu partido e se unisse a Caio, não procurando forçar o povo, nem contrariar à sua vontade, mas ao invés, cuidasse em agradá-lo, concedendo-lhe coisas, que não lhes seria bem negar, e mui razoável incorrer-se em seu desagrado. Lívio ofereceu seu tribunado para servir em tais coisas aos desígnios do Senado; propôs leis que não eram para benefício nem honra do governo e que só tendiam a provocar a emulação e a superar Caio, à força de adular o povo, fazendo-lhe a vontade e agradando-o, como os que fazem representar comédias para dar-lhes um passatempo.
XLIII. Os senadores mostravam bem evidentemente que as propostas de Caio não os desgostavam tanto quanto desejavam arruiná-lo e abater o seu prestígio a qualquer preço; Caio propunha apenas o repovoamento de duas cidades e para lá queria mandar os mais honestos cidadãos e eles clamavam contra ele, que queria corromper o povo e, ao contrário, favoreciam a Druso que propunha se repovoassem doze cidades e queria que se mandassem a cada uma, três mil dos burgueses mais pobres: eles odiavam a Caio, que havia sobrecarregado de rendas anuais os burgueses pobres, aos quais havia dado terras e Lívio, ao contrário, era-lhes simpático, porque suprimira essa renda àqueles aos quais ele dava também terras, entregando-lhas livres, sem ônus algum. Assim mais: Caio desagradava-lhes, porque dava a todos os latinos igual direito de voto nas eleições dos magistrados, que eram romanos de nascimento: no entretanto, Druso propusera uma lei, que de então por diante não seria mais permitido a um comandante romano fazer chicotear ou bater com varas, na guerra, a um soldado latino; eles acharam bom o edito e o favoreceram; Lívio a cada lei que propunha, sempre dizia em seus discursos, que o fazia a conselho do Senado, que se interessava pelos pobres ; na sua administração nada houve mais útil nem mais proveitoso ao governo, do que isso: o povo tornou-se mais dócil para com o Senado, que antes era odiado e suspeitava-se dos seus principais homens; Lívio eliminou toda aquela malevolência, porque o povo viu que tudo o que ele propunha era em seu favor e em seu proveito, com o consentimento e por iniciativa do Senado. O prestígio de Druso aumentava porque ele agia retamente, só visava o bem do povo e nunca propunha coisa alguma em seu proveito nem para ele; em todos os repovoamentos de cidades, de que foi autor, para lá mandou sempre outros comissários, aos quais fazia delegar o cargo e jamais quis manejar o dinheiro: Caio ao invés, arrogava para si a direção da maior parte de todas essas administrações, mesmo as principais e as maiores.
XLIV. Rúbrio1415, outro tribuno do povo, propôs que se restaurasse e se repovoasse Cartago, que tinha sido destruída por Cipião; tocou por sorte a Caio ser nomeado comissário para lá; por isso, embarcou e passou à África; Druso, no entretanto, aproveitando a sua ausência, continuou a se insinuar ainda mais, nas boas graças do povo, mesmo porque acusava a Fúlvio, que era um dos maiores amigos de Caio de que o tinham nomeado comissário como ele, para fazer a divisão das terras aos burgueses, e o mandavam ao novo repovoamento. Ele era homem revoltoso, e por isso, odiado e mal visto pelo Senado; era ainda suspeito aos que pertenciam ao partido do povo, de ocultamente incitar os aliados e solicitar secretamente os povos da Itália a se revoltarem; todavia, não havia provas suficientes nem se podia citar coisa alguma contra ele, a não ser o que ele mesmo afirmava, porque mostrava ter má vontade e se aborrecia por ver as coisas em paz e tranquilas. Isso foi uma das principais causas da ruína de Caio, porque para ele desviou-se uma parte da ira que se tinha contra Fúlvio. Quando Cipião, o Africano1416, foi certa manhã encontrado morto, em sua casa, sem causa alguma aparente que pudesse ter motivado aquela morte repentina, a não ser alguns sinais de pancadas que lhe haviam dado e da violência que lhe haviam feito, como já tivemos ocasião de dizer em sua vida, a maior parte das suspeitas foi lançada sobre Fúlvio, porque era seu inimigo mortal e, naquele mesmo dia, tivera uma discussão muito forte com ele, na tribuna dos oradores; Caio também foi objeto de suspeitas; esse grande crime, perpetrado contra a pessoa do primeiro e do mais digno personagem de Roma, não foi vingado nem se fizeram indagações de espécie alguma, porque o povo impediu o processo e o julgamento, temendo que Caio fosse tido como culpado, se fosse interrogado a esse respeito; mas isso foi algum tempo antes.
XLV. Caio estava na África realizando o repovoamento de Cartago, que ele chamou de Junonia; diz-se, que lhe aconteceram vários presságios e sinais sinistros: o bastão da primeira insígnia foi quebrado pela violência do vento que soprava de um lado e a resistência do porta-insignia, que o tinha firme, do outro; veio também um turbilhão de vento que levou os sacrifícios que já estavam sobre o altar e os lançou fora do recinto que se havia traçado para reconstruir a cidade; mais ainda: os lobos vieram arrancar as marcas que se haviam fincado para delimitar a extensão da cidade e as levaram para longe. Não obstante tudo isso, Caio tudo realizou e terminou no espaço de setenta dias; voltou imediatamente a Roma porque recebera notícias de que Fúlvio era perseguido por Druso e os negócios do governo tinham urgente necessidade de sua presença: porque Lúcio Hostílio1417, homem da nobreza e que gozava de grande prestígio no Senado e no ano anterior havia sido alijado do consulado por Caio, que fizera eleger a Fânio, esperava voltar a ele, naquele ano, pelo grande número de pessoas que o ajudavam; e se o conseguisse já tinha determinado derrubar Caio, não obstante o favor e o prestígio de que ele mesmo gozava, perante o povo, começasse por assim dizer, a fenecer, porque o povo já estava saturado de tais inovações, pois havia muitos que propunham as mesmas coisas para agradá-lo, com o consentimento e aprovação do Senado.
XLVI. Voltando a Roma, mudou de casa e do lugar onde ele morava antes, no monte Palatino; foi para a parte extrema da praça, porque havia naquele quarteirão muitos homens de baixa condição: depois propôs o resto de suas leis; para fazer que fossem aprovadas e aceitas pelo voto do povo, reuniu grande multidão de todas as cercanias de Roma; o Sena do então ordenou ao cônsul Fânio, que intimasse a todos os que não eram romanos de nascimento, camponeses e habitantes mesmo na cidade, que saíssem de Roma; promulgou-se então uma ordem bem esquisita, e sem precedentes; isto é, que nenhum aliado ou confederado, durante alguns dias, permanecesse em Roma: Caio, ao invés, colocou em lugares públicos um aviso, pelo qual censurava o cônsul de ter feito publicar tão iníqua determinação e prometia aos aliados e confederados, que os ajudaria, se quisessem resistir à ordem do cônsul; o que todavia não fez; vendo que os guardas de Fânio levavam para a prisão um de seus hóspedes e amigo, fingiu não se importar e não o ajudou, quer porque temia experimentar o seu prestígio perante o povo, que passava, quer porque não quis fazê-lo para, como ele dizia, não dar motivo de brigas e de rusgas com os que lhe eram contrários, os quais não queriam outra coisa, na verdade. Além disso, aconteceu que ele teve sérias divergências com seus mesmos companheiros por este motivo: o povo devia ter o divertimento das lutas dos gladiadores, na praça e vários oficiais, para também presenciarem a luta, mandaram construir um tablado em redor, que eles alugavam. Caio mandou que o tirassem dali, para que, sem pagar, os pobres também pudessem assistir aos jogos, daquele lugar. Ninguém obedeceu; ele esperou então até à noite precedente aos jogos; foi depois com vários operários, a seu serviço, e retirou todos os tablados, de modo que no dia seguinte o povo teve a praça vazia e pôde assistir comodamente aos jogos, ficando-lhe com isso muito grato e estimando-o ainda mais. Seus companheiros, ao invés, começaram a odiá-lo, como ousado e temerário: parece que isso foi motivo de lhe impedirem um terceiro tribunado, embora ele tivesse o maior número de votos, em seu favor, porque seus companheiros, como vingança, pela violência que lhes havia feito, deram dele maliciosa e injustamente uma falsa informação; todavia isso não é de todo certo.
XLVII. O fato, porém, é que ele ficou muito admirado com esse acontecimento e parece que disse, um tanto arrogantemente, aos seus inimigos, que se riam dele e zombavam, que seu riso era sardónico e não conheciam as trevas em que suas ações os haviam envolvido. Por fim, seus adversários estabeleceram Opímio no consulado1418 e começaram por revogar várias leis de Caio, dentre outras a do repovoamento de Cartago, procurando todos os modos de irritá-lo, a fim de lhes dar um pretexto para matá-lo; todavia ele suportou tudo pacientemente desde o princípio; mas seus amigos, mesmo Fúlvio, tanto insistiram que ele de novo se pôs a recrutar gente para resistir ao cônsul; a este respeito diz-se, que mesmo Cornélia, sua mãe, secundou-o, assalariando secretamente bom número de estrangeiros, que mandou para Roma, como se fossem homens para a lavoura, precisamente o que ela diz com palavras veladas nas epístolas que escreveu ao filho, à maneira de quebra-cabeças; todavia, outros julgam o contrário; isto é, que ela ficou muito aborrecida com o que ele se pusera a fazer. Quando pois chegou o dia marcado, em que se devia proceder à rescisão de suas leis, um e outro, bem cedo, apoderou-se do Capitólio e depois que o cônsul fizera o seu sacrifício, um dos seus guardas de nome Quinto Antílio, levando as entranhas da vítima imolada, disse a Fúlvio e aos outros da sua liga que estavam perto dele: "Dai lugar aos homens de bem, maus cidadãos que sois!"
Outros dizem ainda que, depois dessas palavras injuriosas, estendeu-lhes ainda o braço nu, num gesto imoral, para humilhá-los: por isso, foi morto naquele mesmo lugar a golpes de grandes estiletes de escrever, que tinham expressamente mandado fazer para isso. O povo ficou alarmado com esse assassinato e os chefes dos dois partidos, muito perturbados, porque Caio ficou irritado e censurou acerbamente os seus, dizendo que haviam dado aos inimigos um motivo mais que suficiente para atacá-lo, o que eles sumamente desejavam; Opímio, ao contrário, tomando essa oportunidade se pôs a incitar o povo à vingança; no momento, porém, sobreveio uma chuva que os dispersou.
XLVIII. No dia seguinte, o cônsul reuniu o Senado ao alvorecer, para resolver certos assuntos internos; alguns, porém, tomaram o corpo de Antílio, colocando-o despido numa cama, levaram-no pela praça, como haviam projetado, até a porta do Senado, onde se puseram a fazer lamentações e queixas em voz alta; sabendo que Opímio lá estava fingindo nada saber, os senadores saíram para observar o que se passava; vendo aquele leito no meio da praça, uns puseram-se a lamentar o defunto, outros a gritar que era um ato indigno, que não se devia deixar passar impune; mas, ao contrário, isso renovou a ira, a irritação do povo contra a maldade dos nobres ambiciosos, que, tendo matado Tibério Graco, que era tribuno, no interior do Capitólio e lançado seu corpo no no, faziam exibição, pública no meio da praça, do corpo de um guarda, Antílio, que por acaso tinha sido injustamente morto mas ele tinha dado motivo aos que o atacaram de tirar-lhe a vida; e estava então todo o Senado em redor do seu leito a deplorar-lhe a morte e a honrar o féretro de um mercenário, para irritar o povo e induzi-lo também a matar àquele que era o único protetor e defensor do povo.
XLIX. Depois, voltaram de novo para dentro, onde fizeram um decreto, pelo qual davam poder extraordinário ao cônsul Opímio, para prover com autoridade soberana ao bem público, defender a cidade e exterminar os tiranos. Concluído e promulgado este decreto, o cônsul ordenou imediatamente aos senadores assistentes, que fossem tomar suas armas; aos cavaleiros, que, no dia seguinte de manhã, cada um deles trouxesse consigo dois servos armados; Fúlvio preparou-se também contra ele, e reuniu o povo: Caio, voltando da praça, parou diante da estátua de seu pai e contemplou-a fixamente, sem nada dizer; chorando, porém, soltou um grande suspiro e continuou seu caminho. Isso comoveu muito o povo que tudo presenciara; e por isso diziam a si mesmos, que eles eram muito covardes, porque falhavam na hora necessária abandonando tão. ilustre personagem; depois foram à sua casa, onde passaram toda a noite, vigiando a porta, não à maneira dos que guardavam Fúlvio, que passaram toda a noite bebendo, gritando e fazendo alarido, tanto que o próprio Fúlvio ficou aborrecido, dizendo que eles faziam e diziam coisas inconvenientes e indignas da sua posição. Ao contrário, os de Caio, estavam tristes e acabrunhados, silenciosos, como se aguardassem uma calamidade para a pátria; conversavam a respeito do que estava para suceder, vigiando e dormindo cada qual, por sua vez.
L. Rompeu o dia; os de Fúlvio despertaram ainda atordoados por causa do vinho, que haviam ingerido durante a noite, armaram-se com os despojos dos gauleses, que estavam pendurados pelas paredes da casa, pois ele os havia derrotado no ano em que fora cônsul, e com grandes gritos e ameaças foram ocupar o monte Aventino; Caio não quis se armar, saiu de casa com uma longa túnica, como se se dirigisse à praça do modo costumeiro, mas tinha uma espada curta escondida por baixo da túnica. Quando ele ia saindo de casa, sua mulher deteve-o à porta e segurando-lhe uma das mãos, tendo na outra um seu filhinho, disse-lhe: "Ai! Caio, não vais hoje como de costume, tribuno do povo, à praça, para falar ao povo, nem para propor novas leis, nem vais a uma guerra honesta, para que se por acaso acontecer o que é comum a todos os homens, pelo menos eu possa usar o luto de tua morte com honra; mas tu vais exporte aos assassinos que já mataram teu irmão e ainda vais sem armas, disposto a sofrer antes que fazer qualquer outra coisa: tua morte não trará vantagem alguma ao Estado, porque o que é pior, é também o mais forte, visto que os julgamentos se fazem com violência à espada. Se teu irmão tivesse sido morto pelos inimigos diante da cidade de Numância, pelo menos nos teriam dado o seu corpo para sepultá-lo; mas talvez será preciso que eu mesma vá suplicar ao mar ou ao rio que me restituam teu corpo que lá eles lançarão: que confiança poderemos ter n as leis e nos deuses depois que Tibério foi morto".
LI. Licínia fazia-lhe estas piedosas considerações, mas Caio soltou-se docemente de seus braços e partiu sem lhe responder, com seus amigos. Ela, agarrando-o pelas vestes, caiu por terra, estendida no chão, onde ficou muda, silenciosa, por muito tempo, até que seus servos a levaram desmaiada ao seu irmão Crasso. Fúlvio, depois que reuniu todos os do seu partido, a conselho de Caio, mandou o mais novo dos seus filhos, que era um lindo jovem, com um caduceu na mão, isto é, uma vara de arauto, que dá salvo-conduto. Este rapaz, apresentando-se humildemente, com lágrimas nos olhos diante do cônsul e do Senado, levou-lhes palavras de reconciliação; muitos dos presentes foram de opinião que se devia atendê-lo. Mas Opímio respondeu-lhe que não se devia mandar mensageiros, para, por meio de belas palavras, conquistar o Senado, mas era necessário que eles mesmos viessem em pessoa, apresentar-se como súditos e criminosos, à justiça, pedir perdão e procurar abrandar a ira do Senado. Por fim, proibiu que o moço voltasse para junto dos seus, a não ser com a condição que lhe havia imposto. Caio, ao que dizem, queria ir dar suas razões ao Senado, mas os outros não deixaram que ele fosse; por isso Fúlvio mandou-lhe de novo seu filho repetir-lhe as mesmas propostas anteriores. Mas Opímio, que só queria combater, mandou imediatamente prender o moço e colocou-o sob custódia, marchando incontinente contra Fúlvio, com um bom número de soldados de infantaria e archeiros candiotas, que, com golpes certeiros, fizeram mais dano e desorganizaram mais os adversários do que qualquer outra coisa, de maneira que em pouco tempo eles se puseram em fuga; Fúlvio escondeu-se numa banheira abandonada, onde pouco depois o encontraram e ele foi morto com o filho mais velho.
LII. Caio não combateu, mas atormentado por ver tão sangrenta desordem, retirou-se ao templo de Diana, onde quis suicidar-se; mas seus amigos mais fiéis, Pompônio e Licínio, impediram-no; estes dois, estando então junto dele, tiraram-lhe a espada, e aconselharam-no a fugir. Diz-se que então ele se pôs de joelhos e estendendo as mãos juntas para a imagem da deusa, rogou-lhe para vingança daquela ingratidão e traição do povo, que jamais ele se livrasse da escravidão; o povo, ou a maior parte dele, abertamente voltou-lhe as costas, quando ouviram clamar, a som de trombetas, que seriam perdoados todos os que passassem para o outro partido. Caio, então, fugiu, mas seus inimigos o perseguiram tão de perto, que o alcançaram sobre a pente de madeira, onde dois dos amigos que o acompanhavam detiveram-se para revestir aos perseguidores; disseram-lhe que ele continuasse a fugir, enquanto eles combatiam sobre a ponte, como fizeram, e ninguém conseguiu passar por ela, até que ambos foram mortos. Ninguém quis fugir com Caio, exceto um servo de nome Filócrates; todos o aconselhavam e o exortavam, como se fosse uma competição, em que se animam os concorrentes e os que lutam, mas ninguém pôs mãos à obra para ajudá-lo e socorrê-lo, nem lhe deram um cavalo, embora ele o tivesse pedido, porque viam que os inimigos o perseguiam já de muito perto; ele, porém, adiantou-se tanto que teve tempo de se esconder num pequeno bosque, consagrado às Fúrias, onde seu servo Filócrates matou-o; e matou-se também ele mesmo sobre seu cadáver1419. Todavia outros escrevem que tanto o amo como o servo foram apanhados ainda vivos, mas que o servo abraçou estreitamente seu senhor, que nenhum dos inimigos o pôde ferir, sem tê-lo matado primeiro, com os vários golpes que lhe desferiram.
LIII. Um dos assassinos cortou a cabeça de Caio para levá-la ao cônsul; mas um dos amigos de Opímio, que se chamava Setimuleio, tirou-lha, a caminho, porque antes da batalha ele tinha sido avisado a som de trombeta que àquele que trouxesse a cabeça de Caio e a de Fúlvio, ela ser-lhe-ia paga o peso em ouro: por isso Setimuleio levou-a espetada na ponta de sua lança a Opímio e trouxeram uma balança para pesá-la; verificou-se que seu peso era dezessete libras e dois terços, porque Setimuleio, além do pecado de homicida, havia ainda acrescentado este outro crime: tirou-lhe todo o cérebro, substituindo-o por chumbo derretido. Os que trouxeram a cabeça de Fúlvio, eram homens de condição baixa e vil e nada receberam. Os corpos de ambos e dos outros sequazes também, mais cu menos em número de três mil, foram todos atirados ao rio, seus bens confiscados e proibido às suas viúvas usar o luto por sua morte; ainda mais: fizeram Licínia, mulher de Caio, perder o dote que seu esposo lhe deixara: mas procederam ainda mais cruel e desumanamente com o jovem filho de Fúlvio, que não tinha sequer combatido, nem estivera na refrega, mas lá tinha ido apenas para lhes falar, antes do combate, e ficara prisioneiro; mataram-no depois da batalha.
LIV. Todavia, o que agravou e ofendeu o povo, mais do que tudo isso, foi o templo da Concórdia, que Opímio mandou construir, pois parecia que ele se vangloriava, e que, por assim dizer, triunfara, tendo feito morrer tantos cidadãos romanos. Alguém, por isso, escreveu durante a noite por baixo da inscrição do templo, estes versos:
Um ato furioso e criminoso cometeu o templo da Concórdia.
Opímio foi o primeiro em Roma, que, sendo cônsul, usurpou o poder absoluto de ditador e que condenou sem processo três mil cidadãos romanos, além de Fúlvio Flaco, cônsul, também, e que tivera as honras do triunfo, e Caio Graco, jovem que sobrepujou em virtude e fama a todos os de seu tempo; no entretanto Opímio foi também concussionário e ladrão, pois tendo sido mandado em embaixada a Jugurta, rei da Numídia1420, deixou-se subornar pelo dinheiro; tendo sido citado em juízo por isso, foi reconhecida a sua culpabilidade e ignominiosamente condenado; e assim terminou seus dias com essa nota de infâmia, odiado, injuriado e vilipendiado por todos; em face da derrota portou-se ele covardemente para com aqueles que combatiam em seu favor.
LV. Mas, logo depois, deu a conhecer quanto ele lastimava os dois irmãos Gracos, porque lhes mandou erigi r estátuas e quis que fossem colocadas em lugar público e honroso, consagrando os lugares onde eles tinham sido mortos; muitas pessoas ofereciam-lhes as primícias das flores e dos frutos, nas estações próprias e iam fazer-lhes suas preces, de joelhos, como no templo dos deuses. Sua mãe Cornélia, como está escrito, sofreu com firmeza e magnanimidade este duro golpe: quanto às capelas que se construiram e se consagraram, nos lugares onde eles tinham sido mortos, ela diz somente que eles tiveram as sepulturas que haviam merecido: depois, ela permaneceu quase sempre no monte Misene, sem modificar sua maneira de viver, pois tinha muitos amigos; e como era senhora distinta, que estimava e tratava bem os estranhos, mantinha sempre boa mesa, havia sempre em sua casa muitas pessoas, gregos e literatos, e muitos reis recebiam presentes dela e lhos mandavam também.
Os que iam visitá-la sentiam grande prazer, entretendo-se com ela em amistosa palestra, ouvindo-a contar fatos da vida de seu pai Cipião, o Africano; mas admiravam-se ainda mais, ouvindo-a narrar a morte de seus filhos, sem molhar seus olhos de lágrimas e sem se lastimar, nem se mostrar revoltada, como se estivesse contando alguma história antiga, tanto que alguns escreveram que a velhice, ou mesmo a magnitude da desgraça, haviam-lhe perturbado a razão e eliminado o sentimento da dor; mas, esses mesmos mostravam-se insensatos, em dizer tais coisas, não compreendendo como a origem ilustre e a boa formação servem para fazer os homens suportar com firmeza qualquer dor e muitas vezes a fortuna é bem mais forte que a virtude, a qual quer observar todos os pontos do dever; todavia, não lhe pode tirar a constância em suportar, quando é o caso, pacientemente, a adversidade